POV Henry
Quando chegamos em casa, só conseguia pensar em como precisava tomar um banho e esfriar a cabeça. Sentia todo meu corpo pegando fogo desde que ela havia me cortado de vez pela manhã, foi como um tapa no escuro. Ela estava com aquele homem, mas alguma coisa em mim ainda dizia que havia algo errado. Eu não sabia dizer se era nele, mas sabia que algo nela não estava certo. Ela não parecia feliz, e quando liguei para me certificar disso enquanto ela ainda estava no Brasil, isso ficou bem claro. Então porquê ela estava com ele e não... Precisava parar de pensar nisso. Tinha que parar de pensar nela. Mas não conseguia. Nós mal tínhamos conversado sobre o outro efetivamente desde que nos conhecemos, mas a atração sempre existiu, mesmo com aquela cara estranha da primeira vez em que bateu na minha porta. Sempre fui cauteloso, mas dessa vez não consegui evitar.
Confesso que fiquei estranho depois do que aconteceu, mas sabia que não cabia a ela minha frustração. Amanhã eu faria algo sobre isso, meu descanso de hoje me possibilitaria colocar a cabeça no lugar.
O dia seguinte passou rápido, fui treinar e estudei um pouco do meu próximo roteiro. Quando vi, já eram 18hrs, fui tomar um banho, coloquei uma camisa e um jeans. 19hrs. Saí pela porta e bati na dela. Nada. Decidi mandar uma mensagem, mas passaram alguns minutos e eu continuava sem resposta. Os amigos dela não estavam mais em Londres, pensei onde poderia estar e o café foi a primeira coisa que relacionei a ela.
Peguei o elevador e corri quando cheguei ao térreo, estava ansioso. Aquela noite foi esclarecedora, e eu queria mesmo poder ser seu amigo. Estava com medo de ter parecido muito distante no dia anterior, mas estar distante era o contrário do que eu desejava de verdade. O Café estava cheio, mas sem ela. Só tinha mais um lugar, e parecia muito distante agora, mas lembranças daquela noite me fizeram considerar a possibilidade.
O bar em que a encontrei no primeiro dia que nos conhecemos era a duas quadras, já estava chegando e notava o grande movimento do local de longe.
Cheguei e meus olhos logo foram varrendo o lugar, hoje estava cheio de luzes e uma música latina soava muito alta. E como imaginei, lá estava ela, no bar. Meu coração deu um pulo inesperado quando notei que ela estava acompanhada de um homem. Ele tentava convencê-la a dançar com ele, e ela dava gargalhadas enquanto negava. O fogo da noite anterior se acendeu, o que estava acontecendo comigo? Antes que eu pudesse pensar racionalmente a respeito daquela cena, minhas pernas me levaram até lá e parando ao lado dos dois, encarei o homem.
- Você é o namorado dela? - ele perguntou ao notar minha presença
A pergunta me pegou de surpresa, mas mantive a cara séria.
- Não.
- Ah, então tá me olhando assim porquê?
Dei um passo em sua direção e disse com toda a calma que podia ter naquele momento.
- Ela não está solteira. E está dizendo não, então por favor - falei fazendo um gesto para ele se retirar.
- A gente só tava... - ele começou a se justificar, mas logo cedeu - tá.
Quando o homem se retirou, parei pela primeira vez para reparar em Marjorie. Ela estava com uma cara incrédula, e incrivelmente bonita. Um vestido solto, com alças finas e um tecido que lembrava cetim embalava suas curvas, estava sem maquiagem, e ainda assim... Por Deus, ela iria me matar, o que eu acabei de fazer?
- Quando você pretende me explicar o que foi isso? - ela perguntou ainda sem acreditar. Estava sentada no banco do bar ainda, então me sentei do lado dela.
- Queria te encontrar, fiquei te procurando e quando te vi aqui com ele, achei que ele estava te aborrecendo, então fiz ele te deixar em paz - falei torcendo para parecer convincente.
- Passou pela sua cabeça me perguntar se ele ESTAVA me incomodando?
