1. Spirit Fanfics >
  2. Soneto Proibido >
  3. XLIV - Meus olhos e meus ouvidos.

História Soneto Proibido - XLIV - Meus olhos e meus ouvidos.


Escrita por: larihexney

Notas do Autor


Olá, amados! Tudo certinho com vocês?
Gente, eu peço desculpas pela ausência e a partir de hoje prometo que não farei mais promessas. Eu pretendia concluir a escrita de Soneto Proibido nessas férias, mas depois de amanhã já começo a faculdade e ainda nem sei qual será o desfecho da história. Hahahahah! Aceito sugestões, hien?
Quero agradecer a quem se mantém aqui, firme e forte, apesar dos sumiços dessa autora! Vocês me motivam, de verdade. Obrigada a quem se manifestou querendo que eu voltasse a escrever! Isso conta demais!
Bom, aqui está o capítulo - essencial, diga-se de passagem - que marca o início para a trilha da reta final da história.
Boa leitura!

Capítulo 45 - XLIV - Meus olhos e meus ouvidos.


Na manhã de sábado, eu rolei pela cama diversas vezes até abrir os olhos, incomodado com a claridade. 

Que sol forte era aquele em pleno agosto? 

Tateei de maneira atrapalhada a cômoda ao meu lado e quando consegui pegar o meu relógio de pulso, saltei da cama no mesmo instante, impressionado com as horas. Passava das 9h30min e eu nunca ficava deitado por tanto tempo, por mais cansado que estivesse. Certamente todos na casa estavam estranhando o ocorrido. 

Respirando fundo, uni coragem para me pôr de pé, me despi, preparei meu próprio banho com a água que já havia sido trocada aquela manhã – provavelmente por um dos criados, aparei minha barba e, quando fitei atentamente minha imagem no espelho, sorri com a memória indecente que me acometeu.  

Sim, Thomas, espero que você tenha ficado tão exausto quanto eu. 

Rindo ao lembrar de nós dois no estábulo até o início da madrugada, eu concluí a minha higienização matinal, vesti roupas frescas, calcei meus sapos e por fim desci, encontrando a mesa do café da manhã posta e todos ainda sentados. Ao que parecia, não somente eu tinha acordado tarde. 

— Bom dia! – Cumprimentei todos, anunciando minha chegada e sendo cumprimentado de volta. Ao me aproximar de Ana Clara, deixei um beijo em sua testa, como era de costume. — Todos despertaram tarde hoje? – Indaguei, arrumando o guardanapo em minha camisa enquanto sentava. 

— Na verdade, barão, o senhor foi o único. – Rita disse, erguendo a cabeça para lançar-me um olhar um tanto arisco. — Espero que a noite de negócios tenha sido proveitosa. 

Serenamente, eu pus duas torradas no prato e pedi que Antônio me passasse a manteiga. Rita poderia lançar todas as suas garras à vontade, pois eu estava seguro de que ela não tinha nada para me atormentar além de suas palavras e, hoje, o meu humor era bom em demasia para que eu me deixasse abalar por elas. 

— Foi sim, sogra. Inclusive, tenho novidades. – Declarei, fazendo com que todos me olhassem, até mesmo o tio Martim, que estava lendo jornal desde que eu adentrei a sala de refeições. 

— Quais? – Ana Clara e Rita perguntaram no mesmo momento. 

— Fiz negócios com o marquês e estarei partindo para o Rio de Janeiro na semana que vem. – Informei, inegavelmente orgulhoso e contente. 

— Partindo para o Rio de Janeiro? – Tio Martim repetiu em forma de questionamento, seus olhos não escondendo seu estado de surpresa. — Como assim? 

— É, Lucca, como assim? – Ana Clara também perguntou, seu tom apreensivo. 

— Calma, pessoal. – Eu ri levemente, levantando as mãos como indicativo de que eles precisavam aguardar minha explicação. — Será uma viagem curta, uma sondagem do local no qual teremos um negócio. 

— Que negócio? 

— Fala, barão, pelo amor de Deus! 

— É rentável? 

Divertindo-me com a quantidade de perguntas, eu beberiquei a xícara de café, elevando o suspense. 

