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História Sorrisos Sob a Montanha - Nost


Escrita por: Tinkerbaek

Notas do Autor


Genteee! Olá!
Sei que tinha prometido postar antes, né? Mas o college dá uns nós na cabeça e meio que mexe com nosso tempo disponível kkkk estudar é brabo mesmo. E é por isso que to postando sem antes responder os comentários (mais uma vez). Mais tarde tenho mais outra aula, vim pra casa só pra descansar um pouco e deixar o capítulo aqui pra vocês.Mas vou tentar responder o mais rápido possíveeeeeel!

Enfim, vamos ao capítulo, não tenho muito o que avisar hahaha!

Capítulo 5 - Nost


Fanfic / Fanfiction Sorrisos Sob a Montanha - Nost

Sentia que as coisas estavam um pouco estranhas após aquele ocorrido. Há um pouco mais de uma semana, Baekhyun e ele iam de abrigo em abrigo, esgueirando-se de Smileys, e Chanyeol não sabia mais o que estava acontecendo ou o que iria acontecer, pois o outro não lhe dissera. Sendo sincero consigo mesmo, o moreno passaram dias sem praticamente abrir a boca, o que incomodava bastante, já que silêncio era algo que normalmente deveriam fazer enquanto se deslocavam.

Naquele momento, entretanto, dentro da caverna na qual passara sua primeira noite fora da montanha, encontrava-se sozinho, pois Baekhyun saíra para caçar e buscar água, insistindo para que não o acompanhasse. Chanyeol realmente apreciava o que o rapaz fazia por ele, mas estava exausto em parecer inútil. Então, levado por seu tédio, resolveu vasculhar a pequena bolsa que sua querida mãe havia lhe entregado antes de fugir de Elenath. Não havia muito nela, os alimentos que carregara ali foram consumidos há bastante tempo, mas surpreendeu-se ao achar no fundo da mesma, um pedaço de papel dobrado, já um pouco amassado.

Desembrulhou com cuidado o mesmo e seu coração doeu ao ver que se tratava de um de seus desenhos de dirigíveis. Era bem antigo, olhou a data que colocara ao assinar e, fazendo as contas, concluiu que era de sete anos atrás. Mais uma vez sentiu-se um completo idiota pela vontade de chorar. Olhava os traços que riscara com tanto carinho e tanto amor, um dirigível que seria incrivelmente belo se pudesse fazê-lo de verdade. Obviamente trocaria algumas coisas para que pudesse, de fato, levantar voo, mas nada que alterasse a obra em si. Fora duro recordar sua antiga vida, antes de tudo começar a dar errado. Aquele pequeno papel em suas mãos deveria lhe trazer alegria, mas parecia machucar muito mais.   

“Foi você quem fez?” Ouviu a voz de Baekhyun atrás de si. Não havia percebido que o menor voltara. Chanyeol tentou enxugar rapidamente as lágrimas antes que o outro pudesse ver seu rosto entristecido.

“Sim, eu costumava desenhar dirigíveis e balões o tempo todo.” Respondeu, tentando não pensar muito em seu passado. Percebendo que ainda tinha medo do que poderia lhe acontecer, já que o moreno permaneceu quieto por muitos dias, sem realmente lhe dizer o que seria de seu futuro.

“Você desenha muito bem.” Elogiou ele, rapidamente saindo de trás de si para colocar os animais que havia caçado sobre uma mesinha de madeira rústica. “Pena que não vai ter chance das suas ideias virarem realidade.” Completou Baekhyun, parecendo um comentário normal, mas aquilo fora como jogar um balde de água fria sobre Chanyeol, que apenas olhou de volta para o desenho sentindo as lágrimas voltarem.

“Pois é…” Respondeu e percebeu que sua voz saíra como um sussurro, e foi quando o moreno notou o que lhe acontecia.

