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História Soneto 141 - Muito barulho por nada


Escrita por: rosicarl

Notas do Autor


ATENÇÃO! LEIA AS NOTAS FINAIS ANTES DE COMEÇAR!

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Finalmente chegamos ao fim dessa gracinha. Espero que tenham curtido a jornada engraçada desses três casais tanto quanto eu. Eles são muito meus bebês, especialmente BaekXing. /chora/

O poema/música que o Kyungsoo escreveu é uma adaptação da música "Love & Hate" da BoA. Tá lá na playlist da fanfic, link nas notas finais.

Boa leitura!

Capítulo 3 - Muito barulho por nada


Yixing chegou à sala de Biologia do primeiro ano praticamente colocando os pulmões para fora de tanto correr. Mas valeu a pena. Tinha conseguido chegar antes do início da aula, e Baekhyun ainda estava displicentemente sentado sobre a própria carteira, conversando com aquele amigo alto e moreno, Jongin-alguma-coisa. Todos os alunos presentes pararam de conversar imediatamente para observar o garoto novato — bem bonitinho, porém retraído demais e que andava com os flopados retrô — parado à porta. Em outras épocas, Baekhyun estaria morrendo de vergonha, talvez até fingido que não o conhecia ou avisado de cara que aquele era apenas seu tutor de inglês. Mas sua única reação imediata foi sorrir tão lindo que sua felicidade poderia iluminar toda Busan por vários meses em caso de um apocalipse zumbi.

Vendo o quanto Yixing permanecia acanhado no mesmo lugar, recuperando o fôlego perdido em algum lugar nos corredores do colégio, Baek desceu da carteira e caminhou até o garoto, o silêncio dos seus colegas fazendo o barulho de seus sapatos ecoarem pela sala. Ergueu uma mão ao rosto avermelhado do esforço e de vergonha, apreciando os olhinhos caídos agora um pouco arregalados com a aproximação espontânea, e segurou uma das bochechas, fazendo ali um carinho singelo com o polegar, antes de depositar um beijo inocente do outro lado, bem onde sabia que Yixing tinha uma covinha graciosa.

— Eu vou com você — disse baixinho, quase ao pé do ouvido, para só ele escutar.

E depois expulsou-o gentilmente para fora da sala e fechou a porta sem cerimônias.

Yixing pensou consigo mesmo que nem um exército de Chanyeols poderia arrancar o sorriso bobo que tinha fincado no rosto.

 

♥♥♥

 

É bem sabido por todos o quanto homens adolescentes, generalizando bastante, possuem uma pequena dificuldade em manter a higiene diária e os próprios odores sob controle. E tudo bem, é uma fase. Mas, para Kyungsoo, esse era um fato totalmente desconhecido. Desde muito cedo, o garoto sempre gostou de se preocupar com sua limpeza e cuidados corporais. Talvez fosse da criação, uma vez que Baekhyun dividia a mesma obsessão por sabonetes, perfumes e cremes, e muitas vezes os irmãos chegavam a brigar pela posse desses cosméticos ou pela ocupação do banheiro, na época em que moravam em uma casa bem menos luxuosa. Portanto, era um pouco chocante o fato do garoto estar ali, na sala de dança do terceiro andar, despudoradamente se esfregando no corpo ensopado de Sehun como se sua vida dependesse disso.

— Kyungsoo... eu tô... todo suado... — o loiro tentou argumentar, a boca escapando da outra com muito esforço, porque o Do não parecia querer ceder-lhe nem um segundo de fôlego.

— Você disse: "gostoso"? Sim, tá sim. — o garoto retrucou antes de tornar a beijar Sehun.

— Nossa, — respirou fundo, segurando as bochechas de Kyungsoo para encará-lo melhor — se isso tudo é por causa da surpresa, na próxima eu trago a Mariah Carey em pessoa pra cantar pra você.

— Nem precisa, só me beija com vontade.

Enfim... Pode ser que, em várias questões, Kyungsoo não se assemelhasse com outros adolescentes. Mas se tinha algo perfeitamente alinhado com qualquer cara de sua idade eram os hormônios descontrolados. Sendo assim, um sorriso deveras travesso cruzou o rosto do garoto antes que ele puxasse a gola da camiseta de Sehun para baixo, esgarçando o tecido para ter acesso livre ao pescoço longo e o torso definido que o havia deixado hipnotizado por quase um mês. A pele de Sehun tinha o mesmo cheiro de perfume caro misturado com o suor que ainda recordava bem e que, curiosamente, não o incomodava em nada.

Até o momento, não se sabe quem foi ao encontro de quem com mais vontade. Sehun buscou os lábios do Do com a mesma voracidade em que teve seus cabelos loiros puxados e a camiseta agarrada com ainda mais força. Aquela boca em forma de coração era seu segundo atributo preferido em Kyungsoo, perdendo somente para os olhos grandes de coruja, e ficando à frente apenas da bundinha redonda e perfeitamente proporcional que, óbvio, ele não tinha deixado de reparar um minuto desde a primeira vez. E, ao sentir aqueles lábios com os seus, Sehun teve a completa certeza de que, se um meteoro caísse no teto da Busan High naquele momento, morreria feliz. Nota mental número 854 sobre Do Kyungsoo: ele beijava muito, muito bem.

Foi sem nenhuma resistência que permitiu que a língua do garoto buscasse pela sua. Como sempre, ele estava no comando ali, ditando as regras, tomando o que era seu, e Sehun deixou-se levar sem protestos. Nunca havia se sentido tão bem em delegar o controle da situação a outra pessoa, simplesmente por sentir que podia confiar nela. Portanto, ateve-se a manter os braços sólidos sob as pernas de Kyungsoo firmemente enroscadas em sua cintura fina enquanto seus cabelos e ombros deixavam mais e mais marcas molhadas no espelho. A camisa impecavelmente passada de Kyungsoo àquela altura já estava encharcada de suor — dele mesmo, de Sehun ou dos dois, ele não saberia dizer —, mas ambos estavam pouco se fodendo para detalhes naquele momento.  

— Nós somos dois escrotos, Sehun. — disse o Do, pela primeira vez espiando a porta da sala sobre o ombro largo do outro para ter certeza que ninguém os pegaria no flagra.

O loiro riu, encarando-o por baixo dos cílios.

Eu sou um escroto. Você é perfeito. — declarou.

Kyungsoo suspirou alto e fechou os olhos e Sehun mal podia acreditar que tinha o Do entregue daquele jeito só para si. Mal podia acreditar que já estava tão entregue a ele também. Quem diria que o garoto mais assustador da escola era tão desinibido na intimidade? Estava se sentindo até meio bobo e inexperiente perto de Kyungsoo. Era difícil manter os olhos abertos, uma descarga de adrenalina percorria suas veias e o coração batia mais rápido do que quando estava dançando minutos atrás.

Eles se beijavam em um silêncio que dizia mais do que mil palavras. Naquele momento, a ausência de som conseguia ser ainda mais densa do que a presença dele, deixando claro o sentimento de urgência em que se encontravam. E, além disso, aquele silêncio parecia... íntimo. Porque existem coisas que são mais valiosas quando não ditas, expressas só em um toque ou um olhar.

Quando já sentiam os lábios dormentes e os braços e pernas cansados de tanto se manterem de pé, Sehun se afastou, com um sorrisinho de canto.

— Olha o trabalhão que você me dá. — disse o loiro, analisando a roupa desarrumada de Kyungsoo e certificando-se que ambos estavam relativamente apresentáveis antes de saírem dali. 