— Bastante rentável, tio. É um negócio promissor. – Respondi, me sentindo tão relaxado como há muito não ficava. 

— Já fui ao centro da cidade hoje e já houveram mexericos quanto ao baile de ontem. Nenhum dos senhores que lá estiveram disseram algo sobre negócios, inclusive, muitos estão pensando que o marquês só veio a Tiradentes para exibir-se a fim de galgar algo com o governo local. Tem certeza de que é algo confiável, sobrinho? 

Observei a face desconfiada do meu tio e não me passou despercebido o modo como ele me chamou. Quando ele dizia “sobrinho” ou quando ele era sutil comigo no geral, eu sabia que futuramente algo ia surgir. Algum pedido, algum interesse novo, seja um bem a ser adquirido ou uma simples informação da minha vida – o que era mais provável naquele caso. E foi isso que me fez tomar uma decisão. 

— Sim, tio, é confiável. Queira não se preocupar, sim? – Sorri, cautelosamente gentil. — De qualquer modo, me assegurarei de ir ao Rio de Janeiro com meu assistente, a fim de caracterizar a seriedade e o compromisso com a proposta de negociação. 

— Faz bem. – Tio Martim disse, surpreendendo-me. — Ouvi mesmo os criados comentando que Gregório estaria de volta hoje. 

— Isso é verdade? – Rita perguntou, entusiasmada. — Mal posso crer que não terei que ver mais aquele menino com ar petulante perambulando por essa casa! 

— Mamãe... 

— O quê? Não me diga que prefere esse rato dentro de casa à Gregório? 

Incomodado com a forma com a qual minha sogra se referia a meu amante, pigarreei propositalmente e decidi intervir. 

— Sra. Salgueiro, é verdade que Gregório estará de volta ainda hoje... – Graças a Deus, ela disse, interrompendo-me. — ... mas não será ele que me acompanhará ao Rio. Gregório, como homem de confiança que é para mim, ficará aqui administrando tudo até que eu volte para assumir meus deveres. Thomas desempenhará o papel de meu assistente, como vem feito com excelência nessas últimas semanas. 

O queixo de Rita caiu e eu saboreei aquele momento tanto quanto o delicioso café que eu havia terminado de tomar. Todos voltaram a me olhar, incrédulos. 

— Mas você só pode estar ficando... – Rita engoliu suas palavras, indignada. — Por Deus, ele é um camponês! Um petulante, mal-educado, soberbo, audacioso... Como você pode querê-lo ao seu lado como assistente para uma viagem tão importante como esta?  

— A sra. Salgueiro tem razão, Lucca. Ele nunca foi a uma escola, certamente tem maus hábitos porque, sejamos francos, ele não tem berço à altura. É diferente de Gregório, que tem uma família referencial, ainda que humilde, e que possui estudo. Você não é tolo, sabe que essas coisas importam. – Tio Martim complementou, rigoroso. 

Eu mal podia acreditar no que estava ouvindo. Não que me surpreendesse a forma como aqueles dois pensavam! Eu já tinha passado por situações o bastante para ter a desagradável oportunidade de ouvir comentários como esses, mas saber que a pessoa que estava na mira do julgamento excludente e mesquinho deles era Thomas me causava uma ira descomunal, por mais que eu soubesse que não devia deixar isso transparecer. 

— Não, tio, essas coisas não importam. – Falei, medindo meu tom de voz para não iniciar uma discussão acalorada. — A ida de Thomas não está aberta a conversação. Esta é uma decisão minha e ela está tomada. – Fui firme, olhando no fundo dos olhos de ambos. 

 — Perdão por minha intromissão, mas eu acredito que Thomas tenha seus méritos para que o barão tenha optado por ele. Todas as vezes em que passei pelo escritório e vi a porta aberta, sempre o avistei muito concentrado. Ele aparenta ser competente. – Antônio disse, mas pareceu se arrepender de ter aberto a boca no exato instante em que Rita lançou em sua direção um olhar reprovador. 

Fiz menção de abrir a boca para sinalizar todos os pontos em que Thomas se destacava, estando ciente de que eu deixaria de fora alguns em razão da natureza íntima deles; contudo, Ana Clara foi mais rápida do que eu ao falar. 

