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História Soneto Proibido - LV - Despedida.


Escrita por: larihexney

Notas do Autor


Olá, amados! Tudo bem por aí? Vocês estão se cuidando? Eu espero que sim!
Ó, esse capítulo tá enorme. É o maior de Soneto Proibido. Eu pensei em dividi-lo em duas partes, mas acabei desistindo. Eu confio no potencial de vocês hahahahaha!
Boa leitura! Nos vemos nas notas finais!

Capítulo 56 - LV - Despedida.


No instante em que os lábios de Thomas tocaram os meus, eu reagi de maneira rápida. Não houve resistência antes da minha permissão. Sequer um segundo de hesitação. Minha boca deu lugar para a sua como se aquilo fosse em decorrência de tudo de mais institivamente natural que havia no meu íntimo. Não existiu espaço para nada além de aceitação. 

Não que eu não estivesse surpreso, pois sim, eu estava.

Não esperava que ele me beijasse, haja vista que ele tinha rompido comigo e deixado bem claro que estava determinado a sair da minha vida. Para além disso, eu também não imaginava que depois das minhas últimas palavras, as quais usei para dizer-lhe que já não tínhamos mais nenhum vínculo, ele fosse querer ficar perto. E, por mais que eu ainda tivesse a pretensão de tentar reaver essa situação, tinha decidido, em função da distância e silêncio que ele estabeleceu ente nós, que iria deixá-lo ter um tempo para si. Afinal, eu também já tinha reconhecido que precisava reorganizar a minha vida se queria ser merecedor dele e do meu próprio respeito.

Eu desejava muito que esse tempo de ajustes fosse curto, mas jamais pensei, nem nos meus mais otimistas anseios, que teria a boca de Thomas na minha antes de, no mínimo, estar de volta a Tiradentes. Eu já estava praticamente me acostumando com a ideia, por isso fui pego de surpresa.

Embora não pudesse negar, nem mesmo em pensamento, que aquela tinha sido uma grata surpresa. Uma que eu não queria que se esvaísse. Uma que eu estava precisando e sentindo muita falta, ainda que só tivesse passado dois dias desde a última vez.

Uma surpresa que, repentina e precisamente, encheu meu peito de esperança e vontade.

Eu só conseguia pensar, enquanto o beijava, que ele tinha ido espontaneamente até mim, tocado meu rosto e selado nossos lábios. Só conseguia pensar que ele estava me causando a euforia que fez com que eu me sentisse, em questão de segundos, tão capaz. Tão vivo. Era como ter a liberdade de volta. Como se ele tivesse me negado isso antes com a privação do seu contato e, agora, estivesse me tornando novamente um homem apto a responder por mim mesmo só, e somente só, porque estava sendo digno do seu toque.

Essas sensações mescladas, embaralhadas e impressionantemente potentes me deixaram afoito, de forma tal que eu não soube e temia nunca saber explicar a emoção que surgiu no meu peito quando, enfim, eu toquei a ponta da sua língua com a minha. Eu já tinha feito isso inúmeras vezes antes, mas dessa vez o sentimento que o ato causou me deixou inerte, quase bêbado sem que fosse necessário provar uma gota de álcool. Era como se tudo que eu estava sentindo estivesse na borda e aquela gota, vulgo o delicioso sabor da sua língua quente sendo sentida pela minha e em seguida permitindo-se ser chupada, tivesse feito o todo transbordar.

Sem que eu conseguisse me conter, retribuí a voracidade do seu beijo dando mais duro do que recebia. E foi tão, tão fácil. Quando Thomas agarrou a minha nuca, eu afundei os meus dedos nos seus fios de cabelo, não me importando em bagunçá-los. Na verdade, eu queria mesmo que ele notasse que eu estava faminto, desejando-o tanto quanto ele aparentava me desejar enquanto continuava chegando mais perto, a fim de alinhar os nossos corpos. Assim, sem separar nossas bocas nem mesmo por uma fração de segundo, eu desci minha mão livre das suas costas até sua cintura, deixando um aperto lá. Ele, em resposta, estalou um beijo nos meus lábios para em seguida esfregar os seus na minha barba.

Eu gemi, pendendo minha cabeça para trás, ofegante. O som fez com que uma das suas mãos, que rodeavam o meu pescoço, caísse para o seu lado, o que deixou o meu queixo e garganta livres para que ele lambesse e em seguida sugasse como se estivesse provando um doce. A sensação e o próprio ato me remeteram imediatamente à lembrança dele fazendo exatamente o mesmo na parte baixa da minha cintura e só a imagem mental fez com que eu soltasse uma imprecação e elevasse o meu quadril para cima, buscando algum contato que fosse capaz de acalmar minha excitação. E que, para o meu êxtase, não demorou a chegar.

— Santa Mãe de Deus. – Eu engasguei, sem ar quando Thomas apertou a minha ereção por cima da calça.

Parecendo inabalável ao meu estado alerta, ele prosseguiu distribuindo beijos no meu pescoço e subiu até chegar no meu lóbulo, onde deixou uma mordida leve no mesmo momento em que apalpou o meu pênis. Contive um suspiro, tentando manter o equilíbrio, mas Thomas não me permitiu ter trégua. Sua boca colidiu com a minha novamente, induzindo-me a descer as minhas mãos outra vez, agora, indo diretamente para as suas nádegas. Sem cerimônia alguma, eu as apertei, venerando o rastro primitivo que se apoderou de mim quando bati seu quadril de encontro ao meu, tendo somente sua mão e um punhado de tecidos nos impedindo de esfregar nossos membros juntos.

