1. Spirit Fanfics >
  2. Some Kind of Monster >
  3. Gentileza gera gentileza

História Some Kind of Monster - Gentileza gera gentileza


Escrita por: cryomancer

Notas do Autor


Na semana que vem eu coloco minhas mãozinhas em Mortal Kombat X, por sorte tenho uns capítulos prontos e quando eu conseguir desviar de todo aquele sex appeal do Sub-Zero com certeza venho postar.
Enfim, desculpem a demora, como sabem meu cachorro e blá blá blá. Agora que a outra terminou vou entrar de cabeça nessa.
Boa leitura.

Capítulo 3 - Gentileza gera gentileza


 

 

Itachi estava contendo os risos há segundos atrás, porém, a graça da situação converteu-se em fúria quando percebeu que ela estava falando sério.

Ele olhou fundo em seus olhos, buscando um pequeno conforto. Uma mísera pista de que aquela fosse uma piada de mau gosto. Entretanto, não era.

A confirmação veio com o breve erguer de sobrancelhas; ela o pressionava por sua resposta.

—     Deixe-me ver se entendi corretamente, você quer que eu convença o Sasuke a se alistar no Exército? – ele pousou o dedo indicador na bochecha, observando com facilidade o desconforto de sua mãe.

Para ela, que havia usado de excelente eufemismo, abrandando a situação real, ouvi-la crua da maneira que havia sido expressada por ele parecia intimidante.

—     Não é como se precisasse fazer isso amanhã. Sasuke acabou de pegar um mês de serviço comunitário, esse é o tempo que você terá.

—     É confortante saber que tenho um mês para induzir meu irmão a alistar-se no Exército. – retrucou, sarcástico.

—     Itachi, você tem parentes militares na família do seu pai, não é para tanto.

—     Por que ao invés de tentar decidir a vida dele, você simplesmente não o deixa fazer o que quiser? – sugeriu. Para ele era tão óbvio, já ela, considerava um absurdo que crianças de dezessete anos tomassem decisões sozinhas.

Mas essa era a parte primordial em crescer. Mikoto sabia, e lutava contra isso.

—     Ele pode servir por um ou dois anos e ainda será jovem o suficiente para ingressar na faculdade.

—     Claro, depois de ser humilhado e posto ao limite todos os dias bem longe de você por “um ou dois anos”! Situe-se, mamãe, isso é absurdo!

—     Itachi, por favor...

—     Não...

Antes que ele pudesse esbravejar todos os motivos por trás de sua resposta, que considerava definitiva, ouviu passos nos degraus.

Ele não pôde disfarçar a surpresa ao acordar e ver seu irmão; até parou de mastigar a barra de cereais que estava comendo.

—     Itachi? – entoou, incrédulo do que via.

—     Bom dia. Dormiu bem? – ele sorriu com naturalidade, lançando um olhar sério a sua mãe antes de levantar-se para abraçar o irmão. 

Ele lamentou perceber que Sasuke ainda estava usando aquele piercing no lábio, mas seria esgoelado se comentasse alguma coisa.

Mikoto sabia que Sasuke provavelmente dormira no máximo duas horas. Ele sempre era discreto, mas naquela madrugada, havia feito barulho ao chegar escondido.

Itachi parecia satisfeito ao perceber que seu irmão permanecia são e salvo. Ele não era completamente inocente, mas ele mesmo deixara o lar precocemente por causa dos pais, e agora o caçula experimentava aquela tormenta sozinho.

O mais novo estava tão surpreso e com tanto sono que não conseguiu articular uma resposta para a pergunta do irmão.

Mikoto suspirou, deixando os irmãos a sós para tomar seu desjejum. A oferta de persuadir Sasuke havia sido duramente recusada, não insistiria.

—     Por que você não me deixa te levar na escola hoje? – sugeriu Itachi, esperançoso. Gostaria de colocar as notícias em dia.

—     Tenho dezessete anos. – respondeu, contendo um bocejo.

—     É, e ainda dirige ilegalmente. – não conteve uma risada descontraída, e Sasuke fez careta. – Vamos lá, no caminho você me conta sobre esse serviço comunitário.

—     Não quero falar sobre isso. – bufou, exercendo mais força na alça esquerda de sua mochila. Por um momento, havia esquecido que passaria um mês trabalhando de graça e pior, por culpa de Hatake. – Eu saio do colégio cansado, cara, não quero voltar a pé.

—     Vou passar o dia aqui, posso ir te buscar e então saímos para almoçar, o que acha? Soube que os restaurantes daqui são ótimos.

—     Só tem um restaurante decente nesta maldita cidade!

—     Soube que o restaurante daqui é ótimo. – corrigiu-se, abraçando os ombros do irmão.

Itachi foi o levando com calma até a porta, e educadamente, cumprimentou sua mãe ao sair.

Ser levado à escola o lembrava de sua infância, o que tornou aquela carona pior. Itachi também não havia mencionado outra vez o serviço comunitário, tentaria extrair a informação depois em seu almoço juntos. Se é que conseguiria.

O que não o impediu de questionar o clichê, sobre namoradas, e Sasuke pareceu relutante em abrir-se, mas deixou claro que não tinha nenhum relacionamento ou interesse de engatar-se agora. Também se esquivou das perguntas sobre o colégio. Dois semestres se passaram e ele havia tido semana de reensino seguida por provas de recuperação nas duas temporadas.

Por sorte seus pais não faziam questão de ir ao colégio buscar boletins e conversar com professores.

Fora que o rosto de Mikoto já estava ficando cansativo aos docentes do colégio. Ela aparecia ali quase todo mês por conta das peripécias do filho.

Estava atrasado vinte minutos quando desceu do carro. Por sorte, ou azar, Suigetsu estava sentado no chão, logo ao lado do portão, usando o celular.

Vir de uma escola pública mais liberal formou a mente daquele rapaz ao redor daqueles ideais. Durham era particular, e tinha regras duras, apesar de ter um diretor sem a menor índole. Suigetsu não duraria um mês ao ponto de vista do Uchiha.

Ele saltou de sua posição ao notar Sasuke, que parecia apressado em entrar no prédio.

—     E aí, cara! Estava te esperando! – exclamou, animado.

Os dois trocaram uma rápida batida de mãos, e o moreno arquejou, observando o porteiro que os encarava na porta de entrada.

—     Você é maluco. Não pode se atrasar para me esperar. – retrucou, antes de sair caminhando.

O outro o seguiu, soltando uma risada ao ver que as madeixas escuras de Sasuke se esvoaçavam espessamente com o vento durante sua pequena correria.

Ele, por sinal, não se importava em chegar atrasado. Queria apenas livrar-se de Suigetsu. Estava com sono, impaciente, havia sido levado ao colégio, e pretendia jogar umas boas verdades na cara de Sarutobi e estava disposto a perder o primeiro horário por isso.

—     Passaram uma motosserra no seu cabelo, Sasuke? – Suigetsu indagou, provocativo. Estava mascando sementes com tranquilidade, enquanto apressava o passo para alcançar o amigo. – Ou foi a farra de ontem que te deixou exausto?

—     Infelizmente precisarei acompanhá-los até a diretoria. Estão atrasados. – o porteiro avisou, munido de uma postura altiva e boçal.

