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História Sombras das chamas - Precipício


Escrita por: InocenseB

Notas do Autor


Olaaaaaaa!

Bem, eu sei que demorei e que vocês possuem mil motivos para me matar, maaaaaaaaaas ao menos esse é um capítulo ENORME de grande e a verdade é que é um dos meus xodós, mesmo assim acredito que ele ainda precisa ser melhorado, tentei melhorar mil vezes (tanto que cada vez ele está maior), mas a verdade é que por se tratar em partes de outra época, preciso estudar mais, então desde já peço perdão por qualquer deslize e garanto que quando conseguir chegar ao que goste, atualizo.

Qualquer coisa podem me falar e posso dizer pela primeira vez, TEM NALU nessa fic kkkkkk

PS: Amanhã respondo vocês, JURO!!

Capítulo 18 - Precipício


"Quanto mais longe você conseguir olhar para trás, mais longe você verá para frente." 
(Winston Churchill)

1832

- A vida és cansativa, Happy! – o homem comentou encarando as árvores ao seu arredor. Como resposte teve apenas um solavanco mais forte. – Sei, sei – resmungou e sorriu virando os olhos em direção ao cavalo marrom que montava. – Acha que sou folgado por montar em vosmicê, não? – riu abertamente recebendo um relinchar do animal.

Desceu do seu ”amigo” e o amarrou em uma árvore. Havia um pequeno riacho ali e precisava disso. Precisava de descanso e água fresca. Também precisava de melhores habilidades com o mapa. END era um caçador, vivia da caça e as recompensas. Era inadmissível que um caçador simplesmente se perdesse.

Francamente, ele tinha um infrator para capturar, era um homem do rei.

Deixou uma gargalhada sair. Homem do rei, o rei cometeria suicídio se o conhecesse realmente. Moreno claro, bronco e manco. Por sorte não fazia isso. Seu trabalho era simples, ele encontrava pessoas, ele recebia o pagamento, alguém recebia a honra.

Não se importava com honra e todas as convenções. Meramente importava-se com Happy.

- Fique aqui e beba bastante água pra depois não reclamar. – apontou para o cavalo que apenas o ignorou em sua melhor pose superior.

Retirou o mapa de suas vestes e caminhou pelos arredores. Havia sim um riacho no mapa. Onde era exatamente? Aquilo no mapa era um riacho ou um rio? Estava enganado desde o inicio? Decidiu ser positivo.

Seguindo o mapa havia uma pequena cidade quase colada ao local. Menos de meia hora de viagem. Pelas informações que conseguiu era ali que estava o maldito que havia sido incumbido de encontrar.

Ele matou uma mulher, desonrou a filha de quem não podia, roubou tesouros e achou que sairia impune. A mucama da sinhá que ele matou acabou contando tudo. A pobre coitada foi torturada porque queriam mais informações, morreu no tronco. Duas mortes na conta do bastardo. A recompensa por sua cabeça era gigantesca, a filha mais jovem do comendador e dinheiro.

END queria o dinheiro e o ganharia. Dinheiro do comendador e dinheiro do seu contratante que iria fingir ser o justiceiro.

Ele adorava as convenções sociais!

Pensava que talvez a fortuna que conseguiria poderia ser ainda maior. Havia o boato de um assassino no Estado, bonito e educado, ele roubava tudo o que poderia, destruía tudo o que tocava e quando não tinha mais o que tirar partia. Seu sinal era único, sempre arrancava parte da carne das vítimas. END não queria pensar no que fazia com isso ou a que Senhor um homem como esse seguia, provavelmente o de baixo.

Na cidade anterior havia arrancado um seio da morta e parte da coxa da sobrevivente. Havia casos onde levava órgãos, deveria existir um critério, mas ele não conseguia ver sentido e gostava disso. Não compreender um ser de tal estirpe, gostava mais de ser quem o mataria.

Seguiu por alguns minutos e encontrou. Bem diante dos seus olhos. A pequena cidade. Tão pequena que era quase estranha. Até onde sabia viviam do ouro, mas diferente das demais não deixavam aparente os escravos. Provavelmente o líder daquele lugar era a favor da abolição. Os abolicionistas.

