1. Spirit Fanfics >
  2. Sombras e Escuridão >
  3. Capítulo Único

História Sombras e Escuridão - Capítulo Único


Escrita por: LRSpector

Capítulo 1 - Capítulo Único


 

“Suavemente, nós trememos esta noite,

Imagino sorrisos perfeitos desaparecendo, é tudo que me restou,

Eu disse que nunca deixaria você, nunca mudará

Não estou satisfeito com o jeito que as coisas estão na minha vida”

***

O chão de pedra é frio contra a sola dos meus pés. Lá fora a noite é escura e não há estrelas no céu. Os corredores de Winterfell estão silenciosos, nem mesmo meus passos parecem quebrar o silencio. Há uma pequena lamparina na minha mão, a luz dela é tremula, mas é o suficiente para que eu possa enxergar para onde estou indo, embora isso seja apenas uma comodidade boba, eu não preciso dessa luz para me guiar. Eu já fiz esse mesmo caminho vezes o suficiente para ter cada mínimo detalhe dele gravado em minha mente.

Quando eu era criança costumava ter medo desse castelo. Das sombras que sempre pareciam me perseguir quando a noite chegava. Deitada no meu quarto, eu sempre deixava uma vela acessa em cima da minha mesa de cabeceira, e quando ouvia o vento rugindo lá fora me cobria completamente esperando que o sono pudesse me encontrar embaixo do meu casulo feito de cobertas. Eu nunca fui destemida como meus irmãos, e até mesmo Arya minha irmã caçula era mais corajosa. Minha mãe sabia do meu medo do escuro e sempre que podia ficava ao meu lado até que eu finalmente pudesse dormir, embora isso não agradasse meu pai. Ela ficaria orgulhosa de mim se pudesse me ver agora, como não temo mais a escuridão que se esconde entre as paredes desse castelo que é meu lar de infância. Meus dedos encontram as pedras da parede no corredor e lentamente deslizo minha mão ali sentindo o calor se infiltrar por sob minha pele. A luz da lamparina reflete contra os tijolos e por um momento imagino que estou caminhando no fundo de um profundo oceano. Um oceano tão escuro que não há nada ao meu redor, apenas água e ela é densa e negra e apenas a lamparina em minhas mãos ilumina alguns metros a minha frente. Um sorriso cresce em meus lábios quando penso dessa forma. Eu não sou mais uma garotinha se escondendo debaixo das cobertas, definitivamente eu não tenho mais medo do escuro pois há uma escuridão muita mais profunda agora que ronda as bordas do meu coração.

Meus pés alcançam meu destino. Abro a porta sem cerimônia como fiz todas as outras vezes em que estive aqui. O quarto é pequeno e estreito. Ali dentro a lareira está lentamente se apagando e as pequenas chamas mal iluminam o lugar. Ele está em pé parado como uma estátua em frente à janela. Posso ver seu rosto de perfil e por um momento apenas permaneço ali admirando-o em silencio. A curva do seu queixo, as altas maças do seu rosto, os cabelos negros que se misturam com as sombras do lugar. Deixo meu olhar percorrer seu corpo, suas costas desnudas e sinto o calor brotar dentro de mim. Ele me aquece e por um momento as sombras dentro do meu coração se afastam.

Atrás de mim fecho a porta com um baque suave. Ele continua olhando pela janela sem se incomodar com a minha presença. Já fizemos esse mesmo ritual tantas vezes que esse quarto também pertence a mim. Olho ao redor e sou assaltada pelas lembranças da minha infância. Quando menina eu detestava esse lugar, e realmente só vinha até aqui quando era arrastada por Arya, ela sempre queria estar perto dele, nosso irmão bastardo. Anos depois ironicamente aqui é o único lugar em Winterfell que parece me trazer algum tipo de conforto.

Ele se vira em minha direção. Seus olhos escuros estão presos no meu e por um momento acho que também posso ver as sombras que espreitam atrás dos olhos dele embora isso não me assuste. Quando crianças éramos completamente o oposto um do outro, agora somos tão parecidos que isso me espanta.

- Sansa.

A voz dele é suave, um murmúrio na escuridão que deixa meu corpo alerta. Meu coração palpita como um pássaro tentando escapar da gaiola do peito. Com os dedos trêmulos deixo a pequena lamparina ao lado de sua cama, e caminho em sua direção. Paro a centímetros dele, tão perto que posso sentir o calor do corpo dele emanar para o meu. Meus dedos tremem do desejo de toca-lo. 

- Você não devia estar aqui.

- Você sempre diz isso Jon.