E, céus, eu os queria fora do meu caminho.

Mostrando estar pensando o mesmo que eu, Thomas soltou o aperto suave sobre o meu pênis para dar atenção ao meu terno. Quando conseguiu jogá-lo para longe, ele começou a desabotoar a minha camisa, separando nossas bocas assim que percebeu que precisaria olhar para o que fazia para terminar tudo mais depressa. Seus olhos não me fitaram nem por um momento, o que me fez sorrir. Eu simplesmente adorava admirá-lo quando ele estava concentrado e estava prestes a fazer um comentário sobre isso quando notei sua dificuldade para terminar os últimos botões.

— Aqui, amor, deixe-me ajudá-lo. – Eu disse, afastando com cuidado suas mãos com o intuito de concluir o que ele tinha dado início.

Todavia, antes que eu tocasse em um dos botões, senti sua mão fria ao dar espaço para a minha. Quando fitei as duas, paradas em cada lado do seu corpo, notei que tremiam. Se fosse nossa primeira vez, eu teria achado normal. Mas esse não era o caso. Eu e Thomas já tínhamos estado nus um para o outro mais vezes do que eu poderia contar, sobretudo naquela última semana antes de tudo desandar. E em nenhuma dessas vezes recentes ele apresentou algum vestígio de timidez ou inibição, tampouco nervosismo.

Em contrapartida, agora o seu peito subia e descia mais vezes que o normal. Mais vezes do que o meu, que me encontrava tão excitado quanto ele. Essa observação fez com que meu cenho franzisse.

Decidindo checá-lo, eu baixei minhas mãos até que elas tocassem as suas e as puxassem para entrelaçar seus dedos nos meus. Ele engoliu em seco, mas não me olhou, o que só maximizou a minha preocupação.

— Você está bem? – Eu perguntei, minha voz soando cautelosa, ainda que a frieza e a umidade das suas mãos nas minhas estivessem fazendo o meu coração palpitar em aflição. Como resposta, ele apenas assentiu, fixando seu olhar para um ponto qualquer do quarto. — Não há nada para se preocupar, está bem? Somos só nós dois. Diga-me o que precisa e eu farei. – Falei, tentando tranquilizá-lo.

Thomas respirou fundo, mordendo o lábio de modo que ficou perceptível que ele estava escolhendo as palavras certas para me dizer. Eu apenas esperei, ainda mantendo suas mãos atreladas às minhas.

— Eu só preciso de você. – Ele deu de ombros, erguendo a cabeça, mas ainda evitando o meu olhar. Parecia perdido. Mas suas palavras... 

Deus, elas praticamente me aproximaram do céu.

— Thomas, você me tem. – Eu garanti, sorrindo tolamente. Era inevitável. Mais forte do que eu, quiçá até maior do que a minha existência. — Nós podemos apagar esses últimos dois dias da memória. Você não precisar ficar nervoso com nada... – Afirmei, apertando suas mãos. — Se foi pelo que eu disse há pouco... Nada vale mais se você ainda me quer.

Então, tão rápido quanto um sopro, ele retirou suas mãos das minhas e as levou ao rosto. Uma delas caiu de encontro ao seu lado enquanto a outra apertou os seus cabelos. Sua feição, quando voltou ao meu campo de visão, foi uma que eu preferiria não ter visto para que não me abalasse tanto... Para que eu não associasse o transtorno ao rosto tão belo do menino que eu amava.

— Você não me entende. – Ele disse em um fio de voz. Eu reajustei minha postura, apoiando meu corpo em um pé, subitamente incomodado. Seja lá o que fosse, eu não queria não entender. — Eu não posso voltar atrás em nada do que decidi. Você fala... – Tomou fôlego, fechando os olhos para tão logo os abrir com lágrimas turvando o verde lago da sua íris. — Você fala como se eu quisesse estar longe... Como se eu quisesse ficar longe de você. Você faz com que tudo pareça fácil quando não é. Eu não rompi com você porque tivemos dias ruins. – Ele engoliu com dificuldade, finalmente virando para me encarar. — Eu só reconheci que preciso permitir que você viva a vida ideal que te espera. 

Eu levei o dedo indicador até a sobrancelha e esfreguei, tentando entender o que ele estava me dizendo. Se eu havia escutado bem, ele não estava voltando atrás. Então, isso significava...

Que diabos isso significava?

— Então por que estamos aqui? – Indaguei, minha voz seca. Era doloroso admitir, mas ele estava se saindo muito bem em me magoar ultimamente. Eu já estava até adotando técnicas de defesa emocional. Podia dizer que graças a elas eu ainda não estava com um nó na garganta naquele exato momento.

— Não é óbvio? – Ele perguntou, abrindo os braços com desânimo e me fitando com tristeza.

Estava claro que ele queria que eu soubesse o porquê de ele estar ali, mas, honestamente, a resposta não me parecia óbvia. Eu poderia, dias atrás, arriscar um palpite que possivelmente fosse certeiro. Contudo, agora eu não sabia mais o que esperar dele, mesmo porque toda vez que eu tentava interpretá-lo, toda vez que eu pensava estar fazendo o certo, eu falhava. Esse processo estava se tornando cansativo e me maltratando mais do que eu conseguia suportar. Uma vez mais e eu sentia que algo dentro de mim se desintegraria.

