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História Some Kind of Monster - Sonhos e fugas


Escrita por: cryomancer

Notas do Autor


Gente, eu sei que eu demorei, desculpa.

Capítulo dedicado a Gio amoreco que fez aniversário ontem, parabéns de novo Gio, era pra ter sido postado ontem mas já são duas horas da manhã, ENTRETANTO o céu ainda está escuro, então sinto como se ainda fosse ontem. Fica a intenção, rs.

Boa leitura!

Capítulo 18 - Sonhos e fugas


 

Kakashi estava a puxando de volta à realidade outra vez, e mesmo que houvesse um estranho, porém intenso prazer mental e físico na companhia daquele que bagunçara, e continuava bagunçando sua vida, ela cedeu por achar que precisava do “baque”.

O problema é que depois da noite em que dormiram juntos, Sasuke acreditava fielmente que havia algo mais, e agia como tal, mesmo na escola. Seus olhares faziam com que o chão abaixo dos pés de Sakura sumisse, e era trabalhoso ignorá-los.

O ambiente profissional se tornara um inferno. Mesmo assim, ele a tratava como uma esperança, algo a quê “se agarrar” para continuar vivendo, e com o coração tocado, Sakura não poderia negligenciar seus sentimentos.

Contudo, se fosse para medir os prós e os contras, ela enlouqueceria, pois sem dúvidas, perdera muito mais do que ganhara, e estava sendo difícil lidar com isso.

Perdera um emprego, uma vida nova, um namoro que tinha tudo para dar certo, e principalmente, sua paz de espírito.  Ganhara um jovem de dezessete anos com a cabeça quente e sem qualquer expectativa sobre o próprio futuro.

Tinha todos os motivos necessários para odiar Sasuke.

A única coisa que ficou foi o homem de meia idade, que passados alguns dias de sua cirurgia, estava em processo de recuperação. Sakura agora ia visitá-lo diariamente e passava duas horas, todas as tardes, na companhia de seu pai, que reclamava da contratação de uma enfermeira, já que ficaria usando óculos escuros durante todo o dia, sentado em uma cadeira de rodas ou deitado, sem ir a lugar algum.

Até que as adaptações à cadeira de rodas fossem feitas em sua casa, Kizashi permaneceria no Instituto, e a cada dia que se passava sua ausência era torturante. Também havia toda uma cansativa burocracia sobre a finalização precoce do tratamento, mas Sakura estava disposta a esperar.

Com a volta da visão, ele teria um motivo para permanecer vivo. Não tentaria suicídio outra vez. Era algo louvável.

E Kakashi percebeu a satisfação, o sentimento de dever cumprido quando se sentou àquela mesa com ela. Sakura havia finalmente arranjado tempo para entrar em contato, entretanto, a expressão em seu rosto não era das melhores, além de parecer fisicamente desgastada.

—     Estou trabalhando muito. – explicou – Também fiscalizo a instalação das rampas de acesso na minha casa, não quero que algo saia errado.

—     Ele vai ter algum acesso ao primeiro andar? – Kakashi estava curioso sobre aquele detalhe em especial, afinal, era uma bela escadaria caracol que levava as pessoas até o primeiro andar.

—     Infelizmente não há nada que possa ser feito quanto a isso, ele vai precisar andar se quiser chegar ao meu quarto. – Hatake franziu o cenho, confuso. Sakura  compreendeu imediatamente que não estava sendo clara o bastante – Ele anda normalmente, não tem defeito algum nas pernas, mas usa a cadeira de rodas por causa da condição visual. O processo de recuperação é longo, ele vai ver as coisas embaçadas por um bom tempo até se acostumar, não vou correr riscos de que saia andando por aí, por isso vou adaptar minha casa a ele.

—     Ele vai passar a morar com você?

—     Não sei. – ela segurou a xícara esfumaçante entre ambas as mãos –  Ainda não pensei sobre o assunto direito, não depende só de mim e também não é este o motivo de estarmos aqui.

—     De fato.

—     Eu o chamei para pedir as devidas desculpas pela maneira imatura que dei um fim a nosso relacionamento...

—     Fico feliz que tenha repensado esta idiotice. – objetou. O semblante lentamente se acendendo.

—     Mas nada mudou.  – continuou, a um só fôlego.

Pela primeira vez em todo o tempo de convivência, Sakura não conseguiu juntar forças para olhá-lo nos olhos.

Mesmo que já portasse certas habilidades para lidar com situações complicadas, a convivência com Sasuke certamente servia como um aprimoramento bastante efetivo. Ele era o mestre das complicações, afinal. Ela, apenas uma mente ainda sã o suficiente para colocá-lo nos eixos. Ainda.

—     Nada mudou. – ecoou, em tom de falsa conformidade.

—     Nunca disse que repensei alguma coisa, isto quem presumiu foi você.

—     Eu presumi várias coisas, e a pior delas foi achar que você era uma mulher sensata, que agia com princípios, agora não tenho mais certeza sobre isso.

Então eram dois. Sakura também não tinha certeza sobre o que ela própria havia se tornado.

Lembrou outra vez do amontoado de motivos coerentes que tinha para cultivar ódio por Sasuke, mas quando visualizava o rosto dele em sua mente, era impossível. Impossível magoá-lo, quando já parecia tão calejado. Impossível achar que ele representava o mal, quando a abraçou e a confortou da melhor maneira possível.

Sasuke, em carne, ossos e alma era apenas inocência. Ele via o mundo de uma maneira tão simples que era invejável, ele não dava importância ao que outras pessoas tinham a dizer sobre sua vida, falava o que queria, fazia o que desejava, independentemente de riscos e consequências.

Incrível. Ele era seu completo oposto.

Ele foi enfático, tudo que era diferente dele o atraía, e assustadoramente, ela meditou sobre estar passando pelo mesmo. Os dois eram paralelos, extremos, completamente desiguais, o último tipo de homem que ela achava que poderia a despertar interesse, e estava ali, conversando com o “topo de sua lista”, pensando sobre o que Sasuke estaria fazendo naquelas horas.

Seu psicológico a traía de uma forma tão dolorosa que Kakashi percebeu apenas durante o momento silencioso que se seguiu.

—     Sakura, o que aconteceu? Me diz. O que eu fiz de errado?

