Entrei na sala nervosa. A cada segundo que passava as coisas só conseguiam ficar piores. E eu já estava cansada de lutar contra elas. Por isso, equanto copiava a matéria de história sem olhar para os lados, fiz minha promessa de que aquela seria minha última luta. Seria a última vez que eu iria tentar. Então, se não desse certo, eu iria jogar toda a merda no ventilador de uma vez.
-Precisa de uma carona? -Luke me perguntou, assim que saímos da sala.
-Acho que você não gostaria muito de um vômito no seu banco novo -brinquei. Ele deu de ombros.
-Podemos ter dois vômitos. Aí não seria mesmo um problema -Luke piscou, passando os braços ao meu redor -Eu sei que você é mais amiga do Calum e deve ter ouvido poucas e boas de mim, mas... Bom, Calum não é muito de encher a cara quando está nervoso. Eu sou. Você também. Além do mais, ele vai passar o dia com o Michael e eu achei que a gente poderia trocar e...
-Eu preciso sair com o meu irmão, daqui a pouco -o interrompi -Não dá para encher a cara o dia todo. Além do mais, eu trabalho a noite, Luke.
-Eu posso ir com vocês? -ele suspirou, cansado -A verade é que eu quero qualquer coisa que me tire dos meus pensamentos. Posso passar o dia com vocês e depois bebo até cair alguns drinks que você fizer. Que tal? -pensei por um tempo e decidi negar. Mas ele estava com cara de cansado e eu estava cansada, então acabei cedendo.
-Tudo bem -ele sorriu, me empurrando em direção ao carro -Mas não se acostume. E não coloque som alto, minha cabeça está me matando.
-Entendido, capitão. Capitã. Ah, tanto faz -ele bateu a porta do carro e o ligou. Ri de como ele mudava de humor tão facilmente.
Luke conectou o Spotify do celular no rádio e colocou uma playlist que nós seis tínhamos ecolhido para tocar no acampamento. Paramos em um restaurante pedir algumas marmitas, porque Alex já tinha comido e nós dois estávamos verdes de fome. Dirigindo em direção à minha casa, ele suspirou.
-Você sabe, não sabe? -ele perguntou, evitando me olhar e focando em seus dedos.
-Sobre você e Cal? -perguntei. Olhei rapidamente para ele pelo canto dos olhos e o vi assentir -Quando ele me contou eu percebi que era óbvio demais para não ser percebido -ri e o vi soltar o ar pela boca -Está tudo bem, Luke. Uma hora vocês vão se acertar, eu tenho certeza.
-É difícil demais, Ally. Sabe, estar apaixonado por um cara e não ter coragem de contar isso para todo mundo... Eu estou cansado.
-Esse é o carro dos cansados, Luke -comentei e o fiz rir -Eu sei o que você está passando. Pelo menos tenho uma ideia.
-Isso foi uma indireta para "na verdade eu sou gay e quero pegar sua mãe"?
-Credo, Luke -tirei uma das mãos do volante para bater em seu ombro -Eu... ten... tinha. Eu tinha uma amiga que era gay -falei o mais rápido que pude.
-E por que não tem mais? Brigaram ou ela quis te pegar? -perguntou rindo e fiz uma careta, apertando o volante.
-Só... A gente meio que... perdeu contato. É, isso, perdemos contato -ele me encarou confuso e eu suspirei -Sem mais perguntas por hoje, Lucas.
Parei o carro e vi Alex saindo de casa correndo até me alcançar. Ele estava feliz porque íamos ao cinema e tomar sorvete, coisa que tínhamos combinado de fazer todo mês depois da última ida ao hospital. Enquanto eu e Luke comemos nossa comida, Clarice ajudou Alex a se arrumar. Troquei minha blusa e voltamos para o carro.
-Al, cadê o Mike? -Alex perguntou do banco de trás. Luke me encarou e eu respirei fundo.
-Ele está ocupado, meu amor -tentei forçar um sorriso, se tirar os olhos da rua.
-Ele tinha me prometido que ia com a gente hoje... -falou mais sozinho do que comigo -Vocês brigaram, não brigaram?
-Touché- Luke gritou. Lancei um olhar nervoso para ele, que pediu desculpas abrindo a boca sem emitir um som.
-Não é nada com o que você tenha que se preocupar, okay? -paramos no sinal e me virei para trás, vendo-o assentir -Agora, Luke, entra no site do cinema para escolhermos um filme.
Chegamos no shopping pouco tempo depois. Meu irmão escolheu um filme aleatório, que Luke ficou zoando durante as quase duas horas de filme e o resto do nosso passeio. Na metade, quando os dois se distraíram, acabei mandando uma mensagem para Michael, que ele não respondeu.
You: Alex sentiu sua falta no nosso passeio hoje. Ele disse que voce tinha prometido.
Eu nunca tinha parado para reparar nele. Quer dizer, se Meri chegasse e me dissesse que tinha passado uma tarde com Luke eu ia ficat tipo "oi?", porque ele não parece (nem de longe) um cara divertido. Mas, quando você realmente passa um tempo com ele, sem os amigos em volta, sem ele ter que fingir ser quem não é, ele é um doce. Digo, literalmente. Luke parece até um coitado.
Voltamos para casa quase na hora do meu trabalho. Luke pegou umas roupas na casa dele e Ashton nos encontrou em casa. Enquanto eles conversavam e bebiam cerveja na sala, li uma história para Alex e o coloquei para dormir. E então finalmente fomos para a boate. No caminho, recebi duas mensagens. Uma delas eu queria muito que fosse engano.
