Estava bêbada, não pouco bêbada. MUITO bêbada.
Estava rebolando como se não houvesse amanhã, e Henry tentava acompanhar meu ritmo. Eu estava tão feliz, e não existia nada naquele momento. Nada. Só eu, essa música alta, essas pessoas e meu amigo muito bonito. Muito bonito. E cheiroso.
- Henry! - gritei rindo no intervalo de uma música para outra. Me joguei nos braços dele, agarrando seu pescoço e enterrando meu rosto lá - Tô bêbada.
Ele me abraçou forte pela cintura e gritou
- Eu tô MUITO bêbado!
De repente ele me soltou e me segurou pelos ombros, me chacoalhando com uma expressão preocupada.
- Como a gente vai voltar pra casa?! - ele exclamou
- Que casa? - respondi sem pensar
Ficamos uns 3 segundos nos encarando e começamos a gargalhar. Nesse momento percebemos como o local já estava muito mais vazio. Uma música lentinha começou a tocar.
- Fiquei acanhado por um segundo, mas eu não me importo porque tenho uma desculpa amanhã - Henry falou me puxando pela cintura. Coloquei a cabeça em seu peito e deixei ele me levar. Minhas mãos estavam em seus braços, e era delicioso sentir o calor que emanava dele. Conseguia sentir cada um de seus dedos sobre o tecido fino do vestido que estava usando. Era Something, dos Beatles.
“Something in the way she moves, attracts me like no other lover, something in the way she woos me…”
- I don't want to leave her now - Henry sussurrou em meu ouvido.
Levantei a cabeça sem pensar e olhei em seus olhos.
- You know I believe and how - completei quase como uma resposta.
As coisas ficaram tensas de repente. Uma de suas mãos acariciou minhas costas nuas, e eu senti duas forças tão grandes agindo dentro de mim naquele momento que senti meu coração parar. Aqueles olhos… Aquela…
Respirei fundo e me afastei. Abaixei a cabeça, não conseguia olhar para ele. Ainda cabisbaixa, olhei para onde havíamos deixado nossas coisas e uma luz saía da minha bolsa. Meu celular.
Dei um sorriso rápido para Henry e caminhei rápido para lá, abri a bolsa. “Ian, 16 ligações perdidas”.
- Ai, droga… - peguei minhas coisas e fui correndo para a saída, fiz um gesto com a cabeça para Henry, indicando que estaria lá. Ele foi logo atrás.
Atendi quando cheguei na rua.
- Ian, oi… - falei baixo.
- Marjorie? Marjorie, onde você está? O que aconteceu? - ele estava desesperado
- Desculpa… Eu resolvi sair hoje, esfriar a cabeça. Decidi vir a uma bar e esqueci completamente de avisar. Faz tanto tempo que… - Estava me embananando por causa da bebida mas tentei não deixar isso tão evidente na fala.
- Um bar? Desde quando você frequenta bares? - ele estava incrédulo. Pela altura que falava, Henry com certeza escutava, estava do meu lado.
- Desde que eu sinto vontade de frequentar bares, Ian. Não é como se eu não pudesse fazer as coisas que sinto vontade de fazer. - estava ficando brava.
- Eu sei… Só é incomum. Isso é muito estranho, como você fica até as 4 horas da manhã em um bar sozinha?
- Não estava sozinha - sem pensar, olhei para Cavill. Ele fez uma cara de “ferrou” e eu sorri.
- Não? Com quem você estava?
- Com Henry, ué. Meu único amigo aqui.
A linha ficou silenciosa.
- Ian… Ele…
- Volta pra cá, por favor - ele falou baixo, com uma tristeza audível.
- O que?!
- Marjorie, volta pro Brasil - ele falou mais alto - podemos dar um jeito, eu não confio nesse cara, eu não suporto a ideia de você estar com ele. Volta pra mim.
- Já tivemos essa conversa. Você tá inseguro porque eu demorei para atender, amanhã nós conversamos - respondi dura.
- Você SABE que minha insegurança já tinha justificativa desde que você estava aqui! Não tem porque conversarmos sobre isso amanhã!
- Se você estava assim desde que eu estava aí, então eu acho que voltar não melhoraria a situação de qualquer forma. Já te falei o que preciso fazer pra melhorar, você tá me fazendo o pedido mais ridículo e egoísta que já escutei. Não preciso escutar mais nada, e não quero conversar. Durma bem - desliguei.
Encarei a rua por um longo tempo. Sentia a brisa fria cortar minha pele. Fechei os olhos quando senti Henry colocar a mão em meu ombro.
- Vamos…
Assenti e respirei fundo.
Caminhamos lado a lado até o apartamento.
- Estou com frio e bêbada - quebrei o gelo - não achei que a noite terminaria triste assim quando ela começou.
