POV Taehyung
Aflição. Isso era o que eu sentia e nem conseguia entender muito bem o motivo. Ok, eu tinha resgatado um menina de um prédio em chamas e isso poderia ter mexido um pouco comigo, mas não justificava o meu estado e nem quantas vezes eu já tinha perguntado aos médicos sobre a menina do incêndio. Eu estava verdadeiramente preocupado com ela, algo dentro de mim parecia ser chamado para ela de alguma maneira e eu precisava ir até o aquele anjo o quanto antes. Sim, eu não conseguia pensar nela de um jeito diferente, ela era um anjo lindo.
Respirei fundo e olhei o Jimin, ele havia me acompanhado ao hospital e agora estava sentado em uma poltrona no quarto em que eu fui colocado. Eu ainda permanecia com o respirador e o meu peito doía bastante. Me mexi na cama e o meu amigo se levantou.
- Está precisando de alguma coisa, cara? – eu tirei a máscara por um instante.
- Quero que faça uma coisa pra mim. – o meu amigo assentiu na mesma hora. – Pode me comprar umas flores? Eu quero visitar a menina que eu salvei. – Jimin levantou uma sobrancelha.
- Qual é o lance com essa garota, Tae? Você já a conhecia? – eu neguei. – Então por que tá todo agitado por causa dela? – eu dei de ombros.
- Não sei, só sei que preciso vê-la. Não consigo parar de pensar nisso. – Jimin assentiu.
- Eu vou pegar as flores pra você, mas acho que a sua saída não será hoje e muito menos a dela. – meu amigo examinou a atadura no meu braço. – Você se queimou feio, tá doendo? – eu neguei.
- Está suportável. – olhei para a minha mão também enfaixada. – Fiquei com mais medo dessa aqui, ainda bem que foi superficial. Ela teve queimaduras? – Jimin negou.
- Você chegou antes que o fogo pegasse naquela saleta. Na real, isso nem faz sentido, era para ter pego fogo lá também, vai entender. – ele deu de ombros. – Parece que ela só se intoxicou com a fumaça, mas foi bem sério, ela poderia ter morrido. – eu senti um aperto no peito na mesma hora só de pensar na possibilidade. "O que raios está acontecendo comigo?" Me perguntei sem entender. Eu fechei os meus olhos com força e senti o Jimin colocar a mão no meu ombro. – Você precisa descansar um pouco, Tae. – eu assenti.
Haviam me injetado um remédio para dor e aquilo estava me deixando meio grogue. Talvez eu não conseguisse ir visitar o anjo naquele dia, mas iria o mais rápido possível. Eu já sabia que o nome dela era S/n e que ela era uma caloura de música. Mas essa foi toda a informação que o Jimin conseguiu reunir, eu teria que me informar melhor. Afundei naquela cama de hospital e fui me entregando lentamente ao sono com a imagem daquela menina em meus braços. O rosto dela parecia iluminado na minha inconsciência e eu vi os olhos esverdeados, a pele muito branca, os lábios rosados e os cabelos castanhos. Linda como um anjo.
POV S/n
Acordei no hospital atordoada e parecendo que eu tinha engolido todo o arame farpado do mundo. Tudo doía, desde a entrada do nariz, passando pela boca e indo até o peito, respirar era um verdadeiro martírio. E ainda para acabar de completar a minha punição, as duas piores pessoas da minha vida estavam ali fingindo se importar comigo, quando na verdade não paravam de me insultar e criticar. Minha tia e minha prima sempre foram horríveis para mim e me tratavam como alguém muito inferior a elas.
Depois do acidente de carro que matou os meus pais e me deixou gravemente ferida quando eu tinha onze anos, eu fui mandada para ficar com a irmã distante do meu pai, ela era a única parente viva que eu tinha. E eu tenho certeza de que ela só não me abandonou em um orfanato qualquer por conta da quantia em dinheiro que receberia sendo a minha tutora. Eu tive que mudar de estado e deixar tudo o que eu conhecia para trás, meus amigos, minha casa, minhas memórias, a minha vida se despedaçou. A única coisa que eu consegui manter foram as minhas aulas de piano, e bem que a minha tia Lucy tentou bastante fazer com que eu desistisse, sempre me desestimulando e criticando ferozmente cada peça dos meus recitais. Porém essa era a lembrança mais vívida da minha mãe e eu não abriria mão de ser uma pianista tão boa quanto ela foi.