— Não, não é óbvio. Se você está com a decisão tomada e eu estou cooperando, ou melhor, estava, antes de entender tudo errado, não tem porquê estarmos aqui, desse modo. – Eu falei, apontando para a minha camisa parcialmente desabotoada.

Esperei que ele dissesse algo, uma palavra de esperança ou uma justificativa convincente, mas uma vez que não saiu nada da sua boca, eu respirei fundo, virei-me e apanhei o meu terno que ele tinha jogado no chão minutos antes de partir meu coração pela terceira vez desde a noite anterior. A dor estava lentamente se alastrando pelo meu peito, mas eu fiz questão de não pensar nela. Apertando os olhos com força, dei dois passos para sair do quarto.

Sua voz, no entanto, me deteve, impedindo-me de seguir.

— Você lembra do que me disse na tarde em que eu caí da árvore e você cuidou do meu ferimento? – Perguntou, seu timbre instável me causando um leve tremor.

Eu franzi o cenho com a pergunta inesperada, mas não pude evitar tentar resgatar o dia em questão na minha mente. Quando nenhum resultado me fez ter uma resposta que aparentasse ter relação com o que estávamos conversando, eu virei para o encarar, segurando mais forte o terno debaixo do braço. Antes que chegasse a me pronunciar, sua voz voltou a preencher o recinto.

— Você disse que não iria para nenhum maldito lugar que te afastasse de mim. – Relembrou, sua voz embolando à medida que falava. Diante disso, eu já não consegui ser tão bem sucedido no meu autocontrole a ponto de conter o nó que se formou e me deu a sensação de ter um caroço ao engolir. — No entanto, esta é a segunda vez que eu te vejo me dar as costas... – Finalizou reflexivo, deixando-me tonto.

— Você me pediu isso! – Eu redargui, meus olhos saltando em confusão. 

Não era possível que ele estivesse me confundindo tanto a troco de nada. Eu estava a um passo de enlouquecer!

— Eu sei o que eu pedi! – Ele gritou, deixando algumas lágrimas caírem enquanto controlava a sua expressão para conseguir dizer o que queria. Embora sua tentativa fosse mais uma demonstração do quão forte era, eu sabia que ele não aguentaria por muito mais tempo. — Mas eu não sei te ver partindo. Naquela tarde, eu disse... Eu também disse que se você faltasse... – Ele não conseguiu concluir, pois sua respiração, que já estava agitada antes, se tornou mais difícil e pesada. O choro entalado querendo vir à tona só foi um adendo a seu descontrole.

Antes que eu conseguisse dar um passo, Thomas se virou de costas, pondo as mãos na parede e inalando profundamente, numa tentativa de acalmar sua respiração sem a minha ajuda. Entretanto, seu esforço não surtiu efeito, pois seus ombros começaram a tremer e eu ouvi, mesmo que abafados, os pequenos soluços que ele tentava conter.

A cena me doeu mais do que a soma de todos os angustiantes acontecimentos dos últimos dias. Vê-lo ali, chorando copiosamente, ofegando e tão visivelmente em agonia fez com que eu me sentisse impotente, culpado e sujo por ser o motivo de fazê-lo sofrer daquele modo.

Thomas não era assim. Ele era alegre, provocativo, altivo, sagaz, sorridente. Enchia qualquer espaço com vitalidade e era tão convicto de suas certezas que abalava as dos demais sem perder a sutileza. Tão gracioso, tão inteligente e tão... Cristo, tão incompatível com aquela versão diante de mim.

Senti-me abruptamente doente. Minha boca ficou seca, minhas mãos começaram a suar e não levou muito tempo para que eu soubesse que estava tendo uma alteração na pressão, ainda que não pudesse me importar menos comigo naquele instante. Eu só queria ter forças para confortar Thomas e garantir que ele ficaria bem.

Tendo isso em vista, clamei a Deus por coragem e em um ímpeto cruzei a distância que me separava do mais novo. Ao chegar perto, respirei fundo e puxei cuidadosamente suas costas de encontro ao meu peito. Ele soluçou alto, claramente não esperando meu toque, ao passo que eu envolvi meu braço esquerdo em seu peito e, com calma, tirei sua mão direita da parede para envolvê-la na minha.

Não proferi nenhuma palavra enquanto ficamos por um longo tempo abraçados assim. Não conseguia elaborar nada que me parecesse bom o suficiente para ser dito e estava temeroso de acabar dizendo algo que não o agradasse. Eu definitivamente não queria feri-lo, nem mesmo uma minúcia. Então, tratei de ficar quieto, esperando que ele se acalmasse.

Quando ele enfim parou de chorar, minutos depois, eu ousei acariciar os seus cabelos, sentindo todo o meu corpo tenso ao mover a mão que antes sustentava o seu peso. Eu não sabia como ainda não tinha entrado em colapso. Talvez isso se devesse ao fato de eu ter abusado de todo o meu desequilíbrio com Xavier uma hora atrás, mas, ainda que não fosse esse o motivo, eu estava grato. Afinal de contas, eu estava me comportando bem e só queria ser forte por mais um tempo. Só até Thomas ficar bem.

