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História Soneto Proibido - XXXVII - Escandalizado.


Escrita por: larihexney

Notas do Autor


Olá gente, tudo bem?
Desculpem-me por ter demorado tanto, não foi a minha intenção. Sempre que eu tentava escrever, alguma coisa me desviava, o sono me pegava, alguma saída surgia... Enfim, vou tomar um banho de sal grosso pra essa má sorte passar! Pretendo escrever bastante nessa pausa de São João, pois quero finalizar Soneto Proibido antes de dezembro. Tem um monte de história nova implorando pra ser escrita na minha cabeça e eu não consigo pari-las antes de criar meu filho por completo.
Estou recompensando vocês com cinco mil e tantas palavras com bônus que vocês só descobrem lendo hahahaha
Boa leitura!
P.S.: Espero que não tenham me abandonado! Recebi umas mensagens lindas durante a minha ausência e dedico o capítulo a todos vocês que aguardaram. Uns anjos!

Capítulo 37 - XXXVII - Escandalizado.


Eu tinha cedido aos desejos de Lucca. Eu ainda estava naquele jardim repleto de pessoas desconhecidas e me sentindo impotente por ter chegado tão perto de ter negado o desafio do mais velho e falhado sabe-se-lá-Deus por qual motivo racional. 

Agora, duas horas após a cena vexatória da festa ter acontecido, todos os convidados estavam tão entretidos nas suas bebidas e conversas – inicialmente tediosas, mas no presente momento recheadas de mexericos e informalidades – que nem pareciam se lembrar de que algo tinha transcorrido. Felizmente, também não se recordavam da minha mísera existência, de forma tal que seus olhares não se encontravam mais em minha figura, como outrora ocorreu. 

Nem mesmo dois minutos depois de Lucca ter me pedido para ficar, alguns senhores o chamaram para conversar e de súbito me pareceu a ocasião perfeita para escapulir. Contudo, quando eu estava prestes a me direcionar para a saída, Laura me encontrou. Prontamente pedindo-me desculpas pelo comportamento de sua mãe na saída da igreja, ela desatou a falar, valendo-se da oportunidade para também comentar o conflito que tinha recentemente ocorrido. 

— Fiquei boquiaberta com a postura do barão, mas não deveria surpreender-me. O sr. Gregório parece ter as melhores impressões do seu patrão. Minha prima só tece elogios a bondade do sr. Vasconcellos como amigo e chefe de seu esposo. – Ela disse em um fôlego só, deixando-me momentaneamente aliviado. Se a impressão que fosse ficar era a da benevolência de Lucca, então eu estaria tranquilo. — Embora todos tenham comentado como ele foi fervoroso e até mesmo ríspido com sua sogra, de forma que fez até mesmo com que sua esposa fosse embora. Coitadinha, ele nem sequer tentou fazer com que ela ficasse. – Lamentou, deixando-me aflito. 

— Não é verdade! – Rebati de imediato e vi uma linha de confusão e estranheza formar-se no rosto arredondado de Laura. — Q-quer dizer, ele não ofereceu nenhuma resistência à decisão da baronesa, mas não é como se ele não tivesse se importado. Ele enviou o primo dela para amparar tanto ela quanto a sogra dele. – Um tanto atrapalhado, esforcei-me para explicar, tentando mostrar que o barão não era um negligente. 

— Ainda assim, Thomas, não é estranho a seu ver que ele tenha agido dessa forma tão... suspicaz? – Perguntou-me. 

— Suspi o quê? – Franzi o cenho, desconhecendo a palavra utilizada de forma tão natural pela senhorita ao meu lado. 

— Suspicaz, suspeita. – Esclareceu, rindo. — Não sei, o barão parece ter convicções distintas dos demais e isso aparenta ser muito bom. Todos aqui sabem que ele foi um dos primeiros a negar a condição de escravidão aos seus trabalhadores, portanto não é espantoso que ele saia em defesa de um. O que me impressiona é a forma alheia com que tratou sua esposa.  

Fiquei quieto, afinal, ela tinha razão e nenhum argumento meu mudaria isso. 

— Mas, quer saber, sr. Facchin? Isso não nos diz respeito. Me alegra saber que ele defendeu o seu direito de estar aqui, por isso devemos desfrutar. – Ela disse, surpreendendo-me. 