“Chanyeol, eu sinto muito, mas realmente não tem como você voltar pra sua montanha. Não sei que tipo de besteira você fez, só que, de qualquer forma, é impossível escalar de volta. Não importa se é Elenath ou qualquer outra montanha. Além dos guardas que estão preparados pra atirar em qualquer um que apareça de intruso.”

Chanyeol engoliu seco. Era, novamente, como levar um balde de água fria na cabeça. Olhou para as próprias mãos, soltando o desenho em seu colo e acabando por recordar o que tivera de fazer para proteger sua mãe. Apesar de não ter tido a intenção de fazer mal, havia tirado a vida do homem que um dia chamou de amor, e sentiu suas mãos sujas, como se um grande peso estivesse sobre elas. Havia em si a sensação de culpa, de que talvez aquela situação talvez fosse, de fato, uma punição adequada para tal crime.

Baekhyun tinha razão, não teria como voltar atrás, precisava aceitar sua nova realidade e fazer algo a respeito dela. Foi quando tomou coragem para pedir algo ao moreno e, mesmo sem saber se seria atendido, resolveu arriscar. Não adiantaria mais chorar, de qualquer forma.

***

Chanyeol estava nervoso.

O moreno se encontrava ao seu lado, de braços cruzados, observando-o com seriedade. Estavam ao ar livre, porém, em uma pequena colina que escalaram, onde havia somente duas árvores e, naquele momento, estava de frente para uma delas. A balestra que segurava era mais pesada do que imaginava, estava suando frio, fazendo o possível para não deixá-la cair.

Tentou posicioná-la da forma como lhe fora instruído, puxando a flecha para que encaixasse no local indicado. Apertou os olhos, tentando mirar em uma pequena placa de madeira pendurada na árvore e prendeu a respiração, tentando não se mexer muito. Por fim, disparos. Todavia, como a maioria das outras vezes, a flecha se cravou na grama ao lado da árvore.

“Só queria dizer que apenas acho” Disse Baekhyun, dando ênfase na palavra última palavra, obviamente com um tom carregado de sarcasmo “que atirar no pé de um Smiley não vai ser de muita ajuda.” Completou, descruzando os braços e indo até onda flecha repousava, arrancando-a da terra. “Mais uma vez.” Instruiu o moreno, entregando-lhe o fino pedaço de madeira em mãos.

“De novo? Não vamos comer nem nada? Estamos aqui há horas!” Reclamou Chanyeol, realmente exausto de tentar e não ir tão bem. Porém, o outro não parecia se importar com suas reclamações.

“Você disse que queria aprender a atirar, e concordou quando falei que não ia pegar leve, então você vai tentar de novo até acertar o alvo, porque só daí vamos comer.” Ele parecia estar se divertindo com aquilo, pensou. Ele tinha um enorme sorriso no rosto e, por alguns segundos, se desconcentrou um pouco ao ver como o moreno começava a suar sob o sol quente de verão. Deveria parar de pensar em coisas que não devia, mas estava ficando cada vez mais difícil.

O que realmente não pareceu ajudar em sua luta mental interna foi quando, ao posicionar a besta novamente, Baekhyun se aproximara. Sentiu a mão fina e quente tocar seu pulso, tentando ajeitar sua posição, além de sentir a respiração dele esbarrar em seu pescoço, tudo graças a maldita diferença de alturas que deixava o moreno em uma posição que favorecia que aquilo ocorresse. Engolira em seco quando a outra mão de Baekhyun segurara firmemente sua nuca, posicionando-a de outra forma.

“Tenta mirar de novo.” Ele falou, calmo, e mais uma vez tentou não estremecer ao sentir a respiração dele tocar seu pescoço. Se concentrando o máximo possível para ignorar as reações de seu corpo, mirou novamente no alvo a sua frente e, por fim, disparara a flecha, talvez pela milésima vez naquele dia. Contudo, para sua surpresa, ela estava ali, cravada no alvo. Não no centro, mas perto o suficiente. Chanyeol abriu um sorriso enorme e começou dar pulinhos de felicidade.

