Justin’s P.O.V
Vi o carro a frente despencar num barranco e senti meu coração apertar . Eu não podia parar o carro ali , então dirigi mais alguns metros e parei perto de um matagal , um pouco afastado da estrada .
De repente escuto um barulho ensurdecedor e vejo , pelo retrovisor , uma fumaça preta começar a subir . Apoiei meus braços no volante e minha cabeça nos braços , as lágrimas escorriam sem permissão e impiedosamente pelo meu rosto .
Não acredito ! O que eu fiz pra merecer isso ? Será que em outra vida eu fui uma pessoa tão ruim e estou pagando agora ? Não é justo , por que comigo ? Deus não pode fazer isso comigo . Eu já perdi tudo , não posso perder a única pessoa que me restou . Eu a amo tanto !
Passei a mão nos cabelos puxando-os pra tentar me acalmar . Não deu certo . Eu estava ofegando , meu coração estava acelerado e não conseguia parar de chorar . Tudo estava perdido .
Até o telefone tocar . Eu atendi sem muita vontade , mas quando ouvi aquela voz eu não poderia ter ficado mais feliz :
- Alô ? – disse sem vontade .
- Justin ?
- Clary ! Ai meu Deus , você está bem ? – disse preocupado , mas sorrindo . Ela está viva !
- Sim . Olha , eu preciso de ajuda pra sair daqui . – sua voz saia meio fraca .
- Como conseguiu ? O carro explodiu !
- Vou te contar tudo . Vem me buscar aqui onde o carro caiu ? – pediu .
- Claro ! Já chego aí .
Finalizamos a ligação e eu voltei apressado pro carro . A Clary está viva ! Eu não conseguia conter meu sorriso ! Fiz o retorno e dirigi até o barranco onde o meu carro tinha caído . Encostei o carro de Ryan perto dali e saí . Olhei ao redor e não tinham muitos carros passando , logo olhei pra baixo e vi o carro em chamas . Fiquei procurando Clary e a vi sentada a uns 10 metros de distância .
Desci rápido mas tomando cuidado para não escorregar naquele barro . Cheguei lá embaixo e observei o cenário à minha volta . O carro estava completamente tomado pelo fogo , a fumaça e o cheiro ficavam cada vez mais fortes . Clary estava sentada com os braços apoiados nos joelhos e sua cabeça apoiada em seus braços .
Suspirei aliviado por ela estar viva e corri até ela . Quando estava chegando perto , diminuí a velocidade e ela olhou pra mim . Se levantou e veio em minha direção , e nos abraçamos forte quando nos encontramos .
O silêncio reinou . Tudo que se ouvia era o som da nossa respiração . Clary apoiou sua cabeça em meu ombro e eu apertei forte sua cintura na intenção de nos aproximarmos até que não sobrasse nenhum espaço entre nós . Suspirei aliviado por tê-la ali comigo . Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e ela não estava diferente . Afastei nossos corpos apenas para ver seu rosto e sorri . Selei nossos lábios e começamos um beijo bem demorado , cheio de amor , carinho , saudade , alívio . Encerramos o beijo quando o ar nos faltou e eu distribuí selinhos por todo o seu rosto , deixando claro o quanto eu estava feliz e agradecido por ela estar viva . Voltamos a nos abraçar e começamos a sussurrar coisas um para o outro :
- Pensei que fosse morrer quando o carro capotou . – Clary disse .
- Eu nunca me perdoaria se isso acontecesse . Não tem noção de como eu fiquei desesperado . – eu disse e a apertei mais , com medo de pensar no que poderia ter acontecido – Me desculpe por te colocar nessa situação , por favor .
- Para , não foi culpa sua . – beijou meu pescoço e fez um leve carinho em minha nuca , me fazendo arrepiar .
- Eu te amo . – sussurrei de olhos fechados .
- Eu te amo . – ela respondeu .
[...]