Era difícil encontrar pessoas da mesma classe que eu com pensamentos evoluídos quanto as questões que configuravam a sociedade, mas damas de alta renda? Era raro, quase impossível. Primordialmente, as mulheres não eram ensinadas a questionar suas realidades, especialmente as que cresciam em berço de ouro e, consequentemente, tinham uma vivência limitada. Em seguida, outros fatores que faziam com que eu nunca esperasse ouvir uma opinião como a de Laura eram a postura de sua mãe, totalmente arrogante e esnobe, e a sua idade que, ainda que se aproximasse da minha, não refletia os mesmos modos de vida. 

Ela era uma figura no mínimo intrigante, além de muito, muito adorável. 

— Sabe o que verdadeiramente me alegra, senhorita Abreu? – Indaguei, fazendo-a torcer o nariz ao ouvir seu sobrenome.  

— Não, o que o alegra?  

— Que eu tenha conhecido uma senhorita com um modo tão encantador de ver as coisas. Eu só espero que ela me dê a honra de ser minha amiga com contrato vitalício.

— Contrato firmado. – Respondeu, sorrindo abertamente. — Vamos, eu o levarei até a cozinha. Eu preciso de um cúmplice para assaltar doces. – Declarou, puxando-me pelo braço. 

Impossibilitado de dizer não, eu a acompanhei, entretanto não sem antes varrer o espaço até visualizar Lucca que, de onde estava, tinha seus olhos em mim com uma expressão que eu conhecia e por vezes detestava em seu rosto: ciúmes. 

Hesitei, pensando se não seria melhor que eu apresentasse Laura a ele, mas logo apaguei a ideia da minha cabeça. Além de não podermos nos expor demasiadamente em público, ele precisava se acostumar a confiar em mim. Desse modo, segui até a cozinha, furtei alguns doces sorrateiramente com Laura e voltamos para o jardim gargalhando, o que chamou a atenção da sua mãe, que não parou desde aquele momento a me fitar como se eu fosse um bastardo delinquente. 

Contidos, resolvemos nos sentar em uma mesa um pouco distante da senhora Abreu e ali ficamos conversando até depois da noite cair. Vimos os noivos valsando e logo em seguida outros casais se perfilando para dançar. Quando a convidei para se juntar aos demais na dança, ela se negou, alegando não saber. 

— Duvido! Mas respeitarei sua decisão se não quiser. – Eu disse, não querendo coagi-la a nada. 

— Obrigada. – Ela sussurrou. — Sabe, senhor Facchin, creio que nunca conheci um rapaz como o senhor.  

Sorrindo, eu tive a estranha sensação de que a conhecia há muito tempo e não há apenas algumas horas. Nossa afinidade tinha sido intensa, quase palpável. Conversamos, durante aquele curto período, de nossos hábitos, rotinas, das vestimentas alheias. Tudo o que ela dizia condizia com o que eu pensava. Era surpreendente. Parecíamos gêmeos idênticos.  

Quando estava externando isso para Laura, fui apanhado de surpresa por Lucca, que sorria sem enrugar o canto dos olhos e havia parado bem diante de nós. 

— Boa noite, espero não estar atrapalhando-os. – Ele disse, a ironia passiva na voz quase imperceptível.  

Exceto para mim. 

— Claro que não, barão Lucca. – Laura adiantou-se, pondo-se de pé. — Se quiser, posso deixar que converse a sós com seu funcionário. 

— Oh, ele não é meu funcionário. – Lucca redarguiu, falsamente sereno. Laura franziu o cenho. — Não nesse ambiente. – Completou. 

— Ah, claro. – A moça sorriu graciosamente. 

Decidindo finalmente intervir para não prolongar o silêncio que seguiu, virei-me para Lucca antes de questionar-lhe: 

— Posso ajudá-lo em algo, barão?  

— Na verdade, pode sim. Estava conversando há pouco com um senhor que mostrou interesse em sua habilidade de montaria quando eu contei que aprendi a montar cavalo com você. Ele afirmou querer que você ensine seu filho e, se estiver bem, que converse com ele. 

— Agora? – Perguntei, desconfiado. 

— Agora. – Lucca ergueu as sobrancelhas para mim desafiadoramente.  

— Vá, Thomas. Eu tenho mesmo que ir ao encontro da minha mãe. – Laura disse, conciliadora. — Nos vemos depois, sim? – Eu assenti, um pouco contrariado por saber que Lucca provavelmente estava agindo sob efeito de ciúmes. — Com licença, barão.  