—     Ótimo, eu ia mesmo pra lá.

—     Cara, esse é meu segundo dia e já vou para a diretoria! – o outro levou a mão aos cabelos. – No meu colégio antigo, entrávamos na hora em que queríamos!

Sasuke revirou os olhos, enquanto caminhava pelos corredores vazios. Seus tênis faziam ruídos contra o piso corrido, e Suigetsu não parava de falar atrás de si.

Chegaram a secretaria, e o porteiro conversou com a recepcionista para que avisassem sua chegada. Enquanto isso, os dois garotos aguardavam do lado de fora.

Sasuke estava de braços cruzados rente ao peito, seu ombro esquerdo estava apoiado na parede, enquanto estreitava os olhos, buscando uma visão satisfatória entre as fendas das persianas.

—     Olha isso, fui mencionado no site!

—     Podem entrar. – a secretária logo abriu a porta, sorrindo cordialmente.

O Uchiha invadiu a sala como um tufão. Haviam palavras entaladas em sua garganta, e ele soltaria todas elas mesmo na presença de Suigetsu.

Sarutobi retirou os óculos do rosto ao perceber as duas figuras que adentraram sua sala, e arfou. Em seu ponto de vista leigo, um novato “inocente” já estava nas garras de Sasuke, e ele não gostou de saber daquilo.

—     Sasuke Uchiha. Merecia cadeira cativa em minha sala. – comentou, deslizando papeis por sua mesa, até a lateral, onde estavam acumulados.

—     Senhor Sarutobi, é meu segundo dia aqui. Fiquei um tanto confuso quanto aos horários, e minha situação financeira não é semelhante a do Sasuke. Eu venho de ônibus, perdoe o atraso.

Suigetsu pareceu um gatinho domado ao proferir aquilo, e foi a deixa que seu acompanhante precisou para se manifestar.

—     É, o senhor poderia liberá-lo, ele é só um aluno novo, não está completamente inteirado sobre os horários e regras. – sugeriu – Além disso, eu queria conversar em particular sobre a organização do baile de formatura deste ano. Já resolvi tudo.

Sarutobi arqueou uma sobrancelha, sua expressão de indecisão era patente, afinal, Sasuke abominava festas escolares, e decididamente não estava envolvido no time organizador.

Percebeu suas intenções, e gesticulou empaticamente com as mãos. Suigetsu sorriu, animado, e empurrou a cadeira para trás, saltando empolgado em direção a porta.

Bastou que estivessem os dois sozinhos, o diretor moveu-se em sua cadeira com rodinhas e puxou a corda, para que a luz entrasse na sala pelas persianas. Sasuke estreitou os olhos pela claridade, observando o manual de conduta emoldurado na parede.

Era irônico.

—     Já sabe em que instituição trabalhará durante o mês? – o velho questionou, descontraído.

Sasuke ficou internamente mortificado. O que era aquilo, uma conspiração de gente velha para acabar com sua pessoa?

Apenas Kakashi havia presenciado sua pena, provavelmente compartilhara a vitória judicial com Sakura momentos depois, mas ele não conseguia imaginá-la comentando algo daquele feitio com o diretor. Já Kakashi, ele tinha certeza.

E imaginou os dois brindando champanhe diante da vitória.

—     Sabe, é completamente irônico que arranje um quadro com regras de conduta escolar para colocar aqui. – comentou, iniciando a discussão.

—     Não estou compreendendo aonde quer chegar, Sasuke.

Talvez Sarutobi estivesse sendo honesto, porém, o garoto viu dissimulação ser expelida por cada poro de seu corpo.

—     Se não pode ter o professor que deseja, você simplesmente enfia a namorada megera dele aqui?! É isso?

—     Oh...

—     É, afinal não há melhor recomendação do que ser a vadia de Hatake para ensinar aqui, correto? – esbravejou. Cada célula de seu corpo estava tensa, nervosa.

—     Sasuke, existem coisas que estão muito acima de seu imaginário fértil de um garoto de dezessete anos. – explicou, calmamente – E sobretudo, há muito que não sabe sobre Sakura Haruno.

—     Obviamente! Só tive duas aulas com a mulher!

—     Vou precisar pedir que abaixe seu tom de voz, não estamos...

—     O cabelo dela é rosa! Que tipo de profissional tem o cabelo rosa?! – suas mãos gesticulavam avidamente. Sasuke estava corado, tamanha era sua empolgação diante do que estava fazendo.

—     Não sei os outros, mas ela tem um diploma com excelentes notas em Princeton. O que acha disso? – Sarutobi ergueu as sobrancelhas diante do silêncio. – Eu esqueceria a ética escolar por um momento e lhe entregaria uma cópia do currículo dela, mas como você me parece estranhamente ético hoje, vou pedir que matricule-se em outro colégio se não estiver satisfeito.

—     Eu não sou ético, todo mundo sabe disso.

—     Pois é, Sasuke...

O velho levantou-se de sua poltrona, e abrindo uma pasta de cor azul, colocou-a sobre a lente de uma máquina de xerox, para que segundos depois, uma cópia em preto e branco saísse.

Sarutobi deixou-a sobre a mesa, e pegou uma xícara vazia, caminhando em direção ao garoto, que o fitava confuso.

—     Só que às vezes, esqueço cópias de currículos de funcionários em cima da minha mesa enquanto vou encher minha xícara com café, entende? Não acontece muito regularmente, mas um aluno do terceiro ano poderia tranquilamente pegá-la enquanto estou fora da sala. Tenha um bom dia e feche a porta ao sair.

E dizendo isso, rumou até a saída, deixando-o sozinho na sala.

Sabia que Sarutobi era corrupto, mas apesar disso, o diretor o odiava, e nunca imaginou que pudesse ter aquele tipo de atitude. Alheio à isso, achou a situação engraçada. A maneira sutil como havia disfarçadamente dito "pegue a maldita cópia e saia da minha sala".

Diante de todo dinheiro que aquele homem tinha faturado com sua mãe, Sasuke imaginou que merecia aquilo. Então, com o papel já devidamente dobrado e guardado em seu bolso, ele saiu da sala, vendo Hiruzen a conversar com sua secretária enquanto servia a xícara.

Ele sequer desviou o olhar até o garoto, do contrário, ria de alguma coisa como se não houvesse acabado de fornecer o currículo de um de seus funcionários a alguém tão desprezível e de pouca confiança como Sasuke Uchiha.

Assim que abriu a porta de saída, Suigetsu acenou empolgadamente em sua direção.

—     Cara, eles me apelidaram de “androgênio”! – exclamou, parecendo obsessivo. – Como assim, “androgênio”?

—     Você realmente se parece um andrógino, mas não entendo a mistura com gênio, dado o fato de que você é burro. – retrucou Sasuke, ansioso para analisar o currículo.

—     Já viu minhas notas do colégio antigo? Provavelmente não! Ao contrário de você, não sou um dos últimos da sala! Se seus pais não fossem ricos, você provavelmente seria meu futuro empregado! – esbravejou, sentindo-se subestimado.

—     É, eu sou rico e você é inteligente, parece justo.

Ele abriu a porta do banheiro, e Suigetsu precisou sustentá-la usando o pé para que entrasse em seguida.