— Antônio, tenho que discordar. Já testemunhei Thomas saindo mais cedo e indo de imediato para o estábulo. Parece que nem mesmo ele consegue se desprender do seu velho ofício de cuidador de cavalos. Além do mais, Lucca, queira reconsiderar o que minha mãe disse em relação a importância dessa viagem. Não seria melhor alguém mais competente e estudado para ir até a capital do país com você? 

— Ele é um autodidata, um exímio escritor, atualizado, jovem e perspicaz! – Exaltei-me, não suportando mais. — Desde quando vocês acreditam que eu não sou capaz de escolher os meus funcionários?  

Nenhum deles me respondeu. Eu exalei, verdadeiramente chateado. Quem dera eu tivesse tido a chance de acordar mais tarde para não ter me submetido a ouvir tantas baboseiras. 

— Bem... De que se trata esse negócio, afinal? – Meu tio perguntou, todo rastro de cordialidade tendo ido embora do seu tom. 

— Quando tudo tiver finalizado, eu direi. Até lá, vocês podem especular à vontade sobre minhas possíveis escolhas e decisões equivocadas. – Fui ríspido. 

Tão logo me calei para terminar de comer em paz e todos colaboraram ao fazer igual silêncio. Somente após alguns minutos, meu tio desencadeou uma conversa sobre o futuro profissional de Antônio e sobre uma possível pretendente. A filha do coronel, ao que aparentava, prosseguia solteira. Todavia, Antônio não parecia nem um pouco instigado com a notícia, tampouco minha esposa que, dentro de poucos instantes, pediu licença para retirar-se e seguiu até a biblioteca.  

Eu já estava me preparando para sair da mesa também, quando Rita citou a preocupação da mãe de Antônio quanto a solteirice dele. 

— Seria bom para toda a família que você se casasse, Antônio. Você sabe como está a situação atual de sua mãe quanto as finanças. Sei que não é o desejo dela que você se case com uma tiradentina, embora um bom casamento possivelmente a faça mudar de ideia.  

— Tia, eu posso soar muito idealista, mas eu gostaria de casar com uma mulher que eu ame. – Argumentou sem jeito. 

— Ninguém na nossa família casou amando o companheiro. Tanto eu quanto sua mãe aprendemos a amar nossos falecidos maridos com o tempo. É um processo natural. Você também aprenderá. – Rita disse, gélida como sempre. 

— Não é verdade, tia. Com a tia Maria de Fátima não foi assim. Eu cresci ouvindo da minha mãe que ela era muito passional, vivia em função do amor. Acho que tenho essa essência dela comigo.  

— Ora, que absurdo! Ela nem mesmo chegou a se casar alguma vez, Antônio! 

— Porque morreu jovem e grávida de um homem que não soube retribuir o afeto que ela lhe deu. Eu quero ser diferente. Quero honrar minha esposa e saber escolhê-la para não cometer o mesmo erro nem sofrer como certamente minha tia so... 

— Já basta! – Tio Martim bateu a palma da mão sobre a mesa, fazendo com que os talheres tilintassem. — Seja homem e busque um rumo para a sua vida repleta de regalias ou saia dessa casa! Aqui não tem espaço para um projeto de homem que não sabe nada da vida! Rita, providencie arrumar a vida do seu sobrinho e aproveite para ensinar-lhe a não falar tolice!  

Dito isso, se levantou e saiu do recinto com uma fúria que deixou tanto eu quanto Rita e o pobre do Antônio tontos em confusão. Fiquei imóvel, perplexo. Tentei chamá-lo por um breve momento, mas nem mesmo saberia o que dizer, então desisti. 

Rita, que estava subitamente envergonhada e olhando para todos os lados como se buscasse um direcionamento, também saiu da mesa. Antônio continuou ali, com as bochechas tão ruborizadas que pareciam estar sob fogo escaldante. 

Por Deus, que bicho havia mordido meu tio? 

— Antônio, eu não sei o que aconteceu aqui, mas queira perdoar meu tio. Vou agora mesmo procurar saber o que motivou ele a se inflamar com você. – Eu disse, assim que me recompus o suficiente para elaborar uma frase. Antes de sair da sala de refeições, ainda acrescentei. — E, por favor, desconsidere as palavras dele. Alguma coisa houve e eu descobrirei. Asseguro que ele virá se retratar com você.  