— Minha boca diz "sinto muito", meu corpo diz "foi um prazer". — brincou o garoto, apesar de por dentro estar todo derretido com o zelo carinhoso de Sehun, e puxou o outro pela nuca para mais um beijo, dessa vez muito mais tranquilo e delicado do que gostaria que fosse. Porque, daquele jeito, seria fácil ver o quanto já estava envolvido.

 

♥♥♥

 

Quando abriu a porta da sala do clube, à qual tinha a chave e estava estranhamente escura e silenciosa para o horário, Yixing se preparou para poder encontrar qualquer coisa. Um campeonato de RPG com gente esquisita vestida de vampiro. Jongdae jogando PUBG na penumbra, como um fugitivo da polícia. Talvez até o melhor amigo batendo aquela punheta marota no intervalo. Mas nada no mundo o preparou para pegá-lo se agarrando com Kim Junmyeon em cima da mesa de air hockey.

— Mas... o quê? — balbuciou, perplexo.

Jongdae, que cobria o corpo do outro Kim com o seu, literalmente caiu de onde estava, o boné virado para trás meio torto, os óculos de grau perdidos em algum lugar por ali.

— E-eu posso explicar! — falou, como se fosse um marido que havia sido pego traindo a esposa.

— Não pode, não, infelizmente, bebê. — Junmyeon retrucou, apenas se posicionando de lado, com um dos braços apoiando o rosto, numa naturalidade um tanto alarmante.

— Já falei pra não me chamar assim! — protestou Jongdae, batendo com o boné na perna do outro e retornando-o aos próprios cabelos.

— Eu acho que prefiro não saber. — Yixing comentou, fazendo menção a fechar a porta e sair correndo dali.

— Não, Xing! Pode ficar!

— Você deu sorte que ainda estamos vestidos. — disse Junmyeon.

E, como se para comprovar o que dizia o garoto, Jongdae apressou-se para acender as luzes. Aparentemente, tirando os uniformes totalmente desarrumados dos dois, todo o resto ali estava em ordem e decente.

— Escuta aqui, vocês não se odiavam? — Yixing perguntou, fechando a porta atrás de si e colocando as duas mãos na cintura, parecendo uma mãe dando bronca nos filhos desobedientes.

— Olha, pra ser sincero, eu nunca odiei o Jongdae de verdade.

— Eu ainda odeio o Junmyeon — o garoto rebateu, soltando um longo suspiro cansado logo depois de recolocar os óculos — Mas, infelizmente, também gosto dele.

Own. — Junmyeon murmurou, todo manhoso. Era uma raridade ouvir aquele tipo de confissão de Jongdae.

— Cala a boca antes que eu quebre a sua cara.

— Ele é meio agressivo. Eu gosto. — disse Junmyeon a Yixing com uma piscadela, arrancando uma cara enojada do chinês.

— Eu não sei porque ainda não voltei para Changsha...

— Não voltou porque você tem uma missão a cumprir aqui, padawan. — Jongdae, aparentemente mais contido, sentou-se ao lado de Junmyeon sobre a mesa de jogos — Como está a situação... "B"? — optou por ser discreto após uma rápida olhada para Junmyeon, lembrando-se que o garoto ainda não sabia dos planos envolvendo os irmãos Do.

— Baekhyun? — o gamer arriscou, olhando de um para o outro, que o encaravam de sobrancelhas erguidas como se não fosse óbvio a quem se referiam — Qual o problema das pessoas com esse cara? Ele não é meio sem graça?

Jongdae se abaixou um pouco para dar um selinho estalado na boca do rapaz.

— Você é inteligente demais, às vezes.

Junmyeon sorriu, olhando para Yixing todo orgulhoso de si mesmo.

— Ele não é sem graça! — o chinês bufou, jogando-se em um dos pufes amarelos em frente a televisão grande do clube — Ele é meigo, engraçado e lindo. E eu vim justamente falar sobre isso. Ele aceitou ir ao baile comigo!

Uma respiração forte de alívio escapou dos lábios de Jongdae, que enfiou uma mão para dentro da camisa da escola, puxando de lá seu terço e dando um beijo nele. Olhou para cima e apontou um dedo para os céus, como se agradecendo a Deus por ser um cara tão gente boa e ter piedade daquela pobre alma.

— E agora, qual o próximo passo? — perguntou.

— Acho que podemos cancelar o trato com Sehun. — disse Yixing — Acho que as coisas estão avançando rápido demais com relação ao Kyungsoo.

— Vocês viram o lance que ele fez pro Do no aplicativo?

— Vi — Jongdae respondeu — e devo dizer que, pra um delinquente, Oh Sehun é cheio de... talentos.

— O que disse, adúltero?

Junmyeon abriu a boca até quase chegar ao chão e Yixing não resistiu a soltar uma gargalhada alta, jogando-se para trás no pufe. Jongdae o acompanhou, achando graça e um pouco fofo aquele ciuminho inocente.

— Agora é sério, Xing — disse, retomando a linha de pensamento — Por enquanto não podemos cancelar com o Sehun. Mesmo que Baekhyun tenha aceito ir ao baile com você, se Kyungsoo não for, ele não vai também.

O novato perdeu totalmente o sorriso e cruzou os braços, preocupado. Não gostava muito da ideia de ter que subornar alguém para sair com o irmão do cara que gostava, mas não via muita escolha. Intimamente, depois de ver Sehun cantando para o Do mais velho, desejou do fundo do coração que eles estivessem se dando bem de verdade, que não fosse parte do trato. Porque toda vez que pensava nele, a culpa lhe alfinetava o peito.

— Eu só espero que ninguém saia magoado dessa história.

 

♥♥♥

 

Se agarrar pelos cantos em qualquer ambiente minimamente inabitado havia se tornado um hábito para Kyungsoo e Sehun nas últimas semanas. Na já muito frequentada sala de dança, em outras salas de aula vazias no final do período, no banheiro esquecido do quinto andar, no beco atrás da escola, atrás de uma árvore escondida no parque, enfim. Qualquer brechinha era motivo para os dois se colarem um no outro, vivendo meio que perigosamente. Na escola, procuravam ser mais comedidos, conversavam amigavelmente nos intervalos ou quando iam parar no Conselho Estudantil vez ou outra, o que nem era tão raro. Às vezes, Kyungsoo arriscava uma beliscadinha na bunda de Sehun quando ninguém estava olhando, e Sehun sorrateiramente plantava um beijinho no topo da orelha de Kyungsoo. E, mesmo que fossem dois garotos com sérios problemas em demonstrar afeto, era nítido o quanto estavam se sentindo bem um com o outro.

Deitados na cama de Sehun, aproveitando a deixa dos pais do garoto não estarem em casa — e após um rápido suborno a Jisung, o irmão mais novo do loiro — eles faziam o que sabiam melhor: beijar muito e rir das fofocas que circulavam sobre eles na escola.

— A mais nova é que eu estou oferecendo uma recompensa em dinheiro para quem me trouxer os testículos do Chanyeol. — Kyungsoo riu — Achei a ideia maravilhosa, uma versão gay da Rainha Má da Branca de Neve. Mas, sinceramente, não saberia o que fazer com aquelas bolinhas de gude inúteis.

Sehun gargalhou, balançando a cabeça, desacreditado.

— Quem tem coragem de inventar um absurdo desses?

— Deve ser a mesma pessoa que inventou que você faz parte da máfia japonesa.

— Se eles soubessem que a única Yakuza que eu já cheguei perto é a do jogo de videogame ficariam decepcionados. — riu.

— E o satanismo? Eu vi sua pintura na sala de artes, aquele bode pegando fogo me deixou levemente preocupado.