- Não. Peço desculpas.
Ela respirou fundo, balançou a cabeça e se levantou, começou a andar e eu logo fui atrás dela
- Marjorie, espera...
- Sabe qual é o problema? - ela falou se virando de repente para mim na pista, no meio das pessoas - Você é como todos os caras. Vocês esquecem que quem toma as decisões das nossas vidas, somos NÓS. Você nem sequer credibilizou minha vontade! Não sou uma criança, Henry.
Ela estava furiosa, e com razão. Mas eu não podia contar o que me levou àquilo.
- Por favor... Estão acontecendo algumas coisas comigo. Você sabe como eu sou. Fiz sem pensar direito, não devia ter feito. Só fiquei bravo com a possibilidade dele estar te incomodando e acabei sendo idiota. Me desculpa... - segurei em sua mão, estava derrotado com aquela situação.
Ela pareceu pensar durante alguns segundos, depois segurou forte minha mão e foi me levando pela multidão. Saímos do bar. Ela soltou minha mão e indicou que eu sentasse ao lado dela nos degraus da entrada.
- Não faz mais isso, tudo bem? - ela pediu olhando para a frente.
- Tudo bem. E só pra ressaltar, você é uma mulher pra mim. É uma mulher desde que eu te vi fazendo aquelas coisas com o bumbum aqui naquele dia. - ela deu uma risadinha - nenhuma criança poderia fazer aquilo
- Achei que você diria que foi depois do discurso.
- Não, não... Aquilo intensificou. Nunca te olhei como uma criança, porque tudo em você exala força, Majô. Eu gosto bastante disso.
Ela ficou em silêncio. Vi que seus olhos estavam levemente marejados.
- Isso te faz lembrar de alguma coisa, não é? Essa coisa de parecer uma mulher forte... É uma questão pra você.
- Muitas pessoas me trataram assim durante a vida. Como se nada que eu dissesse tivesse relevância. O próprio Ian já fez eu me sentir assim por um tempo... Acho que ficou marcado.
Cerrei os dentes.
- Você não gosta muito dele, não é? - ela perguntou reparando na minha expressão.
Respirei fundo e virei meu corpo em sua direção. Peguei uma de suas mãos lentamente e entrelacei meus dedos.
- Acho que você já mostrou o suficiente que é capaz de tomar conta de si. Acredito nas suas escolhas.
- Acreditar não é o mesmo que aceitar, não é?
- Não, não é... - comecei a me levantar e sem soltar a mão dela, ajudei-a a se levantar comigo. Fiz ela rodopiar e a embalei em um abraço - Mas eu quero mesmo ser seu amigo e te apoiar em tudo o que tá rolando na sua vida.
- Nunca vou entender porque tá me ajudando assim, mas obrigada.
- Ué, você é uma boa pessoa com uma causa justa - falei saindo do abraço e olhando fixamente em seus olhos.
- Você mal me conhece pra dizer que sou uma boa pessoa
- A gente pode mudar isso hoje - falei sorrindo e olhando para dentro do bar - Vem.
Segurei ela levemente pela cintura e fomos direto para as bebidas.
- Cerveja, certo? - perguntei levantando uma sobrancelha.
- Certo! - ela falou sorrindo.
A noite passou rápido. Ficamos muitas horas naquele lugar, e muita bebida veio com essas horas. Marjorie começou a beber e eu decidi que ficaria sóbrio para manter as coisas em ordem, mas então ela ficou brava e começou a dizer como era injusto que só ela se embebedasse. Pouco mais de uma hora depois, já tínhamos comentado sobre metade das nossas vidas, sem tocar no quesito amoroso. As músicas brasileiras deram uma pausa e de repente começou a tocar Karma Chameleon do Culture Club. Peguei na mão dela e a puxei pra pista. Senti uma felicidade quase imediata quando notei que ela conhecia a música. Ela dançava muito bem, qualquer coisa, era incrível. Eu também estava dançando, mas estava vidrado nela, e desejei como nada antes na minha vida, poder tocá-la.
Estava perdido.
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