— À vontade, senhorita.  

Assistimos em silêncio Laura se afastar e bastou que ela desaparecesse inteiramente das nossas vistas para que eu não perdesse tempo em desmascarar a farsa que Lucca estava forjando. 

— Onde está o senhor que quer conversar comigo, barão? – Indaguei. — Não quero deixá-lo esperando. 

Como se tivesse ouvido algo absurdo, ele me encarou com o cenho franzido. Permaneci com meu rosto sério, aguardando uma resposta que não veio.  

— Imaginei. – Murmurei e revirei os olhos. — É óbvio que não tem senhor nenhum. Da próxima vez, encontre uma desculpa melhor. 

Ficando de pé, eu me pus em movimento para alcançar um garçom, quando as mãos firmes de Lucca me detiveram, mantendo-me onde eu estava. Com um olhar traçando o caminho do meu braço até seu rosto, eu o mirei com uma impaciência crescente.  

— Jesus! – Gritei em um sussurro, minhas narinas inflando e uma carranca se formando em meu rosto em função do seu comportamento descuidado. — Será que existe a possibilidade de você manter suas mãos para si? Me solte, Lucca. – Sem medir o tom da minha voz, exigi, puxando meu braço do seu aperto. 

Tão logo eu vi seu rosto sem ação e seus olhos ganharem um brilho triste, antecipando suas palavras seguintes que me fariam ter, além de arrependimento, a certeza de que ele tinha entendido tudo errado. 

— Eu não sabia que minhas mãos o incomodavam tanto. – Ele disse, ressentido, unindo suas duas mãos atrás de si em uma obediência que me cortou o coração.  

Ah, Thomas burro! Por que você sempre faz errado até mesmo quando está tentando agir do jeito certo? 

— Suas mãos não me incomodam, Lucca. – Apressei-me em dizer. — O que me incomoda é o modo como você está se expondo. Eu não sei mais como te dizer que nós devemos ter cuidado. – Expliquei, olhando-o nos olhos para que ele não tivesse dúvidas quanto ao que eu dizia. — Toda vez que você se aproxima, me toca e me olha em público é um suplício para mim.  

— Fascinante. – Sorriu ironicamente. — Já que é assim, eu tratarei de fingir que você não existe quando não formos só nós dois. – Disse com a mágoa evidente em sua voz e entendendo tudo errado mais uma vez!  

— Você fala como se eu quisesse que as coisas fossem como são. E, por Deus, não é assim.  

— Então diga-me como é, Thomas, porque, pelo visto, eu sou a pessoa que não compreende bem aqui.  

— Agora você parece uma criança que não suporta ser contrariada! – Apontei, sentindo meu coração retumbar por estar entrando em uma discussão com ele. — Eu só não quero te prejudicar, apenas isso. 

— Aprecio profundamente a sua preocupação, mas não vejo a maneira disso não ocorrer uma vez que você quer me privar até mesmo de te olhar. – Afirmou com um sorriso torto e com todas as linhas do seu rosto em pura tensão.  

— Deus! – Eu ri sem humor. — Eu não disse isso! Não distorça as minhas palavras, barão. Basta não me olhar da maneira que me olha quando estamos a sós.  

Olhando para os lados, preocupado com a possibilidade de alguém nos ouvir, ele vasculhou bastante o espaço antes de me encarar daquele modo quente, fazendo tudo ao contrário do que eu tinha acabado de aconselhá-lo a fazer. E então, sem perder a seriedade no seu rosto, ele disse pausadamente, com uma determinação que me deixou petrificado onde eu estava: 

— Eu não sei como te olhar de uma maneira diferente da que eu olho, maldição! – Praguejou. — Eu posso fingir e mascarar tudo no meu olhar, mas não quando se refere a você. Se você sabe como me ajudar, diga! Diga, porque é insuportável e me deixa desvalido o tanto dentro de mim que só aumenta de tamanho por sua causa sem ter nada que eu possa fazer. – Finalizou, bradando em pura agonia. 

Com as mãos suando, eu emudeci, imóvel com a sensação de ventania que se instalou no meu estômago enquanto ouvia suas palavras. Ao processar tudo aquilo, uma vontade esmagadora de beijá-lo me acometeu, fazendo o desejo reverberar por todo o meu corpo como uma necessidade.  