Saí, deixando-o sozinho, extremamente penalizado por seu constrangimento. 

Procurei por meu tio em seu quarto, no escritório, na varanda, e só ali fui informado de que ele tinha saído no meu automóvel. Eu nem poderia imaginar o que poderia acontecer com ele dirigindo com toda aquela raiva à flor da pele. Ainda que minha mente buscasse explicações para aquele comportamento tão tempestuoso e incomum, nada vinha à tona, nada fazia sentido. No momento, me cabia apenas orar para que Deus o protegesse nessa estrada e o trouxesse de voltar são e salvo para que pudesse dar explicações a todos.  

Inconformado, passei a mão no cabelo em frustração, puxando as pontas embaraçadas como se a ação fosse capaz de me tranquilizar. Já ia voltar para dentro na intenção de amparar Antônio de alguma forma, quando ouvi um assobio despretensioso e melódico à minha direita. Ainda que tenso, um sorriso se estendeu no meu rosto ao ver quem era o dono do som. 

— Bom dia, barão. – Thomas me cumprimentou com um sorriso preguiçoso que indicava que ele tinha pouco tempo fora da cama.  

— Bom dia. Eu pensei que eu tivesse dado folga a você hoje. 

— O senhor deu, mas eu recebi um pedido de ajuda e vim comunicar que precisarei sair da propriedade. – Ele disse de modo que eu pensei que estivesse brincando, mas quando não disse mais nada, vi que era sério e me aproximei, descendo os degraus para estar perto dele. 

— Um pedido de ajuda? – Perguntei, induzindo-o a esmiuçar o assunto. 

— Sim. Minha mãe quer que eu entregue o restante das costuras para a madame Gomes para que ela não fique em prejuízo por ter confiado nela para a confecção das costuras do fim do mês.  

— Você conseguiu convencê-la a aceitar o dinheiro que a madame Gomes tem para pagar? – Eu quis saber, aproveitando a deixa para dar mais um passo em sua direção. Quanto mais perto dele, melhor. 

— Não. – Ele disse, decepcionado, recostando-se na parede. De imediato fiquei na sua frente. 

— Como foi a volta para casa ontem? – Perguntei baixinho, discretamente tocando sua mão e levando-a para frente dos nossos troncos, onde ninguém que estivesse transitando nas redondezas pudesse ver. 

— Foi tudo bem. Quando cheguei, meu pai estava dormindo. Minha mãe perguntou a razão da demora e eu apenas disse que você decidiu vir tarde de lá porque se tratava de negócios. — Ele respondeu em sussurros, olhando fixamente para baixo, mais precisamente para a brincadeira que nossos dedos travavam. 

— Que bom. Estive preocupado quando cheguei em casa e vi as horas. – Falei e o vi sorrir, lentamente erguendo os olhos para me encarar. Eu queria beijá-lo e talvez eu o fizesse rapidamente ali mesmo se não fosse pela minha inquietude e preocupação com o meu tio que não estava permitindo que eu me mantivesse tranquilo.  

— Obrigado por se preocupar.  

— Já disse a sua mãe que você viajará comigo? – Indaguei, chegando mais perto dele e sentindo meu coração retumbar com o perigo que corríamos por conta de tanta proximidade.  

— Ainda não achei a oportunidade, mas falarei em breve, não se preocupe. – Ele disse, alternando seu olhar entre meus olhos e minha boca. — Lucca, afaste-se ou nós vamos cometer um erro.  

Eu olhei para os lados, para trás e para cima, buscando alguém, qualquer rosto, qualquer silhueta, mas não encontrei nada nem ninguém. Segurei firme em seu queixo e o ergui para frente, tocando meu polegar no seu lábio. 

— Qual erro? – Me fiz de desentendido, levantando sugestivamente minhas sobrancelhas.  

Thomas abriu a boca maliciosamente, travou seus olhos no meu rosto e parou, fazendo meu pênis latejar dentro da cueca com a tensão construída para tão logo ele morder meu dedo e me afastar, escapando de mim e cortando todo o clima sensual que havia me inebriado.  