Sasuke retirou a cópia do bolso enquanto sentava-se na borda das pias de quartzo do banheiro. Suigetsu, por outro lado, aproximou-se de um dos mictórios e analisou brevemente a atenção do amigo exclusiva a um pedaço de papel, antes de satisfazer suas necessidades naturais.

—     Eu não disse que você não é inteligente, do contrário, é muito perspicaz, só usa a esperteza para... Razões particulares. Aliás, se você não queria fazer nada, por que veio ao banheiro? – indagou, puxando o zíper enquanto caminhava até as pias.

—     É aqui que eu fico até que o toque do segundo horário soe. Assim, durante a troca de professores, eu entro na sala.

—     Entendi! Boa dica. Vivendo e aprendendo! – ele gargalhou, lavando as mãos enquanto inclinava-se para tentar espiar pelo reflexo do espelho o que estava tomando a atenção do Uchiha. – O que é isso?

—     Ela tem vinte e cinco anos, pós-graduação e mestrado completos. Além disso, é acionista minoritária de uma empresa.

—     Ela quem?

 

                                                                               ∞

 

Quando seu relógio marcou que faltavam quinze minutos para as duas da tarde, Sasuke decidiu ir caminhando para casa.

Havia sido claro com o irmão: odiava voltar andando, saía do colégio cansado.

E agora, Itachi estava atrasado quase uma hora do horário que havia largado. Ele estava com fome e enfadado mentalmente, isso, depois de uma manhã com horários unicamente voltados a matérias exatas e biológicas. Só queria voltar dirigindo e sentado como fazia todos os dias.

Porém, as coisas já pareciam ter se acertado em sua cabeça. Quando viu a professora beijar Hatake, fizera um julgamento mesquinho, mas agora, diante daquele currículo fenomenal, sentiu que deveria retrair-se e nunca mais expressar verbalmente suas especulações mentais precipitadas.

Odiava assumir, ela era um exemplo. Algo que talvez jamais fosse.

A maioria dos outros adolescentes em sua classe encontravam-se ansiosos para a feira das faculdades. Já compravam moletons com estampas de universidades, planejavam mudanças para outros estados, isso sem nem saber se passariam no vestibular.

Por mais que demonstrasse não se importar, Sasuke sentia-se inseguro. Não possuía qualquer ambição relacionada a ensino superior ou trabalho; do contrário, sentia que o tempo havia passado rápido, e gostaria de saber o que queria da vida, mesmo que não tivesse planos de glorificar suas ambições, caso as tivesse.

Itachi parou no meio fio ao seu lado, buzinando. Geralmente não se atrasava em seus compromissos, mas esqueceu de perguntar ao caçula de que horas largava, e tampouco queria voltar à residência de sua mãe.

Tudo bem que raramente um estudante matutino larga às duas da tarde, e ele jamais poderia usar a desculpa de trânsito naquela cidade pacata.

Sasuke apoiou as palmas das mãos à janela aberta e inclinou-se para observar o irmão.

—     Filho da... – um músculo se contraiu em seu maxilar, tenso.

—     Ela é sua mãe também... – Itachi ergueu a mão livre, e um sorrisinho envergonhado repuxou seus lábios.

—     Puta!

O caçula arrodeou o automóvel com sangue nos olhos, e Itachi jurou ter visto relinchar como um cavalo raivoso, entretanto, pôs o melhor sorriso possível no rosto para confrontar o aborrecimento do mais novo, que deslizou pelos bancos de couro com a atenção fixa a paisagem borrada que a velocidade causava durante o caminho inteiro, sem dizer uma só palavra com o ar-condicionado completamente direcionado a si.

Itachi ficou desconfortável, mas assumia sua culpa.

Passou toda a manhã relembrando a cidade na qual vivera sua infância, não que houvesse muito a relembrar. As pessoas costumavam dizer que as ruas daquela cidade eram como veias que se formavam ao redor de uma principal, que no caso de Palm Springs, era a avenida que caracterizava o centro comercial e também estava interligada a entrada da cidade.

Por menor que fosse, ainda possuía divisões na sociedade, como há em todo lugar. Estava no litoral, mas tinha um clima temperado, com florestas densas e fechadas, o que resultava em roupas mais requintadas por parte de seus habitantes, que geralmente eram prestativos e educados.

Uma lugar pacato e pacífico, a escolha perfeita aos olhos do pai para conseguir o sossego que tanto queria, entretanto, mal parava em casa, e tivera dois filhos completamente urbanos.

Sasuke odiava aquele lugar, e Itachi mudara-se na primeira chance que teve.

Como o único restaurante propriamente dito do município, aquele era decididamente melhor que os outros aspirantes à lanchonetes, e bares com jogatina que nomeavam-se restaurantes aos poucos turistas.

Uma vez, um crítico culinário havia pisado lá, e no jornal da capital, mesmo que em letras miúdas, havia mencionado o nome do estabelecimento e o oferecido uma estrela.

Aquela conquista inflou os egos dos donos, que fecharam o lugar durante cinco meses para uma reforma, e voltaram com força total, pratos mais sofisticados, uma nova pintura, polimento. A reestreia reunira um bom número de pessoas.

E aquele era o refúgio dos almofadinhas daquela cidade. Tinha um público pequeno, apenas os que podiam pagar por algo mais caro se atreviam a cruzar as portas do restaurante com uma estrela. No caso de Itachi, só queria proporcionar um bom almoço ao irmão e compensar seu atraso.

Ele só não esperava que os olhares dos comensais ali residentes desviassem-se imediatamente a seu irmão, pareciam membros de um júri. Mikoto não estava brincando, Sasuke tinha uma fama ruim.

Poucos eram os clientes que estavam ocupados o suficiente com suas vidas e conversas prosaicas. Porém, aquilo parecia totalmente trivial aos olhos de Sasuke, que puxou uma cadeira e sentou-se antes mesmo que Itachi pudesse conversar com algum garçom e saber sobre mesas livres.

Aquela estava vazia, Sasuke simplesmente seguiu o instinto. E logo foi acompanhado por seu irmão mais velho.

—     Embora eu fique de péssimo humor quando faminto, quero saber o que está fazendo aqui. – Sasuke proferiu, observando enquanto uma taça de água lhe era gratuitamente servida pelo garçom.

Itachi arquejou, lamentando pelo que acabara de ouvir. Ele já estava crescido, e certamente acostumara-se aos fatos: sempre que via o primogênito, sua mãe estava tentando uma intervenção, e algo péssimo acontecia.

—     Não posso ter vindo visitar minha família? – contrapôs, levando a taça até a boca. Queria ganhar mais tempo para pensar em algo.

Se ele soubesse que sua mãe tinha planos de convencê-lo a se alistar, provavelmente fugiria de casa.

—     Não, diga logo e mantenha sua integridade.

—     Eu manteria minha integridade se não o contasse.

—     Certamente... – concordou, recebendo um cardápio – Mas quero saber se continua do meu lado ou não. A visão do seu corpo é um presságio de chatices, Itachi. Tanto que já está sabendo sobre meu serviço comunitário.

—     Sim, mamãe me contou que furou os pneus do carro do seu professor. Por que fez isso, Sasuke?