— Cara, eu só sou fã de trash metal. E o seu satanismo?

— Eu fui wiccano durante uns meses, no primeiro ano. Não vou negar que tentei algumas bruxarias contra o Park.

— E não deu certo?

— Não. E é por isso que não sou mais wiccano.  — Sehun riu, sendo seguido pelo outro — Pelo menos a sua tatuagem é verdadeira, eu não sei se iria superar se fosse só um boato. — comentou, dedilhando as costas no local onde sabia que estava a tatuagem de um dragão oriental enorme. Sehun fechou os olhos instintivamente e suspirou, fazendo Kyungsoo soltar uma risadinha. O garoto tinha um jeitinho dengoso que ninguém jamais suspeitaria ao considerar sua aparência intimidante — Você nunca me contou a história dela.

Sehun permaneceu com as pálpebras juntas, sentindo o carinho subindo e descendo em sua espinha.

— Não tem história. — respondeu — Fiz há alguns anos pra irritar meus pais.

— E irritou?

— Não. Eles já não se surpreendem comigo há muito tempo.

— Hm... Eles são do tipo distantes?

— Seria meu sonho? Mas não, eles se importam até demais.

— Como assim?

Sehun deu um suspiro longo, como se estivesse se preparando para contar algo difícil.

— Eles não gostam que eu dance. Não profissionalmente, pelo menos. E rola muita pressão aqui em casa por conta disso, principalmente depois que Jisung começou a me ver dançar e se interessou também. Meus pais são bem tradicionais.

— E colocaram você e seu irmão numa escola de artes? Com todo o respeito, mas olha... "gênios". — debochou, arrancando outra risada de Sehun.

— Eles estavam pensando nas aulas de desenho, já que sou bom nisso. — deu de ombros — Na cabeça deles, eu poderia ser um arquiteto de sucesso. Um designer, no mínimo. Não contavam que o filho fosse gostar de rebolar a bunda por aí.

— Uma pena pra eles, uma bênção na minha vida. — Kyungsoo brincou. Dessa vez, ambos riram juntos — É por isso que está trabalhando?

O loiro confirmou com um aceno.

— Eles não vão me ajudar caso eu entre em alguma agência. Sou eu contra o mundo agora.

— Meu herói. — murmurou, segurando um dos lados do rosto de Sehun para guiá-lo para perto e beijá-lo, calmo e amável.

Sehun abriu os olhos, encontrando as pupilas escuras de Kyungsoo. Por mais que as adorasse, nunca conseguia se manter tempo demais preso a elas, parecia que iria cair num vórtex infinito se o fizesse, portanto sempre acabava por passear a visão pelos outros traços do rosto bonito, geralmente parando na boca a qual era tão apegado. Kyungsoo acabava mordendo os lábios quando percebia, sentindo um formigamento neles do nada. Parecia sempre haver uma eletricidade entre os dois.

— Quer ir ao baile comigo? — perguntou. Apesar do pedido servir secretamente a um propósito, ele soou inesperadamente legítimo ao próprio Sehun.

O Do fez uma careta engraçada de incredulidade diante do convite. Estava prestes a cair na gargalhada, crente que tinha sido uma grande piada, quando notou a expressão sóbria no rosto do outro garoto.

— Sério isso?

— Sério.

— Sehun... — começou, remexendo-se com um pouco de desconforto — É muito fofo da sua parte, mas eu não gosto dessas coisas, você sabe. E, sinceramente, me espanta muito saber que você tem vontade de ir.

— Se quer saber, também estou espantado. Mas é que esse é meu último baile da escola e... — molhou os lábios, tomando coragem para dizer o que queria, levando uma das mãos até o rostinho redondo do outro para acariciá-lo — Bom, se algum dia eu tivesse que ir, teria que ser com você ou não seria com mais ninguém.

Os lábios de coração se ergueram minimamente ao ouvir a confissão, e Sehun podia jurar que tinha visto um leve rubor em suas bochechas.

— Isso é jogo sujo.

— Mas funcionou?

Os braços de Kyungsoo rodearam o pescoço do loiro, assim como as pernas já cercavam sua cintura, e desse jeito ele mais parecia um coala. Eles se beijaram mais um pouco antes de finalmente receber a resposta.

— Tudo bem, vamos a esse baile.

 

♥♥♥

 

Diz o ditado que alegria de pobre dura pouco. Mas aparentemente alegria de rico também. Principalmente se o rico em questão fosse Oh Sehun. Nenhuma felicidade em sua vida parecia durar tempo o suficiente para ser aproveitada e as quedas geralmente aconteciam quando menos esperava.

Aquele poderia ter sido o dia mais feliz de sua vida. Havia, enfim, conseguido marcar uma audição na SM Entertainment com a indicação incômoda, porém muito bem-vinda de Park Chanyeol. Matou todas as aulas daquele dia e trancafiou-se na sala de dança do terceiro andar da Busan High, ensaiando de novo e de novo a coreografia que havia montado, e depois treinou mais alguns passos freestyle que certamente seriam requisitados pelos avaliadores. E Kyungsoo ficou lá com ele durante todo o tempo, sacrificando as próprias aulas para dar-lhe apoio, o que acabou sendo fundamental para seu desempenho.

A avaliação foi rápida como já imaginava, coisa de quinze, vinte minutos, no máximo. Kyungsoo, que esperava do lado de fora da sala de treinamento onde ocorria a audição ouviu quando Sehun cantou um trechinho de Mardy Bum a pedido da banca e sorriu, orgulhoso e apaixonado. E quando o loiro, por fim, saiu da sala, afogueado e sorrindo como jamais havia visto, teve certeza de que seu garoto tinha sido aprovado. Os dois se abraçaram e se beijaram ali mesmo no corredor, pela primeira vez pouco se importando se alguém os veria.

De mãos dadas, caminharam juntos através dos longos corredores que levavam à saída do prédio e o Do, ao avistar uma lojinha de bubble tea — a bebida preferida de Sehun — dentro da parte mais comercial do complexo, pediu licença por alguns minutos, com a desculpa de que precisava ir ao banheiro. Seria uma surpresa simples, mas o suficiente para que comemorassem aquela primeira vitória.

Sehun encostou-se em uma das paredes imaculadamente brancas da empresa e sacou seu celular, passando sem muita atenção pelas atualizações dos conhecidos nas redes sociais.

— Oh Sehun, seu filho da puta! — o xingamento foi dirigido a si como uma flechada, a voz grossa de Park Chanyeol ecoando pelos corredores mesmo que ele estivesse tentando manter o volume baixo em respeito ao local de trabalho. Sehun ergueu os olhos do aparelho, um tanto surpreso.

— Como é que é?

— Não se faça de imbecil, Oh, que isso eu sei que você não é. Quero saber que merda você fez pro nosso acordo dar errado?

— Caralho, Park, você tem problemas. O que diabos poderia ter dado errado?

— Baekhyun, seu desgraçado! — o garoto, parecendo ainda mais alto vestindo um conjunto esportivo todo preto, trocava o peso do corpo de uma perna torta para outra, as mãos apertando a cintura como se contendo-se para não bater no loiro ali mesmo — Disseram que ele aceitou ir ao baile com aquele chinês novato.

— Você não falou que ele tinha aceitado ir com você?

— Foi o que ele me respondeu quando eu pedi! — disse exasperado, quase histérico, chegando ameaçadoramente perto de Sehun — Eu não tive o trabalho de te arrumar essa audição pra não conseguir o que eu queria!

— E o que eu tenho a ver com isso, porra? A minha função era convencer a levar o Kyungsoo ao baile pra você pegar o irmão dele, né? O resto era por sua conta!