Minha vida depois da morte dos meus pais não foi um mar de rosas, porém eu consegui me virar e superar as dificuldades impostas pela minha tia e pela Kate, minha prima insuportável. A garota era um ano mais nova que eu e mimada como o inferno. Mas eu tenho orgulho em dizer que nunca baixei a minha cabeça para nenhuma das duas e fiz de tudo para que na primeira oportunidade eu conseguisse deixar daquela casa. Eu só não esperava que no meu primeiro dia de liberdade, eu viesse parar no hospital e que essas duas intragáveis aparecessem aqui para "cuidar" de mim.
Fechei os meus olhos tentando me desligar da tagarelice delas dentro do meu quarto e me concentrando em outra coisa. Imediatamente aqueles braços me erguendo do chão quente invadiram a minha mente e aquela voz ecoou na minha cabeça. Eu, simplesmente, não conseguia esquecer a sensação que foi ouví-lo dizer que ficaria tudo bem. Apertei com mais força os meus olhos em busca de uma visão mais clara do rosto daquele rapaz, mas não consegui enxergar nada, era apenas um borrão. Suspirei pensando se ele estava bem e torcendo para que não tivesse se machucado enquanto me tirava daquele lugar.
Kate ao ouvir o meu suspiro, cutucou o meu ombro e eu abri os olhos. Ela se sentou ao meu lado e abriu um sorriso extremamente falso.
- Se sente melhor, priminha? – eu assenti, embora fosse mentira. – Então não precisamos ficar presa nesse quarto com você, não é? – eu concordei com a cabeça mais uma vez. Preferia 1 milhão de vezes ficar sozinha do que aturar aquelas duas. Porém a minha tia a interrompeu.
- Você vai ficar aqui comigo, Kate. Vai saber se a S/n vai querer se matar outra vez. – eu revirei os meus olhos. Lucy se virou para mim. – Como você conseguiu ser tão idiota e se trancar naquele lugar, menina? – eu me mantive calada, falar doía muito e ela não precisava de nenhuma explicação minha. – Não sei se é uma boa ideia te deixar sozinha nessa cidade, você é um perigo para si mesma e para a minha conta bancária. – ela falava andando de um lado para o outro no quarto. Minha tia nem fazia questão de esconder que estava apenas interessada no meu dinheiro. Ela recebia uma boa grana por ser a minha guardiã, uma espécie de pensão dos meus avós maternos já falecidos. Porém assim que eu completasse 21 anos, esse dinheiro seria apenas meu. E eu sei que a Lucy vai sugar até a última gota enquanto puder. Baixei um pouco a máscara que me ajudava a respirar melhor e encarei a minha tia.
- Eu não vou embora daqui, lutei por essa bolsa! – senti como se estivesse rasgando a minha garganta ao falar, mas continuei. – O que aconteceu foi um acidente e vocês podem ir embora, não preciso de ninguém aqui comigo. – puxei novamente a minha máscara e apertei os olhos devido a dor nas cordas vocais.
- Já que não nos quer aqui, nós vamos embora, sua ingrata! Quem iria querer ficar como ranzinza feito você? – Lucy falou com aquele tom desdenhoso de sempre. Nesse momento ouvimos uma batida na porta e ela mandou que a pessoa entrasse. E foi exatamente nesse momento que o meu mundo parou.