Seu olhar parece devorar o meu e há tantas coisas escondidas por trás dos seus olhos que não ouso nomeá-las. Mesmo assim permaneço ali em frente a ele, somos da mesma altura por isso posso encara-lo de frente e desafia-lo embora saiba que no final não haverá nenhum ganhador nesse jogo.

- Você quer que eu vá embora?

Ele não responde minha pergunta, mas ergue uma das mãos e pousa delicadamente contra minha cintura. Posso sentir seu toque mesmo por sobre o tecido da minha camisola, e isso faz meu coração disparar. Ergo minhas mãos e deixo elas correrem livrem e como desejam sobre os cabelos dele. Ele fecha os olhos como se aproveitassem o toque e aproximo meu corpo dele, deixando agora que nossos corpos se toquem.

Jon circula meu corpo com seus braços, deposito meu rosto contra seu pescoço e sinto o cheiro tão familiar dele. Eu costumava despreza-lo quando éramos criança, apenas pelo simples motivo que ele existia, hoje eu me perco no seu corpo e o desejo tanto que as vezes parece que isso irá me consumir por completo.

Ele não é mais o menino magricela que costumava ser. Correndo atrás do nosso pai buscando algumas migalhas de afeto. Ele é um homem agora e todo seu ser demonstra isso. Há uma coroa sobre sua cabeça, mas é ele quem se curva em minha direção seus lábios no meu rosto, tão familiar e ao mesmo tempo tão desconhecido. Não conheço completamente o homem a minha frente. Um homem, irmão, rei. Não me importa, e talvez seja por isso que é tão fácil me perder em seus braços. O toque dele deixa meu corpo elétrico. Já não me lembro mais quando começamos esse jogo de gato e rato. Quando foi que eu corri pela primeira vez pra esse quarto buscando conforto? Não consigo me lembrar. Há uma escuridão atrás de mim, ela é trazida junto com minhas lembranças. Quero apagar meu passado até que não sobre mais nenhum vestígio dele em mim, mas não consigo estou tão presa a ele que não há mais como eu me soltar. Eu sou meu passado, e não existo no presente, e meu futuro é tão incerto quanto este momento com Jon.

Busco seus lábios com os meus. Nossas respirações juntas se transformam em uma. Sinto o corpo dele se retesar contra mim, mas é tão rápido que me pergunto se não foi minha imaginação. Ele quebra nosso beijo, e quando olha em minha direção, vejo o remorso no seu olhar me queimando, eu não me importo com isso. Não me importo mais com o certo ou com o errado, tudo isso me parece algo tão fútil agora. Quero toca-lo e sentir seu corpo sobre o meu. Real e seguro, porque ele me faz esquecer sobre Ramsay, Jofrey e todas as outras pessoas que me machucaram.

As mãos dele sobem para meus ombros, deslizando lentamente minha camisola pra baixo. Ele me toca como se eu fosse de vidro, tão frágil que pudesse se quebrar a qualquer momento. Há dúvidas em seu olhar, uma culpa tão intensa que deixa o rosto dele tenso, mas quando eu toco o fecho que prende sua calça, sinto como ele me desejam como um homem deseja uma mulher, e isso é suficiente pra que todas as outras vozes dentro da minha cabeça sejam abafadas.

Nos beijamos com ânsia, paixão minhas mãos percorrem o corpo dele com fúria, e sem saber como logo estamos na sua cama. O mundo se transforma num borrão de luz e sombras. Seu corpo sobre o meu se movimenta de forma ritmada. Estamos tão próximos que posso sentir o coração dele batendo num ritmo desesperado. Sei que ele faz isso porque deseja me salvar. Me salvar do mundo, de mim mesma, mas não há salvação pra mim. Não sobrou mais nada pra ser salvo. Ele me beija com sofreguidão, até que meus lábios estejam dormentes, e eu adoro essa sensação. Ele me completa, me preenche, e quando chego finalmente ao clímax, é o nome dele que escapa dos meus lábios repetidas vezes, como um mantra uma oração que desaparece na escuridão da noite.

 

“Eu deveria estar feliz?

Com tudo que eu sempre desejei, isso vem com um preço

Eu deveria estar feliz?

Com tudo que eu sempre desejei, isso vem com um preço

Você disse, você disse que morreria por mim”

***

 

É difícil deixar o calor dos seus braços, mesmo assim eu forço meu corpo para fora da cama e encontro no chão minha camisola, o tecido arranha meu corpo levemente dolorido enquanto a visto. A lareira agora está completamente apagada, até mesmo as brasas se extinguiram tornando-se pequenos montes acinzentados.  Com a ponta dos dedos tranço meu cabelo deixando que ele caia suavemente de um lado dos meus ombros, o movimento me acalma, sinto as batidas do meu coração voltarem a ter um ritmo tranquilo, e quando isso acontece contemplo meu irmão pela última vez.

