– Estamos finalizando o semestre e hoje vou testar o ouvido de vocês – ele falou em tom imponente e braços cruzados diante da turma – teremos como avaliação final uma prova de percepção musical, a primeira parte da prova será a notação de intervalos, depois arpejos e por último um trecho de uma melodia.
Kakashi explicou seriamente os procedimentos e se sentou no piano que ficava em um canto da sala de aula.
Por último ressaltou com a voz grave:
– Prestem atenção, eu vou tocar somente duas vezes cada parte. Anotem a partitura somente depois que eu repetir as duas vezes, se vocês não conseguirem cumprir pelo menos 60% da avaliação estão reprovados.
Sakura pegou o lápis e o caderno de pauta e se ateve ao som do piano. Finalizada a prova entregou a folha para o professor e se retirou sem grandes preocupações, tinha muita facilidade em provas de percepção musical.
Kakashi pegou a pilha de avaliações e permaneceu na sala para corrigi-las pois estava com um tempo livre para isso.
Como ele já esperava grande parte da turma estava rodando naquela disciplina.
O que essa pessoa está fazendo aqui!? Não consegue nem identificar um intervalo de uma oitava! Pelo amor de deus! Como que um sujeito desse entrou nas provas preliminares?!
Ia pensando indignado enquanto corrigia as provas.
Até que pegou a prova de Sakura e rapidamente percebeu que a garota havia gabaritado a prova, o que era realmente impressionante pois a melodia que tinha escolhido no trecho final da avaliação não era nada fácil e nem conhecida. Era impossível ela ter acertado tudo...
Parou as correções para refletir sobre aquilo.
Precisava conhecer melhor essa garota.
E Kakashi conhecia muitos músicos excelentes com ouvidos precisos para desafinações, como ele próprio era, mas os alunos geralmente não tinham essa precisão.
E justo essa garota?
A mesma que havia cantado Soldier of Fortune de maneira tão marcante naquela noite...
Desde aquele acontecimento, Kakashi, apesar do interesse que sentiu de conhecê-la, não deu nenhum sinal disso para ela. A sua vida sentimental já era complicada o bastante e tudo o que não precisava era arrumar problemas se aproximando de suas alunas.
Depois de Rin não ousou mais se envolver afetivamente com alguém. Vivia solitário e sentia um vazio que parecia ser impossível de ser preenchido. Tivera algumas mulheres, mas sempre não passava de sexo. A música era um escape, mas não o suficiente, sabia que nada no mundo iria resolver suas questões e seus fantasmas. Sentia-se prejudicial para todos aqueles que se aproximavam. E Sakura pareceu-lhe tão o contrário de tudo isso, tinha tanta vivacidade e alegria que seria um crime levar toda a escuridão que tinha dentro de si para a vida dela.
Kakashi percebia os interesses de Sakura, pelos olhares durante a aula e pela presença da garota em praticamente todas as apresentações da orquestra. Não era incomum as alunas sentirem-se atraídas por ele. E como homem, percebia o quanto a jovem era linda, especialmente os olhos, tinha também um rosto todo angelical, inocente e um sorriso leve, descontraído, contagiante. Mas nada disso era pra ele, por isso se fechava em seu casulo e continuava ignorando-a.
Mas agora tinha um interesse profissional na garota, não era qualquer aluno que acertava 100% de suas provas. E uma de suas funções como professor era identificar os talentos que apareciam no curso e lapidá-los. Era preciso envolver esses alunos em projetos, incentivando-os com bolsas de estudos para que eles pudessem se desenvolver ao máximo.
Sakura por outro lado, não estava muito preocupada com sua vida profissional, pensava em seu lance com Kiba quando saiu da sala de aula, logo após entregar a avaliação para o professor Hatake.
Ela e Kiba já estavam transando há cerca de um mês, não era namoro, porque nem ela, nem ele havia assumido o relacionamento como algo sério. Continuava sendo amizade colorida. E estava tudo bem ser assim, não precisavam oficializar nada. Quase sempre nas noites em que Kiba se apresentava no Madara’s ia dormir na casa dele depois do trabalho. E o sexo estava ficando cada vez melhor. Começavam a ter intimidade e saber do que o outro gostava. O rapaz era muito disposto e a tratava muito bem. Mas de todas as experiências que tivera até aquele momento com ele a mais louca foi o sexo oral, nunca imaginou que sentiria tanto tesão em chupar alguém.
