História Somente Meu (ABO) - O coração sente

   Namjoon mais uma vez chegou em casa tarde da noite. Era o último dia em que dividiria a casa com Taehyung, na manhã seguinte o alfa seguiria para a sorveteria e iria direto para sua própria casa depois do expediente. 

   O alfa tirou os sapatos, já se passava da meia noite, e sua casa estava no mais completo silêncio, ele sorriu, nem se lembrava qual foi o último dia em que chegou sem que Taehyung fizesse um escândalo, seja por drama, para irritá-lo ou por simplesmente estar cantando feito um louco enquanto tentava cozinhar alguma coisa. 

   Namjoon estava se preparando para ir para o banheiro, tomar um banho e relaxar, quando Taehyung apareceu na sala com uma expressão assustada e confusa, e de repente, quando os olhos do castanho bateram sobre o Kim - alguns meses - mais velho, a expressão de Taehyung mudou para raiva. Namjoon imaginou que alguma piada sobre chegar tarde viesse. 

   — Eu sei, eu sei, cheguei tarde de novo, eu estava ocupado e— parou de falar assim que um rosnado escapou por entre os lábios do castanho. — Que porra é essa, Taehyung? — fechou a expressão sentindo seu lobo começando a se irritar verdadeiramente. — Por que está rosnando pra mim, caralho? — perguntou entredentes fechando os punhos, tentando se controlar. 

   — O que estava fazendo com ele? — a respiração de Taehyung estava pesada, e ele parecia estar se controlando ao máximo para não rosnar, ou pior, estava se controlando para não partir para cima do amigo. 

   — Do que está falando? — estava confuso. O castanho balançou a cabeça negativamente. Por que Namjoon estava mentindo para si sendo que o cheiro estava ali, impregnado nele? 

   — Tô falando do ômega! — cerrou os punhos e se controlou para não se aproximar. — Tô falando da porra do cheiro do ômega em você! — outro rosnado. 

   — Taehyung! Eu te respeito mas se rosnar pra mim mais uma vez eu juro que vou quebrar os seus dentes! — Namjoon se aproximou quebrando qualquer distância que existia entre os dois, estavam colados, se encarando, se desafiando, soltando suas presenças, canela e abacaxi eram os únicos cheiros que prevaleciam ali, claro, com uma pitada de laranja - participação de Jungkook - que vinha de Namjoon. — Já falei que não sei do que está falando! Não cheguei perto de ômegas hoje! Passei o dia no escritório corrigindo uma matéria! — ainda estava tentando, acima de tudo, acalmar o amigo, e mesmo que não devesse satisfações, era isso que estava dando. 

   — Então por que está com o cheiro do Jungkook, uh? — segurou a gola do mais alto o trazendo para perto, estava confirmado, era mesmo o cheiro do moreno ali. — Por que está cheirando à laranja, porra!? — apertou com mais força a camisa que o alfa usava, o que resultou em Namjoon rosnando e se afastando com brutalidade. 

   — Seu imbecil! Acho melhor você se afastar de mim, ou vamos entrar numa briga feia! — alertou tentando controlar sua respiração. 

   Taehyung não disse nada, sentia que se abrisse a boca para responder, iria acabar por dizer coisas muito ruins, tirando que deixaria suas presas a mostra, indicando que estava disposto a brigar. O castanho sentiu uma raiva tremenda se apossar de si, um calor forte passou pelo seu corpo, e foi como se seus instintos enlouquecessem, ele queria simplesmente surtar, e - no fundo se arrependia de pensar algo assim - naquele momento só pensava em como queria espancar Namjoon. 

   O Kim de cabelos roxos por sua vez estava confuso e sinceramente não sabia se conseguiria se controlar por muito mais tempo, Taehyung era seu amigo, mas nesse momento, ele era um alfa que estava em sua casa, rosnando para si, soltando seu cheiro e sendo agressivo. Por isso respirou fundo antes de passar pelo castanho - não sem antes esbarrar com força no ombro do mesmo - seguindo rumo ao banheiro. Entrou ali e tentou se acalmar, para o bem de sua amizade de anos, por isso, não tardou em ligar o chuveiro.

  (Taehyung Pov.) 

   Namjoon bateu a porta com força, eu entendo, passei um pouco dos limites, também não iria gostar de um outro alfa no meu território querendo me intimidar, mas foi justamente por isso que eu perdi a cabeça. 

   Quando ele chegou, senti o cheiro de Jungkook, tão forte, tão delicioso, vim correndo ver o porquê dele estar aqui mas ao contrário de encontrar o ômega moreno, encontrei Namjoon impregnado com o cheiro dele, como se tivessem passado horas e horas agarrados. Abraçados... ou até mais que isso. 

   Meu sangue ferve só de imaginar. Mas por quê? Por que meu lobo quer tanto esse ômega, cacete? Por que eu não consigo o tirar da minha cabeça? E a principal questão:

   — Por que ele não responde minha mensagem?! — pergunto para mim mesmo depois de voltar para o quarto e conferir pela enésima vez o aplicativo de mensagens. 