END era filho de escrava com um desconhecido qualquer, estupro ao que diziam. Um escravo ruivo. Um escravo fugido. Mancava devido ao ferimento da fuga. Foi fugitivo por parte da vida. Então, comprou a si mesmo e a velha mãe. Morreu em seguida a coitada. Era comum que END comprasse outros escravos com o que recebia, então ele tinha certo apresso pelos tais dos abolicionistas.

Se tudo desse certo e suas informações fossem verdadeiras, iria fazer um favor para a cidade ao capturar o homem e entregar o corpo à coroa.

Deu as costas para a cidade. Havia encontrado o que parecia uma caverna e ficaria por lá. Era um fantasma. Não gostava de ser visto em lugar nenhum. Problemas seguiam quem era visto.

END sabia, ele era um dos problemas que seguiam as pessoas sempre vistas.

Parou seu caminho em meio a floresta ao ouvir um arquejo. Conhecia muito bem os sons, aquele era o de dor. Muita dor. Seguiu naquela direção. Parou alguns momentos e prestou atenção no ambiente. Novamente um som. Baixinho. Quase inaudível.

- Mas... – murmurou ao encarar o que parecia ser sangue e pedaços de pano. Mais a frente um corpo. – Maldição! – arregalou os olhos e correu na direção.

Era uma mulher. Parecia ser loira e nova. Poderia estar morta. Era um milagre que não estivesse. Ou uma maldição. Visto a situação dela, provavelmente seria uma maldição.

Em meio ao sangue e o corpo maltratado e abusado, ao menos END viu um lado positivo ao notar que a panturrilha havia sido arrancada. O homem que ele procurava certamente estava ali.

†                                                          †                                                        †

Cantarolava sem parar enquanto observava o seu cozido. Algo leve e cheio de vitaminas. Conseguiu o necessário na cidade, iria fazer uma refeição boa o suficiente para que a mulher que havia salvado se erguesse e começasse a cantar um daqueles musicais europeus.

Tinha que saber quem era. Tentou conseguir algumas informações na cidade, mas não havia nenhum desaparecido. Só falavam do casamento entre um estrangeiro e a filha do comendador local. Sabia que era o seu homem, só que END estabelecia prioridades.

No momento sua prioridade era a loira que estava quase morta.

Por falar nela.

- Fique quieta. – mandou e se ergueu ao notar que ela tinha acordado. Havia pavor, um completo pavor a fazia tentar se erguer. END havia cuidado dela com o que sabia, mas exigia repouso. – Se vosmice se mover vai ser pior, está muito ferida. Vai abrir os ferimentos. – segurou os braços delicados e ela o encarou. Conseguia ver apenas um olho, o outro não abria devido ao inchaço, mas era castanho.

Como chocolate, bonito.

- Quem... Quem... O Loke...

- Não. – fez um sinal negativo. Loke, era o nome dele. O estrangeiro que iria se casar. O homem que END perseguia. – Só fique deitada. – novamente mandou. A loira tinha aquele olhar, o que pede socorro, quem precisa de uma luz no fim do túnel.

END sorriu e de alguma forma, ela se acalmou.

†                                                           †                                                        †

- Lucy. – a loira murmurou encolhida e ele fez um sinal positivo enquanto a avaliava. Estava apenas com as partes de baixo da roupa e as faixas na perna direita, a que havia sido arrancado o pedaço de carne, contornava suas formas. Conseguia ver os tornozelos e o colo, sentia o rosto esquentar. Obviamente a mulher, Lucy o nome, era da alta sociedade e não deveria se vestir desta forma. – Vosmice é? – estava desconfiada. Com motivo. Sem roupas direito e pelo jeito vitima de um homem maldito. Ele entendia.

- Sou END, um caçador. – não completou dizendo ser caçador de recompensas. Envolvia certas crendices e algumas vezes mortes de pessoas, não era o que ela queria ouvir. – Estava – atrás do homem que quase a matou. – Caçando por essas áreas e te encontrei. – completou.

- Me encontrou? – olhou em volta. Já havia acordado mais vezes. Nos quase dez dias que estava ali, Lucy havia despertado quase uma centena de vezes, mas essa era a primeira que queria falar. END sempre falava sem parar, ao que parecia ela não prestava atenção, afinal ele já tinha dito seu nome umas mil vezes. – Minha família, vosmicê... Sabe da minha família? Eles estão atrás de mim?