Ia andando pelo campus enquanto sorria distraída ao lembrar dessas coisas.
Sakura, que era praticamente uma adolescente tímida quando chegou em Nagoia agora, quatro meses depois, havia se transformado num mulherão, independente, dona de si e completamente tarada...
Porém, diante de Hatake Kakashi continuava se sentido a mesma besta de sempre. Não entendia os efeitos daquele homem sobre ela. E lamentava ser a última semana de aulas com ele, ia perder aquelas horas semanais em que podia ficar o admirando, ouvindo sua voz e imaginando coisas... Poderia haver um jeito de permanecerem em contato, mas o professor não dava uma brecha. Pensou um pouco na prova que havia realizado, achou fácil demais. Esperava que o professor fosse mais exigente, a primeira avaliação que ele havia feito umas semanas antes também não estava difícil...
– Sakura!!!
A rosada ouviu o grito de alguém atrás de si lhe chamando de maneira escandalosa: Ino.
– Espera! Tá no mundo da lua? Nem meu viu!
– Não vi mesmo...
– Pensando em que? Você estava toda sorridente!
Sakura sorriu, não iria falar...
– Na prova que acabei de fazer.
– Ah tá, acredito.
Sakura sorriu maliciosa e continuou andando até chegarem à lanchonete do campus:
– Vamos comer alguma coisa?
– Sim, estou com muita fome e cansada também, tive uma aula chatíssima de História da Moda.
Sentaram-se em uma das mesas e Sakura lembrou-se de uma antiga promessa que tinha feito:
– Ei, precisamos combinar algum rolê, eu prometi para o Naruto que ia lhe apresentar a Hinata. Ele tá me cobrando, já faz um mês isso. Acho que a Hinata vai curtir, o Naruto é um querido.
– É feio então...
– Ué, por quê?
– Senão você diria que ele é bonito, invés de querido.
– Que raciocínio...
– Perspicaz – comentou Ino convencida.
– O Naruto é bonitinho... Mas gostoso mesmo é o Sasuke.
– Você tá bem heim! Transando com o Kiba e morando com esse Sasuke aí que você exalta tanto... Quando é que vai me apresentar heim?
– Ele é chatíssimo, não vale a pena, um arrogante – Sakura pensou um pouco – e ele tem uma ficante já.
– Pois eu não tenho ciúme.
– Mas ela tem!
– Ficante não é namorada.
– Então explica isso para ela...
Fizeram sua refeição e se preparavam para levantar e sair quando Ino arregalou os olhos:
– Não olhe agora, mas o gostoso está entrando.
– Que gostoso?! – e Sakura se virou para olhar Kakashi na porta da lanchonete – Grande coisa! Ele sempre vem aqui e sempre me ignora – Sakura retrucou.
– Oh meu deus. Ele está vindo em direção à nossa mesa.
– Ele não está...
Não conseguiu terminar a frase, pois foi interrompida por aquela voz grave inconfundível que pela primeira vez ouvia mencionar o seu nome:
– Sakura. Podemos conversar por um momento?
Sentiu o coração falhar algumas batidas, então levantou os olhos e o encarou.
A loira ficou reparando na amiga diante do professor.
Só falta babar de tão retardada... Foi o que Ino imediatamente pensou.
Enquanto isso o Hatake olhava para Sakura com um ponto de interrogação no olhar, até ela finalmente voltar a si e responder:
– Hãnnn... Sim... Claro.
– Vamos nos sentar ali naquela mesa? – Ele perguntou.
Ela concordou com a cabeça se levantando e indo em direção à mesa apontada por ele. Kakashi se sentou em frente a ela que o olhava com curiosidade sobre o motivo daquela conversa.
– Eu corrigi sua prova – Kakashi falou – e você acertou 100 % dela.
Sakura sorriu amarelo e logo se preocupou, pensando que talvez o professor estivesse suspeitando que ela tivesse colado de alguém.
– Olha professor, eu sempre fui muito boa de ouvido. É só isso... se o senhor está pensando...
Foi interrompida enquanto começava a se justificar.
– Calma...Não estou lhe colocando sob suspeita, você foi a única a conseguir a nota 10 naquela prova – e Kakashi a olhou nos olhos e sorriu, um sorriso pequeno, mas o suficiente para tranquilizá-la – fiquei realmente admirado, porque não era uma melodia fácil, enfim... você tem um ouvido com uma precisão impressionante para identificar as notas musicais.