Ah, é mesmo? Bom saber. — a voz de Kyungsoo cortou a conversa exaltada como uma navalha e Sehun sentiu um gelo descer pela sua espinha só de ouvir a voz monótona. Porque, o que para os outros soava como indiferença, o loiro já entendia como decepção.

— Kyungsoo... — tentou um tom conciliador.

— Nem comece. — o Do interrompeu, caminhando até os dois garotos parados no meio do corredor. Chanyeol instintivamente deu um passo para trás, preparando-se para uma surra que não aconteceu. Ao invés disso, Kyungsoo apenas se colocou entre eles e encarou Sehun friamente — Comprei bubble tea pra você. Parabéns.

E aquela foi a última coisa que disse antes de tirar a tampa da bebida e derramá-la inteira sobre os cabelos loiros do Oh. O líquido de cor amarronzada escorreu junto das pequenas bolinhas gelatinosas pela cabeça e ombros do garoto, o cheiro de chocolate super doce se alastrando ao redor deles, enjoativo. Chanyeol ainda conseguiu dar uma curta gargalhada antes de Kyungsoo virar-se para ele e, repentinamente, acertar um soco bem no meio de seu nariz. Depois disso, saiu andando para fora do prédio como se nada houvesse acontecido. Mas por dentro, seu coração estava despedaçado.

 

♥♥♥

 

— SooSoo? Posso entrar? — disse a vozinha melodiosa de Baekhyun parado à porta do quarto do irmão. Carregava um pote enorme de sorvete nas mãos e uma colher bem grande, fazendo Kyungsoo sorrir de leve.

— Vem cá.

O mais novo andou até Kyungsoo devagarinho, contornando a cama espaçosa até sentar-se na beirada dela, próximo da mesa onde o garoto estudava. Conseguiu entrever novamente a capa daquele livro de clássicos de Shakespeare em que o irmão vivia com a cara enfiada há meses e ainda mais nos últimos dias. O garoto tentava parecer impassível como sempre, mas não conseguia escapar do olhar analítico do irmão, que enxergava bem os cantinhos vermelhos de seus olhos, ciente de que Kyungsoo andava passando mais tempo chorando do que com raiva, o que era preocupante.

— Ainda lendo esse troço? — comentou, referindo-se ao livro.

— Preciso terminar esse inferno até semana que vem. — bufou, passando a mão pelos cabelos curtos — Mas, sinceramente, já não sei mais o que escrever. Tá saindo tudo uma merda.

— Porque não escreve uma música? Você é bom nisso.

— Só quando tenho uma melodia de base, e nessa parte sou péssimo.

— Acho que Jongin tem algumas composições guardadas no fundo do armário. Ele poderia te emprestar alguma e, em troca, teria o trabalho de um ótimo letrista. Pode acabar sendo útil pra ele também.

Kyungsoo ponderou por alguns segundos antes de menear a cabeça.

— É uma boa ideia. — acabou concordando.

— O melhor acordo é quando todos saem ganhando.

— Contanto que não passem por cima de ninguém no caminho.

Baekhyun torceu o lábio, percebendo onde a conversa estava chegando. Bateu a palma sobre o colchão algumas vezes, chamando o irmão para sentar-se ali, o que aconteceu no mesmo instante. Aquela parecia demais a mesma cena que haviam vivido várias semanas atrás, após a festa de Junmyeon, porém com as posições invertidas. Agora era o mais novo quem dava colo e carinho para seu hyung tristonho.

— Quer me contar o que está acontecendo agora? — perguntou, enfiando a colher o mais fundo que conseguia no pote e arrancando um pedaço imenso de sorvete para entregar a Kyungsoo.

— Queria dizer que foi o Chanyeol, mas a maior parte da culpa é... do Sehun.

— O que ele fez?

Kyungsoo enfiou metade do sorvete na boca, sentindo a língua queimar de tão gelada e o cérebro estalando com brain freeze, mas nem se incomodou muito. Engoliu tudo de uma vez só como se estivesse entornando um shot de vodca. Mas era só sorvete de flocos.

— Descobri que ele tinha feito um acordo com o Park pra... — olhou de esguelha para o irmão, subitamente preocupado se iria magoá-lo também — Não sei se você quer saber...

— Pra me comer no dia do baile? Sei sim. — disse Baekhyun, deixando o pote de sorvete sobre a escrivaninha antes de virar-se para Kyungsoo, que o encarava confuso — Eu... meio que incentivei esse plano. Apesar de não ter feito parte dele ativamente.

— Kyoong? — o garoto se afastou, perplexo — Tá de brincadeira, né?

— Infelizmente, não. — disse, torcendo os dedos e encarando o chão, a pontinha do nariz se tornando vermelha aos poucos — Me perdoa, por favor.

Kyungsoo queria estar com ódio do irmão, mas sua voz era tão quebradiça e os olhos estavam tão desconsolados que ele simplesmente não conseguiu. Sentia-se em migalhas, desapontado e traído por todos os lados, mas sequer tinha forças para sentir-se irado com quem quer que fosse.

— Por que fez isso comigo? — perguntou com a garganta ardendo em mágoa e lágrimas caindo sem parar.

— Eu... fui infantil...e egoísta como sempre. E estava tão cansado, Kyungsoo... tão cansado! Queria ter um pouquinho de liberdade... de viver o que tiver que viver e errar o que tiver que errar porque... você é tão perfeito... Eu nunca vou conseguir ser como você do jeito que o papai deseja. — gaguejava entre as palavras, chorando ainda mais do que o irmão — E eu fiquei com muita raiva porque... porque você concorda com o papai nessa história de não podermos namorar ou sair. Eu fui maldoso e vingativo, eu sei, mas... mas...

Os soluços de Baekhyun estavam tão altos, e seu rosto tão vermelho que o coração de Kyungsoo se comprimiu só de vê-lo daquele jeito. E, mesmo que estivesse desgostoso, aquele era seu irmão, a coisa mais preciosa de sua vida. Portanto, tornou a chegar perto do garoto e passou os braços ao redor dele, acolhendo-o e afagando seus cabelos castanhos. Espantosamente, Baekhyun começou a chorar ainda mais, escandalosamente, e a situação começou a tornar-se levemente engraçada. Por mais que as reações do irmão fossem verdadeiras, Kyungsoo sabia bem o quanto ele tendia a ser dramático.

Shh, shh, calma... — consolou, suprimindo um riso que ousava aparecer por entre as próprias lágrimas — Você quer saber por que não deixava você sair, Kyoong? — não esperou uma resposta, posto que o garoto ainda chorava incessantemente — Porque não queria ver você com Park Chanyeol. Não queria que passasse pelo mesmo que eu passei.

— C-como a-assim?

Kyungsoo respirou fundo, e olhou para os céus, pedindo forças para revelar o que precisava a alguém tantos anos após o ocorrido que ainda o causava uma vergonha sem precedentes.

— Eu e Chanyeol... já namoramos.

O QUÊ? — o berro de Baekhyun veio acompanhado de um solavanco que quase jogou o irmão para trás. Nem parecia que há dois segundos estava jorrando toda a água do próprio corpo pelos olhos.

— Não me orgulho, prefiro fingir que não aconteceu, mas é... Namoramos sim.

Baek passou a mão pelos fios lisos, olhando para todos os cantos do quarto sem saber como reagir.

— Em que realidade alternativa isso aconteceu?

— No primeiro ano. Você era muito novo pra saber, estava no Fundamental ainda... Eu nem sei se posso chamar aquilo de namoro na verdade. Ele basicamente saiu comigo até transarmos e depois terminou. Reclamou da minha "falta de experiência" e disse que quando estivesse um pouco mais preparado voltaria a me procurar.