—     Ele era um filho da puta, por isso.

Olhando para o jovem, que escolhia atentamente o que comeria, Itachi não viu o menor traço de arrependimento.

—     Oh, você disse isso ao juiz? Surpreende-me que tenha sido apenas um mês de pena! – exclamou, ultrajado.

—     O cara estava de marcação cerrada comigo! Eu tinha que fazer algo a respeito. – respondeu, erguendo o dedo ao garçom, que atravessara a sala em sua direção – É o seguinte, ele passou um teste avaliativo. Primeiro, me colocou sentado na fileira da frente, e o mundo todo sabe que eu fico no fundo. Aquela prova parecia um amontoado de hieroglifos egípcios para mim, eu não sabia de nada, e como na primeira fila só estão os inteligentes, eu senti a necessidade de colar...

—     Não acredito que o castigou, sendo que ele estava certo! Qualquer professor pune um aluno que é pego colando, Sasuke!

—     Eu disse que “senti a necessidade de colar”, isso não afirma que eu tenha colado. Tentei no início, mas aqueles desgraçados taparam as provas com os braços quando me viram olhando, e então eu desisti. Minutos depois, eu até estava escrevendo algumas coisas na prova, só que aí minha borracha caiu no chão, e quando me curvei para pegá-la, o professor enlouqueceu e anulou meu teste. Entendeu? Ele me ferrou sem que eu estivesse fazendo algo errado, e isso não ia passar em branco. – ele ergueu os ombros, tão naturalmente como se comentasse uma partida futebolística.

Itachi ofegou, mas quando percebeu que seu irmão fazia o pedido no segundo seguinte, atentou para escolher o seu também, só que ao contrário do caçula, tinha particularidades, ou seja, levou certo tempo até que o garçom entendesse suas exigências. Odiava aspargos e era alérgico a ervilhas.

O funcionário tapava a visão diagonal que Sasuke tinha da entrada do recinto enquanto conversava com o mais velho.

E no momento em que ele saiu para comandar o pedido que acabara de receber, Sasuke perdeu totalmente a fome com a simples visão que tivera.

O tema de sua conversa anterior acabara de se acomodar em uma mesa. O blazer que vestia era tão cinzento quanto as mechas que demarcavam seus cabelos. Hatake estava decididamente vestido a rigor para algo importante, e a outra pessoa que ultrapassou a porta também deixara o jovem nauseado.

A professora de currículo impecável que não vira durante todo o dia, exceto pela pequena foto anexada ao papel.

Sasuke enfiou os dedos entre as madeixas escuras e fechou os olhos brevemente, buscando acalmar-se. E com muita cordialidade, pediu a seu irmão que trocassem de lugares.

Amaldiçoou aquela cidade por ter apenas um restaurante.

E poderia tirar proveito de que Itachi não conhecia Kakashi Hatake visualmente. Se ficasse de costas para aquele casal infame, seria melhor.

Respirou aliviado, afundando-se na cadeira.

Hatake, Sakura, o próprio Itachi e o resto das pessoas ali presentes estavam muito bem vestidos, já ele, estava dentro de uma farda escolar que considerava ridícula, por mais simples que fosse.

—     Ah, espertinho, o ar-condicionado chega melhor aí! – Itachi sorriu, perspicaz.

—     Sim, com certeza. – retrucou, prendendo os olhos ao letreiro fluorescente que adornava a parede à sua frente.

O garçom aproximou-se da mesa na qual aguardavam seus pratos brevemente demais. Impossível que a comida estivesse pronta tão rápido, e Sasuke uniu as sobrancelhas, apertando os olhos diante do guardanapo que o fora gentilmente entregue.

O homem também posicionou sobre a mesa uma garrafa de sidra e duas taças, que deixaram Itachi maravilhado.

Espero que suas oitenta horas de serviço comunitário sejam proveitosas. Saiba que não guardo mágoas dos acontecimentos anteriores, e gostaria de demonstrar meu afeto com esta sidra, já que o senhor só deve beber álcool legalmente depois dos vinte e um anos, do contrário, teria enviado um champanhe ou vinho, mesmo assim, espero que aproveite dela tanto quanto seu trabalho social.

                                                                                                                                     Kakashi Hatake.”

Sasuke sentiu como se seu corpo fosse um caldeirão quente, e o sangue, borbulhava furioso dentro de si.

Esticou a mão para impedir que o garçom violasse o lacre da sidra e virou-se em direção ao casal. Sakura o observara durante um breve momento, antes que desviasse a atenção ao seu celular, enquanto degustava de um vinho, já Hatake, sorrira ao erguer sua taça em um discreto brinde, que obviamente não foi retribuído por Sasuke.

Quando desviou sua atenção ao irmão, viu que Itachi estava com aquele guardanapo nas mãos, lendo-o, e um sorriso satisfeito surgira em seu rosto ao perceber que haviam oferecido gentilmente aquela garrafa de sidra com boas intenções.

Boas intenções é o escambau.

Sasuke rapidamente recolheu a garrafa, e contendo o impulso de jogá-la no chão, empurrou-a contra as mãos do garçom como se fosse o objeto mais imundo que já havia tocado, e logo em seguida, recolheu uma caneta de sua mochila escolar para escrever no lado inverso do guardanapo.

“Vá oferecer sidras a puta que lhe pariu.

                                 Sasuke Uchiha.”

—     Devolva isso ao senhor, por favor, e diga que é uma gentileza que negarei com prazer. – murmurou, forçando um sorriso ao enfiar o papel nos bolsos do funcionário, que anuiu, afastando-se.

—     Sasuke, o que fez? – Itachi pareceu finalmente cair em si, e mostrou-se estarrecido com a atitude do irmão caçula. Era uma grosseria.

—     Você leu a carta?

—     Ele é médico? Tem a caligrafia de um, mesmo assim não é difícil entender que nos presenteou com uma garrafa de sidra.

—     Ele é meu antigo professor de Literatura, Kakashi Hatake.

—     Oh! – Itachi demonstrou-se assombrado com a novidade.

Então, nada discretamente, encarou o homem, que estava sentado de costas para si, e agora recebia a devolução de sua “gentileza”. Viu seu rosto quando o Hatake virou-se, encarando sério e desconcertado Sasuke, que riscava com a unha o vidro de sua taça com água, distraído. E logo a frente do grisalho, uma bela mulher de aparência jovem.

Não percebeu muito claramente o que estavam conversando, mas vira com facilidade um “eu avisei” escapar da boca dela, antes que pousasse o guardanapo de pano sobre o colo, e então, esticou o braço para que pudesse acariciar a mão do professor. Segundos depois, já estavam distraídos em uma conversa descontraída.

Itachi, porém, permaneceu atento à dupla, e Sasuke ao perceber que o irmão parecia relutante em voltar com suas perguntas inconvenientes, seguiu seu olhar, percebendo que ele fitava a senhorita Haruno.

—     Itachi! – esbravejou, desprezando a atitude do irmão.

—     O que?

—     Nunca viu uma mulher bonita na vida? Eu ainda estou aqui. 

—     Sua presença é bem pomposa, eu perceberia se tivesse ido embora, acredite. – retrucou, apoiando as costas ao estofado da cadeira.