A necessidade de darmos fim àquela discussão. Urgentemente. 

— Vamos embora. – Pedi, tão baixo que deduzi ter sido necessário que ele fizesse uma leitura labial para entender-me.  

— Mas já? – Sua expressão prontamente mudou, suas sobrancelhas unindo-se em um claro questionamento. — Q-quer dizer, eu sei que não estou sendo a melhor companhia para você, mas eu quero que me dê a oportunidade de cumprir a promessa que fiz de que essa noite seria divertida. – Ele disse apressado, a determinação de segundos atrás esvaindo-se. A notória preocupação dele por pensar estar me desagradando, depois de uma pseudodiscussão, fez com que meu coração acelerasse diante da vulnerabilidade que tomou conta da sua face. Um sorriso comedido tentou cruzar meu rosto. 

— Aqui? Aqui, não. É tarde demais. Eu tenho uma tarefa para cumprir em outro lugar. – Afirmei, olhando-o com afeto, esperando que ele entendesse, ainda que estivesse aflito demais para perceber o que eu queria dizer. 

— Tarefa? – Perguntou, confuso. 

— Sim, uma inadiável e mais importante do que qualquer coisa no momento. – Eu disse, sério, a fim de deixá-lo ainda mais intrigado.  

Ele, ainda com suas mãos atrás de si, ergueu uma das sobrancelhas e deixou que sua feição tomasse uma forma austera.  

— E que tarefa seria essa? – Perguntou, ríspido, surpreendendo-me por sua dificuldade em interpretar-me. Segurei o riso. 

— Uma honrável e prazerosa. – Anunciei, não desviando meu olhar do seu semblante. — Como me foi designado, pretendo retirar um certo barão teimoso do seu terno novo. – Respondi, não contendo um sorriso que se espalhou por meu rosto diante da sua surpresa com a minha declaração.  

Vendo o rosto de Lucca se iluminar e enrubescer, meu peito apertou e se soltou, fazendo com que meu coração batesse loucamente.  

Meu Deus, como eu podia amar tanto alguém daquela maneira? 

— Apenas para não haver mal-entendidos... – Ele começou, trazendo sua mão para a frente. — Esse barão tem nome? – Questionou com um sorriso lindo.  

— Tem sim. – Respondi, rindo. — Barão Lucca Bellini Vasconcellos. – Falei pausadamente. — Conhece-o? 

— Oh, creio que o conheço. – Brincou, aliviando o clima por completo. Sorri em resposta, o que fez com que ele desviasse o olhar e suspirasse. — Vamos falar com Gregório e então escapamos, sim?  

Apenas assentindo, eu o segui. Primeiro, paramos em frente a uma mesa com uma família simpática que deduzi ser constituída por alguns parentes de Gregório. Lucca brevemente se despediu deles e procurou saber do amigo, embora não fosse necessário. Não muito distante de nós, ele e sua esposa se encontravam justamente conversando com um senhor que estava na mesma mesa que Laura e sua mãe.  

— Lucca! Thomas! – Gregório saudou, abrindo um sorriso ao nos ver. — Família, quero que conheçam Thomas, meu colega de trabalho, amigo e jovem promissor. Um autodidata, acreditam? Inteligentíssimo! – Elogiou, querendo impressionar seus familiares, mas estendendo isto a mim.  

O que diabos havia dado naquele barridebosta para me apresentar à sua esposa e família? 

Jesus, ele havia conseguido me deixar corado. 

— Prazer, Thomas. Que fascinante! Como conseguiu aprender sozinho? – O senhor que antes conversava com Gregório indagou, fazendo com que eu ficasse ainda mais constrangido por ser o centro das atenções. A mãe de Laura, no canto, estava inexpressiva, o oposto da filha que sorria largamente e com curiosidade, assim como mais duas pessoas que eu não possuía nenhuma indicação de quem eram. 

Olhando de esgueira para Lucca, eu o vi com um sorriso orgulhoso no rosto, adorando meu embaraço. Ao captar meu olhar, ele abaixou os olhos, tentando esconder seu sorriso espetacular.   

— Prazer t-também, senhor. E-eu, bem, eu sempre gostei de bibliotecas, então o passo seguinte foi gostar dos livros. – Eu disse e um estrondo de risos foi ouvido, deixando-me desnorteado.  