Sakura ouviu aquele elogio e começou a ser sentir flutuando de tão convencida que estava, então ele continuou.
– E sempre que identificamos algum acadêmico com facilidade assim como você, integramos esse aluno nos projetos que temos na universidade. Por isso eu quis conversar contigo. Gostaria que você participasse de um dos nossos projetos...
A garota duvidou se não estava sonhando em poder estar juntinho dele, tocando junto, debatendo sobre música e tudo o mais! Respondeu sem pensar:
– Sim professor, eu quero muito participar de um projeto com você!
– Não seria comigo...
Sakura murchou, foi um misto de decepção e vergonha. Decepção pelo fato dele estar ali a convidando para um projeto e não ser ele o proponente de tal projeto. Vergonha por ter sido tão precitada e deixar ele perceber a empolgação dela por poder estar junto a ele... Já que tinha dado aquela bola fora mesmo, agora ia até o fim:
– Então eu não quero!
Kakashi a encarou perplexo:
– Como assim?
– Muito obrigada pelo convite, mas já tenho um emprego e não tenho tempo disponível para mais atividades no curso.
Ele cruzou os braços, indignado, pensando no desperdício que tempo em estar ali conversando com aquela garota. Mas insistiu mais um pouco:
– Onde você trabalha?
– No Madara’s Bar.
Kakashi meneou a cabeça.
– Tá explicado aquele sono todo em minhas aulas – comentou com ironia – certamente o valor da bolsa é maior do que o dinheiro que você ganha nesse emprego.
Sakura sabia que não teria mais aulas com ele no restante do curso, o que era um fato que lamentava, é certo que a bolsa a ajudaria financeiramente, mas queria ter a chance de conhecer melhor o homem a sua frente. Resolveu apostar mais algumas fichas demonstrando suas segundas e terceiras intenções descaradamente:
– Eu só quero se for com você.
Kakashi franziu a testa:
– Você toca violino por acaso?!
– Não, mas posso aprender... – respondeu confiante.
Ele riu ironicamente da ingenuidade da moça que nem imaginava o quanto era complexa e demorada a aprendizagem do violino.
– Seria mais lógico você se especializar em violão, que é o instrumento que você já toca.
– Oras, eu posso aprender um instrumento novo, por que não?
Sakura levantou uma das sobrancelhas de maneira petulante.
Kakashi ficou encarando-a pensativo.
Mas que garota teimosa...
Talvez pudesse conseguir uma bolsa de estudos para ela com algum projeto de composição ou talvez fosse possível mesmo o violino, nunca tinha começado com nenhum aluno do zero na universidade, mas sabia que sempre era possível. O que ele duvidava é se saberia lidar com uma aluna que estava nitidamente dando em cima dele. Não ia ser uma dor de cabeça isso?
Levantou-se da mesa:
– Olha eu acho que você está perdendo uma grande oportunidade com essa sua teimosia. Poderia lhe apresentar Tsunade Sama, que é uma ótima professora de violão, para te orientar e ainda receber por isso...
E Sakura deu a sua última cartada, tão atrevida de um jeito que nem acreditava ser capaz:
– E eu conheço um ótimo professor de violino...
O Hatake que permanecia de pé ao lado da mesa, avaliou a situação, coçou o queixo e fitou-a com os olhos estreitos seriamente enquanto Sakura sustentava o olhar sobre ele, fingindo não estar com o coração acelerado e as pernas bambas.
De qualquer forma, valeria a pena tentar, foi o que ele pensou, sabia do potencial da aluna, tanto pelo dia que a ouviu tocar e cantar, quanto pela avaliação realizada. Ela tinha uma musicalidade e uma paixão pela música rara de ser encontrada. Na verdade, muitos alunos vinham de anos de formatação em conservatórios, tinham muita técnica, mas pouca capacidade de sentir a música. E Sakura não, ela sabia que a essência de tudo aquilo, da arte de manejar os sons, era fazer emocionar, como ela própria havia dito naquela primeira aula.
Apoiou as duas mãos sobre a mesa e concordou:
– Ok moça. Mas para estudar comigo vai ter que se dedicar.
Sakura assentiu com a cabeça e abriu um sorriso grande e contagiante.
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