— Eu me sinto tão fraco chorando assim... – Ele comentou, limpando o rosto e gentilmente se desvencilhando de mim.

— Isso é ruim, porque não há nada para se envergonhar. – Eu disse, tentando soar sóbrio e calmo enquanto respirava fundo e alcançava a ponta da sua cama. Longe dele, notei que precisava da sensação de algo me sustentando. 

— Eu sou totalmente dependente de você. – Murmurou, aflito. Seus olhos rapidamente buscaram os meus como se eles precisassem me enxergar para atestar a realidade que lhe parecia dolorosa. — O que eu disse naquele dia era verdade. Se você faltar...

— ... nada me resta. – Eu completei, vendo-o arquear as sobrancelhas, mais surpreso do que queria demonstrar estar. — Se você faltar, Thomas, nada me resta também. Nada além de uma vida descolorida e cheia de mentiras. Mas... – Hesitei, ponderando minhas palavras. — Eu não quero discutir isso agora. – Suspirei, me atendo aos seus olhos. O verde lago ainda estava lá, não mais cintilando com lágrimas, o que me acalentou. — Você disse que precisava de mim antes, depois que nos beijamos. Como eu posso te servir? – Questionei, realmente curioso.

Sua feição, retorcida em tristeza, aos poucos adquiriu um brilho novo. Era quase uma faísca de desejo, mas muito contida. Apesar disso, fez meu coração disparar no meu peito e aquele velho sentimento de que eu poderia ter uma síncope a qualquer instante surgir.

— Eu queria uma... despedida. – Disse, quase timidamente.

— Despedida?

— Eu e você, juntos, por uma última vez. – Explicou, afundando o meu coração assim que eu entendi o que ele queria dizer. No entanto, empurrei todo e qualquer sentimento outra vez. Eu não tornaria nada naquela noite em algo sobre mim.

— O que acontece depois? – Eu perguntei, vendo quando seus olhos se estreitaram em desentendimento. — Quero saber como você ficará depois. – Elucidei.

— Como você ficará? – Ele devolveu a pergunta. Eu sorri fracamente, encontrando graça na sua rapidez em se esquivar do que evidentemente não queria responder.

— Certamente exausto e ainda assim querendo uma outra vez. – Brinquei, ainda que se tratasse de uma verdade muito bem pincelada com humor. Thomas riu, balançando a cabeça em negação. 

Depois disso, nada mais precisou ser dito.

O mais novo, mantendo seu olhar travado ao meu, respirou fundo e, em um impulso, caminhou até parar na minha frente. Lentamente, ele retirou seu casaco, se livrou dos sapatos e se sentou ao meu lado na cama, chegando tão perto que senti seu ombro escovar o meu. Extasiado com o contato, exalei profundamente, não perdendo o momento em que ele me fitou e sorriu. 

Eu até tentei sorrir de volta, mas uma angústia inconveniente se somou aos outros sentimentos negligenciados que estavam me matando por dentro e deixando-me parcialmente tonto. Thomas, provavelmente ciente do meu desconforto, passou os dedos suavemente por cima dos meus lábios e, em sequência, fez com que nossas bocas voltassem a se encontrar.

Desta vez, elas beijaram com mais delicadeza e serenidade. Não teve urgência nos primeiros minutos. Nós apenas nos beijamos como fazíamos quando estávamos tranquilos e trancados no nosso próprio mundo, alternando entre um lábio e outro, vez ou outra sugando e lambendo, apreciando como se experimentássemos uma sensação desconhecida. Nossas mãos se comportaram, ficando sempre na cintura ou no pescoço um do outro. Parávamos para respirar, nos acariciávamos e então tudo se repetia outra vez, tal como se estivéssemos dançando uma música clássica, comedida e comportada.

Foi carinhoso, mas, obviamente, não durou por muito tempo. Possivelmente existiam inúmeros adjetivos que pudessem ser atribuídos a Thomas, mas sem sombra de dúvidas comedido e comportado não eram dois desses. Portanto, não foi suspeito quando, sem aviso prévio ou mesmo algum estímulo da minha parte, ele montou o meu colo, intensificando o beijo, estreitando o aperto na minha nuca e começando a se mover sensualmente sobre mim sem nenhum rastro de modéstia.

Eu, como a pólvora que era para qualquer inflamação que ele me ofertasse, não consegui resistir a oportunidade de passear as minhas mãos pelo seu corpo. E então, totalmente entregue, vi-me traçando toda as suas costas com a ponta dos meus dedos, sentindo meu peito vibrar com os tremores que meus movimentos lhe causavam. Em seguida, vi-me o despindo, tocando cada pedaço de pele que eu revelava enquanto ele me impedia de afastar a minha boca da sua. Seu beijo agora era determinado, ousado e tentador o suficiente para ter conexão direta com o meu pênis. Dessa forma, quando dei por mim, vi-me pairando sobre ele, bebendo da imagem do seu abdômen nu e do rosto perfeitamente emoldurado com as mechas negras desgrenhadas sobre o travesseiro.

Hipnotizado, eu toquei sutilmente o dedo indicador na sua costela, recebendo um suspiro e um tremor como resposta que eu não só senti como também vi. Thomas reagia a cada tato meu e a constatação disso, que antes fazia com que eu me sentisse afortunado como um rei, agora me provocou o efeito contrário, posto que eu não conseguia me desvincular do pensamento de que ele queria que aquela fosse nossa última vez. Mesmo disposto a lutar pelo que tínhamos, sentia medo de realmente não tê-lo de novo. Minha espinha esfriava só com a ideia, induzindo-me a questionar se eu realmente deveria seguir adiante no que estávamos fazendo.