A quantidade de palavrões que Baekhyun proferiu contra Chanyeol naquele momento jamais poderia se encontrada em qualquer dicionário.

— Mas eu vou acabar com a vida desse fudido! — bradou, batendo os pés no chão como uma criança emburrada.

— Kyoong, não precisa fazer nada. Ele já levou muitos golpes de karatê depois disso e um belo soco na cara semana passada que vai certamente atrapalhar alguns trabalhos como modelo.

— E o Sehun?

— Tomou um banho de bubble tea tão incrível que deve estar tentando se limpar até agora.

Os dois irmãos gargalharam alto, sentindo as lágrimas secarem pouco a pouco sobre as bochechas rosadas. Baekhyun alcançou o pote de sorvete e trouxe-o para o seu colo novamente, dessa vez levando uma generosa colherada à própria boca.

— Afinal, com quem você vai ao baile? — perguntou Kyungsoo após alguns minutos de comilança exclusiva.

— Com ninguém? — Baek respondeu de boa cheia — Eu ia com o Yixing, meu tutor de inglês. Mas agora...

O Do mais velho fincou a colher bem no meio do pote como se fosse a própria espada Excalibur e encarou o outro de frente.

— Você ainda pode ir com ele. Eu vou ao baile por você.

— Mas... você e o Sehun...

— E eu lá já precisei de macho pra fazer alguma coisa na vida, Baekhyun? Ele que se foda, eu vou sozinho. E você — cutucou a ponta ainda vermelhinha do nariz alheio com o indicador — vai com o seu professor.

— E o Chanyeol? — perguntou preocupado — Ele não me parece o tipo que vai desistir tão fácil.

Kyungsoo enfiou uma porção de sorvete na boca do irmão, que riu, quase derramando o doce na própria roupa.

— Deixa só ele tentar.

 

♥♥♥

 

Conforme o Natal se aproximava, os prédios que compunham a Busan High se assemelhavam cada vez mais a um enorme bolo coberto de chantilly, ao passo em que a neve se acumulava sobre os telhados retilíneos. Os alunos aproveitavam o clima para exibir seus casacos de marca novinhos em folha, alguns sóbrios e compridos, outros descolados e cheios de camadas em cores elétricas, e toda a ordem dos uniformes azulados se transformara num caos alegre pela aproximação do baile e do recesso de inverno.

Mas nenhum inverno conseguia ser mais frio do que Kyungsoo com relação a Sehun. Há dias sem fim o loiro vinha tentando uma reconciliação, comendo pelas beiradas. Um bilhete deixado no armário, uma mensagem no celular, uma palavra ou outra através de Yixing — que era neutro e inofensivo e tinha uma carinha bondosa na qual Kyungsoo jamais teria coragem de bater. Porém, seus esforços eram em vão. Kyungsoo nem chegava a ler ou ouvir os recados, bastava que começassem para que o jogasse fora ou, no caso de Yixing, educadamente pedisse que fosse enfiar a língua na garganta de Baekhyun ao invés de importuná-lo.

A entrega do trabalho de Literatura também não contribuía para o bom humor do Do mais velho. Tinha se enfurnado no próprio quarto durante dias, com um bloco de anotações que cada vez perdia mais folhas e a melodia composta por Jongin tocando repetidamente nos fones de ouvido. Era uma linda composição, sem dúvidas, mas Kyungsoo a ouvira tantas vezes que, quando não caía em prantos ao dar play, sentia uma vontade enorme de empurrar Jongin da janela mais alta da escola.

Mas, nessa vida, não existe fuga para a morte nem para a entrega de lições, e então o fatídico dia chegou, justamente numa manhã gelada de dezembro, com os alunos da Busan High enrolados em cachecóis fofinhos mesmo dentro das salas devidamente aquecidas. Após alguns alunos se apresentarem, Kyungsoo foi chamado pela professora Kwon até a frente da classe e o garoto dirigiu-se até lá com uma caixa de som pequena e seu celular. Sehun estava sentado no fundo da sala, como sempre meio oculto pelas sombras, o casaco de couro pesado cobrindo quase totalmente seu uniforme desarrumado, mais lindo do que tinha direito. Kyungsoo pigarreou e tentou desviar o olhar afiado que caía sobre si, porque aquilo já seria difícil demais sem ter o loiro prestando atenção em si o tempo todo.

— Meu trabalho é baseado no "Soneto 141", de Shakespeare. É uma música. — comunicou. Seus colegas de classe trocaram olhares curiosos. Jamais haviam visto Kyungsoo cantando antes e parecia uma ideia meio maluca, mas ninguém ousou rir ou fazer qualquer gracinha, uma vez que o temperamento do garoto andava pior do que nunca.

Oh! — a Srta. Kwon exclamou, tão impressionada quanto os alunos — Ok. Vamos ver o que você tem aí.

O Do acenou com a cabeça e apoiou a caixinha de som na mesa antes de ligá-la. O celular ficou bem seguro em suas mãos, em parte porque precisaria dele para não errar a letra, já que estava nervoso, e em parte porque, se não tivesse qualquer coisa para segurar firme naquele instante, poderia desabar.

 

Pode ser que eu me arrependa

Do que estou prestes a fazer

Mas preciso ser responsável

Mesmo que ainda seja difícil dizer

 

Quem me dera se eu conseguisse só te odiar

Mas a verdade é que não deixo de te amar

Como se num cruzamento eu estivesse

E nem dar um passo à frente eu pudesse

Porque a tristeza me prende no mesmo lugar

 

Te amo e te odeio, tudo ao mesmo tempo

E odeio o quanto amo você

Menti quando disse que já sabia

Menti quando disse que superaria

Sua presença era só um engano

Mas a dor é melhor que a solidão

Com honestidade eu assumo, então

Que odeio o quanto amo você

Te amo e te odeio

 

Não sei se tudo o que eu sinto

Não passa de um fardo para você

Minha alma está machucada

Expectativas foram quebradas

E eu sei que seu coração não me pertence mais...

 

Te amo e te odeio, tudo ao mesmo tempo

E odeio o quanto te amo

Menti quando disse que já sabia

Menti quando disse que superaria

Porque sua presença era só um engano

Mas a dor ainda é melhor que a solidão

Com honestidade eu assumo, então

Que eu odeio o quanto amo você

Que odeio a saudade de você

Te amo e te odeio

 

♥♥♥

 

Hyung, eu estou bem? De verdade, tá boa essa roupa? E o meu cabelo?

— Você tá lindo como sempre, Kyoong, pelo amor de deus...

Kyungsoo apertava as têmporas numa reação exagerada aos apelos de Baekhyun, mesmo que sorrisse, achando bonitinha aquela insegurança incomum da parte do garoto. Seu irmão costumava ser descolado, antenado com a moda, impecavelmente vaidoso, e muito consciente da própria beleza. Por isso era um tanto chocante o quanto ele parecia indefeso no dia do baile, nervoso, como se algo realmente grande e importante estivesse para acontecer. E talvez fosse verdade. Era óbvio que, pela primeira vez, Baekhyun estava apaixonado.

O Do mais velho também estava, mas preferia não pensar muito no assunto, principalmente naquela noite em especial. Encarava o próprio reflexo no espelho de seu carro, rindo da desgraça de estar tão bonito e arrumado justamente no dia em que iria passar horas a fio plantado num canto e sozinho. Havia planejado toda a roupa meticulosamente para ser apreciada por Sehun: o blazer escuro, a camisa de gola alta ligeiramente apertada, a calça moderna e um pouco curta nos tornozelos estrategicamente justa nos quadris, do jeitinho que ele gostava. Não era comum para Kyungsoo se achar gostoso, mas naquele dia ele estava, e era triste que a única pessoa que gostaria que o visse daquele jeito não se comunicava consigo há dias.