Ela desfez o primeiro botão de sua camisa, estava se sentindo sufocada, como se algo terrível a impedisse de respirar.

—     Você não fez nada de errado! – silvou, à beira de um ataque de nervos – Eu fiz!

—     Eu não consigo acreditar nisso...

—     Eu o traí! Qual a grande dificuldade em acreditar? Foi você mesmo que disse sobre não ter mais certeza de meus princípios e... – ela comprimiu os lábios, evitando um palavrão – Eu também não tenho mais. É simples. Sabendo disso, é melhor você seguir a sua vida, e eu vou seguir a minha.

Sakura sentiu o ardor sob as têmporas e as massageou, dando o tempo necessário a Kakashi para que ele pensasse sobre o que acabara de ouvir. Aquela declaração foi um sério ataque a seus sentidos, mas ele permaneceu sério e contido.

Pensou sobre os tempos em que Sakura costumava ser um ‘muro de pedras’. Era difícil que algo a desestabilizasse, foi um dos motivos pelo qual se apaixonou por ela, uma mulher estável, com classe. Entretanto, a pessoa sentada à sua frente só era fisicamente semelhante à Sakura que conhecera.

O peso de uma traição, algo tão hediondo para uma mulher tão honesta, poderia causar todo o drama diante de si? Certamente sim, mas ela já parecia desgastada quando terminou consigo. Havia algo acontecendo, algo grande.

—     Eu não tenho motivos para mentir e inventar coisas, se você se manteve fiel a mim, não sou mais digna de você. Procure pensar sobre isso antes de tomar sua próxima atitude. – avisou, com as mãos ainda cobrindo parcialmente o rosto tenso.

Ele pensou. Mas também pensou que poderia ajudá-la a ser a mulher que fora antes, se estivesse disposta a jurar que não cometeria deslizes assim futuramente. Ainda a queria tão intensamente que fecharia os olhos ante ao ato vergonhoso e poderia perdoá-la, queria perdoá-la e sair daquele estabelecimento como um casal normal.

Estava sendo louco, e sabia disso.

A maneira como Sakura fungou o trouxe de volta a realidade, pensou que ela estivesse chorando, mas rapidamente notou que estava enganado. Era óbvio, tinham pouco tempo de namoro, mas se conheciam há pouco mais de um ano, e ele nunca viu Sakura chorar. Nem uma vez.

Ela lhe lançou um olhar temerosamente opaco, amargo e morto em seguida.

—     Se você me disser que está arrependida e que jamais vai acontecer outra vez, estou disposto a perdoar...

—     Eu só quero que... – ela encheu os pulmões de ar, em um longo suspiro – Que você me diga que eu estou errada. Que eu não mereço ser levada a sério por ninguém, que o que fiz e estou fazendo é imperdoável, inaceitável e vai de encontro a tudo, tudo. Me diga que eu não sou a pessoa que você achou que eu era, que está decepcionado comigo, me faça sentir culpada por isso, talvez assim eu pare de... pare de...

—     Parar de quê, Sakura?

Quando notou o misto de angústia e confusão em seus olhos, Sakura percebeu que estava passando do ponto e deteve-se duramente.

O cheiro de chá tornou-se enjoativo, o ambiente, por mais aberto que fosse, estava a sufocando.

Como soube antes, a simples presença de Kakashi a trazia de volta à realidade, fazia-a repensar tudo que estava fazendo. Sasuke, por outro lado, era um sonho.

Com Kakashi havia a ética, a moralidade, a diferença entre o certo e o errado, as consequências, a maturidade. Com Sasuke nada daquilo existia, o mundo tornava-se um grande vazio sem regras, sem comedimento ou um mínimo de racionalidade.

Na teoria, Kakashi era uma corrida de obstáculos e Sasuke uma pista livre. Mesmo que, na prática, os obstáculos existiriam caso se escolhesse o mais jovem.

—     Olha, eu preciso ir embora. Não posso ficar. – Sakura estava hiperventilando quando abriu a carteira de forma trêmula, puxando notas em dinheiro para jogá-las sobre a mesa.

Kakashi continuou a observando sentado com incredulidade. Não imaginou que ela teria a ousadia de partir no meio da conversa, daquela forma tão simples, como se não lhe devesse boas respostas. Ficou assustado pela maneira abrupta com a qual pegou a bolsa e o próprio casaco, antes que saísse correndo do bar.

—     Mas que porra...

A porta sequer fechara quando Kakashi a puxou outra vez abruptamente. Sakura olhou por cima do ombro, percebendo que estava sendo seguida e sequer teve tempo de lamentar.

Subitamente o sentimento de fragilidade se esvaiu, e ela voltou a ser o que era.

—     Eu não quero criar uma cena aqui! – gritou, desviando o olhar a toda a atração forasteira que atraíra.

—     E se eu quiser criar uma cena, Sakura?

—     Vai criar sozinho!

—     O intuito de conversarmos é justamente esclarecer a sua loucura impensada, e você acha que tem o direito de sair antes de me explicar? De me fazer entender que porcaria existe dentro da sua cabeça? – o nervosismo em sua voz era patente, mas ao mesmo tempo, estava assustadoramente aborrecido – Eu só quero entender o que aconteceu, pois sinceramente, nada me vem em mente, eu disse tudo que poderia dizer, estou disposto a perdoar você para seguirmos em frente e é assim que...

—     Você está me pressionando, então eu realmente não vou me sentir culpada por isso, Kakashi. – com o alerta, Sakura o observou de maneira ríspida. Não podia jogar o tempo que passaram no “lixo”, era óbvio que ainda sentia carinho por ele, que ainda tinha sentimentos, mas não achava justo permanecer com Kakashi quando seu coração estava dividido, não queria ser a inconfiável do relacionamento, não queria sofrer desconfianças, narrar a ele todos os lugares que pretendia estar e esperar por um “ok” por pensar estar em dívida. Não estava disposta – Eu acho que gosto de outra pessoa. Será que falei de uma maneira esclarecida, ou você quer que eu repita?

Kakashi deteve os próprios impulsos de exigir mais explicações, não tinha como contrapor uma afirmação tão clara. Não tinha como olhar em seus olhos e dizer que estava mentindo, não estava.