Muito, muito espertinho. 

— Preciso ir, barão. – Ele disse, dando passos para trás para que eu não tivesse chance de alcançá-lo. — A propósito, você está bem? Parecia preocupado quando cheguei. 

— Nada para se preocupar. – Eu disse, não estando tão certo disso quanto a mim. — Preocupe-se em fugir, porque quando eu pôr minhas mãos em você... 

— Até mais, barão! – Ele me cortou e se despediu, risonho. 

Assisti ele partir até que sua figura saísse do meu campo de visão. Só ao sentir minha mandíbula doer, percebi que eu sorria feito um bobo e tratei de morder meu lábio para conter-me.  

— Ele te faz feliz mesmo, não é? – Ouvi uma voz perguntar e me sobressaltei para ver quem era. 

Meus ombros, que instantaneamente se tensionaram, relaxaram na mesma rapidez quando eu avistei Gregório. 

— Meu amigo! – Apressei-me para abraçá-lo.  

— Estou de volta, barão! – Ele disse, retribuindo o abraço enquanto me dava uns tapas nas costas.  

— Estou feliz em revê-lo, meu braço direito! – Eu sorri, averiguando-o e notando como ele parecia estar renovado e genuinamente feliz. — Vamos entrar, eu quero saber absolutamente tudo sobre sua lua de mel. Contanto, é claro, que você me poupe dos detalhes escandalosos, sim?  

 

°°° 

Cerca de uma hora e meia depois, eu ainda estava no meu escritório ouvindo Gregório falar das belezas da cidade que ele conheceu na lua de mel com sua esposa. Seu rosto não mentia quanto a seu humor. Ele tinha realmente vivido bons dias, descansado, admirado belas arquiteturas e, agora, como bem me dizia, estava inspirado para desenhar, ávido por conseguir trabalhar com algo que pusesse pôr para fora o arquiteto que vivia nele. Sendo assim, não resisti a dar-lhe uma oportunidade: 

— Desenhe uma cafeteria projetada para estar situada na capital do país, bem próxima ao mar. – Sugeri.  

Ele, que ainda estava entretido no seu próprio relato, franziu o cenho e riu com a minha sugestão. 

— Uma cafeteria? – Perguntou, confuso. 

— Sim, uma cafeteria. Desenhe o projeto em uma semana e, se for bom o bastante, você terá um imóvel construído com uma arquitetura sua. – Falei e ele me fitou desconfiado, cruzando os braços em seguida. 

— Há algo que eu deva saber, barão? – Indagou com as sobrancelhas arqueadas. 

Pacientemente, contei a ele da proposta do marquês, da minha decisão de ir ao Rio de Janeiro e levar Thomas comigo, da segurança que me foi passada quanto ao negócio e das minhas expectativas. Como sempre, a primeira coisa que ele perguntou depois de escutar tudo atenciosamente, foi algo inteligente. 

— Caso a cafeteria não dê resultado ou o investimento na extração do látex venha a ser algo muito caro, o senhor ainda teria dinheiro suficiente para investir em outro negócio? Porque, barão, da mesma forma que penso que esse pode ser o negócio da sua vida, temo que seja o mais arriscado e que possa colocar tudo a perder.  

— Eu ainda não olhei as finanças, mas sei que o dinheiro investido na cafeteria, ainda que o negócio não venha a vingar, não me trará prejuízos irreparáveis. Então, nesse caso, o que não pode dar errado é a produção de rodas, porque não conheço o valor de mercado da borracha. Sendo sincero, gostaria que você buscasse todas essas informações para mim antes da viagem. Não quero entrar em algo que eu não possa arcar até as últimas consequências. 

— Considere isso feito. Procurarei unir todas as informações possíveis. – Gregório disse, bastante sério, já em seu modo de trabalho ativo. 

— Obrigado. – Eu disse, pensativo, conseguindo obter outras preocupações à medida em que refletia. 

— Barão, fique despreocupado, eu acho um ótimo negócio. Apenas temos que saber até onde o senhor pode ir. – Gregório disse, numa tentativa óbvia de me tranquilizar. 