Mesmo em seus sonhos ele não parece tranquilo, há um vinco de preocupação em sua testa, e me pergunto se ele está tendo algum tipo de pesadelo. Não há mais sonhos para nós dois. Desejo tocar seu rosto, sentir o arranhar de sua barba contra meus dedos, mas não quero acorda-lo. Se olhar mais uma vez em seus olhos não seguirei em frente, e não posso mais voltar atrás. Não há nada atrás de mim apenas escuridão.

Saio do quarto em silencio, e dessa vez não levo a lamparina comigo, não preciso da luz para achar meu caminho, e espero que de alguma forma aquela pequena chama que deixei para Jon possa afastar seus pesadelos assim como acontecia comigo quando eu era criança.

Quando chego ao meu quarto o único som ao redor é o vento passeando pelos corredores, nem mesmo os fantasmas do castelo parecem estar perambulando pelo lugar essa noite. Visto minhas roupas com pressa, ajeito cuidadosamente o vestido sobre o corpo, e deixo  que meus dedos percorram o emblema do lobo bordado sobre meu peito, me dando forças me fazendo lembrar quem eu sou. Uma loba do norte.

Desço as escadas com pressa, minha mala é leve tão diferente do meu coração que está pesado dentro do meu peito. Lá fora o frio e a neve cobrem toda a paisagem. O inverno é mortal e belo ao mesmo tempo e talvez seja exatamente por isso que eu aprecie tanto ele. Meus passos me levam até os estábulos, os cavalos dormem tranquilamente ali sem se importar com a alta mulher loira parada na porta. Ela usava uma armadura prateada, seus cabelos curtos são de um tom claríssimo de loiro, ela não parece sentir frio embora seu rosto esteja corado.

- Você tem certeza disso lady Sansa?

A voz de Briene é calma e compassada, e sua pergunta apenas faz com que a certeza dentro de mim cresça ainda mais. Sem responder sua pergunta passo pela mulher e vou em direção aos cavalos, eles estão selados como ordenei e isso me agrada. Monto com facilidade, embora odeie cavalgar sei fazer isso com bastante eficiência. Cubro meus cabelos com a capa e solto a respiração contida dentro do meu peito em forma de um suspiro.

Quando deixo para trás as muralhas de Winterfell, meu lar de infância em direção ao Vale não há lágrimas nos meus olhos. Dentro de mim posso sentir novamente as sombras se movendo e pela primeira vez não me sinto incomodada com isso. Quando eu me encontrar com Mindinho vou usar essa força que cresce dentro de mim para conseguir aquilo que desejo. E desejo tantas coisas... Vou usá-lo, assim como ele me usou, porque eu aprendi a jogar embora fosse sempre subestimada pelos outros jogadores.

Atrás de mim posso ouvir o som dos cascos do cavalo de Briene, ela não está feliz com minha decisão, mas é leal o suficiente para me seguir, e embora não tenha lhe dito isso me sinto agradecida por isso. Há minha frente o caminho se desenrola como uma serpente e tento conter minha ansiedade.

Não quero pensar em Jon, mas é ele que está em todo recanto do meu ser. Sei que ele vai sofrer com minha partida, mas isso é algo que preciso fazer sozinha. É a minha vez de lutar. Dentro de mim tenho certeza que Jon lutaria comigo, morreria por mim se fosse preciso, mas não vou deixar que algo assim aconteça.

Desejo vingança. Desejo  reinar ao seu lado... Desejo que ele viva. Desejo que viva por mim.


Notas Finais


Oi pra todo mundo!

O que dizer sobre essa história?
É minha primeira vez escrevendo sobre o casal, eles não são meu casal preferido, mas enquanto estava escrevendo minha outra fic de GOT, essa historia simplesmente entrou no meu crânio e enquanto eu não coloquei ela pra fora não consegui me concentrar na minha fanfic principal.
Gostei bastante de trabalhar com esses dois e me diverti muito escrevendo isso embora tudo tenha sido feito meio que na correria. Ou eu escrevia isso, ou ia acabar esquecendo completamente tudo no dia seguinte.
Enfim espero que vocês tenham aproveitado a leitura!

PS: os trechos em itálicos são da música Cat and Mouse da banda The Red Jumpsuit Apparatus e ela provavelmente foi a grande responsável pra que eu tivesse essa ideia. Provavelmente vou ficar agora um tempo sem ouvir música enquanto escrevo ou nunca vou conseguir terminar os capítulos da minha outra fic XD


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...