Sakura se afastou, abrindo a porta do carona para deixar seus pertences. Quis manter-se ocupada para não encarar a reação dele a sua declaração, embora soubesse que havia alguma.

Retornando ao lado que outrora estivera, Sakura olhou profundamente em seus olhos vagos, imersos em pensamentos desconhecidos. O corpo masculino no caminho entre a calçada e a porta.

—     Com licença.  – disse, de forma glacial.

—     Tinha alguém na casa com você, naquela noite. Não tinha? – ele soltou uma risada sem humor, cinicamente forçada – E certamente não era um oftalmologista. Acha que eu sou algum idiota?

—     Com licença.

—     Acha que eu não tenho o direito de saber quem é, Sakura?

—     Os direitos que você tinha sobre mim acabaram, meu amor.

Ela jamais se referiu daquela maneira a ele de forma tão dissimulada, antes.

Kakashi deu um sutil passo à frente, a expressão em seu rosto ainda neutra, porém, foi o suficiente para que Sakura o fitasse consternada, em sério estado de aviso. Abrindo bem os olhos, ela sentiu o rosto dele encaixar-se ao lado do seu, e não conseguiu acreditar que, naquelas circunstâncias, ele poderia ter a audácia de tentar seduzi-la para alterar a ordem dos acontecimentos.

—     Eu já entendi o motivo de todo esse segredo. Quando eu perguntei quem era, no dia em que terminou comigo, vi os seus olhinhos se encherem de lágrimas... – ele sussurrou. Seus olhos verdes se estreitaram ao detectar o tom impuro e cínico de sua voz. Não conseguiu reconhecer aquele homem, e foi o suficiente para que sentisse medo – É um homem casado, não é? Meu Deus, você realmente esqueceu qualquer mínimo de vergonha que teve um dia...

Sakura sentiu o próprio corpo anestesiado, não conseguia se mover, sequer respirar corretamente. Estava abismada com as palavras muito nítidas que ouvira.

Ela cerrou os punhos, sentindo as mãos tremerem copiosamente ante o súbito sentimento de cólera que tomou cada átomo de seu corpo, e juntou as forças ali, empurrando-o fortemente para longe de si.

Não hesitou diante do olhar assustado que recebeu quando o corpo masculino se chocou brutalmente contra seu carro.

—     Quem pensa que sou? – berrou, pouco se importando com os transeuntes que caminhavam ao redor da situação, ou mesmo em parecer louca, nada mais importava – Honestamente, eu tentei manter a compostura, mas se você ficar um só segundo a mais aqui na minha frente, vou te agredir. Vou te agredir, não me importo se você revidar, se minha força for nada comparada à sua, mas eu realmente vou bater em você. Então, por favor, saia da minha frente, e eu vou tentar esquecer que disse isso de mim.

—     O que você quer que eu pense? – retrucou.

—     Não sou uma destruidora de lares! Saia da minha frente!

Sakura respirou longamente, e um soluço entrecortado escapou de sua garganta. Já estava com os nervos à flor da pele, e não precisava olhar a si mesma em um espelho para saber que seu rosto provavelmente estava rosa.

Quando era criança, nervosismo e excesso de raiva faziam manchas aparecerem em seu corpo. Felizmente perdera aquele traço involuntário.

A mão masculina tocou seu antebraço com gentileza, e Sakura recuou abruptamente.

—     Não toque em mim! Saia da minha frente!

Com a paciência esgotada e percebendo que curiosos se aproximavam, Kakashi abriu caminho para que ela pudesse passar.

Sakura e ele trocaram olhares aborrecidos.

—     Isso não acabou ainda, Sakura. – cruzou os braços, fazendo o comentário de forma surpreendentemente casual.

—     Acabou sim. – abriu a porta do carro com força, fechando-a sonoramente ao entrar – Se me dá licença.

—     Continua teimosa...

—     Não sei por que ainda perde o seu tempo.

 


                                                                                       ∞

 

 

Hinata era uma ótima voluntária. Uma visão de fora que analisasse o ensaio naquele dia, diria que ela, não Sakura, era a responsável pela organização da peça.

Durante as duas horas que passaram dentro de um estúdio, Sakura não se importou em acalmar o bando de “crianças” que conversavam como se aquele fosse um horário vago ou reclamar da falta de expressão na dublagem das frases. Hinata e o funcionário do estúdio discutiram os tons de vozes, os ajustes que precisavam ser feitos, o que estava bom.

Sakura escolheu um lugar ao lado da mesa de café e lá permaneceu, observando cada um dos alunos dublarem seus personagens em uma divisão feita por cenas. Apenas acenava quando a palavra era dirigida a si, sequer ouvia as perguntas, respondia que sim.

Se soubesse que teria uma discussão fervorosa com seu ex durante a manhã daquele dia, sequer marcaria as gravações para a data em questão. Não estava em seu juízo perfeito, apenas recapitulando cada mínimo fator de sua discussão anterior, pensando sobre o quê dissera de errado, e céus, foram muitas coisas.

Observou com atenção o momento em que Sasuke ficou sozinho dentro da cabine. Um grande fone contornando suas orelhas, pelo qual recebia o retorno do que estava falando, e Hinata ao lado de fora, gesticulando, pedindo por mais empolgação.

Ele parecia angelical sempre com o olhar baixo, lendo suas partes. Em certos momentos parecia sereno, em outros, extremamente entediado e ansioso para ir embora, o que resultou em um trabalho de dublagem medíocre que sofreu incontáveis interrupções para sair, ao menos, bom.

Se não houvesse tanto em sua cabeça, estaria no lugar de Hinata. Quem sabe até dentro da cabine junto a ele, beliscando-o a cada mínimo erro, esbravejando todos os seus defeitos de entonação. Mas não, não aconteceria, e todos aqueles estudantes, não só Sasuke, tiveram sorte por isso.

Aliás, estava tão distraída com seus próprios problemas que sequer notara: passava pouco das quatro da tarde de uma sexta-feira. Sasuke deveria estar trabalhando em seu serviço naquelas horas.

Foi o bastante para que retomasse seu comportamento normal, se aquilo prejudicasse sua pena, levando a uma penalidade, não aguentaria conviver com a própria culpa.

Estando no meio da cena da dança, ele e Tenten imediatamente perceberam, e odiaram, a mudança de atitude. Sakura reapareceu, acertando o punho copiosamente contra o vidro entre a sala e a cabine, gesticulando de forma explícita para que abrissem a porta.