— Não é só por isso que estou preocupado, Gregório. – Falei, olhando nos seus olhos e baixando minha voz ao continuar. — Mais cedo, no café da manhã, meu tio teve um ataque de nervos quando Antônio manifestou não ter vontade de se casar senão por amor.  

— Como assim um ataque de nervos? – Gregório quis saber, ajeitando-se na poltrona em frente a minha mesa de maneira a chegar mais perto. 

— Ele simplesmente ficou ensandecido. Ofendeu Antônio, disse para ele se retirar dessa casa se não se tornasse homem de verdade e instruiu Rita a fazê-lo parar de falar tolices. – Descrevi o acontecido, encontrando cada vez menos lógica em tudo aquilo. — Não sei porquê, Gregório, mas isso me cheira mal. Você se lembra de quando pedi para que você estivesse de olho em meu tio e em Rita?  

— Lembro. Inclusive, naquela ocasião, eu não vi nada muito suspeito. Eles às vezes conversavam privadamente na biblioteca, mas sempre no horário em que eu saía para o almoço. 

— Então, dessa vez, não deixe que nada escape de você. Algo me diz que Rita sabe precisamente a razão para meu tio ter perdido a postura hoje. E eu sei que ele não me contará a verdade, muito menos ela. Enquanto eu estiver fora, você será meus olhos e meus ouvidos, entendido? 

— Claro, barão. – Antônio assentiu, recostando-se na poltrona. 

— Levante-se, homem. Vamos almoçar! – Falei animadamente, querendo retirar a tensão da nossa conversa e a minha própria. 

Quando de pé, coloquei minha mão sobre o ombro de Gregório e saímos juntos do escritório. Estava distraído falando qualquer asneira a meu amigo, quando o mesmo me cutucou rápido o bastante para ver meu tio no início do corredor, andando tão rápido quanto sua bengala permitia. Eu e Gregório nos entreolhamos e, sem hesitar, chamei o mais velho: 

— Tio! Onde o senhor estava? – Perguntei, acelerando os passos para o alcançar. — Busquei o senhor pela casa toda! 

Ele contornou seu próprio corpo para me fitar, sua expressão impassível e devidamente controlada contrastando com a tempestuosa de horas atrás. 

— Fui ao Palácio Governamental. Não leu o jornal de hoje? Mais um pedido de fiança do duque foi negado 

— Oh, eu... Eu não vi. – Controlei minha voz, tentando esconder minha satisfação com a informação. — Estava preocupado com o senhor pelo que aconteceu no café... 

— Esqueça isso. – Disse, cortante e frio. — Irei me retratar com Antônio, não se preocupe. Não inverta os papéis, Lucca. Se eu que me sinto no dever de preocupar-me com você não tenho esse direito porque você me proíbe, não queira se envolver tanto nos meus problemas... – Riu cinicamente. — A menos, é claro, que queira que eu me envolva nos seus.  

Fiquei estático com a sua fala. Aquilo era uma ameaça disfarçada? 

— Bem, de qualquer modo, estou indo buscar Antônio para conversarmos. Breve encontro vocês no almoço. Bom te rever, Gregório! – O mais velho disse e saiu, pela segunda vez me deixando atônito naquele dia. 

— Você acha que ele ouviu nossa conversa? – Gregório questionou, preocupado, depois de lançar um sorriso contido antes de meu tio desaparecer de vista. 

Demorei de responder, afinal, estava me perguntando o tempo todo se eu estava imaginando coisas ou se ele verdadeiramente havia emitido um sinal de alerta para mim, indicando que eu deveria me limitar a cuidar da minha vida e esquecer a dele. Por mais que eu não quisesse, eu sabia que tipo de homem meu tio era, e sabia que ele nunca tinha sido honesto por completo quando se tratava da sua vida. Não à toa ele defendia o duque. Não à toa ele queria poder a todo custo.  

— Não acho. – Declarei, convicto. — Tenho certeza. E, pelo que conheço dele, sei que me esconde algo que eu vou descobrir. – Suspirei. —  Mais cedo ou mais tarde.  


Notas Finais


Eu vou ficar muito feliz se vocês comentarem!!!
Beijo enorme e até a próxima!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...