Eu tinha dito algo errado? 

— Que humor peculiar, meu caro. – O senhor disse, risonho. — E qual foi o passo seguinte após o apreço pelos livros? — Perguntou, parecendo interessado, o que me encabulou. 

Não sabendo se o velho estava com o intuito de zombar de mim, eu consertei minha postura e fui bem incisivo na minha resposta: 

— Só consegui ter apreço pelos livros depois que o bibliotecário me ajudou a aprender a ler, senhor. Depois disso, o passo seguinte foi escrever. É uma das coisas que mais gosto de fazer na vida.  

— E o que o senhor escreve? – Dessa vez quem questionou foi Laura, aparentando admiração. 

— Poemas e sonetos, senhorita. – Respondi com um sorriso cúmplice para a minha mais nova amiga.  

— É um prodígio! – O senhor proferiu, intensificando a minha sensação de estar sendo caçoado. — Adoraria ler alguma obra sua, Thomas. Adoro literatura e ler alguma produção de um jovem tão exótico como você será agradável. Já sei a quem procurar quando for visitar a residência do sr. Vasconcellos. – Acrescentou, rindo. 

— Oh, será um prazer, sr. Abreu. – Lucca disse, simpático como sempre. — Sinta-se à vontade para providenciar essa visita quando quiser.  

— Papai, o sr. Thomas Facchin também cuida de cavalos! É isso o que ele faz na fazenda do barão, inclusive, chegou aos meus ouvidos que ele mesmo ensinou o sr. Vasconcellos. – Laura voltou a falar, coincidentemente voltando a me deixar acanhado.  

— Verdade, rapazes? – O mais velho checou. 

Olhei para Lucca e assenti, não deixando passar despercebido o rastro de ciúme em sua face em razão da fala de Laura.  

— Sim, sr. Abreu. O senhor também está convidado para passear a cavalo comigo quando estiver a caminho da nova residência da sua sobrinha. – Lucca disse, aproximando-se de Gregório. — Agora, se me permitem, eu e Thomas estamos de partida. Preciso voltar para a minha família. – Complementou.  

— Tão cedo assim? – Gregório perguntou, franzindo o cenho. 

— Cedo? Já passa das 21h, meu caro amigo. Vamos seguindo nosso rumo. Felicidades para os dois! Desejo uma ótima lua de mel para vocês! – Lucca disse para o casal. 

Depois de abraçar o amigo e beijar delicadamente a mão da sra. Cabral, foi a minha vez e eu tratei de fazer tudo muito depressa. Desejei felicidades aos noivos, me despedi de todos e pisquei comicamente para Laura, que enrubesceu e riu.  

Quando finalmente saí do jardim da propriedade dos Abreu junto a Lucca, eu soltei o ar em alívio. Eu tinha sobrevivido ao meu primeiro evento repleto de gente reguenguele! Eu mal podia crer! Tão surpreendente quanto inacreditável era pensar que não havia sido, apesar dos pesares, tão ruim assim. No fim das contas, não era tão diferente das festas que eu tinha o hábito de ir. À exceção da comida com uns refinamentos estranhos e do pessoal entediante, tudo era igualzinho. 

Eu estava tão contente com meus devaneios que só notei que Lucca me observava quando ele parou ante o seu automóvel. Havíamos caminhado em silêncio, apenas cientes da presença um do outro. E, por hora, havia bastado.  

No entanto, agora, com tudo o que os seus olhos me diziam antes de entrarmos no veículo, eu tinha a impressão de que estar ciente não seria mais suficiente. Seu olhar, ousado e lento, foi um lembrete de que o melhor da minha noite começaria dali a pouco, no exato momento em que pudéssemos agir diante da nossa autoconsciência que, de repente, mudou-se de agradável para irritante à medida que os segundos que nos separava do nosso objetivo passavam – e pareciam uma eternidade. 

 

°°° 

Lucca dirigiu por um caminho que eu desconhecia, alegando ser o mais seguro para que ninguém conhecido nos visse. Ainda que as estradas fossem mal iluminadas, ele conduziu o automóvel com segurança, não aparentando estar preocupado. Pelo oposto, sua face demonstrava serenidade, contudo suas mãos o traíam. Quando ele não necessitava de uma delas na direção, a espalmava na calça de maneira inquieta. 

Eu estava atento a cada mínima ação sua. 