Ela estava olhando apenas para Sasuke quando fez isso, e ele soube que as reclamações seriam dirigidas apenas a ele.

Tenten abriu a porta. A cabeça de Sakura imediatamente apareceu na brecha.

—     Senhor Uchiha, está muito ruim. Repita a primeira parte. – requisitou com normalidade.

—     Que parte, Sakura? – replicou, impacientemente.

Tratando-a de forma informal na frente de todos os outros alunos. Sakura sentiu o sangue bombear nos ouvidos, mas manteve a compostura.

—     A parte em que Romeu pede que Julieta lhe conceda uma dança. A primeira parte. Seja mais formal em suas palavras, – a tentativa de telegrafar uma mensagem oculta foi rapidamente absorvida por ele, que ficou sério – demonstre desejo, pareça charmoso, mostre uma grande virilidade, seja irresistível – não soube o porquê, mas parecia uma descrição exata do próprio Sasuke. Deteve-se imediatamente, refreando um pigarreio indiscreto – Compreende? Demonstre que esta dança e a conversa nela são tudo que mais deseja em sua vida.

Ele não percebeu, percebeu?

—     Posso fazer isso, senhorita Haruno. – respondeu, inefável. Desviando a atenção para baixo, onde seu roteiro se encontrava.

—     Ótimo. Recomecem.

 


 

Sasuke apertou o volante entre seus dedos, esticando o pescoço para observar o que estava acontecendo.

De quem era aquela casa? Por que Sakura estava lá, e por que estavam a fazendo esperar?

Havia um poste piscando logo acima de seu carro, ele xingou. Espionagem era péssima durante a noite.

Impaciente, saiu do carro. Sakura ouviu o barulho da porta no segundo em que ele a fechou, e bufando, caminhou ao seu encontro. A mão erguida em riste alcançou peito dele no momento em que se encontraram, forçando seu corpo para trás.

—     O que está fazendo aqui? – ele desviou o olhar até a rua, medindo o ambiente e observando as pessoas que passavam por perto.

—     Não acredito que me seguiu!

—     Segui, qual o problema? Você não falou comigo desde o dia em que dormimos juntos, – os lábios femininos se contraíram em choque pela maneira crua com a qual ele falava as coisas. Sentiu o corpo gelar, calculando a distância da última pessoa que passou ao lado dos dois, se havia alguma mínima possibilidade de ter ouvido – seu pai já fez a cirurgia?

—     Eu tenho muita vontade de pegar essa sua boquinha linda e espremer entre os meus dedos com bastante força! – até os sussurros dela soavam ameaçadores.

Ele recuou um passo, cruzando os braços sobre o peito. O comentário havia o deixado encabulado, e Sakura conteve um impulso de rir. Estava muito irritada, não podia rir.

—     Por quê? – seu rosto se contraiu, desconfortável.

Sakura sentia os lábios tremerem. Virou-se, soltando um riso fungado quando ouviu os protestos por ter sido deixado sozinho.

Quando ele finalmente a acompanhou, andando a seu lado, Sakura se tornou deliberadamente séria e o encarou por cima do ombro com desprezo, mantendo um ritmo acelerado em seu caminhar.

—     Será que você não percebe que estamos no meio da rua e existem, sabe, pessoas passando ao nosso lado? – ela coçou a testa, demonstrando fadiga – Quando você escuta uma pessoa dizer que dormiu com outra, o que você pensa? – sussurrou.

—     Penso que fizeram sexo.

—     Exatamente isso, Einstein. As pessoas vão pensar a mesma coisa que você pensaria, que todos no mundo pensariam! – sua voz se alterou.

—     Eu deveria estar preocupado com isso, não é? – questionou peremptoriamente.

—     Deveria caso se importe comigo. Do contrário, realmente não.

Com os braços cruzados, Sakura deteve-se em frente a um portão fechado. O mesmo lugar no qual aguardava antes. Trocaram olhares bastante significativos, e Sasuke pensou, pela primeira vez, se era realmente proveitoso ter um relacionamento com alguém tão diferente de si.

Aquela divergência de opiniões representava exatamente isso, o quanto eram opostos. Ele não podia se importar menos, Sakura fazia um alarde da situação.

Seus pensamentos sumiram quando Sakura o empurrou abruptamente para o lado. Por sorte teve o reflexo rápido, apoiando-se pela mão esquerda, e sequer tivera tempo de gritar algum xingamento. O portão em questão se abrira, e o sorriso forçado no rosto dela foram o suficiente para que se detivesse.

—     Oi, eu demorei muito? Desculpe por isso, são duas caixas e estão bem cheias. – uma voz gentil e masculina soou, fazendo com que um vinco vertical se destacasse no cenho de Sasuke.

—     Sem problemas, de jeito nenhum.

Vencer a própria curiosidade em observar de quem aquele homem se tratava foi complicado. Ele pensou exclusivamente nela e as consequências que precisaria enfrentar por isso. Realmente não queria brigar, do contrário.

Então cruzou os braços, recuando mais alguns passos.

Percebeu que tratava-se de um rapaz de sua idade, talvez um ou dois anos mais jovem. Ele colocou duas caixas no porta-malas de Sakura e recebeu um cheque, antes de voltar para o lugar do qual jamais deveria ter saído.

—     Quem é?

—     Meu novo pretendente, o que acha dele? Consegui um mais novo do que você. Estou seguindo uma ordem decrescente, agora preciso de algum com quinze anos. – Sakura não conteve a expressão de tédio no rosto quando ele se aproximou, e fechou o porta-malas com certa força.

Logo em seguida, apoiou o quadril ao carro, procurando de onde Sasuke viera. Seu carro estacionado há quase dez metros de distância dizia muito sobre a “espionagem”

—     Não tem graça.

—     Esse é o filho caçula da costureira que ficou responsável pelas fantasias de vocês. – ela comprimiu um riso. Era difícil ver toda a confusão no rosto dele e permanecer séria.

Sasuke se empertigou um pouco, mas rapidamente cruzou os braços, como uma criança zangada.

Ela tocou a ponta de seu nariz e se afastou, caminhando até a porta do motorista.

—     Então, você tem mais alguma pergunta ou eu posso ir embora?