Estávamos sentados no banco de trás do carro do Ryan . Foi meio difícil trazer Clary pra cima porque ela estava reclamando de dor . Mas conseguimos e estávamos juntos no banco de trás , eu sentado e ela deitada no meu colo . Eu fazia carinho em seu rosto enquanto ouvia ela me contar tudo o que aconteceu :
- Ela me disse que você não a amava , que só dava atenção para a sua mãe , começou a se descontrolar e aí o carro acabou capotando . – ela olhava para o teto do carro e eu escutava atenciosamente cada palavra .
- Ela era maluca ! – comentei , indignado .
- Era . – concordou – Eu não queria ter deixado ela lá , mas ela já estava morta , eu vi . E se eu ficasse tentando acordá-la eu ia acabar morrendo também . – ela ficou agitada e falava como se estivesse se esforçando pra me fazer acreditar no que ela estava dizendo , mas eu sabia que era verdade . Clary com certeza arriscaria a vida pra salvar a Alice se ela tivesse sobrevivido , mesmo que ela tenha feito muito mal á nós .
- Eu sei , você é incrível . – tranquilizei-a , sorrindo fraco , dedilhando cada pedacinho de seu lindo rosto . Ela sorriu sem graça . Tão fofa com vergonha – Linda !
Meu celular começou a tocar freneticamente . Tirei-o do bolso e olhei o visor , era o Ryan . Atendi :
- Alô ?
- Justin , onde você tá cara ? – Ryan perguntou preocupado .
- Calma , está tudo bem . Encontrei a Clary , não estamos longe . E aí , o que houve ?
- Diane tentou fugir mas Dylan foi atrás dela e conseguiu pegá-la . Os policiais já a algemaram e a colocaram dentro do porta-malas . – riu fraco . Me senti meio mal por saber que minha avó estava sendo presa por participar na morte da minha mãe e sequestrar minha namorada ... gente da minha própria família . – E Alice ? Você pegou ela ?
- O carro capotou e ela morreu , mas Clary conseguiu sair antes que ele explodisse . – disse a olhando deitada em meu colo , encarando o teto .
- Uau ! – Ryan disse meio pasmo .
- O que vai acontecer agora ? – perguntei , já que não fazia ideia do que aconteceria dali em diante .
- Espera . – ouvi ele conversar algo com os policiais e logo voltou a falar comigo – Vamos até onde vocês estão . Liga o GPS do celular , vamos tentar localizar vocês .
- Tabom , até mais .
- Até .
Ele desligou e eu voltei minha atenção a Clary , que parecia pensativa :
- Eles estão vindo nos buscar . – falei ligando o GPS do celular e ela assentiu – Estranho .
- O que ? – perguntou confusa .
- Acho que os últimos meses foram os mais intensos de toda a minha vida .
- Como assim ? – disse se levantando do meu colo e sentando ao meu lado .
- Antes de você aparecer minha vida estava de cabeça pra baixo . Minha mãe tinha morrido , o mundo todo estava contra mim e eu estava completamente descrente no amor . – suspirei lembrando da minha fase no fundo do poço – Mas aí você chegou e foi como se você tivesse trazido luz pra mim . Eu lembro como se fosse hoje do dia que eu vi você pela primeira vez , toda linda . – ela sorriu sem graça me fazendo sorrir também – Eu jurei pra mim mesmo que nunca mais me apaixonaria de novo , porque fiquei com medo de me decepcionar como aconteceu com a Alice ... Mas desde o começo eu sabia que você era diferente . Eu não sei explicar , mas acho que eu te amei desde a primeira vez que olhei pra você . – ela me olhou surpresa e confusa – É . Eu confiei em você de primeira e só tentei te afastar porque não queria me apaixonar , mas você é muito louca e teimosa e insistiu tanto em ficar perto de mim que eu não consegui resistir por muito tempo . Eu nem queria resistir , eu queria você por perto . Eu sabia , de alguma forma , que você tinha o que eu precisava . Eu precisava de amor , precisava de alguém pra amar e me fazer sentir vivo de novo , eu precisava de você . Eu preciso de você . Talvez eu seja um cara de sorte . Eu perdi a pessoa mais importante da minha vida , mas ganhei outra . – sorri – E agora eu acho que posso começar tudo de novo , se você estiver do meu lado .