Não que Kyungsoo esperasse alguma outra reação. A música que havia escrito para Sehun, apesar de suave pela melodia composta por Jongin, tinha uma letra com significados demais, pesada demais. Era sua única resposta a todas as tentativas de fazer as pazes do loiro e havia sido direta, crua, sem rodeios. A intenção era fazer com que ele entendesse o seu ponto de uma vez por todas, e claramente tinha conseguido isso. Sehun nunca mais o procurou. Bom, ao menos Kyungsoo havia conseguido a nota máxima na aula de Literatura.

Os irmãos Do saíram do carro em direção ao salão de festas da escola, acompanhados de uma procissão de outros jovens que seguiam o mesmo rumo, todos muito bem vestidos e cheirosos. E desde já esta história se adianta para dizer que o baile de fim de ano organizado por Jongdae e Junmyeon ficou marcado como um dos melhores da Busan High. O salão estava enfeitado com tudo o que havia de melhor no Clube de Preservação da Cultura Vintage: a armadura de stormtrooper havia sido movida para lá, assim como os dois arcades e a mesa de air hockey. Além disso, haviam algumas máquinas de pinball e toda uma decoração temática envolvendo globos espelhados, pôsteres de filmes antigos e muito neon. No palco, alguns membros do Clube de Música tocavam sucessos atemporais dos anos 90 e alguns bem datados, mas os adolescentes não pareciam se importar, balançando seus corpos e berrando as letras como se eles tivessem vivido a época intensamente. Junmyeon estava certo, as pessoas adoravam mesmo essas coisas.

Baekhyun, ao entrar no salão, girou a cabeça ansiosamente de um lado para o outro até reconhecer quem procurava na multidão. E um sorriso enorme se abriu assim que a imagem de Yixing virou-se, tão lindo que Baekhyun pensou que poderia ter um ataque do coração ali mesmo. Colocou uma mão sobre o próprio peito, como se tivesse sido atingido por uma flechada e, mesmo à distância, o sorriso cheio de covinhas do chinês ficou nítido. Ele apertava as mãos uma na outra, nervoso, e Baekhyun não pensou em mais nada a não ser caminhar quase correndo até ele e abraçá-lo bem forte, a cabeça encostada no blazer xadrez todo certinho assim como ele mesmo era.

Estava de olhos fechados, curtindo o carlozinho que dele emanava, as batidas rápidas do coração e o cheirinho gostoso de perfume quando escutou um clique baixo e seco próximo ao seu rosto. Abriu os olhos apenas para encontrar uma câmera polaroid virada para si, e encarou o rapaz com uma expressão confusa.

— Algumas memórias precisam ser guardadas da forma certa. — Yixing explicou, retirando o pedacinho de papel branco que saía aos poucos da máquina — Quero lembrar dessa sua carinha feliz pra sempre.

Baekhyun fez um biquinho, parecendo dividido entre sorrir e chorar.

— Tenho milhões delas guardadas pra você, vai acabar cansando.

— Então vou ter um milhão de fotos lindas só pra mim.

E foi assim que Baekhyun e Yixing tiveram seu primeiro beijo.

 

♥♥♥

 

Diante da ausência do irmão, Kyungsoo procurou desaparecer na festa. E não foi uma tarefa fácil. Pensou que fosse passar despercebido pelos colegas de escola, todos devidamente entretidos com seus pares ou grupos de amigos, mas foi exatamente o contrário. Por onde andava, percebia os olhares queimando sobre si e os cochichos, vários deles até bem espantados com a beleza revelada através de uma roupinha bonita. Durante metade da festa, teve certeza que os comentários resumiam-se basicamente à sua aparência. Na outra metade, eles só mencionavam Sehun.

Pelo visto, o infeliz havia decidido comparecer ao baile sozinho também e, se não fosse por amor a Baekhyun, Kyungsoo teria largado tudo na mesma hora. Porque, se já era difícil ter que lidar com a presença forte do garoto durante o período letivo, usando o uniforme da Busan High sempre lindamente desarrumado, o que dizer da forma como ele havia se vestido para o baile? O cabelo loiro, incomumente livre do gel que sempre o ajudava em seus penteados rebeldes e bagunçados, caíam sobre seus olhos pequenos e delineados. As pernas já compridas estavam cobertas com uma calça preta de corte simples, mas preciso, deixando-as ainda mais longilíneas, como um manequim. A camisa social branca não poderia faltar, mas claro, aberta até a metade do peito, desafiando a lógica das indumentárias necessárias no alto inverno coreano. E a jaqueta de couro. Aquela maldita jaqueta de couro que o deixava parecendo uma espécie de James Dean às avessas, estonteante e perigoso por fora, mas tão doce por dentro. Kyungsoo só queria dar com a própria cabeça na parede.

Eles trocaram olhares quando seus caminhos se cruzaram de longe, Kyungsoo em direção ao banheiro, Sehun num canto do palco a conversar de pertinho com Jongin. Tudo parou por um milésimo de segundo, não havia música alta ou gritos animados que se fizessem ouvir perto do barulho do coração do Do pulsando em seus ouvidos. Sustentaram aquele olhar por um tempo que parecia uma eternidade, até que Kyungsoo piscou. E aquele mínimo movimento foi o suficiente para que Sehun o ignorasse, tornando a cochichar no ouvido do moreno. Pois muito que bem. Aparentemente, ele estava seguindo em frente, e Kyungsoo deveria seguir seu exemplo. Por mais que as lágrimas já estivessem querendo se forçar para fora de seus olhos, ele se recusava a chorar. Nem fodendo que ele iria arregar para outro homem. Não o chamavam de Satansoo à toa. Ele iria sair dali, dar uma volta até encontrar um lugar para ficar até que a festa acabasse, e depois voltaria para buscar Baekhyun. Se desse sorte, conseguiria até pegar alguém no meio do caminho, afinal, um look daqueles não podia ser desperdiçado.

 

♥♥♥

 

Um pop-rock dos anos 90 estourava as caixas de som quando Chanyeol chegou à festa, espumando de raiva e ostentando ainda um belo curativo do soco que havia levado de Kyungsoo. Tinha ido à casa dos Do à procura de Baekhyun, na esperança de interceptá-lo antes de Yixing, mas foi em vão — o Sr. Do simplesmente bateu a porta na sua cara quando perguntou pelo rapaz mais novo. E então, eles estavam ali, bem na sua fuça. Baekhyun e o República da China, abraçadinhos, dançando "passinho para lá" e "passinho para cá" a música de ritmo moderado, dois pombinhos em seu primeiro encontro feliz. O Park poderia facilmente rasgar os dois ao meio de tanto ódio.

Baekhyun, totalmente alheio ao chilique que logo iria presenciar, dançava empoleirado no pescoço de Yixing, dublando cada palavra da música animado.

— Conhece essa música? — o chinês perguntou, curioso, já que nunca a havia escutado.

— É Cruel to be kind, do Letters to Cleo.

— Nossa, essa foi rápida.

O garoto deu de ombros, rindo.

— Kyungsoo ama 10 coisas que eu odeio em você e essa música é da trilha do filme. Já ouvi tanto que já sei até ao contrário. — chacoalhou os ombros do namorado de um lado para o outro, meio brincalhão, enquanto cantava junto com o refrão — Cruel to be kind in the right measure, cruel to be kind is a very good sign...