- Ela não precisa terminar triste assim - Henry falou quando a porta do elevador se abriu.
- O que você quer dizer com isso? Tá querendo me levar pra uma balada agora?
Henry recostou a cabeça na parede do elevador e deu um riso preguiçoso.
- Vou dormir com você.
Eu não estava bem para pensar, mas senti a risada subir por minha garganta fazendo um barulho horrível enquanto eu tentava contê-la.
- O que? - olhei para ele, estava com a cabeça encostada de lado, seus olhos fechados e sorria
- Eu falei errado - ele falou já rindo - eu vou com você pra sua casa. Você toma banho, vai pra cama e eu volto pra minha casa. É isso.
- Henry, você tá muito mal pra tentar fazer segurança.
- Eu tô bem, nossa, do que você tá falando, maluca?
Eu não conseguia parar de rir, saímos do elevador e Henry mal conseguia manter os olhos abertos, eu estava com as pernas molengas, o que estava me rendendo bons tropeços.
Abri a minha porta com muita dificuldade e já fui retirando os sapatos.
- Tem vinho? - ele perguntou
- TEM! Pega duas taças - falei dando pulinhos
- Não, você vai tomar banho e eu vou beber todo o seu vinho. Regras são regras - ele falou fingindo estar bravo e pegando o vinho na prateleira.
Fui até ele pisando firme, peguei o vinho de sua mão e desroqueei.
- Eu faço as regras aqui - dei um gole direto da garrafa - aqui e em qualquer lugar! - falei levantando os braços
Henry pegou a garrafa da minha mão e deu um gole.
- Se você não for pro banho... - ele falou cerrando as sobrancelhas e apontando pro banheiro, não conseguiu completar, mas deu um sorrisinho com os olhos fechados.
- Você é chato até alcoolizado - falei me dirigindo ao banheiro.
Tomei um banho longo, a água quente estava me causando sensações incríveis. Fazia muito tempo que não me sentia assim. Tinha uma camisola no banheiro, coloquei-a e sai correndo para o meu quarto, na tentativa de Henry não me ver. Aparentemente não funcionou.
- O que foi isso? - ele falou recostando no batente da porta do quarto, ainda estava bebendo o vinho.
Dei uma risadinha, estava me cobrindo com o edredom, acho que ele entendeu, porque se reergueu e se sentou do meu lado, entregando uma das taças.
- Já estou na cama, viu - falei auto afirmativa.
- Você está… Acho que já posso ir
- Calma, deixa eu terminar o vinho. - falei indicando o copo com a cabeça - fica um pouco. Eu demoro pra dormir quando tô alcoolizada...
- Eu também, mas a gente tá bebendo mais álcool - Henry virou a taça que estava bebendo e deitou a cabeça no travesseiro ao meu lado, ainda com as pernas para o lado de fora da cama.
- Estamos? - falei dando risadinhas. Coloquei o vinho de lado e deitei com o corpo virado para ele - Obrigada por hoje… Fazia um tempo que não me sentia feliz.
- Feliz? As coisas foram assim tão ruins por lá?
- As vezes penso que não tem mais espaço pra mim naquele país. É engraçado, porque eu sou apaixonada por ele, mas essa última experiência foi tão ruim…
- Mas você acha que foi o país ou quem estava lá? - Henry falou mas pareceu se arrepender rapidamente.
Respirei fundo.
- Não pensei sobre isso
- Se você tem dúvida, significa que as coisas não estavam bem com ele também, né?
Assenti.
- Estava depressiva - falei naturalmente - sabe, diagnosticamente falando.
Henry olhou para mim, estava com aquela cara de preocupado. Se reajustou na cama de modo a ficar próximo o suficiente para tocar meu cabelo e fazer carinho com o braço esticado. Mas estava incrivelmente longe, como se temesse algo.
- Imaginei que as coisas estavam muito ruins, mas não pensei nisso. Desculpa por não ter tentado te procurar mais cedo, Majô. Não sabia como fazer isso e como seria pra mim.
- Como assim como seria pra você?
- Eu sei lá - Henry falou depois de alguns segundos - não tô falando coisa com coisa. Mas se você quer saber, nunca mais vou ficar distante assim…
- Não fica. Você me ajuda… Engraçado né? Eu não contei isso pro Ian, nunca.. Passei todo esse tempo fingindo que estava tudo bem. Por que eu sou assim, Henry? - já estava com os olhos fechando.
- Super inteligente, divertida e incrivelmente bonita? - Henry que estava quase dormindo, decidiu se levantar.
Eu ri quase como um sussurro.
- Obrigada… - falei.
Senti um beijo sendo depositado no topo da minha cabeça e sabia que ele estava indo.
Pela primeira vez na noite lamentei realmente por algo.
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