—     Vamos inverter os papeis agora, é isso? Você vê uma gostosa e sai do ar, esquece de mim? Que ótimo! Eu deveria ser quem se comporta assim.

—     Não, só estou tentando entender que tipo de relação você tem com aquele homem. – sua expressão facial tornou-se séria. Ele apoiou os cotovelos à mesa e inclinou-se para mais perto do irmão – Sasuke, tem alguma coisa errada acontecendo? Você sabe que pode me contar absolutamente tudo, não sabe?

—     Sei.

—     Então, ele está te provocando de alguma maneira? Você sabe que ninguém mexe com a nossa família, não sabe? Se esse cara estiver te assediando de alguma maneira, pode me...

—     Itachi, quando eu cheguei, todos olharam pra mim. Todos sabem quem sou, o que fiz. Entenda que eu usei um canivete para violar os quatro pneus do carro dele, e eu poderia ter rasgado bem mais do que borracha, então acho que ele deveria perceber que está jogando com a pessoa errada, porque eu posso acabar com ele de várias maneiras, e minha paciência está se esgotando.

Antes que Itachi pudesse demonstrar o quanto estava assustado por ouvir seu irmãozinho falando daquela maneira rancorosa, os pratos foram colocados na mesa.

Ele tinha certeza de que um professor imparcial não poderia ter agido com malícia, e pensou ouvir tolices exageradas quando Sasuke o explicou sobre ser “um aluno marcado”. Todo adolescente pensa isso, ele também tivera conflitos breves com tutores.

Mas diante daquele ato banhado a cinismo, Itachi não pôde deixar de se sentir incomodado. Parecia haver realmente um conflito sinuoso entre aqueles dois.

Por mais que Sasuke fosse imperativo e por mais que odiasse assumir, dono de um caráter duvidoso, ele estaria sempre do lado do irmão.

Aquela era uma cidade pequena, um poderia facilmente encontrar o outro, e sabe-se lá o que aconteceria se aquele “vulcão” explodisse de vez.

—     Então, eu queria deixar todo esse assunto pra lá, e voltar aos pontos importantes. O lado bom de ser um autônomo é: não ter chefes. Ou seja, eu sou meu próprio patrão, e as coisas estão boas no hotel ultimamente...

—     Que bom. – resmungou, sem demonstrar empolgação.

—     Então, o que acha de eu passar uns tempos aqui?

Sasuke cuspiu a água de volta a taça. Logo após seus olhos estarrecidos miravam o irmão.

Itachi gargalhou, achando a reação imensamente engraçada.

—     O quê?! – grasnou, enxugando a boca com o guardanapo.

—     Vou ficar, mas não quero morar com mamãe. – ele olhou para os lados, querendo parecer discreto ao confidenciar algo ao irmão – Você conhece algum apartamento para alugar aqui?

—     Você está no fim do mundo. Olhe ao seu redor e me diga quantos prédios você vê por aqui. O mais perto disso que pode conseguir é um loft, mas as casas para aluguel são grandes e mais baratas.

—     Ah, tem razão. Eu havia esquecido como é morar em “fim de mundo”. Aparentemente você vai refrescar bem minha memória.

 

                                                                                   ∞
 

Sasuke chutara pela segunda vez a máquina de lanches da escola. Não era a primeira vez que ela engolia seu dinheiro sem dispensar os bolinhos que queria.

O dia tinha começado horrível. Sua mãe o acordara com a notícia de que o departamento de justiça enviara a carta com os dados de como seria sua rotina de trabalhos de agora em diante.

Três horas diárias de limpeza nos jardins do Instituto Renascimento, que tratava de pessoas com problemas psicológicos leves. Ele receberia outras instruções do supervisor que estaria presente para orientá-lo.

Além disso, o rádio anunciara o dia da blitz policial, porém, não havia dado a localização em que as viaturas ficariam, ou seja, ele não poderia ir dirigindo naquele dia e Itachi não dera as caras durante a manhã para oferecer uma carona.

Foi caminhando para o colégio, e nada o deixava mais irritado do que aquilo.

—     Um a zero para a máquina. – Naruto comentou, escorando-se à parede ao seu lado – Está difícil aí, amigão?

Sasuke respondeu com outra pancada forte no vidro reforçado da máquina, que moveu-se para trás, desgovernada.

Ajoelhou-se, acertando um piparote com o dedo médio no vidro, em uma tentativa vaga de conseguir os bolinhos que gostaria.

—     De acordo com o que li nas regras escolares, é terminantemente proibido extrair qualquer coisa da máquina de lanches antes do intervalo das dez horas. – Suigetsu proferiu ao se aproximar, dissimulado.

Parecia que todos estavam abusando de sua curta paciência naquele dia.

—     Vá dar a bunda, eu estou com fome. – respondeu, desferindo outro golpe com seu pé a máquina.

—     Cara, não é assim que se faz. – Naruto o empurrou para o lado, assumindo sua posição – Vai cair mais coisas além do que você pediu, vigiem os corredores.

—     Eu sou um novato, não posso ir para o lado da ‘banda podre’ de vez, preciso me manter invicto! – Suigetsu alegou, concernido.

—     Invicto é o caralho, eu estou com fome. Vai para o corredor da esquerda.

Ele bufou, caminhando para cumprir a ordem de Sasuke, que ficou de braços cruzados logo atrás do amigo para prestar atenção e poder copiar o processo do loiro depois quando precisasse. Naruto abraçou a máquina e começou a sacudi-la na medida do que era possível.

Os pacotes começaram a cair no chão, e aliviado, Sasuke enfiou todos eles dentro de sua mochila.

Quando o toque soou em todo o colégio, os corredores, antes vazios, encheram-se. Os alunos ficavam nos jardins e escadarias do lado de fora até que o sinal anunciasse o início do primeiro horário.

Sasuke sentou-se em sua cadeira, deixando a mochila com as guloseimas em seu colo. Começaria a ser discreto assim que a professora entrasse.

E no momento em que ela colocou o primeiro salto alto dentro da sala, Suigetsu esticou o pescoço. Seria sua primeira aula com o motivo da mudança de colégio, e estava prontíssimo para receber toda a atenção de ‘aluno novo’ que merecia, por isso, tomara o lugar fixo de Naruto na frente do ícone da sala.

O cabelo maior de Suigetsu poderia ser útil para que ela não visse Sasuke mastigando, ou voltaria à diretoria depois de um dia.

—     Bom dia. – ela destinou um curto sorriso aos estudantes, enquanto deixava sua bolsa e pastas sobre o birô.

A suspensão de Gaara havia acabado, foram apenas três dias, entretanto, ele não havia dado as caras na escola desde então, e sequer Neji sabia o que havia acontecido.

Sakura abriu “O sol é para todos” e começou a ler um parágrafo, porém, Suigetsu parecia determinado, então, sem se importar em parecer forçado, começou a pigarrear indiscretamente.

Sasuke acertou um murro em suas costas, e ele tossiu de vez, agora com razão, e a professora não pôde mais ignorar o barulho impertinente.

—     Oh, parece que temos um novato. Como você se chama?

—     Suigetsu. – ele sorriu, jogando charme.

—     Certo, seja bem vindo. Eu não tenho uma cópia do livro para oferecê-lo agora, mas peço que me procure durante o intervalo.