Mike: Diga que eu sinto muito. Acho que precisamos conversar, Wendy, estou indo para a boate.
[P.O.V. Michael]
Calum tinha passado o dia comigo enquanto jogávamos video game. Nem percebi que as horas passaram, só me dei conta quando o sol começou a se esconder e, de repente, estava escuro e o entregador tinha trazido nossas pizzas. Olhei para o celular e tinha uma mensagem da Allyson.
-Vocês vão conversar? -Cal perguntou assim que viu o nome na tela. Dei de ombros -Eu acho que deviam.
-Posso tentar -respondi, pensando um pouco e mandando uma mensagem de volta dizendo que estava indo para a boate encontrar com ela.
Chegando lá, já estava lotada. Vi aqueles cabelos ruivos de longe voando de um lado para o outro enquanto ela fazia as bebidas. Eu disse que esperaria até o final de seu expediente e, enquanto isso, eu e Calum ficamos bebendo.
Ash e Luke estavam na pista. Eles nos cumprimentaram com a cabeça, sabia que não iam se aproximar por causa do Cal. E foi aí que a primeira coisa estranha da noite aconteceu.
Cal estava do meu lado num segundo e, no outro, tinha desaparecido. Tentei focar em casa rosto até achar o seu e o encontrei na situação mais bizzara que podia: beijando um cara.
Fui até a pista e agarrei Ashton e Luke pelas mãos, levando eles até um Calum afobado que tinha acabado de beijar o cara. Ficamos o encarando até que ele disse alguma coisa.
-Eu sou gay, okay? Cansei de esconder de vocês. Sou gay demais -abriu os braços para dizer e depois saiu andando pela festa. Ficamos um tempo nos encarando sem saber o que dizer, até que cada um deu de ombros e saiu para um canto. Fui até Ally, que me arrastou até os fundos para conversarmos.
-Eu achei que fosse ignorar minhas mensagem -ela riu. Parecia... tímida. Uma Allyson que eu ainda não tinha visto.
-Não vou negar que passou pela minha cabeça... -ri de volta, sentando ao seu lado na grama -Mas eu acho que mereço uma grande desculpa po ter... você sabe, beijado a garota. Nós tínhamos alguma coisa sim, eu agi por impulso.
-Eu não quero pedir para que entre nessa confusão toda, Mike -ela começou, olhando para os dedos que brincavam com o mato -Não quero pedir que aceite minha vida sem que eu te explique. Existe tanta coisa que eu queria te contar, mas que não depende só de mim e...
-Ashton me disse que vale a pena. Entrar nisso, eu digo. Ele disse que, quando você puder contar tudo, vai ver que não tinham motivos para eu ter raiva -ela assentiu, ainda sem olhar para mim. Então puxei seu rosto para que nossos olhares se alinhassem. Eles brilharam. Talvez fossem lágrimas.
Eu queria dizer que fiquei arrasado ao saber que ela andava se embebedando a manhã toda. Queria perguntar o que aquela garotas tanto tinham para dizer dela. Queria dizer muitas e muitas coisas, mas uma lágrima rolou pelo seu olho e eu não resisti. Puxei suas bochechas com as mãos e lhe dei um selinho. Longo. Apertado. Para que ela soubesse que eu estava ali.
Wendy suspirou, ainda com nossas bocas coladas e seus olhos fechados. Ela subiu a mão até meu peito, como se fosse nos afastar, mas a manteve ali, parada, fazendo cóssegas. Nos separamos com o barulho de algo vibrando. Ela pegou o celular. Eu tentei não ser curioso. Ela soltou um grito, que saiu mais como um sussurro. As lágrimas começaram a descer mais depressa. Eu olhei para a tela.
Brian: Eu tô te esperando aqui dentro, espero que não esteja me traindo com ninguém. Entra logo, gatinha.
Ela me olhou assustada e eu me levantei. Ally tentou me abraçar, agora aos prantos, mas eu ergui a mão para que não chegasse mais perto.
-Um dia qur nós brigamos -falei, tentando permanecer calmo -Um dia e você já foi para cima desse cara. Como quer que eu confie em você assim?
-Mike, me escuta, eu não tive escolha...-ela tentava dizer em meio aos soluços -Eu posso te contar tudo, se prometer que vai guardar segredo eu te conto tudo e você pode entender.
-Eu não quero entender nada, Allyson. Ashton estava errado quando disse que valia a pena. Eu sei que errei ontem, mas você não precisava ir correndo atrás dele, você sabia que íamos resolver. Não me procura mais -abaixei a cbaeça, cerrando os punhos.
-Eu te conto toda a história, Mike, eu juro.
-Eu não quero saber de nada que tenha relação com você. Não acredito em ninguém que diz que só tem uma escolha. Você teve a chance de ser sincera comigo há cinco minutos. E não foi. Como posso confiar que vai ser se ficarmos juntos?
-Mike...-ela tentou correr atrás de mim, que estava de volta na boate.
-Me esquece, Allyson. Me deleta. Eu não quero fazer parte disso -e entrei, deixando minha garota ruiva jogada na grama com os olhos inchados e vermelhos e os cabelos grudados nas lágrimas pelo rosto. Foi, de longe, a cena mais triste que eu tinha visto na vida.
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