   Eu com toda certeza fiz algo errado e assustei o garoto, eu realmente achei que ele tinha gostado, ele parecia estar se divertindo.

   Por um momento uma preocupação percorre meu corpo. 

   — Será que ele teve algum problema? — sussurro para mim mesmo. Falar em voz alta às vezes me ajuda a pensar mais. 

   Abro nossa conversa e trato de digitar. 

      Eu: Estou preocupado, como você está? 

      Eu: Desde ontem você não fala comigo, eu fiz alguma coisa? 

      Eu: Se você puder me responder, eu gostei muito de estar com você 

   Meus dedos estavam digitando antes mesmo do meu cérebro conseguir raciocinar. Parei para ver o que estava prestes a enviar. 

   "Vamos sair de novo, estou livre qualquer dia da semana depois das 19, quero muito te ver outra vez" 

   Meus olhos se passaram por cada letra, uma angústia percorreu meu corpo. Eu pude sentir meu lobo inquieto e eufórico apenas com a ideia de ver o ômega de novo, mas não faço a mínima ideia de que porra está acontecendo comigo. Parece como quando você está enjoado mas não o suficiente para vomitar, um aperto, um sentimento de que se eu tentar me levantar e andar agora, minhas pernas irão me trair, irão fraquejar. 

   Suspirei fundo tentando me concentrar, olhei mais uma fez para a mensagem ali escrita, mandar isso só vai assusta-lo mais. Apaguei. Apaguei o pedido para vê-lo novamente mas isso não significava que eu iria parar de mandar mensagens. Pelo menos não até saber se ele está bem, ou até que ele digite com todas as letras que não quer falar comigo. 

  (Jungkook Pov.) 

   — Senhor Jeon! Com todo respeito, mas que porra é essa?! — o alfa segurança correu em minha direção assim que eu surgi em frente ao portão de casa, como se nada tivesse acontecido. 

   — Jay! Que bom que é você na ronda hoje — falei sorrindo já me esgueirando para dentro. — Vai deixar essa passar, né? — pergunto me encolhendo e colocando o meu melhor sorriso pidão no rosto. 

   — Você está tão parecido com o seu irmão agora — suspirou. — Por que você saiu? Onde você estava!? Por que... — ele parou parecendo farejar o ar. — Por que está com o cheiro de um alfa em você assim? Jungkook, o que estava fazendo?! — se aproximou e eu me encolhi. 

   — Não é o que está pensando, Jay! — me expliquei balançando as mãos freneticamente e sentindo meu rosto esquentar. 

   — Jungkook, você sabe que seu pai vai ficar sabendo disso, não é? — passou as mãos pelo cabelo. — Eu estou ferrado, mortinho, como você saiu? Já pensou no que poderia ter acontecido com você? Droga, Jungkook, com quem você estava? — andava de um lado para o outro e se segurava para não gritar. — Saiu escondido na minha ronda, vou ser demitido — choramingou. — Tenho filhotes para alimentar — reclamou exagerado. 

   — Jay... — chamei e por um segundo ele parou de andar feito maluco e me encarou. — Você não tem filhotes — mordi o lábio inferior segurando o riso e ele revirou os olhos. — Não se preocupe, eu estou bem, eu só fiquei chateado e quis sair um pouco mas eu não tinha como ir muito longe — dei de ombros. — O alfa, ele só me ajudou, está bem? Ele nem viu que eu era um ômega — desviei os olhos. 

   — Vou querer saber exatamente o que aconteceu! Mas agora, vai — pôs um bico na cara virando para não me encarar. — Vai logo, eu já encobri seu irmão muitas vezes, direitos iguais — voltou a me olhar agora com a mão na cintura. — Mas prometa pra mim que não vai sair de novo assim, que não vai se arriscar, não quero entrar no assunto ômegas e alfas, e nem parecer um escroto com a mente no passado mas ômegas são "indefesos" — fez aspas com as mãos. — Você é conhecido, e mesmo todo disfarçado assim, qualquer deslize pode resultar em você sequestrado, ou pior, Jungkook, por favor, tome cuidado. 

   Eu sempre tive um carinho forte por Jay, sem amigos da minha idade, sempre tentei conversar com os funcionários, Jay foi o único que me respondeu sem ser por obrigação, o único que ainda me ouvia e zelava por mim verdadeiramente, e não só porque meu pai o paga. 

   — Não se preocupe, nada vai acontecer, Jay — sorri e passei a caminhar para dentro da casa, não sem antes escutar: 

   — Essas crianças vão me matar! Pelos deuses, eu vou ter um ataque cardíaco aos vinte e oito anos e vou morrer!