—     Vai ser um prazer.

—     Então, eu estava pensando... Alguém mais percebe a hipocrisia de Atticus no final do romance? – ela fez uma breve pausa, sentando-se na beirada de sua mesa – Não? Bom, depois da condenação de Tom Robinson logo após Bob Ewell ser esfaqueado, eles procuram apoio para fugir da acusação da polícia, o que não faz o menor sentido, pois...

—     Ele estava protegendo Boo Radley. – Sasuke a interrompeu.

Viu ali a chance que estava buscando desde as aulas anteriores. Estava avançado no livro e já havia formado seus próprios conceitos.

Sakura riu ao ser confrontada.

—     Protegendo-o da polícia? Não é um tanto controverso? Atticus é um advogado do tribunal e está conspirando para encobrir um crime grave; está querendo que o próprio filho assuma a culpa pelo que Boo Radley fez. – contrapôs ela, cruzando os braços.

—     Ora, foi um acordo.

Ele ergueu os ombros com naturalidade enquanto escondia a comida discretamente. Estava certo do que falava, e ela só podia ser maluca se o negasse.

—     O que foi um acordo?

—     Ewell teria matado seus filhos. Boo as salvou. E Atticus ainda se sentia culpado pela sentença de Tom Robinson, então ele sugere que Jem assuma a culpa no lugar de Boo, quase como um sacrifício. – argumentou.

Nenhum dos alunos da classe podia acreditar naquilo, até os mais dedicados que leram o livro.

Naruto estava embasbacado. Trocava olhares risonhos com Neji, entretanto, tentava ser discreto. E louco para sanar sua curiosidade, inclinou o corpo para frente, estava sentado logo atrás do amigo, esperava que ele pudesse ouvi-lo.

—     O que está fazendo? – questionou, em um sussurro.

Não obteve resposta, Sasuke estava concentrado.

—     Isso é realmente muito nobre, uma pena que Jem estava inconsciente. Não acha que ele poderia não concordar? – perguntou ela.

Sakura estava incrivelmente empolgada quanto à discussão. Em cada aula, ela discutia os capítulos anteriormente ditados e sugeria outros. Sasuke havia visivelmente extrapolado o limite de capítulos estabelecido por ela.

Ao mesmo tempo em que gostava de ver interesse no rapaz, sentia-se irritada por estar sendo contrariada diante da sala inteira.

Especialmente depois do detalhamento dado a si por Kakashi. Ele havia dito que Sasuke Uchiha passava as aulas com a cabeça deitada sobre os braços dormindo, ou então fazendo comentários infelizes.

—     Não, Jem teria concordado. – reafirmou, resoluto.

—     Você tem certeza disso? – ela arqueou uma sobrancelha, alternando o peso do corpo de um pé ao outro.

—     Ele foi criado com princípios.

Era irônico que um garoto sem criação estivesse discutindo sobre princípios, fingindo conhecê-los quando todos ao seu redor sabiam que ele não era a pessoa mais adequada a discutir tal assunto.

Entretanto, em relação ao livro, Sasuke sabia perfeitamente do que estava dissertando. Com a mesma facilidade que um padeiro conhece a receita de suas massas, ele discutia visões minimalistas sobre o livro que alegou “ser lixo”. Sua linha de pensamento estava formada, e não havia professora que fosse fazê-lo pensar diferente.

Sakura estava surpresa, porém, sentia-se desafiada.

—     Só que o pai dele era advogado, poderia defender o filho. A forma como foi criado não tem nada a ver. – argumentou ela, furtiva.

—     Sério? O livro fala como a vida na infância interfere na formação dos adultos, ou a senhorita esqueceu disso?

Em seus momentos normais, um levante seria a consequência do tom debochado de Sasuke ao dizer aquilo, porém, o incômodo foi rapidamente detectado no rosto da professora, o que deteve qualquer resquício de anarquia por parte dos estudantes.

—     Interessante seu ponto de vista, senhor Uchiha. Gostei que tenha lido o livro. Diga-me, ele parece “um lixo” agora? – questionou ela.

—     Fiz um esforço para entender a obra, e estávamos discutindo sobre ela. Continua sendo ruim, mas prende a atenção, é só isso.

—     Se fez um esforço para entendê-la, não é mistério que seria bem mais fácil para Atticus defender o filho do que a Boo, estou errada?

—     Hm, não, mas eu também não estou errado. Tente ver a situação do ponto de vista do personagem, as pressões sentimentais pelas quais ele estava passando, a cobrança por uma decisão firme e que pudesse beneficiar a todos e ainda sanar o complexo “sanguessuga” da cidade na qual morava. Acredite, eu entendo isso.

Ela estreitou os olhos.

Havia uma atmosfera de tensão pairando no ar, todos em silêncio tomando seus posicionamentos, se concordavam com ela, ou incrivelmente, com ele.

—     Enfim, eu queria falar com vocês sobre os acontecimentos do resto do ano. Fui nomeada a responsável pelo terceiro ano, e estou animada para coordenar vocês. Infelizmente não cheguei a tempo de presenciar os jogos interclasse, amo gincanas, mas estarei com vocês na formatura e durante a feira de universidades, que acontecerá antes do vestibular; é um ótimo momento para que decidam o que querem de suas vidas. Entretanto, voltando ao assunto formatura, eu sugeri ao diretor Sarutobi que vocês se unissem para arrecadar fundos.

—     O diretor não permitiu mais os trotes. O último causou a maior encrenca da história do colégio, e ele insiste que foi culpa nossa. – um aluno comentou, no fundo da sala.

—     Quem falou em trotes? – ela sorriu de viés, logo sentando-se em sua cadeira – Aliás, eu soube dos trotes pesados do terceiro ano, e seria maluca em me tornar responsável por eles. Porém, não quero falar disso, e sim da peça artística que farão em dois meses, se tudo correr bem. Vamos arrecadar dinheiro com a abertura do ginásio para espectadores, e bom, vocês serão os atores.

—     Que peça será apresentada? – Suigetsu indagou, com a caneta na boca.

—     Vão apresentar Romeu e Julieta, gosto de clássicos e odeio complicações. Eu gostaria que os interessados em participar conversassem comigo, todos da sala terão uma função, por menor que seja, e ganharão pontos na minha matéria também...

—     Eu quero ser Romeu! – ele ergueu a mão prontamente, mal mantendo-se sentado.

—     Ahm, podemos conversar sobre isso se aceitar usar uma peruca ou colorir seu cabelo. Romeu Montecchio era moreno e de personalidade recatada. – Sakura forçou um sorriso. Internamente buscou esquivar-se daquele garoto arisco, que não tinha o perfil do personagem.

Poderia encontrar outros naquela sala.

Outra vez as garotas do vôlei chegavam a quadra, e sua atenção sempre se desviava aos treinos. Sasuke sentava-se naquela mesma cadeira desde o primeiro ano, e havia escolhido o lugar especificamente por aquele motivo.

Com o passar do tempo, foi perdendo o interesse.

Era um conflito que travava consigo mesmo, não desejava conhecer mulheres. Sabia que provavelmente se casaria um dia, porém não sentia atração pelas mulheres ao seu redor, e não desejava estar em um relacionamento com alguma.