- Bem... – passou a mão no rosto. Não. Ninguém da pequena cidade ao menos estava atrás de um ente ferido e pelo que ele soube, nem nas redondezas. – Vosmice viajou antes de... – coçou a garganta. – Antes de acontecer?

- Não! Viemos andando. – garantiu abraçando a si mesma. Não com força, as costelas estavam fraturadas. Várias. – É aqui perto... É do lado... Eles devem ter mandando alguém atrás de mim... – parou de falar e os ombros desceram. – Se não ouviu nada é porque eles não me procuraram. – END não queria concordar.

- Qual seu nome completo? Posso ir atrás da vossa família. – tentar entender o que estava ocorrendo.

- Eu... – as lágrimas desceram. Droga. End não sabia o que fazer com garotas que choravam. Ainda mais as que se assemelhavam a princesas, eram delicadas, ele iria acabar fazendo besteira. – Deixe que eu fique aqui, por favor. – não podia. Ele não morava em uma caverna, estava a tempo demais ali. Até Happy estava mal humorado por não andar o suficiente.

- Claro. – concordou. – O tempo que achar melhor.

†                                                           †                                                        †

Estava se tornando um caçador.

Um caçador de animais selvagens para se alimentar. Enquanto encarava o corpo do tamanduá que estava em sua armadilha, END tentava entender quando as coisas começaram a dar tão errado. Ele só queria mais uma boa quantia de moedas de ouro e condenar um assassino de mulheres.

Agora caçava tamanduás na mata.

Balançou a cabeça e jogou o corpo do animal nas costas. Não estava muito longe de sua caverna, nunca ia longe demais. Não passava muito tempo fora. Se o homem, Loki, descobrisse que a mulher estava viva iria completar o serviço. Ele faria algo assim, era por isso que END estava atrás dele. Por sorte ele parecia empenhado em se casar realmente. Talvez tenha achado a mulher ideal, tenha se apaixonado.

Os românticos diziam isso sempre, certo? As pessoas se apaixonam um dia. A vida é como caminhar na beira de um precipício. Você sabe que pode cair a maior parte do tempo, mas após vários passos firmes, pensa que está seguro. Então despenca.

Ele sabia como era. Sentia-se despencando há dias.

- Oh, senhor! – olhos castanhos e arregalados o encaravam assim que surgiu na clareira. Ele observou a cena, Lucy e Happy juntos. Nos últimos dias haviam criado algum relacionamento. Ela não falava muito. Quase nada. Excerto nas noites de terror onde acordava desesperada e END tinha que tentar a acalmar.

Mas com Happy as coisas eram diferentes, embora o animal apenas relinchasse, Lucy parecia possuir um dialogo maior com ele e END por vezes pensava que as coisas não deveriam ser assim. Ela tinha que dar mais atenção para ele.

A que ponto tinha chegado? Estava com ciúmes de um cavalo!

- Algum problema? – havia abolido todas as formas de tratamento com Lucy, tentando tirar a diferença que via entre ambos. Ele um ex-escravo e agora caçador de recompensar e ela uma nobre tão traumatizada e magoada que preferia a amizade de um cavalo à família.

- Isso é um animal morto? – lentamente caminhou na direção dele. Usava a sua bengala de dragão, mas mesmo assim não conseguia caminhar direito.

- Nossa comida. – o mostrou e a loira se encolheu. – Fica melhor depois de pronto. – garantiu.

- Que tipo de ser é esse? – deu alguns passos para trás e quase caiu. END a segurou mesmo que ela tenha mantido o seu equilíbrio por si mesma.

- Um tamanduá, ele come formigas por esse bico. – apontou e ela cerrou os olhos encarando. Estava melhorando, cada vez mais e END era cristão convicto, mas começava a acreditar em anjos com mais força agora. Lucy deveria ser um.

- Formigas? Então ele está cheio de formigas por dentro? – parecia achar algo completamente ilógico. Olhou o animal.

- Provavelmente sim, quer olhar? – sorriu e ela fez um enfático sinal negativo.

- Não, muito agradecida. – sorriu de volta. Ela tinha um sorriso que só fazia com que END pensasse que naquele precipício que todo tolo acha que não vai cair, ele com certeza, já estava em queda.