“Eu consegui!” Disse com empolgação, e viu que Baekhyun ria de sua reação, porém não conseguia evitar.

“Bem, você acertaria talvez o queixo de um Smiley, mas… Nada mal.” Disse o moreno, cruzando os braços novamente. Contudo, Chanyeol continuava feliz pelo seu feito. O que era costumeiro, desde pequeno ficava contente demais por conseguir fazer algo que desse orgulho, algo que se esforçara tanto. Segurou então as mãos calejadas do menor, ainda dando pequenos pulinhos, agora mais contidos.

“Obrigado!” Agradeceu, apertando os dígitos do outro. Baekhyun arregalou seus olhos castanhos, parecendo confuso com sua reação e ainda mais confuso por ter seu corpo levemente chacoalhado com aquele aperto de mãos. Provavelmente ele realmente não esperava que fosse reagir daquela maneira. “Obrigado, obrigado! Vamos comer agora?!” Emendou sua frase com a questão que agora mais relevava no momento.

“Bem… Promessa é promessa.” Respondeu ele, pegando a balestra de suas mãos. “Pode ter acertado o alvo, mas realmente não confio que você saia por aí com ela. Sem ofensas.” Baekhyun riu, colocando a arma em suas costas para logo saírem dali. Chanyeol o seguiu, ainda feliz pelo que havia feito e, de certo modo, feliz por ter deixado o menor um tanto orgulhoso.   

***

O sol estava se pondo no momento no qual retiraram seus coelhos assados no espeto de perto da fogueira, já prontos para serem devorados. Sentia-se ainda com pena de comer animais tão adoráveis, mas começou a se acostumar com a situação, sabendo que não havia outro jeito. Além do mais, estava com fome.

“Baekhyun…” Chamou o menor, que devorava seu coelho com vontade, parecendo mais esfomeado do que si. “O que vamos fazer agora? Digo… O que vai acontecer…?” Chanyeol sequer sabia como começar a falar sobre aquilo. Sabia que deveria perguntar o que ocorreria consigo dali para frente, pois há quase duas semanas haviam voltado para aquele esconderijo e o menor não lhe dera luz alguma sobre o que viria a acontecer.

“Estava pensando em ir amanhã para uma subcidade que fica a um dia e meio de caminhada daqui.” Comentou ele, com a boca cheia. Os finos dedos seguravam pedaços de carne um tanto oleosos, e ele, vez ou outra, sugava seus dígitos, tentando aproveitar o sabor.

“Ah, sim…” Respondeu Chanyeol, desviando o olhar para sua própria comida. Aquilo significaria um adeus, imaginou. Já que iriam para essa outra cidade subterrânea, Baekhyun provavelmente o deixaria lá e seguiria sua vida. Sabia que deveria se sentir um tanto aliviado por ficar um pouco mais seguro, correndo menos riscos de enfrentar Smileys todos os dias, mas sentiu-se desanimado, mais do que deveria.

Olhou em volta daquela caverna, vendo diversos pertences de Baekhyun espalhados ali. Perguntou-se como ele conseguira carregar aquilo tudo e, principalmente, como ele havia colocado uma jaula gigantesca ao fundo. Não sabia para o que aquilo servia e ainda estava curioso, porém não seria certo questionar. Assim como não sentia-se no direito de perguntar há quanto tempo ele acumulava tais coisas, como ele possuía tantos esconderijos espalhados por aí e o que, de fato, ele fazia na superfície, sendo que ninguém habitava justamente por ser arriscado demais. Porém, essas seriam perguntar que talvez nunca fossem respondidas, então tentou não pensar muito em tais assuntos, pois logo estariam dormindo, já que teriam de acordar cedo novamente.

Chanyeol não se surpreendeu ao ser acordado ao nascer do sol, porém, daquela vez, estava menos cansado do que das últimas vezes. Se prepararam como antes, arrumando algumas bolsas em suas costas e, incrivelmente, fora surpreendido ao ver Baekhyun empurrando contra si uma pequena basta de madeira, composta também com algumas partes de metal.