O garoto gargalhou da dancinha atrapalhada, girando sobre os pés para abraçar Baekhyun propriamente pelas costas.

— Ah, essa é sua filosofia, então? "Cruel to be kind"?

"In the right measure"! — enfatizou em inglês, com um sotaque bonitinho que deixou Yixing orgulhoso.

— Acho que você não precisa mais das aulas de inglês, senhor fluente. — brincou.

— Discordo. — moveu-se no abraço para ficar de frente para o rapaz mais uma vez — acho que preciso de muitas, muitas, muitas aulas ainda, professor.

Yixing sorriu feliz e se inclinou um pouco para tomar os lábios do outro com os seus, quando sentiu-o escapando bruscamente de seus braços. Espantou-se ao ver que Chanyeol havia surgido ali, e agora apertava o antebraço delicado de Baekhyun com sua mão bruta, sem nenhum cuidado, os olhos faiscando.

— Desculpa interromper o casalzinho, mas acho que alguém pegou o que é meu.

O queixo de Baekhyun quase caiu de tanto choque e desaforo, e ele se debateu inutilmente para se livrar do Park.

— Eu não sou sua propriedade, me solta!

— Quem pediu primeiro leva a vez. No caso, fui eu. Vaza, "china".

Aquela foi a primeira vez que alguém na escola viu Yixing se descontrolando. Ou Baekhyun se descontrolando. Ou Kyungsoo... Não, com Kyungsoo todos estavam acostumados. Mas mesmo assim, não como naquele momento.

Tudo aconteceu muito rápido. Kyungsoo ainda estava parado na saída do salão, tendo sido interceptado por Junmyeon e Jongdae enquanto tentava escapar da festa, ambos atrapalhando seus planos com um falatório sem fim sobre qualquer coisa desimportante no momento: a organização do baile, o recente relacionamento de Baekhyun e Yixing, a neve que caía cada vez mais forte em Busan, a foto de Jongdae bebê que Junmyeon havia descoberto visitando sua casa... Mas, quando o som quase ensurdecedor de conversas subitamente desapareceu, deixando apenas o finalzinho de Letters to Cleo tocando ao fundo, os três garotos se viraram bem a tempo de presenciar a ceninha que Chanyeol estava armando.

Munido de uma ira sem fim, Kyungsoo marchou até o local, seguido de perto pelos dois Kim, quase tão furiosos quanto. Don't Speak, do No Doubt, começou a tocar, Gwen Stefani ignorando totalmente a cena que se desenrolava, cantando uma música lenta sobre amor que não condizia em nada com a situação bem no meio de uma briga homérica. Yixing foi o primeiro a tentar avançar contra o Park, mas o pobrezinho mal conseguia levantar um peso de dois quilos nas aulas de Educação Física, então foi fácil para o grandão empurrá-lo para longe com apenas uma cotovelada, mesmo que recebesse tentativas de socos e pontapés de Baekhyun. O cara vinha fazendo academia há meses e agora parecia a porra de um tanque de guerra, alto e forte. O não era problema para as habilidades de karatê de Kyungsoo, que estava louco para colocar todo seu conhecimento em prática, avançando contra Chanyeol como um touro.

Mas qual não foi a sua surpresa, a de Jongdae, a do Park e mais 800 alunos quando Junmyeon o impediu, segurando gentilmente seu pulso. O semblante do garoto era despreocupado como sempre, mas havia um brilho diferente em seu olhar quando tomou a frente, cara a cara com Chanyeol. Todos assistiram quietos quando o Kim empurrou os cabelos para trás de olhos fechados, reunindo toda a paciência do universo.

— Park, é o seguinte. — começou — Eu gastei muito, muito dinheiro do meu clube no baile esse ano porque, veja bem, eu queria fazer um agrado pro meu namorado. — indicou Jongdae com um aceno de cabeça, o que fez o garoto olhar para os lados de olhos arregalados ao notar que todos o encaravam surpresos. Porque, até onde sabiam, ele odiava Junmyeon —  E eu também gasto muito, muito dinheiro com outros eventos e necessidades da escola, e sou uma pessoa bem vista entre a diretoria e os pais. Seria extremamente fácil pra mim estragar, ou pelo menos adiar bastante, todo o seu futuro promissor como trainee, porque você sabe que não vai se manter na SM se tiver advertências ou suspensão por agressão no currículo escolar. Então, — suspirou, exausto — solta o Baekhyun. Agora.

O aperto no braço de Baek se afrouxou na mesma hora, e o garoto correu para o lado de Yixing, que esfregava o próprio peito no lugar onde havia sido empurrado. O restante dos alunos olhavam do Park para o Kim em choque, prendendo a respiração, e quase foi possível ouvir um murmúrio de alívio coletivo quando Chanyeol deu as costas, contrariado. Porque, se havia uma única coisa que ele entendia mais do que o bullying, era o poder dos contatos que uma pessoa tem. E ele era obrigado a respeitar Junmyeon por ser o cara com mais contatos que conhecia na escola. No fim, sua carreira era mais importante do que um garotinho fresco como Baekhyun.

Hm... só mais uma coisa. — Junmyeon chamou, fazendo todos se virarem novamente para encará-lo, inclusive Chanyeol. E foi nessa hora que o Kim acertou-lhe um soco em cheio bem no meio da cara. Foi certeiro no local onde já estava o curativo do golpe de Kyungsoo e o Park cambaleou e caiu no chão, se contorcendo inteiro de dor. E, apesar dos primeiros sons pasmos, logo foram ouvidas algumas risadas aqui e ali. Junmyeon, com uma calma assustadora, alcançou o bolso de trás da calça social e pegou sua carteira, pescando algumas notas e jogando sobre o corpo em espasmos exagerados, girando os olhos para a encenação — Toma aqui e pega um táxi pra casa, vai.

E quando todos finalmente desistiram do showzinho do Park e voltaram a dançar, Junmyeon virou-se apenas para dar de cara com Jongdae, parado à sua frente com olhos enormes e brilhantes voltados para os seus.

— Eu te amo. — soltou, em alto e bom som.

— Oi? — perguntou, sem acreditar nos próprios ouvidos.

— Eu te amo, maldito! Eu te amo pra caralho e é isso aí! Foda-se! — jogou as mãos para o alto em desistência — Eu te amo, mesmo. — repetiu, com um sussurro meio cansado e as mãos nos bolsos da calça.

Nem na última final do campeonato de PUBG, quando a equipe da Busan High venceu a da escola de Seul numa virada épica, Junmyeon abriu um sorriso tão grande. Num assomo de empolgação, ele pegou Jongdae pelas pernas, levantando-o bem alto, o que gerou protestos e xingamentos nada sérios do rapaz, que ria junto.

— Eu também te amo muito. — Junmyeon confessou, deixando Jongdae escorregar por seus braços até que tivessem altura suficiente para que se beijassem ternamente. E ninguém diria que, há poucos meses, eles se detestavam tanto.

 

♥♥♥

 

— Já deu, estou indo embora. — anunciou Kyungsoo a um Baekhyun que ainda parecia abalado, alisando o peito machucado de Yixing por cima da roupa social meio amassada àquela altura — Mas você pode ficar, não vou pra casa agora. Vou dar um tempo em algum lugar e volto pra te buscar.

— Não! — Baekhyun gritou, assustando o irmão com o desespero repentino. Tentou acalmar a voz para não ser muito óbvio — Digo... Fica mais, é a última festa antes da sua formatura, SooSoo.

Kyungsoo o olhou com a cabeça inclinada, meio exasperado.

— E você acha que eu faço questão alguma disso? Vou embora.