†                                                           †                                                        †

- Calma. – pediu e teve que manter os braços firmes enquanto os ouvidos ardiam. Lucy gritava. Desesperada e de forma angustiante. Implorava que não fizesse isso, pedia perdão e então suplicava para que parasse. – Sou eu que estou aqui, tudo bem, sou eu que estou aqui. – garantiu sentindo os braços finos da mulher o contornarem.

Ela parou de gritar, quando começou a chorar.

Estava ali há mais de um mês. Quase cinquenta dias. Havia tido pesadelos e acordado desta forma mais do que sessenta vezes. Lucy era silenciosa, meiga e gentil. Fina, educada e paciente. Passava boa parte do tempo o ajudando a melhorar na leitura e escrita.

Não que END quisesse ler, queria passar mais tempo com ela.

O problema era que a Lucy que ele gostava era só uma superfície, a real estava por debaixo desta. Sofrendo e gritando desesperadamente toda vez que fechava os olhos. Presa no momento que o maldito a pegou.

- END – ouviu a voz da loira após o que pareceram horas a abraçando. Soltou um som deixando claro que não estava dormindo. – Não sei o que faço, eu... Eu não aguento mais isso. – admitiu e ele fechou os olhos com as palavras. – Minha família nem mesmo me procurou e não posso voltar, o que aconteceu comigo... – o corpo pequeno tremia sem parar. – Se não me queriam antes, agora eles – soluçou. Respirou fundo e acariciou os fios da mulher. Não tinha nenhuma palavra para falar, nas primeiras noites havia gastado todo o seu vocabulário escasso. Agora apenas o silêncio, mas ela o apreciava também. – Não quero mais sentir isso, não quero dormir nunca mais. – confidenciou se afastando e ele abriu os olhos para a encarar. Encontrou os dela completamente desesperados. – Não me deixa dormir, só consigo ficar bem quando estou acordada e com você e o Happy. – ergueu as mãos tremulas e contornou o rosto dele, os olhos dela estavam projetados.

- Lucy – segurou as mãos e a encarou firme. – Vosmice vai ter que dormir e encarar seus medos. – completou quando ela fez um sinal negativo.

- Não consigo, não. – afastou as mãos das dele e tocou o rosto. – Não me faz pensar nisso, aqui está bom com você, o Happy e animais com formigas. Só não me deixa dormir e tudo bem, eu não posso ficar sem ti nem mesmo enquanto durmo, só fica comigo. Por favor, só fica comigo. – o agarrou novamente.

- Eu já estou aqui e vou ficar. – murmurou, o coração dela batia tão rápido contra o seu peito. – Se um dia vosmice ir embora eu vou atrás, sou bom nisso. – riu da própria piada. Ela nunca saberia o quão bom ele era.

- E se vosmice for embora?

- Nunca vou embora.

- Mas e se for? Se tiver que ir e eu acabar ficando sozinha de novo? – se afastou e o encarou apenas a possibilidade a fazia viver um inferno. – Promete que sempre vai estar aqui por mim. – pediu. Ele fez um sinal positivo.

- Pra sempre, mesmo se a morte nos separar, eu voltarei por vosmice. – porque ela era a coisa que ele mais amava no mundo e ele era tudo o que ela tinha e precisava.

- E eu prometo que sempre vou te esperar. – respirou fundo, quase aliviada. Ela precisava disso.

- Temos um acordo. – sorriu e novamente ela contornou seu rosto. – Até que a morte nos separe, senhorita Luce? – brincou e ela sorriu em resposta.

- Senhorita Lucy Heartfilia. – havia brilho naqueles olhos. – Até mais que a morte, senhor END. – murmurou. Olhos com olhos. Respiração com respiração. Boca com boca.

Quando se beijaram a queda do precipício não era um problema, porque juntos poderiam voar.

†                                                           †                                                        †

- Está melhor? – o homem questionou e END o encarou. – A quantidade de medicamentos que compra é bem menor, imagino que o seu senhor esteja melhorando. – sorriu abertamente. Claro. Havia dito algo a respeito de ser caçador com amigo com problemas, mas pela cor da pele foi fácil que todos pensassem que era o escravo e seu dono tivesse problemas.

- Sim, bem melhor, ainda com dificuldades para andar, mas quase novo. – garantiu.