“Eu realmente não espero que tenha de usar isso mas, se precisar, por favor, tente não mirar nos pés deles.” Disse o moreno, fazendo um movimento para que pegasse logo a arma de suas mãos. Chanyeol engoliu em seco e a segurou. Era realmente muito menor do que a que o outro carregava consigo, parecia mais antiga também. Suas flechas eram tão pequenas que pareciam ter o tamanho de canetas. Sentiu-se um pouco nervoso por ter sido confiado com uma arma daquelas, ainda mais por não ter tido tantos dias de treino.

“Ahn… Obrigado.” Agradeceu, contudo. Colocou a balestra presa no cinto que usava em suas calças, torcendo para que não precisasse usá-la em nenhum momento de sua vida.

***

Por sorte dos céus, não tiveram problemas enquanto caminhavam. Não fazia tanto calor quanto antes, pois chovera de forma fraca por algumas horas, o que ajudara a refrescar um pouco o clima. Chanyeol, entretanto, só não gostava de estar molhado e, mais ainda, não achava bom para sua mente ver o moreno com os cabelos a secar com o Sol, a blusa branca começando a desgrudar de seu corpo, mesmo que meio escondida sob o colete que vestia.

Entretanto, tiveram de pernoitar da pior maneira possível. De todos os dias que se protegeram a noite daquelas criaturas de sorrisos constantes e tenebrosos, dormir em uma árvore não era bem a maneira mais confortável do mundo. Baekhyun tivera que amarrá-lo sobre um galho grosso de uma árvore que escalaram, e o amarrara forte, antes de fazer o mesmo consigo. Estavam ambos em galhos diferentes, porém presos com aquelas cordas, com nós tão complexos que Chanyeol se perguntou onde o outro aprendera aquilo. Tivera de dormir sentindo suas pernas ficarem dormentes constantemente e suas costas, que repousava contra o tronco, passando a doer de forma bem incômoda.

Fora tão desconfortável que talvez dormira por apenas uma ou duas horas. O moreno, parecendo compreender que não estava acostumado com aquilo, o deixara esticar as pernas e a coluna por uns dez minutos antes que prosseguissem com a caminhada. Baekhyun o alertara que estavam próximos, que apenas precisavam passar por um local um pouco mais perigoso pela concentração de Smileys que lá havia.

“Essa cidade fica a beira do que chamamos de Abismo dos Mortos.” Comentou o menor, ambos se pendurando em uma pequena árvore que estava no caminho. “Muita gente cai por aqui da montanha de Mal’loki. Vários condenados, outros por suicídio…” Sua voz soava bem baixa, como um sussurro misterioso. Chanyeol percebeu seus olhos castanhos parecendo se perder em pensamentos enquanto falava. “Por ter sempre alguém caindo, os Smileys se acumulam por aqui. A subcidade de Nost fica a quinze minutos desse local, se formos rápido e sem interrupções. Então me siga de perto, e não hesite em usar a balestra que te dei se tudo começar a dar errado, entendido?”

Chanyeol estava com medo, mas assentiu. Porém, não esperava que o moreno fosse segurar seu pulso no momento no qual desceram da árvore. Seu coração bateu forte pela adrenalina que seu corpo produzia, mas sabia que parte daquilo era pelo toque das finas mãos envolvendo-o fortemente e o guiando pelo caminho lotado de criaturas horrendas. Teve de ver Baekhyun retirar duas lâminas de dentro do colete e, sem hesitar, cortar a garganta de um Smiley com tanta força que seu pescoço pendeu apenas por um fino fio de carne e poucos tendões. Ele se sujara um pouco com o sangue escurecido, mas não pareceu se importar. Ele agarrara seu pulso novamente, sem largar a lâmina, e teve um pouco de medo de ser cortado por ela naquele momento.