—     Será que você podia dar uma conferida nas anotações dos outros professores e ver como me saí nas recuperações?

Foi o limite, Sakura se apoiou ao teto do carro e riu.

Um homem maduro jamais a divertiria daquela forma. Outra vez, estava inserida no “sonho”. Sasuke a proporcionava aquilo.

Não tinha como ficar mal-humorada perto dele, mesmo que fosse rabugento em suas respostas e atitudes. Ela deixou de lado seus problemas.

—     Me seguiu até aqui para perguntar isso?

—     Também. Eu queria saber da cirurgia, como você está em relação a isso. Você não conversa comigo, não me procura se eu não procurar você!

E era verdade. Ele, como em raras vezes, tinha algum fundamento em suas palavras.

Sakura comprimiu os lábios, percebendo toda a injustiça estampada naqueles olhos escuros.

—     Eu procurei por você. Fui à sua casa, quando faltou a escola. – argumentou, sorrindo de forma tilintante – Isso já é alguma coisa, certo?

—     Você foi buscar a sua calcinha. Quando eu procuro por você, é para saber como está. – contrapôs secamente.

—     Você está autorizado a se sentir bem importante se eu procurar por você para saber como está. – disse, entre um riso que lhe soou bastante desmerecedor.

Sasuke se sentiu frustrado, quando recuou um passo.

—     Então eu não tenho importância?

—     Eu não disse isso.

—     Foi exatamente o que você disse! – gritou a plenos pulmões.

O semblante feminino pesou, e ela olhou para os lados, procurando por olhares forasteiros. Aquilo só serviu para fermentar a irritação latente em Sasuke.

—     Mesmo se eu quisesse, Sasuke... você não lembra da conversa que tivemos, alguns dias atrás?

—     Foda-se a conversa que tivemos há alguns dias! Eu estou conversando com você agora! – transtornado, ele deslizou os dedos entre os cabelos finos.

—     Não, você está gritando comigo. – seu tom permaneceu ameno. Se perdesse a paciência, seriam os dois gritando no meio da rua, cedo da noite.

Não passaria por dois escarcéus, com dois homens diferentes, em um mesmo dia.

—     Por mim você pode ir à merda! Quero que você se foda. Você e Hatake se merecem! Dois filhos da puta. – ele deu as costas e saiu pisando duro.

—     Você está xingando a mim e a Kakashi, então por que direciona as agressões as nossas mães?

—     Caralho, não vou discutir os valores da sociedade machista com você agora. Quer que eu direcione os xingamentos a você? Então que seja, você é uma cadela desalmada, Sakura. Merece ficar sozinha. – seu tom foi glacial. Por um momento, ela viu o Sasuke que a ameaçou, quando a confrontou no estacionamento – Eu estou cansado dessa merda.

Não teve jeito, se envolveria em outra gritaria em um intervalo de seis horas. Ela não lamentou por isso, o sangue corria como brasa sob sua pele.

Sasuke já estava ganhando uma certa distância quando ela começou a persegui-lo.

—     Nossa, que atitude adulta, sair correndo e gritando! Encare a realidade no que eu disse, imbecil, não saia correndo, converse comigo, olhando nos meus olhos! – ele não respondeu – Frouxo! Frouxo! Você complicou a minha vida e agora sai assim, fugindo! – Sasuke a observou por cima do ombro com as sobrancelhas unidas, incrédulo do que ouvia – É isso mesmo!

—     Isso é sério?

—     Tem alguém sorrindo aqui, Sasuke?

—     Quer falar de fugir? Quer mesmo? Porque você deixou bem claro que já tinha planejado perfeitamente como fugirá de mim daqui a três meses. Você jogou tudo isso na minha cara depois de recusar o meu pedido de namoro, e mesmo assim dormi ao seu lado! Mesmo assim eu estou aqui agora! – ele não parou, durante momento algum. Continuou andando até que estivesse a poucos passos de seu automóvel.

Qualquer um podia ouvir a discussão. Mas naquele momento não teve muita importância.

—     Uma coisa não tem nada a ver com a outra, Sasuke! – ela deteve-se. Novamente estava sentindo aquele sufocamento, a vontade de sumir e evitar o confronto daquelas situações complicadas.

Antes de entrar no carro, ele percebeu que Sakura havia parado no meio do caminho, cabisbaixa. Ela poderia estar chorando, mas pela primeira vez, não teve a menor importância, embora a possibilidade de que estivesse o magoasse.

Ele andou em direção a ela, mas não para confortá-la.

Inclinou a cabeça, esperando que Sakura olhasse em seus olhos.

Quando ela o fez, Sasuke sentiu vontade de abandonar seu orgulho e beijá-la com força, mas não o fez.

Daquela vez seria diferente.

—     É você quem está fugindo, não eu. Desde o início, sempre foi você. Lembre-se disso.

E com isso, partiu.

 


                                                                       ∞

 

—     Tenho sucesso no ramo, pois faço pose de homem ameaçador, e sequer preciso ser assim na vida real. Se estão destratando você, cara, é porque você permite que façam isso, entendeu?

—     Itachi, eu vou desligar.

—     Vou falar com o meu irmão, cala a boca. Oi, Sasuke, e aí, você almoçou e jantou direitinho a comida que eu deixei?

—     Eu joguei fora o que você deixou. – ele afastou a saída de áudio do ouvido, como uma prevenção a eventuais gritos – Almocei fora, e preparei qualquer porcaria para jantar.

—     Precisa arranjar uma namorada que saiba cozinhar, Sasuke.

—     Precisa achar alguém que ensine você a cozinhar.

—     Então é isso, eu cheguei aqui as duas, foi tudo tranquilo. – desconversou – Exceto que me entupiram de recibos para conferir, e estou fazendo isso agora. E você?

—     Assistindo um filme. Cheguei há pouco tempo. Eu vou ficar bem sem você, imbecil, é apenas um dia. – bufou, inclinando o corpo para trás em direção ao estofado. Apoiou a cabeça ao antebraço.

—     Não quero louça suja quando chegar amanhã.

—     Eu já lavei.

—     Também não quero que saia para beber hoje ou algo parecido, eu vou ligar daqui a duas horas, e acho bom você estar em um lugar silencioso quando falar comigo. – disse, mordaz.