   Sorri ao vê-lo se jogando em um banquinho que tinha ali enquanto punha a destra sobre o lado esquerdo do peito. Adentro a casa complemente escura e subo direto para meu quarto, não quero dar a chance dos meu pais me encontrarem. Joguei minhas roupas em um canto qualquer, na verdade as misturei com outras roupas minhas já que aparentemente o cheiro de Namjoon realmente ficou em minhas roupas, e por fim me deitei apenas de cueca. Estava me preparando para entregar-me ao sono quando a porta do meu quarto fora aberta. 

   — Jungkook, quem é Taehyung!? — meu pai escancarou a porta e minha mãe apareceu correndo logo atrás dele. Meu progenitor segurava meu celular em mãos e mensagens caíam, a barra de notificação se enchendo cada vez mais, acumulando as mensagens recebidas. 

   — Você leu minhas mensagens?! — perguntei indignado pulando da cama, olhei para minha mãe pedindo a posição dela. 

   — Querido, nós não deveríamos inva— meu pai a interrompeu. 

   — Você não respondeu, quem é ele? — perguntou jogando meu celular na minha cama, se aproximando de mim, me fazendo recuar alguns passos para trás. — Você se encontrou com ele! Quem ele é!? 

   — Você alguma vez invadiu a privacidade do Yoongi? — o encarei quando ele deu mais um passo para frente e eu caí sentado na cama. — Quando deixava ele de castigo também fuçava o celular dele?! — perguntei sentado o encarando. 

   — Não muda de assunto, Jungkook! — rosnou e eu não me contive, me levantei num estalo, ele deu alguns passos para trás. Era meu pai, era um alfa, mas eu não ia admitir isso sendo que nem estava errado, pelo menos não tanto quanto ele. 

   — Não, você não invadia a privacidade do Yoongi! Porque eu que sou o indefeso! Eu quem tenho de ser vigiado vinte e quatro malditas horas por dia! Eu quem preciso ficar sem visitar meu irmão, eu preciso que me afastem dele! Eu preciso que decidam por mim sempre! Em cada coisinha, porque VOCÊS decidem o que é melhor pra mim! — gritei, senti minha garganta arder e sabia que meu rosto estava vermelho, algumas lágrimas se acumularam em meus olhos. — Eu sou manipulado por vocês, vocês dizem que querem o melhor pra mim, mas não entendem que não estão fazendo isso! — passei a chorar, nesses momentos eu odiava ser um ômega, odiava como situações de estresse faziam meu corpo reagir. 

   — Filho— minha mãe tentou se aproximar mas eu me afastei. 

   — Não! Vocês sabem que eu estou certo! Vocês afastaram o Yoon de propósito! E isso dói muito em mim! — bati no meu próprio peito, mas essa dor não era nada perto da dor de saber que estavam satisfeitos em nos manter longe. Separados. — Ele sempre foi tudo pra mim! Mesmo com as brigas! Com as implicâncias, com as picuinhas, com as provocações, mesmo com tudo, ele era meu único amigo! Ele era o meu melhor amigo! — caí no chão, deixando as pernas retas, esticadas para frente, enquanto ainda chorava. — Taehyung é um amigo — soltei fungando, enxugando com raiva as lágrimas que escorriam, o que não adiantou, já que essas foram substituídas quase que imediatamente. 

   — Onde vocês— não deixei meu pai terminar, aparentemente o que eu disse entrou por um ouvido e saiu pelo outro. 

   — Mas se querem me afastar dele também, que façam! Quebre meu celular, tire à internet de casa, mude para aulas particulares para que eu não precise ir para a escola, me tranque! Ponha um cadeado na porta e só abra três vezes ao dia para me alimentar, eu não ligo! — me levantei com certa dificuldade, meu peito doía, o nariz escorrendo, os olhos ardendo, tudo estava uma porcaria. 

   — Filho, a gente só quer o seu bem, queremos te proteger — minha mãe se aproximou me abraçando de lado, me guiando até a cama. 

   — Me privar de viver e de fazer as coisas não e me proteger, é me matar aos poucos! — falei assim que me sentei e minha mãe me soltou. 

   Ela me encarou e eu quase pude ver o arrependimento saltando de seus olhos, ela abriu a boca e fechou diversas vezes mas não conseguiu dizer uma palavra sequer. 

   — Jungkook, me desculpe — meu pai falou se aproximando um pouco. — Descanse e amanhã falamos sobre tudo isso com calma, eu só... — umedeceu os lábios. — Só tenho medo — ditou passando o braço pelo ombro de minha mãe, apenas para ajudá-la a sair do quarto, ela ainda estava paralisada. — Boa noite — saiu antes mesmo que eu tivesse tempo para responder, mas eu não o faria nem se tivesse todo tempo do mundo. 

   Me deito na cama, cobrindo-me até a cabeça, talvez dormir seja a melhor saída pra tudo isso. Eu até teria feito se não sentisse algo vibrando na cama, a cada segundo. Passei a mão pelo lençol até encontrar meu celular ali, sorri e olhei para as mensagens. 

   — Sessenta e três mensagens, Taehyung? — pergunto encarando o aparelho, ainda estavam chegando mensagens.