Nós não trocamos uma palavra. Eu havia sentado no banco de forma que pudesse me permitir tudo o que me limitei a ver durante as horas que passamos na igreja e posteriormente na festa: Seu peitoral, bem valorizado mesmo com a presença de algumas camadas de tecido; Suas coxas, que pareciam querer escapar para fora da calça a qualquer momento; E, por fim, mas não menos importante, sua boca perfeita com a barba alinhada que estava fazendo minha mão pinicar com a ânsia de tocá-la.  

Outra parte minha também estava começando a querer incomodar, mas eu ainda estava no controle. 

Mas não por muito tempo, eu suspeitava. 

Logo que nós saímos do veículo, adiantamos os passos para entrar depressa na casa de madeira que estava em um profundo breu. Ainda sem dizer nada, eu e ele tateamos a fechadura da porta e quando finalmente estávamos só nós dois, sozinhos e trancados no nosso próprio espaço, eu não pude conter a sensação arrebatadora de prazer que senti. 

A respiração de Lucca se tornou mais audível e eu acreditei que ele também estivesse sentindo-se da mesma maneira que eu. Contudo, assim que suas mãos encontraram a minha cintura, eu compreendi o porquê de seus suspiros estarem tão claros para mim: ele estava perto. Muito perto. 

Sendo puxado de surpresa ao encontro do seu corpo, eu senti aquelas mãos grandes e ágeis fazendo o caminho pelas minhas costas até chegar ao cós da minha calça. Imediatamente fiquei em alerta. 

— Será que podemos encontrar uma vela e subir para o quarto antes de começarmos? – Perguntei, me desvencilhando do seu toque. 

Ele soltou um suspiro frustrado, relutantemente desfez o laço em volta da minha cintura e, em questão de segundos, eu ouvi um fósforo sendo aceso. Já pisando no terceiro degrau da escada, olhei para trás apenas para ver os olhos de Lucca demasiadamente hipnotizantes, realçados com a iluminação da vela e presos em mim. Ao captar meu olhar, ele fez menção de me alcançar, mas eu fui mais rápido e corri até o topo das escadas, indo para o quarto. 

Ele estava enganado se pensava que eu deixaria que ele conseguisse tão fácil o que queria. Hoje as coisas funcionariam ao meu modo, Lucca.  

Enquanto eu apurava meus ouvidos, atento a sua subida até o cômodo, tirei meus sapatos com a maior velocidade que consegui, estando descalço quando ele apareceu, encostou o ombro na parede e apoiou calmamente a vela em uma prateleira. Em seguida, cruzou os braços e me encarou um tanto impaciente. 

Eu quis rir. 

— Você está brincando comigo. – Constatou, sua voz baixa e rouca. 

Me fiz de desentendido. 

— E por que eu faria isso? – Perguntei, sentindo a excitação vibrar no curto espaço que nos separava.  

Lucca não me respondeu. Em contrapartida, tentou se aproximar de mim mais uma vez com suas mãos ameaçando entrar em ação, mas subitamente se detendo. 

— Preciso confessar algo. – Anunciou, tendo toda a minha atenção e curiosidade voltada para ele no mesmo instante.  

— Confesse. – Encorajei-o. 

Ele mordeu o lábio para segurar um sorrisinho esperto antes de se determinar a falar. 

— Quando eu vi você na igreja com essas roupas, eu só pensava em como você era facilmente o homem mais lindo dentre os presentes e em como eu queria tirar você de tanto tecido. Mas agora... – Parou, tocando meu queixo e deixando o dedo indicador cair até o primeiro botão da minha camisa. — Agora eu não quero mais isso. 

— Não? – Indaguei, sentindo meu coração palpitar em um misto de interesse e desapontamento. 

Para o inferno com esse maldito efeito que você tem sobre mim, barão. 

— Não. Eu prefiro que você se dispa para mim. – Declarou simplesmente e afastou-se um passo, assumindo uma postura arrogante. 

Certo. Se é esta a sua vontade, eu posso trabalhar com isso. 