—     Mais alguma coisa, mamãe?

—     Desligue as luzes de casa antes de dormir.

—     Já estão desligadas, eu não vou dormir cedo hoje.

—     Isso é um milagre.

—     Minha pena acabou ontem, esqueceu?

—     Sim. Fico feliz por você, bro. Mas eu já disse isso ontem e blá blá blá. Ao contrário de você preciso trabalhar. Então se cuida, amanhã estou de volta.

—     Até.

—     Um beijão nessa bundinha linda...

Sasuke gemeu, enojado. Por sorte conseguira desligar a ligação antes que mais alguma coisa desnecessária fosse dita.

Deixou o telefone sobre uma cômoda pequena ao lado do sofá onde estava e passou as mãos pelo rosto, pensando sobre o dia que tivera. Deveria estar feliz por não precisar mais ir ao trabalho, mas ao contrário disso, sentia-se vazio.

O mesmo vazio de antes, que Sakura preenchera durante um tempo. Até que fosse muito clara quanto as reais maneiras que se sentia.

Seu pequeno estoque de cigarros havia acabado, e não tinha disposição para ir de carro até um posto ou a casa de Suigetsu para conseguir mais.

Observou as próprias pernas, a calça moletom, a maneira degradante que estava sentado. Depois do banho, Sasuke vegetou sobre aquele sofá até pouco depois das dez, tendo como única companhia a si próprio.

Era ainda pior. Não queria mais ficar sozinho. Sair para beber como nos velhos tempos lhe pareceu uma boa opção, embora não fosse estar em casa para atender a ligação de Itachi, dentro de algumas horas, mas quem liga? Poderia lidar com ele no dia seguinte.

Suas mãos alcançaram o telefone residencial outra vez, e ele digitou os números da casa de Naruto.

A campainha não deixou que pressionasse o botão de chamada.

Ele suspirou, pensando se, em algum lugar, algum anjo celebrava a interrupção.

Por sorte, ou azar, observou o olho-mágico antes de abrir a porta. O coração pulsou abaixo de sua costela, Sakura estava do outro lado, segurando uma caixa de papelão abaixo do braço esquerdo.

Custou até que acreditasse no que seus olhos viam.

Ele puxou a porta abruptamente, observando-a com um olhar preocupado.

—     Aconteceu alguma coisa? – o tom urgente em sua voz fez com que Sakura se mantivesse rígida.

Ela moveu o queixo negativamente, de forma débil. Sasuke vestir apenas calças poderia facilmente deixá-la desconcertada, mas deixar qualquer mínima coisa afetar as palavras que ensaiara durante o caminho não era uma opção.

Mas ele tinha um corpo lindo...

Sasuke não entendeu a forma como ela agitou a cabeça, voltando aos eixos.

—     Posso entrar, Sasuke?

Recuou à contra gosto. Os dois refrearam sentimentos de nervosismo e ansiedade. A simples presença do outro os causava isso, mas aquele não era um momento de permitir que emoções sobrepusessem tudo.

—     Então, como você está?

Ele estreitou os olhos, erguendo os ombros de forma rápida e cruzando os braços. Se viram poucas horas antes, e era bastante óbvio como ele estava se sentindo.

Ao mesmo tempo em que...

 “Você está autorizado a se sentir bem importante se eu procurar por você para saber como está.

Se estivesse com um mínimo de bom humor, teria sorrido ao fazer, sozinho, uma constatação tão importante quanto ele próprio era.

Sakura soube que ele estava pensando sobre o assunto, percebeu com facilidade a maneira como seu olhar “se desligou”, e a hostilidade com a qual abriu a porta sumiu de seus olhos. Agora estava apenas inexpressivo.

—     Eu pensei muito sobre tudo que você disse, e... – Sakura inspirou e expirou pela boca, desviando um olhar convicto a ele – Você está certo. Mas, Sasuke, tente se colocar no meu lugar ao menos um segundo, você já fez isso? Já viu as coisas do meu ponto de vista, já pensou como seria se envolver com alguém oito anos mais jovem do que você?

—     Seria pedofilia, e acho que deixei bem óbvio que o meu gosto não poderia se opor mais a isso.

Sakura bufou, seus olhos rolaram pelo teto.

—     Eu estou falando sério. Não é fácil – murmurou, entre os dentes cerrados. Ele sentiu a ênfase que ela gostaria de dar aquilo – A vida segura que eu tinha não existe mais. O sonho que eu tive de ensinar foi realizado durante tão pouco tempo... e foi você que acabou com tudo. Tudo.

Sasuke nunca puxou o ar para respirar com tanta dificuldade antes. Aquela acusação fez algo em seu interior se partir, e se queimar de uma forma dolorosa.

—     Você veio aqui dizer que eu acabei com a sua vida, com seus sonhos? – questionou, frio. Seus olhos se desviaram até um ponto fixo no teto, receosos de encontrar os dela – Realmente, não precisa. Depois de hoje, vou ficar longe de você e vai poder recomeçar em paz.

—     Mas estar com você é outro sonho, Sasuke. Não algo que eu quis durante toda a minha vida, mas algo que eu poderia facilmente querer agora, e nossa, eu quero muito, mas sei que é impossível. – o olhar confuso de seu aluno rapidamente a atingiu – Eu sei, não faz o menor sentido, mas é como eu me sinto.

—     Você se sente de uma forma confusa demais para que eu possa compreender, Sakura.

—     Não é o único. Eu também não entendo. Por isso me sinto assim, esse lixo, por isso eu confundo você, por isso eu recusei seu pedido, por isso eu fui sincera com você, por isso que eu disse todas aquelas grosserias hoje. – ela avançou um passo em sua direção, os olhos verdes sedentos por contato, cheios de intensidade – Porque eu também não estou entendendo a forma como me sinto, e se nem eu consigo compreender isso, é esperar demais pedir que você entenda, mas eu vou pedir que se coloque no meu lugar mesmo assim. O que você faria?

Ele se calou por um segundo, sabendo o que queria responder. Sabendo que ela ficaria transtornada com sua resposta.

—     Se eu fosse você, eu fugiria comigo em dezembro, para qualquer lugar.

A caixa desmoronou de seus braços, com o choque. Ela levou uma mão trêmula até a testa e o observou de forma completamente assombrada.