Porém, após o moreno cortar a cabeça de mais um Smiley, chegaram em frente a uma parede de pedra de uns dois metros. Ela era como um quadrado pequeno, sem teto e sem entradas laterais. Viu Baekhyun escalando-a, então resolveu fazer o mesmo. Ao sentar-se na parte de cima de um dos muros, notou como a construção era pequena e parecia servir apenas para guardar um grande alçapão de ferro. Aquela estrutura parecia, de fato, melhor do que a outra que havia encontrado dias antes, pensou.

Baekhyun batera algumas vezes sobre o metal com a parte de baixo do punhal, como se tocasse uma pequena música, mas com notas musicais repetidas. Após aquilo, um silêncio de alguns segundos se fez presente e, finalmente, a porta daquele alçapão se abrira, revelando um homem alto, barbudo, ao lado de uma mulher de feições sérias.

“Olha só quem voltou para o lar.” Ouviu a voz feminina rir, e Chanyeol percebeu que ela deveria conhecer Baekhyun há bastante tempo, pois ambos sorriram. Logo o menor descia as escadas de metal para adentrar o local, então o seguiu. “Não sabia que agora trabalhava em dupla… Não é do seu feitio.” Comentou a mulher, olhando em sua direção.

“Ah, não, só precisava ajudá-lo a chegar até aqui.” Explicou o mais baixo.  

“Sério? Nunca te vi trazendo ninguém.” Ela continuou, parecendo bastante de confiada de algo. “De que subcidade você é, rapaz?” Questionou e foi quando Chanyeol abriu a boca para tentar responder algo, mas o outro lhe cortara.

“De Calen.” Baekhyun fora rápido em sua resposta e, ao dizer aquilo, os rostos da mulher e do homem mudaram drasticamente para uma expressão de certa tristeza.

“Então ele é um dos sobreviventes?” O homem perguntou daquela vez, a voz, de fato, um pouco mais mansa. Chanyeol concordou rapidamente com a cabeça, confiando no que quer que Baekhyun parecia estar fazendo e participando da mentira. “Sinto muito… Foi uma fatalidade… Temos mais cinco sobreviventes de Calen aqui em Nost, espero que conheça algum deles. Infelizmente não temos muito a oferecer, mas são muito bem vindos em nossa cidade.”   

“Ahn… Obrigado…” Sussurrou Chanyeol, ficando um pouco incomodado por não dizer a verdade, mas talvez houvesse motivos para o moreno ter feito aquilo e, quando tivesse tempo, tentaria perguntar.

“Bem, preciso falar com o Corvo, ele está por aí?” Perguntou Baekhyun, finalmente mudando de assunto.

“Corvo está sempre por aqui, você sabe. Ele vai ficar mais do que feliz em te ver, venham!” Logo estavam seguindo aquela mulher. Foi quando Chanyeol se deparou com uma situação muito diferente de sua realidade na montanha de Elenath.

A cidade subterrânea não era realmente bonita de se ver, mas eram, de certa forma, fantásticas. Tudo ali parecia ter sido esculpido para formar caminhos, casas, degraus… Todos feitos direto da pedra. Era basicamente iluminada por tochas presas às paredes, pensou que deveria ser difícil saber quando era dia e quando era noite. As pessoas possuíam roupas um pouco desgastadas, mas ao menos não aparentavam estar famintos. Caminharam entre as casinhas que mais pareciam cavernas até chegar um local mais espaçoso. Era enorme, sem muitas casas e Chanyeol percebeu que se tratava de um mercado, onde muitos mercadores possuíam pequenas barraquinhas onde podia-se ver diversas bugigangas sendo vendidas; como alguns relógios de bolso antigos, cartolas remendadas, até mesmo outras coisas mecânicas que pareciam incompletas. Porém, além de itens do tipo, haviam aqueles que vendiam alimentos; algumas frutas, algumas carnes desidratadas, algumas verduras… Nada em grande abundância, entretanto. Resolveu olhar para cima, percebendo que o teto era bem mais alto ali e nele havia pequenas fendas por onde entravam raios de sol, mas tapados por grossas grades, provavelmente para impedir que algum Smiley caísse ali.

