Lua sempre se havia considerado dependente de Sol. Em sua visão, Sol era lindo, com seus cabelos loiros brilhantes, que pareciam resplandecer à luz e brilhar, como fios de ouro. Sol era lindo e alegre, sempre majestoso, parecendo inalcançável, especialmente a si, o qual não se acreditava digno para seu platônico amor. Sol era alegre demais, brilhante demais, inalcançável demais, e ele, ele era apenas Lua, sempre solitário, sempre apagado.
Sol estava sempre acompanhado de sua melhor amiga, Nuvem, era difícil não vê-los juntos e quando acontecia, Sol parecia arder em fúria, como se pudesse queimar tudo a seu redor, Nuvem era quem sempre o acalmava e esfriava suas emoções. Todos acreditavam que Nuvem era apaixonada por Sol.
Também havia Arco-Íris, mas esta era mais inconstante, aparecia apenas em algumas vezes, juntamente à Chuva, que parecia sempre deprimido, como se sempre tivesse os olhos cheios d'água, mas Sol era tão bom, que parecia sempre acalmar os ânimos de Chuva e secar suas lágrimas.
Lua em troca estava sempre solitária, e a única com a qual trocava algumas palavras era Estrela, porém esta às vezes parecia tão longe, tão inalcançável, que se tornava pequenina a seu olhar.
Lua era apaixonado por Sol, mas sabia que este não era para ele, pois se Nuvem não estivesse junto, ele poderia sair queimado, isso entristecia Lua.
Triste como estava, Lua foi descansar isolado, desejando pensar em seus problemas e seu impossível amor e foi assim que saiu do Céu, a escola o qual estudava, e andou passos tambaleantes, sem perceber que se aproximava de Terra, a escola vizinha, a qual era rival de Céu.
Sentou-se embaixo de uma árvore e pensou, pensou por longos instantes, repassando toda sua vida, desejando chorar, mas ele não podia, não era sentimental como Chuva, ele não conseguia demonstrar tanto seus sentimentos e talvez fosse por isso que fosse tão sem graça.
- O que faz sozinho aqui? Você não é daqui, é do Céu, já lhe vi algumas vezes. – tão perdido estava Lua em seus pensamentos, que não percebeu ser observado, até que a voz se fez notar, sobressaltando-o. Olhou para a frente e notou o garoto de furiosos olhos verde azulados, tão furiosos que pareciam tragá-lo, caso os observasse por muito tempo. Nunca antes o havia visto.
- Só queria pensar, não pensei que fosse parar na Terra, me desculpe se o incomodei. – falou Lua de forma tímida, levantando-se do pasto onde estava sentado e sobressaltando dessa vez ao outro.
- Não. – moveu as mãos de forma nervosa – Não precisa ir embora. Você parece interessante, podemos ser amigos. – Lua pensou naquilo, mas não sabia se era certo, poderia um integrante do Céu ser amigo de alguém da Terra? – Você é Lua, não é? – continuou falando o garoto – Eu já te vi algumas vezes, de longe, está sempre sozinho. Eu sou Mar, gostaria de ser seu amigo.
Os furiosos olhos de Mar o olhavam como se desejassem tragá-lo, e não soube como responder àquela pergunta, mas algo nele o havia chamado a atenção, Mar parecia tão solitário quanto ele.
E de fato era, Mar era um garoto tímido, sempre calmo, mas que quando explodia podia se tornar violento como nenhum outro e arrastar tudo à sua volta. Mas para Lua, Mar nunca mostraria sua fúria, porque sem que Lua soubesse, há tempos era observado e da mesma forma que Sol fazia que seus dias brilhassem, ele também iluminava os de Mar. Lua era o brilho de luz de Mar. Mar estava apaixonado por Lua.
Os dias passaram, Mar e Lua se tornaram amigos, porém a amizade não foi bem vista e todos começaram a ver Lua de forma estranha, acusatória. Lua foi ainda mais isolado que antes, agora nem mesmo Estrela se aproximava.
- Deveria vir estudar comigo. – disse Mar quando se encontraram mais uma vez.
- Na Terra? Como posso eu, alguém do Céu vir à Terra? É impossível. – respondeu Lua, seus prateados olhos brilhando em dúvida.
- Não é impossível, podemos conseguir qualquer coisa que nos dispusermos. E dessa forma, eu sempre estarei com você.
Lua pensou na proposta, sabia que era impossível o que Mar lhe pedia, mas estava tão sozinho, cansado de sempre observar à Sol com Nuvem, que decidiu aceitar e foi embora do Céu à Terra. Mar quase transbordou em ondas de alegria, refletida em seus furiosos olhos.
Os dias passaram, Mar sempre acompanhava à Lua, sua relação se tornou ainda mais forte, o amor de Mar crescendo a cada vez que via os brilhantes olhos prateados de seu platônico amor, e todas suas emoções transbordaram naquele dia, quando se deram seu primeiro beijo sob a mesma árvore a qual conversaram pela primeira vez. Mar estava feliz, mas... e Lua?
Lua havia tentado de todas as formas, mas não conseguia se adaptar à Terra, ele desejava voltar ao Céu, desejava ver novamente ao Sol, sentir seu calor o aquecendo, seus belos olhos o iluminando, como se tivesse luz própria transbordando de seu ser. Lua ficou triste, ainda mais triste do que era.
Com o tempo, a tristeza de Lua apenas piorou e Mar percebeu, percebeu que Lua nunca seria feliz com ele, Lua precisava de Sol, de sua luz, de seu calor. Mar não desejava apagar a luz de Lua, obrigando-o a ficar na Terra, foi difícil, mas Mar decidiu.
- Deveria ir embora. – disse Mar à sua pessoa amada.
- O que? Não entendo, já não gosta de mim? – perguntou Lua confuso.
- Não é isso, não podemos mais estar juntos. – explicou, seu coração doendo, seus olhos ardendo, desejando derramar lágrimas.
- Mas... você disse que sempre estaria comigo. – falou Lua, sentindo-se triste, sentindo que seu primeiro amigo de verdade o abandonava, como Estrela, como todos à sua volta.
- Não me ouviu? Disse que não quero estar com você! – respondeu Mar, o empurrando, para o choque de Lua. Era a primeira vez que Mar era violento com ele.
Lua foi embora triste, desejando chorar, sentindo-se mais apagado do que nunca e prometendo a si mesmo que jamais retornaria à Terra. Enquanto dirigia seus passos para fora da Terra, Mar o observava mais uma vez ao longe, deixando que as primeiras lágrimas transbordassem por seu rosto.
- Me desculpe Lua, mas não quero ser o responsável por apagar sua luz. Eu sempre vou te amar, mas sei que não é de mim que você precisa, apenas Sol pode te dar a luz que você precisa e eu não tenho.
Lua retornou ao Céu, recebendo para sua surpresa, um sorriso de Sol, que havia sentido sua falta. Os dois começaram a conversar e com o tempo iniciaram um relacionamento, após descobrirem estarem apaixonados um pelo outro. Casaram-se e tiveram um filho, Eclipse, um menino lindo, mas algo obscuro.
Mar ficou sozinho, ele nunca revelou a verdade à Lua, para ele saber que este era feliz com seu Sol era o bastante. Mar havia se contentado apenas em ser testemunha da luz de Lua ao longe.
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