De certa forma, sabia que concordar em deitar com ele agora era concordar em tê-lo por uma última vez. E eu não só não concordava, como abominava essa possibilidade.

Conflitante, subi meu olhar para o seu rosto, encontrando-o atento a mim. Fiz menção de falar, mas, sem demora, ele puxou minhas mãos para o seu peito, fazendo com que eu sentisse a textura de toda a trilha até o seu queixo, onde ele levou uma das minhas mãos até a sua boca e beijou, sem deixar de me encarar. Minha respiração estava irregular como o inferno, meus pensamentos rondando, deixando-me desnorteado.

Eu verdadeiramente não sabia o que fazer.

— Eu quero que você me toque, Lucca. – Ele sussurrou, seu tom de voz cadente me levando a passar a língua pelos meus lábios instantaneamente, aturdido. Eu queria aquilo também. — Mais fundo do que todas as outras vezes. – Acrescentou.

Levantei uma sobrancelha, não entendendo o seu pedido. Ele, como se pudesse ouvir o meu questionamento silencioso, desceu a mão até o zíper da sua calça, permitindo que eu o ajudasse na tarefa de deixá-lo como veio ao mundo. Quando retirei também sua peça íntima, rogando aos céus por controle para não me perder em seu corpo sem antes estar certo de que era isso eu deveria fazer, ele tocou o seu membro ereto e suspirou antes de me perguntar:

— Onde você nunca me tocou, barão?

Inconscientemente, eu analisei todo o seu corpo em função daquela pergunta. Eu já tinha o tocado em todos os lugares que eram visíveis aos olhos. Não só tocado, como beijado e degustado do seu peitoral, sua boca, suas coxas, suas costas, pênis, pé. Tudo. Apenas não... 

Oh Deus. Ainda faltava um lugar.

Grunhi, de repente me sentindo febril. Muito febril.

— Por favor? – Ele pediu, tornando ainda mais difícil a guerra no meu subconsciente. — Eu preciso saber como é e eu quero que você me mostre. – Completou, vencendo-me. Não havia nada que ele quisesse de mim que eu não pudesse dar.

Naquele minuto, a luxúria e a paixão desmedida que eu sentia por ele sobrepôs todo o resto, mandando para longe a razão que era responsável pela minha aflição. Senti-me frágil, vulnerável com o poder que ele tinha sobre tudo em mim, mas não deixei que essas sensações me importunassem. Pelo contrário, o conhecimento de que nossas partes mais suscetíveis eram justamente os sentimentos que nutríamos um pelo outro me confortou. Eu não tinha motivo algum para me envergonhar pela minha fraqueza porque ela correspondia ao que eu sentia por Thomas que, por si só, não somente era meu ponto fraco como também o ponto mais alto da minha vida. Não uma coisa ou outra, mas tudo. Ele era tudo.

Foi com essa convicção esmagadora que eu baixei minha cabeça e tomei a ponta do seu pênis na minha boca. O gosto almiscarado me impulsionou a levá-lo mais fundo, de modo que eu precisei apoiar minha mão esquerda no peito para obter apoio enquanto  ouvia seus resmungos satisfeitos e murmúrios desconexos à medida que meus lábios desciam e subiam vagarosamente ao redor seu membro, deixando-me cada vez mais faminto.

Repeti os movimentos inúmeras vezes até que se tornou difícil respirar. Em razão disso, eu levantei brevemente o rosto, não perdendo a chance de apertar seu mamilo e assistir quando ele fechou os olhos, deleitado em prazer. Determinado a tirar o máximo que conseguisse dele, não tardei a voltara empurrá-lo na minha boca, amando seu sabor, a pele quente e o líquido pegajoso da sua lubrificação que ia diretamente para o fundo da minha garganta.

— Eu não posso com isso. – Ele sibilou, sua voz saindo sufocada. — Não pare, barão, por favor.

Tão educado, eu pensei, achando graça de suas palavras. Ri ao pensar que, se trocássemos os papéis, eu estaria dizendo as coisas mais incoerentes e descabidas imagináveis. Assim, quando meu riso saiu abafado em função da carne que aumentava cada vez mais de tamanho na minha boca, eu me senti obstinado a querer levá-lo à beira do paraíso, que era aquele lugar delicioso entre a provocação e o orgasmo. Eu queria ver ele fora de si, queria testemunhar o seu corpo abandonando o pudor, como eu sabia que ele era capaz de fazer. Com isso em mente, deslizei minhas mãos até suas coxas e as apertei, permitindo tomá-lo inteiro na minha garganta. Eu nunca tinha feito isso antes sem durar poucos segundos, mas agora...

— Ah, Lucca! – Ele cantarolou, arqueando as costas para fora do colchão, inflando meu peito e me incentivando a subir lentamente até liberar a sua extensão. Fiquei surpreso quando não tossi e acabei lançando um sorriso presunçoso para ele, que deixou sua cabeça cair para trás.