Sorrindo abertamente, eu finalmente cruzei a pequena distância que nos afastava e lancei-me sobre sua boca, matando a sede que eu estava de sentir seu gosto, a suavidade da sua língua e a delicadeza do ar que ele soltava pelas narinas e que soprava levemente a minha bochecha. Com a mão em sua nuca, eu o puxei ainda mais perto, não suportando a ideia de não o ter junto a mim por inteiro. Deleitando-me com a sensação dos nossos corpos juntos, avancei em uma ação ainda mais ousada e, involuntariamente, pus meu joelho entre suas pernas, deslizando-o lentamente entre suas coxas até finalmente sentir o volume da sua calça. 

Graças a um lapso de sanidade, eu interrompi o beijo, disposto a pôr em prática tudo o que eu estava arquitetando para aquela noite. Lucca não se conformou com a minha interrupção e se direcionou para o meu pescoço, o que fez com que eu quase cedesse às suas carícias. 

— Não vamos inverter as ordens das coisas, barão. Hoje será o senhor o primeiro a ficar fora de suas vestes. – Eu disse, segurando seu rosto entre minhas mãos enquanto o retirava da curva do meu pescoço. 

Ele me fitou atônito e admirado. Agindo com rapidez para não perder a coragem e deixar que ele assumisse as rédeas, eu coloquei minhas mãos em cada lado do seu ombro e toquei a ampla extensão, empurrando o seu terno para fora do topo dos seus membros superiores. Quando por fim o terno branco já não mais estava firme em seus braços, puxei-o livre, soltando uma pequena risada com uma observação boba que invadiu minha mente e não passou despercebida por Lucca, que arqueou a sobrancelha em questionamento. 

— Preto lhe cai tão bem. – Expressei meu pensamento enquanto puxava a camisa de dentro da sua calça. Minhas mãos tremulavam e eu esperava por tudo que era divino que ele não notasse isso. 

Da última vez que estivemos assim, tão próximos e sozinhos, o homem espetacular à minha frente havia se preocupado com o meu nervosismo quando me viu tremendo. Entretanto, ao contrário da nossa primeira noite íntima, agora eu não tremia de insegurança e euforia exacerbada. O meu tremor se devia exclusivamente ao meu desejo de aliviar o pulsar do meu pau. 

Pau. Eu quase podia ver Lucca escandalizado caso eu ousasse me referir ao meu pênis daquela forma. Apenas palavras diferentes para dizer o mesmo, eu me defenderia. 

— É a segunda vez que você ri sem compartilhar comigo o motivo da graça. – Ele disse, obrigando-me a voltar a encará-lo. 

Se ele insistia tanto em saber... Que mal havia em deixá-lo um pouco corado? 

— Estou pensando em pau. – Falei e aguardei, começando a desfazer os botões da sua camisa. 

Silêncio

Um, dois, três, quatro botões... Silêncio. Os pelos do seu peitoral já à vista, a carne bronzeada graças à luz da única vela no quarto e o subir e descer do seu tronco. Mais silêncio. 

Intrigado, busquei seus olhos e a fisionomia encabulada no seu rosto por um triz não me fez gargalhar.  

— Pau? – Perguntou em um sussurro tão baixo como se tivesse me confessando um crime. 

— Sim, pau. O que nós dois temos entre as... 

— Sim, Thomas, eu sei! – Me interrompeu, desviando o olhar. — Mas esse é um termo muito vulgar... – Fez uma pequena careta, ruborizando. 

Gargalhando, eu o ajudei a se livrar da camisa. Depois, segui para o seu cinto, demorando-me em sequência no zíper e nos botões da sua calça. Meu corpo inteiro ficou quente quando minha mão espalmou rapidamente na sua ereção, o que me deixou ainda mais ansioso por deixá-lo nu. Afoito como eu estava, não custou muito para que eu conseguisse tal feito. Bastou que sua calça estivesse no chão para que eu estivesse também retirando a cueca, o que me rendeu uma visão que nem Eva teve com Adão despido no paraíso. 

“É pau, e rei de paus, não marmeleiro. Dá leite, sem ser árvore de figo...” – Declamei baixinho um trecho do soneto de Bocage, olhando Lucca nos olhos, rindo com seu desconcerto evidente com a minha insistência no uso da palavra que ele considerava vulgar. — “... Brando às vezes, qual vime, está consigo; Outras vezes mais rijo que um pinheiro”. – Ri mais alto ainda, dessa vez porque ele também não se conteve, riu comigo e me enlaçou com seus braços, nos aproximando por completo. 

Olhando um para o outro com sorrisos bobos, ele tocou a mecha teimosa do meu cabelo e ergueu meu queixo para depositar um beijo na ponta do meu nariz. 