- E está feliz com isso, seu sorriso preenche a loja toda. – o senhor riu e ao seu lado, um segundo homem concordou. Era o filho. Estava aprendendo o oficio do pai assim, permanecendo na loja. – Anda mais feliz que o noivo dos Heartfilia. – olhou para o mais novo que assentiu.

- Heartifilia? – não se impediu de questionar.

- Sim, creio que já ouviu a respeito do casamento. A filha mais velha vai se casar dentro de dois dias. Um nobre, acho que veio de Portugal, Luki o nome dele.

- Loke, pai. – o outro concertou.

- Isso, é possível o ver caminhando pelas ruas. Achava que ele estava feliz, mas você – riu abertamente. – É só por seu senhor que está feliz mesmo? – tinha aquele olhar de quem confabula.

END não respondeu. Então a próxima homem do vigarista seria a família de Lucy? Se pudesse sentir mais ódio do que já sentia do homem, ele sentiria.

Saiu da loja e caminhou tranquilamente pelas ruas. Ele planejava matar Loke com suas próprias mãos e então usar suas reservas para ir embora com Lucy. Teriam uma casa em um local tranquilo, ela viveria com Happy e outros animais, onde ninguém iria saber o que ocorreu, onde ela poderia se curar não apenas fisicamente. Era o que planejava fazer. Contudo, a descoberta o fez mudar de planos. Não poderia deixar o ruivo se casar, teria problemas para ir contra ele e o comendador. Mas ganharia prestigio e dinheiro entregando Loke à coroa e assim poderia desposar Lucy.

Assim poderia fazer com que a família o aceitasse, não seria difícil, eles não seriam criteriosos depois do que ocorreu com ela e de serem salvos.

Sabia o que fazer, teria que andar rápido.

Voltou à caverna que dividia com a loira e contou a respeito do casamento. Não deu detalhes sobre o noivo, apenas que iria ocorrer. Lucy não demonstrou nenhuma emoção a respeito. Ao que parecia ela não tinha interesse na família, falou o nome para selarem, da forma deles, o que tinham.

Na manhã do dia seguinte, selou Happy, deixou Lucy com suprimentos o suficiente e pediu que ela esperasse, voltava no dia seguinte. Partiu.

O problema de conseguir voar ao cair no precipício, é que isso é delicado. Frágil. Um erro. Uma frase. Um assunto pode fazer com que as assas se rompam e só se descobre quando é tarde demais.

†                                                           †                                                        †

Cavalgava com rapidez. Os cavaleiros o seguiam com destreza. Uma chuva forte demais havia os atrasado. Provavelmente quando chegassem o casamento já teria terminado e sido consumado.

Para piorar tudo, Happy parecia sempre estranho. END havia quase caído cerca de três ou quatro vezes porque o animal empinava, relinchava e ia contra suas ordens sem parar. Chegaram a oferecer outro animal. Obviamente não quis.

- É uma cidade minúscula. – o oficial comentou enquanto os cavaleiros seguiam pelas ruas. END não queria estar lá quando tudo ocorresse. Seria um péssimo momento, causaria uma péssima impressão na família de Lucy e ele sendo quem era já causava uma impressão ruim o suficiente. – O acordo que fez de ser o oficial desta cidade em troca dos serviços prestados é desvantajoso, considerando o ouro que dispensou. – e claro, a mão da filha do comendador.

- Tenho meus motivos. – respondeu enquanto acariciava o pescoço de Happy tentando o fazer ficar quieto. Agora todos os cavalos agiam de forma igual.

Aguardaram por dezenas de minutos e foi o suficiente para que END entendesse que alguma coisa estava errada. A cidade sempre cheia de vida estava parada. Completamente parada. Mas alguém teve que avisar.

- Senhor. – o guarda estava diante dos dois. Falava com os dois. Eram ambos oficiais agora. – Algo ocorreu, a igreja da cidade está queimada, as ruas vazias e os cidadãos mortos. Não achamos nenhum vivo.

- Como é? – teve que questionar, o guarda o encarou.

- É como... Como se um demônio tivesse passado na cidade. – havia terror naquele rosto. – Queimou a igreja, desafiou o Senhor e então matou todos os cidadãos restantes. – engoliu seco. – O lugar foi amaldiçoado.

Um comunicado. Diversas ações. Enquanto o outro oficial seguia pelas ruas, ia até a casa do comendador tentar compreender o que ocorreria, END tentou caminhar pelas ruas. Happy estava melhor que os demais cavalos que relinchando praticamente saiam correndo dali.