Confiante e inegavelmente orgulhoso, eu envolvi minha mão em torno do seu membro e comecei a acariciá-lo, descendo minha boca para a área interna da sua coxa, onde experimentei beijá-lo uma e outra vez. Seus pelos lá formavam um caminho instigante para os seus testículos, de modo que eu, inebriado, percorri minha mão livre por toda a região. No momento em que meu dedo, um pouco incerto, tocou a pele abaixo das suas bolas e fez com que Thomas tremesse, eu olhei rapidamente para cima para me certificar de que ele estava bem. Suas órbitas praticamente saltavam, o que me deixou subitamente apreensivo.

Será que eu tinha atingido algum ponto doloroso?

— Eu não sei o que diabos você está fazendo, mas sinto que vou morrer se não continuar. – Ele disse, suspirando pesadamente. — Eu não quero que você malditamente pare! – Salientou e eu logo substituí meu dedo pela minha língua. 

Rindo satisfeito com aquela descoberta, lambi aquele local até então desconhecido e em seguida beijei, não me demorando ali a fim de dar atenção ao seu pênis, que pingava totalmente endurecido na minha mão. Thomas evidentemente reclamou, mas eu decidi que torturá-lo um pouco seria bom. Àquela altura, a minha própria ereção doía, presa na minha calça. 

Precisando de liberação, eu apertei firme a carne de Thomas com a mão esquerda e com a mão direita desfiz a braguilha da minha calça, desesperadamente me soltando de tanto tecido. Thomas, até então apenas permitindo que eu lhe desse prazer, mudou-se na cama, ficando numa posição sentada. Eu, que estava de joelhos no colchão, acabei perdendo o contato com o seu pênis, mas fui recompensando com a sua boca em torno do meu no segundo seguinte. Pego de surpresa, eu arfei, cerrando os olhos, mordendo os lábios para conter um gemido alto.

Por Deus, aquele menino tinha um dom maldito para a coisa.

Mal podendo pensar, eu senti minhas narinas inflarem enquanto desfrutava da sensação da sua boca quente me envolvendo, seus lábios tendo o contato com todos os nervos que me faziam estremecer e sua língua... Bem, sua língua fazia o que sabia de melhor: me desvairar..

Não sei se por estar tão repleto de emoções na borda, por temer o futuro ou por estar, se possível, ainda mais envolvido no momento, eu perdi a compostura. Involuntariamente,  comecei a projetar meu quadril para frente, bombeando minha carne para a boca do mais novo. Quando percebi o que fazia, abri os meus olhos, recuando, receoso de estar assustando Thomas. Entretanto, não houve tempo para que eu tentasse me desculpar ou me explicar porque, antes que eu pudesse abrir a boca, ele me levou até o fundo, imitando o meu movimento ao redor do seu membro minutos atrás. Suas mãos, cravadas no meu quadril, sustentaram-no enquanto ele deslizava os lábios da base do meu pênis até a ponta, saindo ileso como um mestre e sorrindo muito mais presunçoso do que eu fui antes.

Foi nesse instante que eu perdi todas as estribeiras.

Inclinando o meu corpo para o beijar, eu devorei sua boca e provei meu gosto na sua língua como um viciado. Ele retribuiu o beijo na mesma intensidade, deixando-me em torpor quando percebi que ele compartilhava de toda a agitação interna que estava me fazendo perder o controle. 

— Lucca. – Murmurou enquanto eu descia minha boca para o seu pescoço. — Lucca?

— Hum?

— Me deixa tentar uma coisa?

Eu não respondi, apenas parei para fitá-lo, aproveitando a deixa para tomar fôlego.

— Deita. – Ele pediu, quando percebeu que meu silêncio era uma aceitação.

Encabulado, eu o obedeci, deitando ao lado de onde ele estava.

— De lado. Deita de lado. – Instruiu.

Fiz mais uma vez o que foi pedido e então o assisti deitar também, mas com sua cabeça perto da ponta da cama, deixando, assim, nada além do seu pênis apontando para mim. Curioso, eu olhei para baixo, querendo ver qual era a razão daquela posição. No entanto, mais uma vez ele dispensou as palavras e me mostrou na prática as suas pretensões, pois, sem dificuldade alguma, sua boca começou a me chupar de onde estava.

Fiquei um segundo inerte, mas prontamente sorri, maravilhado e ao mesmo tempo me sentindo tolo por nunca ter tido aquela ideia antes. E então, sem mais delongas, pus-me a chupá-lo, mas não foi nada como todas as outras vezes.

No minuto em que preenchi minha boca com a sua extensão e senti o meu próprio pênis enchendo a sua, todos os meus sentidos pararam de funcionar. Havia algo mágico no dar e receber mútuo porque, Deus Santo, nada poderia explicar o que senti quando nossos movimentos foram sincronizados. Foi como uma dose extra de excitação. Como se fossemos uma pessoa só dividida em duas partes iguais que sabiam com exatidão como levar a outra ao mais elevado estágio de exultação.

Sentir seu gemido em torno de mim enquanto eu o levava mais fundo, provar dele ao mesmo tempo que ele bebia de mim, sentir seu cheiro no instante em que ele suspirava na minha carne sensível... Tudo me conduziu a um local inédito, que mexeu mais comigo do que eu poderia administrar. Experimentei tantas sensações naquele ato que não pude considerá-lo apenas sexo. A emoção no meu peito, a recíproca de sons e movimentos, o suspiro que me escapou quando aquele prazer ameaçou me esmagar por não caber em meu peito... Não era apenas sexo.