Um garoto asiático, lindo como um anjo, entrou no meu quarto com um pequeno buquê de flores nas mãos. Ele tinha uma enorme tatuagem que pegava a lateral do seu pescoço e olhá-la fez o meu coração disparar insanamente. Era ele, imediatamente eu soube quem era ele. Kate que ainda estava sentada ao meu lado, se levantou rapidamente ajeitando os cabelos, porém os olhos dele estavam presos nos meus. Nos encaramos por uns segundos até que eu piscasse algumas vezes e voltasse a realidade, ele também pareceu acordar e sorriu meio sem graça.
- Desculpe incomodar, eu meu chamo Kim Taehyung. Eu vim saber como você está. – o rapaz olhou diretamente em meus olhos. - Fui eu quem te tirou do prédio. – ouvi o suspiro surpreso da Lucy e Kate ao mesmo tempo. Eu tenho certeza de que mantinha os meus olhos arregalados e me senti a garota mais horrorosa do mundo, debilitada e despenteada, perto daquele deus da beleza. Kate praticamente pulou nele e o abraçou.
- Você é um herói, então, meu lindo! – ela tocou em seu braço e ele fez uma cara de dor. Eu tirei a máscara na mesma hora.
- Você se machucou! – falei sem conseguir me conter e ele sorriu.
- Me queimei um pouco, mas não foi nada sério. – ele se aproximou de mim. – Eu trouxe pra você. – o menino estendeu o buquê na minha direção, mas Kate se adiantou pegando o ramo de flores.
- A priminha não gosta de flores, mas eu adoro! – ela apertou o ramalhete contra o peito.
- Desculpa, eu não sabia... – Taehyung sorriu visivelmente constrangido e eu sorri de volta meio que me desculpando também pela atitude sem educação da Kate. A minha tia se aproximou dele.
- Garoto, ainda bem que você estava lá para ajudar a minha sobrinha, só sendo mesmo muito cabeça de vento para se trancar em algum lugar. Essa menina não tem jeito mesmo. – o rapaz negou na mesma hora.
- Não foi culpa dela, umas garotas fizeram isso. Foi um trote. – ele se virou para mim. – A gente precisa denúncia-las, você poderia ter morrido por culpa de uma brincadeira idiota. – Lucy chegou perto de mim na mesma hora.
- Olha só, querida sobrinha. Podemos processá-las e ganhar um bom dinheiro com isso. – eu revirei os olhos na mesma hora. Só assim mesmo para eu virar a "querida sobrinha" dela.
- Vocês não estavam de saída? – eu estava me controlando na frente do rapaz, mas a minha vontade era de mandar aquelas duas sanguessugas para o inferno. Lucy me encarou e o sorriso se transformou em uma carranca.
- Claro, você precisa descansar. – ela tentou disfarçar e Kate demonstrou toda a sua insatisfação quando veio me abraçar, ela sussurrou no meu ouvido um "sua vaca" que me fez rir discretamente. Ela se virou para o Taehyung que ainda se mantinha parado nos pés da minha cama e sorriu.
- Espero te ver outra vez, Taehyung. – ela deu um beijo em seu rosto, o que fez com que o menino ficasse vermelho e eu desviasse o olhar, incomodada com a cena. – Vou levar as flores porque eu amei. – Ela pegou a bolsa e saiu com a minha tia saindo logo atrás e nem olhando mais na minha cara.
Assim que as duas deixaram o meu quarto, eu respirei fundo e fiz uma cara de dor ao puxar o ar. Taehyung se aproximou de mim.
- Dói muito para respirar, né? – eu assenti. – Coloca a sua máscara de volta, você ainda deve precisar dela. – eu fiz o que ele pediu e ele me encarou de um jeito diferente. – Você vai me achar algum tipo de maluco, mas parece que eu te conheço de algum lugar. – voltei a tirar a máscara.
- Eu também tive essa impressão, eu achei que conhecia a sua voz lá no incêndio. Eu não consegui ver o seu rosto. – aquilo era tão esquisito. Uma sensação estranha tomou conta do meu peito e eu não soube definir o que era aquilo.
- Que bom que você está bem. – ele sorriu para mim e eu sorri de volta. Um silêncio meio desconfortável se instaurou no quarto.