Se contasse tal situação a alguém provavelmente seria chamado de assexuado. E talvez fosse, mas tinha esperanças de que algum dia esta situação não se tornasse um problema, especialmente relacionado a “continuação” de sua família. Isso seria cobrado de si mais tarde.

Enquanto todos os seus amigos vivenciavam e colecionavam aventuras com garotas, ele não tinha as suas para contar, e tampouco contaria se tivesse.

Ficava indeciso sobre o que sentir quanto a sua vida, era um fracassado com todos os meios possíveis para prosperar, por mais que escondesse, seu pai não o suportava, sua mãe ainda resistia em seu relacionamento fraterno, e enquanto Itachi “falhava em falhar”, ele simplesmente arruinava tudo que tocava. Já esteve em psicólogos, e sentira-se desconfortável em conversar com eles.

Passaram uma hora trocando olhares dentro de um cubículo sem ar-condicionado que cheirava a livros velhos. Sasuke acompanhou cada segundo, e os ponteiros do relógio tornaram-se seus inimigos.

A maioria deles chegaram ao consenso particular de que ele agia daquela maneira por ser solitário em busca de atenção alheia, outros, avisaram a Mikoto que Sasuke sofria de TDAH (Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), e isso foi o suficiente para que ela o tratasse como um doente desde então.

—     Sasuke, quero falar com você. – Karin espalmou sua mesa, exigindo atenção.

Ele estava guardando os cadernos na bolsa, pegaria dinheiro para comer durante o intervalo, mas Karin parecia irritantemente determinada em deixar que aquilo não acontecesse.

—     Pode ser outra hora?

—     Não, seu folgado, não pode ser em outra hora, e eu vou ser rápida.

Cruzou os braços, sentando-se na cadeira ao seu lado com as pernas cruzadas. Seu rosto continuava bonito como era, maquiado como sempre, embora suas feições refletissem raiva impulsiva. E sim, ela estava agindo por impulso, arrepender-se-ia daquilo depois.

—     Certo, sou todo ouvidos. – ele estava sendo sarcástico, não era difícil perceber. – Mas fale baixo.

A professora ainda estava na sala. Checava algo em seu celular, e ainda haviam papeis e livros espalhados pelo birô. Porém, no mesmo segundo, Suigetsu apareceu na sala, requisitando-a seu livro, e os dois saíram durante um momento, deixando Karin e Sasuke sozinhos.

Foi o que ela precisava. Odiava falar baixo.

—     Estou cansada de aturar você, e quero terminar nossa relação. – foi incisiva. Pela primeira vez, um brilho de hesitação acendeu-se em seus olhos castanhos, e ela fitou os próprios pés, recapitulando os acontecimentos anteriores e decidindo se deveria voltar atrás. – Sim, eu quero isso. Você é um mistério só. Sabe, é incrível como você é a projeção humana do diabo quando está determinado a arruinar a vida de alguém, e comporta-se como um anjinho quando não está fazendo isso. Não sei se lembra, mas foi você que arruinou nossos trotes e foi notícia de jornal. Só que ao invés de detalharem seu nome na manchete, provavelmente o dinheiro da sua mãe fez com que se referissem a você como “aluno sênior do Colégio Durham”.

—     Certo, se você quer isso, por mim tudo bem. – seus cílios se chocaram lentamente, havia aquele mesmo cansaço e frigidez em seus olhos, ele não se importava com aquilo.

Não se importava com os trotes, ou com a irmã de seu melhor amigo.

—     Sasuke, seja franco, você é gay? – ela o olhou por cima dos óculos com complacência. Todo o tom raivoso em sua voz havia sumido.

Ele, porém, remexeu-se em sua cadeira, sentindo o juízo esquentar.

—     O que você acha?

—     Eu não sei, estou te perguntando. Se você for, vou entender seu comportamento, te ajudar a sair do armário e podemos ser amigos mesmo assim. – ela sorriu, parecendo realmente disposta a acreditar no que estava falando. Então aproximou-se dele e tomou suas duas mãos, forçando-o a virar-se em sua direção, para olhá-lo no fundo dos olhos – Tudo bem que seria uma pena, você é o cara mais bonito que conheço e tem pegada, mas...

—     Essa é a resposta da sua pergunta. – arquejou, mentalmente exausto.

—     Você é gay porque é lindo?

Sasuke franziu a testa, estava prestes a explodir. Preferiu fechar os olhos por um momento e lembrar que já estava encrencado o suficiente com a justiça; lembrar que tinha sido abençoado com sorte em receber apenas serviço comunitário, já que é uma pena dada apenas a indivíduos sem antecedentes e com bom comportamento.

Soltou as mãos delas das suas como se fossem absurdamente sujas. Sua paciência havia chegado ao limite.

—     Tudo bem, Sasuke, eu sei que você não é gay. Só perguntei pra...

—     Pra me irritar! Não é isso? Eu sei. – ele jogou a alça de sua mochila nos ombros e levantou-se – Por mim que se foda, não achei meu pau no lixo, se você quer ser comida, vá a um puteiro.

—     Sasuke!

—     E tecnicamente eu não a pedi em namoro, ou seja, não há nada que possa terminar! Vá à merda!

—     Sasuke, depois de tudo que eu fiz por você, é assim que me trata em nossa primeira briga? Passei meses urinando em um potinho por sua causa!

—     Algum problema aqui?

Sakura sorrira cautelosa ao passar pela porta.

Ele estava afobado e ofegando quando desviou sua atenção até ela. Karin simplesmente deu as costas para sair marchando e atropelando as mesas da sala.

—     Nossa, parece que atrapalhei uma briga entre namorados. – comentou, com um tom cômico na voz.

Ela embrenhou-se entre as carteiras que Karin havia desajustado para posicioná-las, e chamou pelo nome do garoto ao perceber que ele estava prestes a sair pela porta.

Ele estranhou o chamado. Não precisava dela para piorar sua manhã. Não precisava estar com ela mais tempo do que era necessário, especialmente porque ela havia presenciado o momento de sua vergonha no tribunal. Ela dormia com a pessoa que mais odiava.

—     Eu adoraria que fosse meu Romeu, senhor Uchiha. – havia um tom diferente em sua voz. Não se parecia em nada com a “megera” que mostrou ser.

Sasuke piscou, abobalhado. Não acreditava no que estava ouvindo, e tampouco gostava.

Olhou para ela, buscando entender se aquilo era verdade, e Sakura o observou de maneira que julgou estranha.

—     Isso é sério? – verbalizou, com os olhos estreitos.

—     Você tem a aparência que eu preciso. Só a aparência. Não sei se o senhor se adequaria a tanta responsabilidade.

Ele percebeu que estava sendo insultado, mas não fez alarde.

—     Até porque a senhorita foi clara em dizer que os interessados deveriam procurá-la, e bom, eu não fiz isso nem vou fazer.

—     Exatamente, mas se quer saber, não foi esse o motivo pelo qual lhe chamei, e como seria estranho ser pega aqui dentro com um aluno depois das aulas, vou ser breve. – suspirou, tentando parecer serena quando na verdade sentia-se possessa – Soube que procurou o senhor Sarutobi para questionar minha contratação. Há algum problema?