— Seu sem escrúpulos. 

Divertindo-me, o coagi a sentar-se na cama e somente quando eu estava prestes a sair das roupas que minha mãe tinha feito para mim atentei-me ao fato de que Lucca estava surpreendentemente calmo, sem um rastro de constrangimento por estar sem suas próprias roupas. Aquilo aqueceu meu peito e fez meu coração chacoalhar. Saber que ele, além de confiar sua intimidade, se sentia confiante diante de mim era tudo o que eu poderia querer. Estávamos ali, à vontade um com o outro, na iminência de deitarmos juntos, nos amar e gozar. Eu era um homem feliz. 

Com pressa para ficar como vim ao mundo, eu me libertei logo da minha calça, que voltava a ficar apertada com o peso na minha virilha. Quando já fazia menção de tirar de qualquer jeito a camisa, Lucca interviu, pedindo-me calma. Desse modo, deduzi que ele queria fazer uso da vista que ele teria ao observar-me remover minhas vestes e então tive uma ideia melhor. 

Mantendo a camisa, eu me movi até onde Lucca estava e pus o joelho no lado direito do colchão, ao lado da sua coxa esquerda. Com o movimento, a ponta do meu pênis tocou levemente o seu abdômen e eu ouvi o primeiro gemido de Lucca, que eficientemente desestabilizou minha respiração. Usando seu ombro desnudo como apoio, eu fiz o mesmo procedimento com o outro joelho, desta vez no lado direito da coxa do mais velho, e sentei-me vagarosamente em seu colo. Um suspiro mesclado do arfar de ambos foi ouvido quando nossos membros se encontraram e Lucca pareceu perder qualquer controle que possuía. 

Agarrando com firmeza a minha nuca, o barão esmagou nossas bocas e esfregou com aspereza a sua barba no meu queixo, me fazendo grunhir e gemer ao longo do beijo faminto e quente. Desnorteado, apertei com afinco os seus ombros ao mesmo tempo em que ele começou a passear a sua mão pela minha coxa e continuou subindo, chegando até a minha bunda. Surpreendendo-me, ele não se deteve. Pelo oposto, a mão que estava na minha nuca se prendeu nos meus cabelos e, então, aparentando estar tendo nos seus dedos tudo o que ele queria segurar, ele apertou simultaneamente a carne das minhas nádegas e os fios do meu cabelo. 

— Oh merda! – Eu gemi, sentindo o líquido do pré-gozo escorrer pelo meu pau. 

Sem parar de me beijar, Lucca continuou me apalpando e tocando em absolutamente todos os lugares certos. Apenas quando a busca por ar se tonou necessária separamos nossos lábios para então a visão saturada da sua boca juntamente com a faísca entre o bronze e o dourado nos seus olhos castanhos me ter muito perto de ter uma síncope. 

Desprovido de consciência ou responsabilidade pelos meus atos, fui guiado pelos meus instintos e fiz com que Lucca deitasse na cama, atacando o seu pescoço com beijos e mordidas que renderam alguns suplícios do mais velho que eu não consegui distinguir no auge das nossas excitações. Na posição em que estávamos, eu sentado no seu colo com seu corpo esticado sobre a cama, era inevitável que nossos pênis estivessem fazendo uma bagunça entre si. Minha mente, obscena e curiosa, fez surgir em mim a vontade de provar o gosto dos líquidos que se misturavam na região inferior do meu corpo. E ao cogitar a possibilidade de isso deixar Lucca boquiaberto, a ideia pareceu mais que tentadora. 

Ela pareceu perfeita. 

Erguendo o meu corpo para trás e expondo o meu tronco, eu sentei eretamente no colo do másculo homem que me observava com adoração, semelhante ao modo como eu o encarava. Suas mãos alcançaram as minhas coxas e as massagearam até esbarrar na barra da camisa – agora já amassada – que eu ainda vestia. Ele repetiu a ação várias vezes, só parando quando minha mão foi até onde estava nossos paus juntos, deslizou entre eles e voltou. 

Repousando, para o espanto de Lucca, na minha boca.  


Notas Finais


Esse Thomas vai matar Lucca do coração um dia, espia só.
Como será que o barão vai reagir, hein?
Cena do próximo capítulo hahaha!
Beijo grande!


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