Clary me encarava sorrindo e seus olhos lacrimejavam . Ela me abraçou forte e em seguida nos beijamos :
- Eu te amo muito ! – ela disse e eu abri o meu melhor sorriso .
[...]
- Você está Clary ? – Ryan perguntou preocupado e Clary assentiu . Estávamos ao lado do carro de Ryan e das viaturas , observando os policiais lá embaixo conversando com uns bombeiros que estavam tentando apagar o fogo do carro .
- Cadê o Dylan ? – ela perguntou e eu confesso que senti uma pontada de ciúmes .
- Ele foi com Bruce e alguns policiais pra delegacia dar o depoimento deles . Diane está presa Justin ... – ele disse a última frase um pouco mais baixo , me olhando receoso .
Eu ergui as sobrancelhas por um segundo e suspirei , decepcionado . Não decepcionado por ela ter sido presa , isso precisava acontecer , ela fez muito mal á muita gente . Mas por eu nunca ter sabido quem ela era de verdade , ela era uma pessoa cruel e doente , e tirou de mim quem eu mais amava .
- Ok . – eu disse – Agora eu vou viver de verdade . Eu estava vivendo numa mentira o tempo todo , mas agora que eu me libertei disso , vai ficar tudo bem . – sorri e Clary beijou minha bochecha .
[...]
Eu estava no quarto onde eu pintava mostrando as minhas pinturas para o vô Bruce . Mesmo não sendo meu avô de verdade , eu ainda o consideraria . Até porque não faria diferença já que ele é meu tio-avô . Ele olhava admirado , em especial , para uma pintura : a da minha mãe :
- Uau ! - ele olhava atenciosamente para a tela - Você tem muito talento , incrível !
Sorri fraco . Ele se virou e veio até mim , colocou suas duas mãos em meus ombros e disse :
- Justin , você é um garoto incrível . Tenho certeza de que sua mãe está orgulhosa de você , de onde quer que ela esteja , por você ter sido forte e não ter deixado de ser uma boa pessoa , mesmo que sua vida tenha virado um inferno . - suspirou - E eu sinto muito por ter feito parte desse inferno . Se eu tivesse dito o que eu sabia quando tudo aconteceu , talvez as coisas estivessem mais calmas e você não precisaria passar por tanta ... solidão . Me perdoe por isso . - disse e abaixou a cabeça .
Eu sabia que ele estava sendo sincero :
- Tudo bem . Agora ... - dei uma pausa - agora vai ficar tudo bem . Eu sei que foi difícil pra você ter que entregar a sua mulher e sei que está sendo difícil fingir que não se importa e deixá-la pagar pelo mal que ela causou . Se estiver preocupado em ter que ficar longe dela , você poderá visitá-la . Mas se estiver preocupado em ficar sozinho , lembre-se , eu nunca te deixarei sozinho . Agora somos só nós dois , e eu não vou te deixar ficar longe de mim . Eu te amo vô ! - ele ergueu a cabeça e seus olhos lacrimejavam . Eu sorri sincero para ele e ele fez o mesmo , e me puxou para um abraço .
E durante esse abraço várias coisas passaram pela minha cabeça . Meu avô já não é mais um garoto , ele já tem seus quase 70 anos , não pode morar numa casa grande como aquela sozinho , não é mais seguro . Desfiz o abraço e perguntei :
- Vô - ele levou seu olhar até mim , assentindo - por que não vem morar aqui comigo ?
Ele arregalou os olhos , surpreso , e sorriu largo :
- Sério ? - assenti - Eu não vou incomodar ?
Dei risada e balancei a cabeça negativamente :
- Você é a minha família e não tem mais ninguém por você lá em Stratford . Eu não conseguiria ficar tranquilo aqui com você longe de mim . Agora , mais do que nunca , precisamos ficar juntos , cuidar um do outro , nos unir . Não faz sentido ficarmos separados . E aí ?
Ele sorriu , assentiu e nos abraçamos .
E agora seria tudo diferente , as coisas estavam se ajeitando novamente e eu tinha certeza de que ficaria tudo bem .
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