Eu estava fazendo amor com Thomas.

Esse entendimento fez o lado esquerdo do meu peito arder, dada a fisgada de preenchimento que me atingiu. Em um impulso, eu tirei com cuidado a minha boca do seu membro, ignorando as minhas vistas embaçadas. Em sequência, comecei a brincar com aquela mesma pele que tinha feito ele estremecer antes e, em consequência, o mais novo soltou um gemido anasalado. Lembrei então do seu pedido e corri, com o coração acelerado, o meu dedo para aquele orifício desconhecido.

Thomas parou instantaneamente o que fazia, seu corpo assumindo uma postura tensa ao passo que ele se se reajustava na cama, esparramando-se no colchão e se abrindo para mim. Olhei brevemente para cima, avistando sua boca avermelhada entreaberta, os cabelos bagunçados e o peitoral magro arfando. Não consegui não sorrir com a cena.

A verdade é que eu  não conseguia me acostumar com a sua beleza. Talvez porque ele fosse o único homem que eu admitisse que era belo. Talvez porque o fato de vê-lo por inteiro me fizesse achá-lo mais belo. Talvez porque tudo nele me era estimável, atraente, merecedor de ser adorado...

— Posso? – Perguntei, quando retomei a minha consciência e voltei a me concentrar no que acontecia.

Ele me encarou por alguns instantes, hesitante. Porém, não levou cerca de um minuto para que, em um gesto de coragem, ele assentisse. Alarguei o sorriso, ciente de que era sua reação natural demonstrar coragem mesmo tendo receio. Só Deus podia saber o quanto eu amava isso nele na maioria das vezes.

Obstinado a fazer com que aquilo fosse bom para ele, eu sondei o lugar com o dedo, deixando ele se adaptar com o meu toque naquela parte inexplorada do seu corpo. Thomas me fitou o tempo inteiro, antecipando-se quando viu meu dedo se aproximando mais e mais do seu orifício. Contudo, eu não o penetrei. Em vez disso, passei a língua no seu pênis, chupei a ponta, desci lentamente até os testículos e os pus na boca, um de cada, paciente e vagarosamente, livre de qualquer pressa.

— Você gosta disso? – Eu chequei, quando ele apertou os lençóis ao seu lado. Sem conseguir falar, ele só assentiu mais uma vez, fazendo com que uma gota de suor caísse da sua testa com o movimento.

Aliviado, senti-me seguro para descer minha língua com cuidado para onde o caminho de pelos que começava na sua coxa terminava. Quando enfim toquei a entrada, Thomas tensionou ainda mais seus músculos, induzindo-me a voltar a acariciar seu pênis na tentativa de fazê-lo relaxar. Assim, enquanto o masturbava, eu beijei devagar toda a região sensível, voltei a pôr seus testículos na minha boca e me controlei para não gozar ali mesmo, vendo finalmente ele se perder em resmungos depravados.

— Eu te amo tanto. – Eu disse, deixando uma mordida na sua coxa, logo após ele soltar uma imprecação cabeluda. — Considere essa a nossa despedida, mas somente do Rio de Janeiro, amor.

Então, sem aguardar por resposta e aproveitando-me do seu torpor, eu lambi sua pele sensível, desci e, dessa vez, não parei.

Eu experimentei uma, duas, três vezes a sensação de ter uma parte  minha em uma região do seu corpo jamais invadida. E, à medida que eu lambia e ia o mais fundo que conseguia, eu pensava na sorte que eu tinha por ter a sua confiança. Na sorte que eu tinha em ser a primeira pessoa que o conhecia profundamente, em todos os sentidos da palavra.

A primeira e a última, assim eu esperava. 

Esse sentimento possessivo e ao mesmo tempo virtuoso que se instalou paulatinamente me levou ao ápice da miríade de emoções que senti aquela noite. Não demorou para que eu chegasse ao orgasmo durante o tempo em que dava exclusivamente prazer a Thomas. Assim como não demorou não demorou para que ele, insaciável como era, me pedisse mais.

— O dedo, Lucca. Agora, por favor. – Ele suplicou entre lufadas de ar, muito perto de se desfazer.

Não mais querendo torturá-lo, eu introduzi com cuidado o dedo indicador no seu ânus. Ele retorceu seu rosto em uma careta, o que me fez deduzir que estava machucando. Depressa, eu retirei, umedecendo-o antes de recolocá-lo de volta. Dessa vez, com ainda mais cuidado, enquanto me encarregava de masturbá-lo. 

— Oh meu Deus! – Ele apertou os olhos, gemendo. Eu tinha acabado de enfiar todo o dedo e estava imóvel, esperando que ele me desse algum sinal.

Mas, ao contrário do que esperava, ele emudeceu.

— Tom, está doendo? – Eu quis saber, não escondendo minha preocupação. — Se você quiser, eu tiro agora. – Falei, começando a deslizar o dedo e...

— Oh meu Deus, Lucca! – Ele gritou, arregalando os olhos. Atônito, levantei a cabeça para vê-lo, temendo o ter machucado, quando... — Faça de novo! – Quase exigiu, seus olhos brilhando em expectativa. Só levou um momento para que eu relaxasse. 