Teve de acelerar o passo ao perceber que estava ficando para trás ao observar tantas coisas, contudo, Baekhyun não se demorou mais, parando em frente a uma porta de madeira após bater algumas vezes (naquele momento já não podia mais avistar os outros dois que os levaram até ali). Um homem de estatura mediana, aparentando ter uns cinquenta anos, de cabelos meio grisalhos, abriu a porta e sorriu ao ver o moreno, puxando-o para um forte abraço.

“Olha só quem apareceu!” Disse ele animadamente, convidando para que Baekhyun, que agora sorria de orelha a orelha, entrasse ali. Ele pareceu chocado ao ver que Chanyeol também entrara. “Bem, isso certamente é novidade. Quem é esse?”

“Esse é Chanyeol, ele precisava chegar aqui a salvo.” Comentou o moreno, jogando-se em uma das cadeiras de madeira enquanto pegava um pequeno cuco de metal que estava sobre a mesa, mexendo distraidamente em suas engrenagens. Ele parecia muito a vontade naquela pequena casa, cheia de caixas de madeira e objetos mecânicos.

“E por que você tá respondendo por ele, moleque?” Questionou o homem, a voz como se estivesse dando um sermão. Chanyeol engoliu em seco, assustado com aquela atitude. “Ele é mudo, por acaso?!”

“Não, senhor…” Respondeu daquela vez, realmente acanhado e se sentindo desconfortável. O homem o olhava com atenção, parecendo analisá-lo.

“De onde você veio, garoto?” Chanyeol ficou com receio de responder, olhando rapidamente para Baekhyun que, ainda distraído com o cuco metálico em mãos, apenas respondeu rapidamente:

“Pra ele você pode falar.”

“Ahn… Sou de Elenath?” Respondeu quase como outra pergunta, pois lembrava-se da reação de Baekhyun em não acreditar que ele era de um cidadão das montanhas, e pensou que talvez aquele senhor não conhecesse Elenath. Mas logo os olhos dele se arregalaram e ele soltou uma risada incrédula.

“Garoto, ou você é um péssimo mentiroso ou muito azarado!” Ele logo parou de rir um pouco ao perceber que Chanyeol não ria, pois não estava realmente achando graça naquilo. Pelo menos, daquela vez, já estava esperando aquela reação. “Mas como você tá aqui? Quero dizer… É praticamente impossível descer vivo daquelas montanhas, e mesmo conseguindo, você viraria comida de Smileys em segundos.”

“Eu… Desci me segurando, só que caí em uma árvore quando estava chegando e…” Chanyeol parou de falar e olhou para Baekhyun, aquilo fora o suficiente para o homem compreender.

“Não acredito!” Ele riu novamente, batendo as mãos. O homem, que pelo visto era o que atendia pelo nome de Corvo, se virou para o rapaz moreno, que agora olhava para ambos com os braços cruzados. “Eu só vi algo assim acontecer uma única vez e foi com-”

“Corvo!” Interrompeu Baekhyun, quase como um grito e parecendo bem aborrecido. Chanyeol achou estranho aquela atitude, pois o menor parecia nervoso demais agora.

“Moleque, você não grite comigo de novo da próxima vez!” Alertou Corvo, dando as costas e caminhando até um local que parecia ser uma pequena cozinha, onde ele remexeu em alguns pratos. “Eu deveria ter enfiado mais sua cara na lama naqueles treinamentos pra fixar bem na sua mente que não é pra ficar me respondendo desse jeito!” Ele logo voltou com um pão cortado em dois, uma grande metade para si e a outra metade para Baekhyun, cada um em um prato ao lado de um dois grandes potes de sopa de verduras. “Deveria te deixar sem comer por isso!” Alertou ele, entregando um prato para o moreno e entregando um para si.