— Não! SooSoo! — Baekhyun segurou o pulso do irmão, recebendo um olhar levemente irritado — Não briga comigo, mas... você não pode ir.

— Por que não, caralho? Todo mundo tá querendo me prender nessa festa?

— É que... — o garoto olhou de Kyungsoo para Yixing, incerto sobre contar a verdade ou não — É que... o Sehun...

Sehun?

— É... ele... — agora Baekhyun olhava do irmão para o palco da festa, nervoso, até que a música animada que tocava parou e um foco de luz ali se acendeu — Ai, finalmente, já tava quase fazendo xixi nas calças de nervoso... — respirou fundo, dirigindo um sorriso ao irmão antes de se afastar com o namorado — Bom show, SooSoo.

— O-o quê?

— Ele é um cara legal, Kyungsoo. — disse Yixing, colocando uma mão no ombro do garoto enquanto Baekhyun tentava levá-lo para longe — Meio perturbado? Sim. Mas tem um bom coração. — e sorriu pequeno, deixando-se guiar de uma vez por todas.

Kyungsoo ficou ali parado no mesmo lugar, piscando confuso na direção do palco vazio. Até que, sem mais nem menos, Mariah Carey surgiu.

Não, calma.

Não a Mariah de verdade, mas uma drag queen vestida como a cantora. Com um macacão colado vermelho devidamente natalino, assim como no clipe de sua música sazonal mais famosa.

E logo atrás vinha Sehun, carregando uma enorme cartolina.

Só podia ser brincadeira aquilo.

— Pode soltar o lipsync, DJ! — pediu a drag, encarnando a personagem completamente quando os delicados acordes de sininhos deram lugar para a voz potente da verdadeira Mariah.

 

I don't want a lot for Christmas

There is just one thing I need

I don't care about the presents

Underneath the Christmas tree

 

Ao lado, as cartolinas que Sehun segurava — e, dessa vez, eram apenas duas — diziam:

 

A YAKUZA ME MANDOU PEDIR DESCULPAS

EU TE AMO

 

I just want you for my own

More than you could ever know

 

De longe, Sehun viu Kyungsoo proferindo em silêncio as palavras "puta que me pariu". O loiro sorriu e deu de ombros, parecendo levemente envergonhado.

 

Make my wish come true

All I want for Christmas...

 

Sehun apontou o indicador na direção do Do enquanto o verso se dirigia ao seu interlocutor.

 

Is... you...

 

O ritmo animado tomou conta da canção naquela hora e Sehun sentiu a deixa para descer do palco e ir de encontro a Kyungsoo, porém... não estava contando que a drag queen fosse agarrá-lo pela gola da jaqueta de couro para começar a dançar.

 

I don't want a lot for Christmas

There is just one thing I need

And I don't care about the presents

Underneath the Christmas tree

 

A platéia gritava, assobiava e aplaudia enquanto Sehun e "Mariah Carey" rodopiavam pelo palco. O loiro, num primeiro momento, foi pego de surpresa, mas logo entrou na brincadeira, valseando com a drag que sacudia a peruca loira de penteado exagerado, fazendo-o ter que se desviar a toda hora dos movimentos bruscos. Ao fundo, Jongin gargalhava de chorar na mesa de som.

 

I don't need to hang my stocking

There upon the fireplace

Santa Claus won't make me happy

With a toy on Christmas Day

 

Kyungsoo estava perplexo demais para formular alguma reação. Não sabia se chorava, se sentia raiva, se morria de rir. Aquilo era uma loucura e um caos.

 

I just want you for my own

More than you could ever know

Make my wish come true

All I want for Christmas is you

You, baby

 

A drag largou um Sehun afogueado e meio tonto pelos giros e danças absurdas quando a música entrou na bridge. O garoto, cobrindo a boca para rir, ainda sem acreditar na própria coragem, desceu do palco aos pulos e rumou correndo até Kyungsoo, que permanecia estático e boquiaberto, acompanhando seus movimentos como se estivesse vendo uma rena de três cabeças vindo em sua direção.

— O Yixing estava certo. Você é perturbado, garoto. — falou, examinando Sehun de cima a baixo, desde os cabelos revoltos até as bochechas vermelhas de tanto dançar.

Eu sou perturbado. Você é perfeito. — ele disse, referenciando a si mesmo no dia em que se beijaram pela primeira vez na sala de dança do terceiro andar.

Kyungsoo cruzou os braços em frente ao peito, franzindo o cenho.

— Você não pode recorrer a essas maluquices sempre que fizer merda.

— Não vou mais fazer merda com você, eu prometo.

— Por que você me ama? — ergueu as sobrancelhas, desafiador.

— Porque eu amo você.

Parecia que o coração de Kyungsoo eram que havia aprendido uns golpes de karatê e estava desferindo cada um deles contra o seu peito. Os braços caíram inertes ao lado do corpo enquanto Sehun chegava mais e mais perto e seus olhos se elevaram até os lábios lustrosos de algum protetor contra o frio, tão convidativos. E Sehun, igualmente, olhava os do outro, grossos e rosados, entreabertos como se esperando os seus.

All I want for christmas is you era uma música relativamente longa, e quando ela foi chegando ao último refrão, Sehun e Kyungsoo se aconchegaram um nos braços do outro. Eles nem sabiam mais contar o número dos beijos que já tinham dado, mas aquele tinha um gostinho especial, diferente, como se fosse o primeiro. E não deixava de ser, na verdade, um divisor de águas em seu relacionamento.

— Isso aí, viado! Vai que vai! — gritou a drag no microfone de Jongin, chamando a atenção de todos para o casal novamente.

Centenas de assobios e uivos provocativos os atingiram, obrigando Kyungsoo a puxar Sehun para um canto para terem mais privacidade.

Da beira do salão, podiam ver as pessoas que dançavam alegremente ao som de Emotions. Pelo visto, a drag queen preparou-se para performar mais de um hit da diva do pop e todos estavam amando. Baekhyun e Yixing tinham voltado a dançar, tão ou mais agarradinhos que antes, o que fez o irmão mais velho sorrir. Perto deles, os Kim tentavam alguns passinhos coordenados muito esquisitos, mas aparentavam estar se divertindo muito. Tudo parecia estar no seu devido lugar.

— A Yakuza até que te educou direitinho. — caçoou, virando-se para o loiro, que o abraçou novamente pela cintura, bem forte, como se para não deixá-lo escapar.

— Nota mental número 1027: "Do Kyungsoo gosta de mafiosos". Em breve, num aplicativo da Busan Senior próximo à sua casa.

Kyungsoo deu um tapinha no ombro de Sehun antes de depositar um selinho em sua boca.

— Eu gosto de você, idiota. — beijou-lhe novamente, dessa vez mais demorado e lento. Era tão bom, tão certo, que ouviu quando Sehun suspirou, derretido. E Kyungsoo sorriu em meio ao beijo, subitamente confiando que não precisaria mais odiar ninguém — Eu amo você.


Notas Finais


Vamos lá!

1) Essa é a versão editada de Soneto 141. Quem quiser ler a versão completa, pode procurar no post fixado no meu Twitter (@rosicarl614) ou me chamar por mensagem, Curious Cat (rosicarl), sinal de fumaça...

2) Essa fanfic tem uma playlist e as músicas são diretamente relacionadas à história. Link:
https://open.spotify.com/user/carolaguiar/playlist/0q8uxwjMborw6R0irFqdoz?si=awL354VzSIW8O2DLXxS1pA

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Obrigada por terem acompanhado e espero que tenham se divertido lendo tanto quanto eu me diverti escrevendo!

Até a próxima!


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