—      Problema nenhum, acho que fui mal interpretado.

—    Oh, sim... Mas acredito que Hiruzen não mentiria sobre isso, o senhor, por outro lado, está mentindo agora. Se meu cabelo o incomoda, eu sugiro que guarde para si, afinal, o único que tem o direito de se sentir afetado por minha aparência é meu chefe, e certamente também teria vindo diretamente a mim se houvesse acontecido. Como também foi bem claro em dizer, eu não sou “a vadia” do professor Hatake, e se eu tiver conhecimento de que se referiu assim a mim outra vez, não vai demorar muito até que o senhor esteja dentro de um tribunal outra vez, mas ao contrário do professor Hatake, eu não sou nada tolerante, vou dar todas as queixas que forem necessárias e chamar um advogado para representar propriamente contra você. Sugiro que tome cuidado no que fala e a quem fala. Tenha certeza de proferir calúnias e me denegrir quando estiver diante de uma pessoa que não deixe a situação chegar a meus ouvidos daqui em diante. Espero ter sido clara.

—     Como água. Pode acreditar que só a xingarei entre amigos de agora em diante.

Ele sorriu presunçoso.

E decididamente, não era a resposta que Sakura esperava ouvir. Almejou deixá-lo ressentido, que repensasse suas atitudes, entretanto, ele não pareceu disposto a se deixar abater.

—     Ótimo, e já que demonstrou tanto interesse por meu currículo, acho que vai gostar de saber quem eu sou. Deveria conversar com seu pai. – sua voz era cautelosa; soava tão calma que ele jurou ter ouvido um conselho.

Na verdade, era.

Sakura tivera uma longa conversa com Hatake antes de entrar em Durham. Aquele era um campo minado de magnatas jovens, e ela fora devidamente aconselhada a não mexer com nenhum deles.

Porém, sua posição social atual era boa, e odiava seguir regras. Infelizmente toda aquela teimosia era resguardada por sete chaves dentro de si, e ela se portava apenas como a boa profissional que era.

Entretanto, aqueles alunos precisavam saber que não deveriam provocá-la também.

E se for para erradicar um desconforto, ela achou que seria melhor ir direto a “raiz do problema”. Sasuke. O único caso em que a frase “dos males, o maior” se aplicava perfeitamente.

Se ele sentisse medo, quem diabos se atreveria a tramar uma conspiração para arruinar sua carreira?

—     Meu pai nem sabe que existe, moça...

—     Acho que não. Está perdendo tempo aqui, já poderia ter ligado para ele.

—     A não ser que seja uma acompanhante de luxo nas horas vagas e meu pai esteja traindo minha mãe. – supôs, agora confiante de que estava certo.

Se fosse, seu relacionamento com Kakashi fazia bem mais sentido.

—     Ligue para o seu pai, e se for esperto vai ficar fora do meu caminho. – ela jogou a alça de sua bolsa sobre os ombros e forçou um sorriso, abraçando uma pasta azul – Isso é tudo. Tenha um bom dia, e não se esqueça de ler os capítulos nove, dez e onze.

O colégio era virado ao avesso durante o intervalo. Era o momento de pico.

Todo o barulho do lado de fora foi reduzido a nada diante do escarcéu na cabeça dele. Sasuke não sabia o que pensar, se houvera sido ameaçado, alertado ou simplesmente se estava diante de um pedido mais agressivo por tranquilidade profissional.

Seu pai não era um dos mais carinhosos, vivia para o trabalho e ainda não entendia que tipo de ser humano superior era sua mãe por aguentar ser esposa dele. Não a tratava com carinho e testava os filhos o tempo inteiro.

Não o orgulhava que Itachi desejasse provar o seu valor administrando um hotel na capital, quando poderia simplesmente estar se dedicando as indústrias dele. Quanto a Sasuke, não tinha esperanças. O garoto era um caso perdido.

E só havia ligado uma vez durante o mês o qual passava fora. Havia chegado em segurança a Sumit, e não gostaria de ser interrompido até que voltasse.

Entretanto, seria interrompido por seu filho em poucos segundos. Sasuke estava pronto para receber suas reclamações por isso.

—     Pai.

—     Sasuke?

—     Isso mesmo.

—     O que eu disse sobre ligações durante o trabalho?

—     Sinceramente não me lembro.

O velho ficou em silêncio. Havia um constante barulho de trânsitos e buzinas na linha, porém, Sasuke estava sendo apenas cauteloso. Se ele já soubesse do serviço comunitário, explodiria naquele momento.

—     Não tenho o dia todo, vai falar o que precisa?

Ele abriu a boca, pensando em como deveria sanar sua dúvida. Ao mesmo tempo, punia-se por estar se deixando ser levado pelas tolices daquela mulher.

Precisava articular um jeito sutil de perguntar, sabia disso, mas não era e nem nunca seria sutil.

—     O nome Sakura Haruno o soa familiar de alguma maneira? Na verdade, desculpe estar perguntando isso, o senhor provavelmente não...

—     Sua mãe o deu a lista de acionistas? Está interessado nisso, Sasuke?

A pergunta foi casual, mas uma pequena faísca de esperança habitava os pensamentos do patriarca. Era ótimo que algum dos dois não estivesse tão dedicado a provar um valor que já tinha e estivesse interessado em aprender sobre economia e empreendedorismo.

Sasuke se perguntou mil vezes o que deveria responder diante daquilo.

—     Estou surpreso. Se quer tanto saber, Sakura Haruno é uma de minhas acionistas. Minoritária, mas continua uma acionista. Algo mais?

Sua boca ficou seca, e ele apertou o celular nas mãos.

Aquilo não poderia estar acontecendo consigo, tudo ia às mil maravilhas, mas exatamente por as coisas estarem tão boas, ele deveria ter estranhado.

—     Qual o pedaço dela? – perguntou, rouco.

—     Treze por cento.

—     E como raios isso é possível? Ela é só um ninguém. Eu pensava que as ações eram apenas suas e da cúpula de diretores!

—     Na verdade, a mãe dela era dona de vinte por cento. Ocorreu um acidente há seis anos atrás envolvendo um incêndio, a velha morreu intoxicada, mas havia deixado em herança sua parte para a garota, e ela assumiu, já era maior de dezoito anos quando aconteceu. Eu quis comprar as ações de volta, achei que por ser um momento difícil ela precisaria de todo o dinheiro possível, ainda restava seu pai, e ele não saiu ileso do incêndio, se me recordo. Ela me vendeu sete por cento, foi o máximo que concordou. Sendo assim, minha companhia é dividida entre três acionistas, ela, a minoritária, a cúpula de diretores, com trinta por cento, e o controlador majoritário, que sou eu, com os cinquenta e sete por cento restantes, você entendeu?

Sim, entendera totalmente, e desejou não ter entendido. Aliás, desejou nunca ter sabido daquilo.

O palavrão fincado em sua garganta libertou-se como uma explosão.

—     Puta que pariu!

Não havia como comer normalmente depois de saber que havia bem mais naquela situação do que ele poderia imaginar. E pior, uma cobra era dona de treze por cento do que seria seu um dia.

 

 


Notas Finais


Uma deusa, uma louca, uma feiticeira, ela é demais.

E então gente? Até a próxima.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...