Chanyeol logo começou a comer, percebendo como estava esfomeado. O pão não era seco, e ficava ainda mais delicioso ao ser mergulhado naquela sopa com pedaços de cenoura e brócolis. Era a primeira refeição decente que fazia há semanas.

“Garoto… Não é querendo me intrometer na sua vida nem nada, mas por que resolveu sair da montanha? Digo… Você não caiu de lá, então deve ter tido algum bom motivo pra ter descido e arriscado sua vida, ainda mais quando a vida lá é incrivelmente melhor.” O homem grisalho estava sentado perto de Baekhyun (que parecia interessado também, mas não o olhava diretamente). Chanyeol ponderou sobre o que responder, tinha receio de contar a verdade e receber algum tipo de punição. “Você pode contar, nada vai sair daqui. A não ser que realmente não queira contar.” Mais uma vez pensou sobre o assunto após ouvir a insistência. No fundo, gostaria de desabafar.

“Eu… Me envolvi em uma situação ruim.” Falou Chanyeol, limpando os lábios com a manga da camisa e encarando a sopa em sua frente. “Tinha essa pessoa que era muito próxima de mim e achei que podia confiar nele, mas… Ele começou a me agredir e um dia minha mãe viu.” Sentiu sua voz falhar um pouco, era mais difícil do que pensava falar sobre aquilo. “Ela tentou impedir, mas ele acabou descontando nela e… Eu não podia deixar e…” Tentou limpar as lágrimas que escorriam aos poucos por suas bochechas, se achando idiota por chorar novamente. “Tentei defender minha mãe, mas acho que acabei exagerando e ele… Caiu no chão e tinha… Sangue.” Não teve coragem de dizer que havia cravado um pedaço de porcelana no homem que amou por tanto tempo. Muito menos teve coragem de dizer sobre que tipo de relacionamento se tratava, mas não pareceu importar.

Corvo agora não estava mais sentado, ele se levantara e apertara seu ombro, tentando confortá-lo. Ele não sorriu, mas também não o olhou com desaprovação. Em seus olhos, havia um pouco de compaixão, e aquilo talvez fosse o que Chanyeol precisasse no momento. Viu ele se afastar e voltar novamente, mas com um outro pedaço de pão em mãos para lhe entregar.

“Coma mais.” Disse Corvo, antes de voltar para a cozinha mexer em alguma coisa.

Foi naquele momento que percebeu que Baekhyun o encarava, sério. Chanyeol sentiu um medo estranho tomar conta de seu peito. E se o moreno o odiasse? Se contar aquilo acarretaria no menor achando que não passava de um assassino, sangue frio, indigno sequer de pisar naquele chão e comer daquele pão? Se encolheu um pouco na cadeira, tentando não imaginar o outro lhe chamando de assassino. Aquilo realmente parecia doer. Porém o olhar fixo que tinha sobre si fora quebrado quando o homem grisalho voltara, trazendo consigo sua própria sopa.

“Então, moleque, por que está aqui?” Falou ele, dando um grande gole no líquido quente. Baekhyun então se voltou para o outro.

“Você deve ter ouvido que Calen sucumbiu. Eu tinha um produto pra pegar lá, mas agora, obviamente, não tem como. Queria saber se conseguiria dar um jeito de arrumar o que estou procurando.” Comentou ele. Corvo o olhou, curioso e, antes que pudesse perguntar, Baekhyun sussurrara em seu ouvido provavelmente aquilo sobre o que se referia.

“Ainda não desistiu dessas idiotices, não é mesmo?” Comentou ele, balançando a cabeça. O moreno o olhou de forma séria, e Corvo apenas suspirou, dando-se por vencido. Pelo visto Baekhyun era realmente teimoso demais. “Tudo bem. Posso tentar, mas vai levar um tempo… Talvez um mês ou um pouco mais.”