—     Meu Deus do céu, Sasuke... pense nas coisas antes de falar!

—     Eu pensei. Droga, eu pensei... – ele levou as mãos a cintura e andou até o centro da sala de estar, os olhos cerrados com força. Logo voltou-se a ela outra vez – Para! Para de agir pensando no que vai acontecer daqui a três meses! Você está estragando tudo assim.

—     Algum de nós dois precisa racionalizar, Sasuke.

—     E ansiar tanto o que pode ou vai acontecer em dezembro só prova o quanto você também já está envolvida! Você acha que vamos seguir caminhos diferentes demais, e não quer se magoar com isso, está tentando me repelir para evitar que se sinta pior quando acontecer, mas está sendo egoísta! Só está pensando em si própria, está sendo grossa e me dizendo atrocidades para tentar fazer com que eu me afaste e assim não seja necessário você mesma fazer isso!

—     Aparentemente funcionou.

—     Eu deixei você sozinha para que pudesse pensar no que me disse, o quanto você foi cruel para caralho. Aliás, se você quiser ficar sozinha, Sakura, se quiser de verdade, tudo que precisa fazer é me dizer agora. Eu vou entender.

Ela sentiu os lábios tremerem, e combateu uma ânsia de choro.

Desviou o olhar do dele, e pensou, pensou sobre toda a sua vida. Sobre tudo que vivera até então, e o quão difícil seria afastá-lo agora.

Mas ao mesmo tempo, mais fácil em longo prazo...

Poderia viver aquilo com ele enquanto fosse possível, e encarar de cabeça erguida uma despedida difícil em meses. Já passara por despedidas piores antes, e estava viva.

Se recuperaria como sempre se recuperou, e Sasuke, bem, Sasuke tinha uma vida inteira pela frente. Conheceria outras mulheres, experimentaria outras sensações.

Mas, agora, poderia viver aquilo, seja o que fosse, com ele.

Um sorriso bonito e sutil repuxou os lábios masculinos com o silêncio dela. Era o suficiente.

Sakura caminhou em sua direção, e o abraçou de forma voraz, como se aquele contato corporal fosse tudo que mais precisava no momento, e talvez fosse. Precisava sentir o afeto, a proteção.

Ela sempre se protegeu sozinha a vida inteira.

—     Me desculpa por mais cedo.

Sasuke deslizou a mão por suas madeixas macias, sentindo a gama de perfumes que Sakura emanava, os cabelos, a pele, tudo nela cheirava bem demais.

Sakura, por outro lado, sentiu cada fibra daquele corpo grande e quente a envolver, gostou de não haver tecido algum impedindo que o tocasse como queria.

Com o nariz apoiado à cabeça cheirosa, Sasuke abriu os olhos e percebeu a caixa caída no chão, atrás dela. O sentimento de curiosidade fez com que qualquer outra coisa se apagasse.

—     O que é aquilo ali? – questionou, com a fala abafada pelos cabelos róseos – A caixa.

Sakura se afastou, com um sorriso ensolarado nos lábios.

—     Sua fantasia! – ela correu até o caixote, inclinando-se para trazê-lo até o novo dono – Achei que não se importaria em prová-la, caso me perdoasse. Você se importa?

Sasuke recuou, fazendo uma careta desgostosa.

—     Perdoei você, mas me importo sim. Credo, sinto vergonha alheia desta fantasia sem nem mesmo precisar vê-la.

—     Por favor. – adulou – Por favor!

—     Não. Céus, Sakura...

—     Eu vou tentar olhar as anotações do professor de matemática sobre sua recuperação, e aí, alguma mudança?

O olhar escuro estava nela novamente, procurando convicção.

—     Sério?

—     Sim. Talvez o de espanhol também, vai depender de você. – esticou a caixa em sua direção.

—     Mulher maldita... – resmungou, aproximando-se. Ele pegou a caixa e, sem deixar de olhar feio, deu as costas em direção ao quarto de Itachi.

Sakura não resistiu a bater palminhas de satisfação ao perceber que havia domado a fera, mesmo por meio de suborno.

Observou a pequena adega sobre o balcão da cozinha, e aquilo atraiu mais do que sua atenção.

—     Sasuke, posso beber alguma coisa? – questionou, em tom acrescido.

—     Não, morra de sede. – ele resmungou, antes de fechar a porta atrás de si.

Por alguma razão, ela recebeu a resposta como algo positivo e analisou com afinco cada uma daquelas garrafas – não eram apenas de vinho, algumas bebidas mais pesadas também ocupavam espaço – e serviu uma dose de vinho tinto no primeiro copo que encontrou.

Sasuke não saiu rápido do quarto, como previra. Como era meio bruto, e a roupa era um pouco complicada, talvez houvesse enfrentado dificuldades, mas quando ele saiu do quarto, minutos depois, compensou totalmente.

Sakura ficou de joelhos no sofá, tamanha foi sua satisfação. Queria ver mais de perto.

Ele se aproximou, desajeitado, até que estivesse em sua frente.

—     Satisfeita?

—     Dá um giro.

E ele girou, rápido demais, com uma expressão rabugenta no rosto. Foi o suficiente para perceber que ele havia posicionado a capa de forma totalmente errada.

—     Você não é o Super-Homem, a capa está errada. – revirou os olhos – Ela precisa ficar meio por cima do seu ombro, faz parte do costume. – quando puxou o tecido, Sasuke arregalou os olhos, segurando seu pulso. Havia apertado o pescoço dele pela puxada brusca – Desculpa! Desculpa mesmo! Como se sente?

—     Emasculado.

—     Cala a boca, você está lindo. – ela voltou a se sentar, tomando outro gole de vinho. Observou-o de alto a baixo, totalmente satisfeita – Algo está incomodando você, digo, apertado ou folgado demais?

—     Não.

—     Perfeição. Perfeita. Eu sabia que você era o Romeu desta peça! Você está lindo, Sasuke, lindo! Só precisamos arranjar as botas certas.

Não conseguia parar seus olhos, eles iam e voltavam, de cima a baixo. Prestando atenção a cada detalhe.