E então eu fiz, uma e outra vez, até entender que  estava atingindo um outro ponto mágico dele. Sorrindo, eu assisti admirado ele se contorcer, vindo de encontro ao meu dedo para conseguir o atrito que estava deixando-o ensandecido, gemendo e dizendo-me coisas sujas no processo. Foi impossível não ficar excitado ao sentir seu orifício engolindo meu dedo. Eu só podia imaginar ele fazendo os mesmos movimentos ousados e necessitados com o meu pênis e ficar ouvindo seus sussurros roucos e ver seu suor ensopando os lençóis não espantou em nada o desejo crescente no seu íntimo.

A cena, infelizmente, não perdurou por mais tempo. Logo após tocá-lo intensamente, eu assisti o corpo inteiro de Thomas tremer quando ele gozou, entregue como nunca antes, desprovido de qualquer contenção ou defesa. Seus olhos sequer lutaram para permanecer abertos. Ele só se desfez na minha mão, respirando com muita dificuldade. Eu sorri, suspirando em êxtase, grogue com todo o espetáculo que tinha acabado de presenciar.

 — Venha cá. – Chamei, fazendo sinal para que ele se deitasse ao meu lado.

Eu ainda estava ostentando uma ereção, mas decidido a não fazer nada sobre isso, quando ele deitou não no meu lado, mas sim no meu ombro. Meu coração, tolo como era, acelerou imediatamente, mas me obriguei a não criar expectativas sobre aquela ação. Eu sabia que pra ele aquela não era uma despedida do Rio de Janeiro, como eu queria acreditar que era. Para ele, aquele era o nosso fim.

Suspirando, fiz carinho em seus cabelos, aproveitando o silêncio e seu corpo junto ao meu, tentando não pensar no que seria de nós dali por diante. Eu sabia que eu estava feliz agora e queria manter essa sensação pelo máximo de tempo possível até o dia seguinte.

Dia seguinte...  Deus, só de pensar eu ficava tenso.

Como um chute no meu estômago, lembrei que precisava arrumar as malas. Eu não havia feito muita bagunça, mas tinha que organizar alguns papéis, dobrar algumas peças de roupa, avisar a recepção que eu estaria encerrando minha estadia antes do previsto... Céus! Eu esperava que eu ainda tivesse tempo.

Saindo com cuidado da cama para não acordar Thomas, eu vesti minhas roupas com certa pressa, ansioso para ver as horas. Não passava das 20h45min e isso fez com que eu exalasse em alívio, uma vez que sabia que a recepção ainda funcionava aquele horário.

Enquanto calçava os sapatos, avistei o caderno de escritas de Thomas. Minha memória relembrou o tal Otávio Bivar. Eu tinha dito que poderia provar que conhecia alguém que escrevia tão bem quanto o tal Coelho Neto e estava me direcionando para encontrar algum soneto de Thomas quando avistei Xavier encurralando o mais novo. Se não fosse por isso, eu teria lhe dado a prova. Só que, pelas horas, o recital já deveria ter acabado e, consequentemente, Otávio já deveria ter partido.

Respirei em derrota, mas ainda assim fui até a mesa que Thomas tinha se debruçado para escrever durante aquela semana. Passei a mão pela capa do seu caderno e hesitei, incerto se deveria ler. Thomas sempre ficava tímido quando eu tentava ver suas obras, afirmando ter vergonha do que escrevia. Eu achava que era tolice sua, já que ele escrevia tão bem, contudo não insistia. Mas agora...

Bem, agora ele estava adormecido, não estava? Que mal havia só ler um?

Decidindo bisbilhotar apenas a última página, deparei-me com uma folha escrita. Pela organização das estrofes, notei que se tratava justamente de um soneto. Queria lê-lo, mas sentia que estaria traindo Thomas se o fizesse. Então, passei apenas o olho para ver se tinha o meu nome no texto ou alguma referência a um barão. Uma vez que não tinha, eu arranquei a página e dobrei o papel, deixando apenas o título à mostra. 

— Soneto Proibido... – Eu li, interessado. — Sério, Tom? Você costuma ser tão criativo. – Comentei, sorrindo e balançando a cabeça, bobo enquanto o assistia ressonar.

Com o soneto em mãos, eu saí de seu quarto e fui para o meu com o fito de sair por lá para ir até a recepção do hotel. Não pude deixar de pensar que aquela era a última noite em que eu estaria tão perto do quarto de Thomas. A partir do dia seguinte, estaríamos de volta a Tiradentes. De volta a realidade de viver em casas separadas. De volta a nossa distância física. No fim das contas, aquela noite era mesmo uma despedida.

Eu só não sabia se era uma que marcava o fim da nossa estadia na capital do país, como eu afirmei ser, ou uma que marcava o fim da nossa relação, como Thomas declarou.

Eu só tinha certeza de que um de nós erraria o palpite. E eu torcia com minha alma para que não fosse eu o equivocado.

 


Notas Finais


Gente, um capítulo como esse deveria ser considerado atualização dupla, hein. Se eu não estiver aqui semana que vem, vocês têm que me dar um desconto akakksksksks brincadeirinha!!!
Eu espero muito que vocês tenham gostado e que a leitura não tenha sido cansativa. Muita coisa aconteceu entre esses dois e eu tô toda me tremendo pro que vem por aí. Juro que escrever esse capítulo me matou de dez formas diferentes. Anseio para saber se vocês compartilharam dessa sensação.
Se cuidem, viu? Beijo grande e até a próxima! 😘


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