“Infelizmente não tenho muito o que fazer sobre isso, não é mesmo?” Respondeu ele, meio aborrecido, mas com um sorriso irônico no rosto. A conversa se encerrara ali e Corvo sugerira que fossem dormir, preparando assim alguns lençóis sobre o sofá surrado e um colchão no chão. Baekhyun logo correu para o colchão, deixando a mobília livre para Chanyeol, que se percebeu mais cansado do que imaginava. Correu para se deitar e logo o sono viera, quase instantaneamente.

Estava dormindo bem, seu corpo não doía por desconforto, porém algo o despertara. Ouviu sussurros baixinhos ao longe e, com dificuldade, conseguiu identificar que se travava de Corvo e Baekhyun. Sabia que era errado ouvir a conversa alheia, mas sua curiosidade era maior.

“Ainda acho que não é uma boa ideia ele ficar aqui.” Disse o homem grisalho, parecendo um pouco irritado, soando como se estivesse repetindo aquilo pela milésima vez. “Você sabe muito bem que todo mundo aqui odeia Griffons, e ele não vai enganar ninguém fingindo ser um cidadão de Calen, ele sequer tem sotaque de lá!”

“Eu sei, mas não posso largar ele na superfície! Ele não conseguiria se virar sozinho!” Insistiu Baekhyun, parecendo tão aborrecido quanto o outro. “Além do mais, não seria a primeira vez que teriam um Griffon vivendo aqui, por que seria diferente agora?!”

“Porque ele não é um guri mal nutrido que parece a beira da morte! Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, ninguém vai querer acolher ele! Talvez até tentem expulsá-lo!” Retrucou o outro. Chanyeol sentiu seu coração bater forte, o medo voltou a tomar conta de si, além da vontade de chorar. Deveria saber que seu pesadelo não teria um fim enquanto estivesse respirando. Não tinha, de fato, para onde ir, não seria bem vindo em nenhum lugar.

“Você não pode deixar ele ficar aqui? Ele é prestativo, não vai te dar trabalho nenhum e ninguém tenta se meter contigo!” A voz de Baekhyun agora soava como uma súplica, parecendo quase implorar. Chanyeol quis, de fato, chorar, provavelmente o moreno estava farto de ter que protegê-lo para cima e para baixo.

“Baekhyun…” Chamou Corvo, usando o nome do moreno pela primeira vez. “Por acaso você está preocupado com esse garoto?” Questionou ele, mesmo sussurrando, conseguiu notar a mudança de tom em sua voz, soando quase surpresa.

“O quê?! Claro que não! Só não vai ter valido a pena passar por esse perrengue todo de trazer ele vivo até aqui pra depois ele morrer.” Respondeu, parecendo alterado.

“Moleque, você não me engana!” Respondeu o homem. “Eu te conheço há anos! Você tá, sim, preocupado com esse Griffon. Não quer que ele se machuque, não é mesmo? Se afeiçoou a ele.” Chanyeol estava com o coração acelerado ouvindo aquilo tudo, e o menor permaneceu em silêncio, o que parecia piorar a situação, pois sequer podia abrir os olhos para ver sua expressão facial. “Pelo visto alguém finalmente amoleceu seu coração, depois de tanto tempo…” Tentou não se mexer e respirar de forma normal, fazendo o possível para parecer que ainda dormia, mesmo que seu coração estivesse batendo incrivelmente rápido. “Amanhã cedo conversamos melhor sobre isso, tudo bem? Vai dormir que depois tentamos achar uma solução… Já tá tarde.” O silêncio se fez presente novamente, mas por apenas um breve período de tempo, quando ouviu Baekhyun sussurrar, acanhado.

“Obrigado, velhote…”

 

 


Notas Finais


Aqui finalizamos mais um capítulo!
O que estão achando, pessoa?! Gostaria MUITO de saber o que estão pensando sobre a história, sobre o capítulo... E se tiverem alguma dúvida, podem perguntar a vontade!

Vejo vocês no próximo capítulo, lobinhos <3

twitter: @tiinkerbaek com dois "i"s


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