A túnica escura com um comprimento longo, pouco acima de seus joelhos, era a melhor parte da fantasia. Havia adornos em tons prateados que davam o ar renascentista que precisava. A calça era justa, mas pouco se veria dela quando vestisse as botas, e por último, mas não menos importante o chapéu barrete em estilo “artista”, com uma pena preta maravilhosa. A longa capa azul de veludo também o deixava bastante charmoso, talvez tudo aquilo em união a sua relutância fossem os grandes atrativos.

Sem a menor delicadeza, ele jogou o corpo sobre o sofá, ao seu lado.

—     Não amasse a fantasia! – reclamou, com o semblante carregado em irritação. Sasuke realmente não tinha jeito. Todo aquele traje custara caro, e ele tratava como se fosse um maltrapilho.

Ele tirou o chapéu da cabeça, jogando-o sobre o colo dela. Desfez cada pequena amarra que mantinha a túnica presa, e passou a capa cautelosamente por seu pescoço e cabeça, arremessando-a também em direção a Sakura.

—     O que é isso, hein? Você sequer se olhou no espelho?

—     Não quis.

—     Quanto drama, Sasuke.

—     Shh. – ele apontou com o queixo em direção a televisão ligada – Pode respeitar o filme que eu estava assistindo antes de você chegar?

—     Pode respeitar todo o dinheiro investido e o trabalho da pessoa que costurou tudo isso tão bem? – ela gesticulou com a capa em mãos.

—     Nossa, cala a boca... não rasguei nada, olha, tudo intacto. É até confortável, se você deixar aqui, serve no mínimo um excelente pano de chão. – foi a pior provocação que poderia ter saído de sua boca. Seus olhos imediatamente procuraram a mulher sentada ao seu lado – No máximo um pijama.

Sakura ficou de pé, e inclinando a cabeça para trás, sorveu em um só gole o resto do vinho. Sua atitude seguida foi tão inesperada que Sasuke sequer teve tempo de raciocinar o que estava acontecendo, ela puxou um de seus braços com tanta força que sequer pudera resistir.

—     Mas que porra!

—     Cala a boca. Vamos, entra! – ela o empurrou para dentro do quarto de Itachi e acendeu a luz. Sasuke manteve as duas mãos presas ao portal, resistindo aos empurrões agressivos em seu peito.

—     Caramba, que educada, digníssimo de uma mulher adulta... – ele engasgou com o forte murro que recebeu no tórax – Entrar assim no quarto dos outros sem ser... convidada! PORRA!

Ela desistiu de empurrá-lo para dentro quando percebeu que não conseguiria. Então ali, naquele mesmo lugar, Sakura começou a desfazer o colete que cobria a túnica.

—     Por favor, tira essa roupa. Por favor.

—     Calma, eu estava brincando, que droga. Vou ter cuidado.

—     Certo, mas tire mesmo assim.

—     Tira você, Sakura.

O tom de sua voz mudou completamente. Uma metamorfose nítida.

Ele sorriu de viés, e Sakura jurou que estava sendo desafiada. Não tinha tempo para infantilidades, mas precisava assumir que ele estava simplesmente tentador naquela roupa – ou o que sobrou dela.

Firmou as mãos na cintura, pensativa, analisando a figura parada em sua frente. Aquele sorriso, os cabelos revoltos, a parte exposta de seu peito na camisa entreaberta, o piercing.

Garotos de dezessete anos realmente não precisavam de tanto sex appeal.

Quando trouxe aquela fantasia, com as melhores intenções do mundo, não achou que a noite acabaria daquela forma. Nem de longe.

O sorriso sacana permaneceu lá, em seu rosto. Mudar aquilo tornou-se o maior objetivo dela.

Foi Sakura quem sorriu de forma diabólica logo em seguida, e aquilo “tremeu as bases” do rapaz, mas ele permaneceu firme.

—     Por que está se achando tanto, Sasuke? – ela sumiu de sua visão, agachou-se em um piscar de olhos, e puxou suas calças para baixo com convicção – Você é só um virgem.

Seus músculos faciais se relaxaram, o sorriso sumiu.

Sakura ficou em postura ereta outra vez, observando as calças baixas em seus tornozelos. Ele observou nervoso as íris verdes subirem até encontrarem as suas.

—     Levanta os braços. – murmurou, em tom baixo.

Ele a obedeceu, sem desviar os olhos dos dela, que se distraíam facilmente demais com o que estavam fazendo. Sakura tirou de uma só vez o colete e a túnica.

Sakura pareceu uma mulher diferente da que conhecia quando seus olhos miraram a cueca boxer branca. Era notável que ele estava apreensivo, e com ar de riso, ela o fitou diretamente outra vez.

—     Obediente... poderia ser assim sempre.

Com as peças em mãos, ela se abaixou para recolher a calça no chão.

Mal ficou em pé novamente, Sasuke a atacou. Segurando sua cintura, ele avançou até que o corpo dela se chocasse contra a parede do corredor, no lado oposto.

Sakura arranhou sua nuca, mal conseguindo correspondê-lo com a mesma urgência, a mesma necessidade sofrida. Ele gemeu sensualmente contra seus lábios, as mãos hábeis descendo pelo antebraço até que chegassem a sua mão.

Ele puxou as roupas de seus dedos, deixando que caíssem no chão.

Nada. Nada mais tinha importância. Ele provou aquilo quando a puxou pelo braço até o quarto de Itachi e fechou a porta, logo dando atenção outra vez aos lábios de sua professora, como se os segundos que passaram afastados dos seus fossem um absurdo.

—     Porra, meu Deus, hoje você não está no vermelho, está? – ele sussurrou contra sua bochecha. Sakura mordeu o próprio lábio inferior, sem conseguir rir em um momento tão sexual como aquele.

Sakura segurou sua nuca, distribuindo beijos por seus lábios, queixo e maxilar.

Ele fechou os olhos, os dedos amassaram o tecido da barra da camisa dela. Queria beijar seu corpo inteiro, era injusto que só ele estivesse seminu ali.

Sakura se afastou expirando, olhando-o nos olhos de forma séria.

Se ela arranjasse algum motivo para impedir que acontecesse, não a ouviria, seja o que fosse. Não era mais capaz de esperar.

—     Sasuke, você tem certeza?

Deus do céu, que tipo de pergunta era aquela?

 

 


Notas Finais


Espero que tenham aproveitado, esse é o último capítulo do Sasuke virgem.

Até a próxima, gente. Não vou demorar.


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