Alguma coisa estava errada. Alguma coisa estava errada.

Ele precisava ter certeza que Lucy estava bem. Pouco se importava com a cidade.

Tentou guiar Happy para a clareira, mas o cavalo seguiu o caminho que quis. END apenas se agarrou a ele com força uma vez que se embrenhava pela mata, lugares difíceis de ir até mesmo para um humano, muito mais para um cavalo.

Mas Happy foi, e só parou quando quis. Relinchou e por pouco não jogou END no chão.

Bufou irritado com o animal. – Precisamos ir até a clareira, não me faça... – parou. Havia uma arvore. Havia corda na árvore.

Encarou o nó dado. O sangue nas raízes e terra. Alguns animais se alimentavam, poucos já que Happy havia assustado todos. E havia um corpo.

Lucy estava dependurada na árvore, os olhos castanhos sempre brilhantes esbugalhados, boca rocha e o corpo escapelado.

O problema de se cair do precipício é que quando chega ao fundo, o resultado é apenas destruição.

†                                                           †                                                        †

Atualmente

Abriu os olhos pouco antes do mundo girar e todo o corpo doer.

Onde estava? Onde estava Happy? E... Asfalto?

Tocou o piso escuro e parcialmente gasto. Asfalto. Asfalto. Isso. Havia tido um sonho. Não. Um sonho não. Uma lembrança e tudo se misturava em sua mente.

Natsu, End. Quem ele era?

Virou de barriga para cima e encarou o céu. Ainda era manhã ao que parecia. Ficou o que pensou meses desacordado, mas deveriam ser semanas. O sol claro era tão... Lissana.

Lissana?

- Você é Natsu Dragneel. – a albina tinha o rosto serio e ele se levantou em um pulo. O que foi péssimo. O corpo todo doeu. – Tome cuidado, por favor. – ela se aproximou. Ele se afastou. Caiu de bunda no chão. Estava sonhando? Só poderia estar sonhando.

- Onde eu estou? – olhou em volta. Uma via e árvores. Não passava carro. Não conseguia ver o inicio da via, não conseguia ver o fim.

- Fora da cidade, por isso estou aqui. – a albina sorriu e se abaixou. – Você conseguiu Natsu, conseguiu fugir. – o quê?

Ficou parado a encarando. Lissana não estava morta? A mente não funcionava. As memorias se uniam e sobrava apenas a confusão. Teve que lembrar quem era.  

Natsu, filho de Igneel e uma escrava que havia sido estuprada. Seu irmão era Zeref e o melhor amigo um cavalo chamado Harry. Nunca teve nenhuma mulher além das baratas dos bordeis, mas Lissava era a sua ex-namorada morta em um acidente de carro. Carro, aquelas coisas que haviam sido utilizadas pra substituir o Happy.

Ele deveria ter continuado com o cavalo.

- Eu sei que está confuso agora. – Lissana garantiu. Sim. Ela estava morta. Dentro de um carro. Ossos quebrados. Não só ela. muitas pessoas estavam mortas. Ele conseguia ver as pessoas. Ele conseguia ver Lucy.

- Luce. – murmurou e Lissana arregalou os olhos azuis.

- Não. Se voltar lá, vai morrer. Você é o único que conseguiu sair daquela cidade em séculos. Aproveite. Vá embora. – pediu. Lissana havia perdido a irmã. Mirajane estava na cidade, ficaria para sempre, Natsu era o máximo que ela conseguiria salvar.

- E o restante? – Gray, Erza, Levy, Gajeel... Lucy. Natsu estava ali por Lucy.

Ela o esperou. Ele voltou e mesmo que Lucy tivesse o mandado embora. Ele voltaria.

- Não vai sobrar ninguém se você voltar. – a albina murmurou. Estava pedindo para que ele desistisse. Abandonasse. Fez um sinal positivo. Provavelmente não sobraria ninguém mesmo, incluso ele. Estava onde deveria estar, com quem deveria estar. – Você é Natsu, não é uma vida passada. – Lissana começou a falar quando ele se ergueu. – Você tem que dar valor ao agora, a sua vida de agora. Você tem sua família, seus pais e seu irmão! – o desespero dela indicava o que estava claro, ele iria voltar.