- Obrigada por salvar a minha vida. – disse um pouco envergonhada.
- Foi um prazer salvar você – ele disse e eu não entendi muito bem o que ele quis dizer com aquilo.
- Hã? – perguntei confusa e ele ficou vermelho como um pimentão. Taehyung pigarreou.
- Eu quis dizer que é bom poder salvar a vida de alguém. – eu assenti com a cabeça. – Bom, acho que eu vou te deixar descansar um pouco, você ainda não deve falar muito. – ele se aproximou da minha cama e entregou um papel em minhas mãos. – Esse é o meu número. Pode me ligar, caso precise. Ou pode me ligar sem precisar também. – ele me deu uma piscadinha e se afastou. Eu travei completamente diante daquele rosto lindo piscando para mim e nem consegui esboçar uma reação. Aquele menino me despertava sensações esquisitas. – Espero voltar a te ver logo, S/n. Se cuide. – ele falou antes de sair do quarto. E eu fiquei ali sem saber o que pensar e como reagir. E o mais estranho de tudo foi a incrível impressão de familiaridade que eu senti com aquele garoto. Era como se eu já o conhecesse.
POV Taehyung
"Seu bizarro!" Eu me recriminei na hora em que deixei o quarto da S/n. Definitivamente aquela menina devia estar me achando o cara mais maluco da face da terra. "Quem diz que foi um prazer salvar a vida de alguém?" pensei enquanto esfregava o meu rosto. A cara dela já disse tudo, nunca mais vai me procurar. E o pior nem foi isso, o pior foi a minha vontade foi de correr e abraça-la apertado assim que eu a vi. Eu não vou nem comentar a vontade de chamá-la de anjo. Eu era mesmo um bizarro e ela era a garota mais bonita que eu já vi.
Linda, exatamente do jeito que eu me lembrava, completamente perfeita. E a voz dela era tão doce e familiar. "De onde eu conheço essa menina?" me perguntei enquanto deixava o hospital, mas por mais que eu vasculhasse nas minhas memórias, eu não encontrava nenhuma resposta.
Uma semana se passou desde que eu vi a S/n no hospital, e como eu esperava, ela não me ligou nenhuma vez. Soube que ela havia recebido alta e sido remanejada para um novo dormitório feminino. Mas ao contrário do que eu pensei, a minha cabeça não se desligou dela, eu continuei pensando e sonhando com o seu rosto incessantemente. Jimin que já não aguentava mais me ouvir falando daquela menina tentou me animar me chamando para sair, beber e de repente, tocar um pouco de guitarra em um bar que costumávamos ir. Aquilo era uma coisa que sempre me fazia bem e eu acabei aceitando.
A noite acabou sendo ótima e eu realmente consegui me divertir, tocar era um tipo de terapia para mim e me deixava muito bem. Por volta das 2 da madrugada, nós já estávamos do lado de fora do bar batendo papo e rindo de alguma coisa que a S/a havia dito, quando eu senti um aperto forte no peito, bem parecido com o que eu tive no dia do incêndio. Logo depois um arrepio correu por todo o meu corpo e eu comecei a olhar para todos os lados. Eu não sei explicar, mas de algum jeito, eu sabia que a S/n precisava de mim. O mais louco é que eu sentia que o meu anjo estava me chamando. E Foi exatamente nessa hora que eu a vi. Descalça, vestindo apenas um pijama curto e andando sozinha pela rua. Eu nem sei explicar como o meu coração disparou naquele instante e eu só saí andando rápido atrás dela, largando todo mundo para trás.
Vi quando um grupo na frente de outro bar começou a mexer quando ela passou por eles e simplesmente corri antes que algum deles pudesse tocá-la. Eu cheguei ao seu lado, colocando o meu braço por cima do seu ombro e ela me encarou, porém os seus olhos estavam completamente vazios. Eu a encarei até entender que ela não estava realmente me vendo. E tudo o que eu consegui pensar foi: "Puta merda, o meu anjo está dormindo! A S/n é sonâmbula!"
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.