- Zeref é o suficiente, ele vai assumir o lugar nas empresas. – e agora, tudo se encaixava, as sensações. Natsu estava agradecido pela família, não havia tido essa chance antes. Toda sua vida, tudo o que aproveitou, até mesmo o acidente, era tudo para chegar a esse ponto de sua vida.

- Que merda! Você não pode estar falando sério. – ela iria começar a chorar. – Se voltar lá, o que vão fazer com você... Ela é o foco e vão te usar para extravasar isso. Lucy Heartfilia não é quem você acha que é. – garantiu firme e chorosa, como apenas Lissana conseguia fazer.

- Pois é, a maioria das vezes é assim e isso é um saco. – se ele soubesse quem ela era iria ter a colocado em cima de Happy no passado e não deixado na gruta. Bateu a mão na bermuda e olhou o corpo. Hematomas arranhões e perto dos pés uma bengala.

Ela tinha pensado até nele caminhando por muito tempo? Lucy era uma assassina histérica e meiga.

- Você não pode ir – Lissana quase gritou e surgiu na sua frente. Poucas vezes ele havia a visto tão irritada. – Você me deve a sua vida, me matou. Não tem o direito de se sacrificar. Você me deve e não vai ir lá morrer. – apontou na direção da cidade. Parecia tensa e ele respirou fundo.

Três meses de sonhos e ele não se movia ou falava porque não estava pronto.

- Desculpe por decidi dirigir o carro àquela noite. – a encarou. – Se eu pudesse daria a minha vida para mudar o passado.

- Então você...

- Não posso. – murmurou. – Lissana, você está morta e nada que eu faça com a minha vida vai mudar isso. Eu sinto muito e te amo de verdade, mas não existe algo que eu realmente possa fazer. – deu um passo na direção dela. Perto demais a ponto de tocar. Ele não a tocaria. – Eu não sei o que te espera ai, mas sei que é o seu amor por mim que te mantem aqui. Tudo bem, eu te amo também, mas pode ir. – sorriu abertamente. – Obrigada por tudo e vou fazer o que puder por Mirajane, mas mesmo que nos ame, você precisa ir e deixar de cuidar de nós. – ela chorou mais. Ele chorou também.

- Eu não quero que você morra. – a voz dela era quase um assobio.

- E nem eu queria que você morresse. – de certa forma concordou. Estava pedindo o impossível para ela. – Mas é o que eu tenho que fazer, pode ficar tranquila, eu estou bem e vou ficar. – garantiu. – Lissana, pode ir. – foi o suficiente.

Ela o abraçou e Natsu fechou os olhos ao sentir a sensação estranha e familiar de algo ao seu redor. Não um corpo, mas quente e aconchegante como uma energia.

- Tudo bem – ela murmurou. – Natsu, eu... Eu te perdoo pelo acidente. – completou e ele tencionou o corpo para se impedir de soluçar.

Então da mesma forma que começou, se foi.

Natsu abriu os olhos e conseguiu encarar apenas o vazio. Ela não estava mais ali. Seja qual for o lugar, havia ido. Tentou pensar um pouco a respeito do pedido dela. Era Natsu Dragneel e ainda estava vivo.

O problema era que Natsu Dragneel, assim como END, também amava Lucy Heartfilia. Se conseguisse compreender em qual momento deu o passo que o fez cair do abismo, foi o primeiro que ele deu em direção à cidade.

Ao menos agora sabia onde estava pisando.


Notas Finais


Então? O que acharam?

Bom, eu achei que deveria ser um capítulo desta forma para que ficasse claro sobre o passado e incluísse o Natsu em tudo assim como explicasse sobre quem de fato é o Loke. Claro, mais detalhes serão dados no próximo capítulo e outro ponto de vista, mas me falem que o trio Lucy, END (Natsu) e Harry não era perfeito *-*, achei eles tão mimosos. Tá, parei.

Posso dizer que a Lucy vai aparecer mais e que esse novo Natsu com ela vai ser bem mais legal.

Outra coisa que queria finalizar era o caso da Lissana, ela estava presa ao Natsu e achei legal liberar a nossa fantasminha. Ela tinha que se resolver com ele e a culpa que ele carregava pra conseguir partir e antes do fim, achei legal fazer isso.

Espero que me digam o que acharam e logo, logo tem mais.


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