História Sorte pra nós - Nada mais será do meu jeito!

P.O.V (Thali)

Fui acordada pela Gabie quando o avião já tinha pousado em terras catarinenses, o Rafa nos deixou no nosso apartamento e então quando adentramos o choque foi maior. Antes de viajarmos já tínhamos encaixotado varias coisas para mudarmos para a nova casa.

- Temos que tirar tudo isso dessas caixas. – falei enquanto abria uma delas.

- Por que? – Gabie me perguntou assustada.

- Porque nós vamos continuar morando aqui. Não tem sentido irmos para uma casa maior se não vamos ter um bebê. – falei com raiva, achei que fosse algo tão obvio que não precisaria explicar.

- Thali...- ela disse e eu a interrompi.

- Não quero tentar novamente, cansei! Não vamos ter filhos, tá ótimo do jeito que ta. – eu disse tentando acreditar nas minhas próprias palavras.  

Felizmente ela aceitou a minha decisão, se calou, começou a me ajudar a retirar os objetos da caixa e em poucos minutos já estavam tudo em seu devido lugar. Eu passei o dia todo tentando agir normalmente, tentando viver como se nada tivesse acontecido, mas a Gabie não mudava a cara de decepção. Estávamos jantando em silêncio o que já tinha sido comum durante todo o dia.

- Fala logo que você ta magoada porque eu te convenci a ter um filho e depois não fui capaz disso. – falei e me retirei da cozinha.

- Nem tudo gira em torno de você, Thalita! – ela gritou e me fez retorna ao local.

- Como assim? Não me diga que é loucura minha porque eu sei que você ta com raiva. – gritei e a encarei.

- Esquece! Eu vou dormir. – ela disse e saiu da cozinha em direção ao quarto.

- Gabriela, não me faça gritar. – gritei parada na porta do quarto.

- Você já tá fazendo isso. E se continuar a fazer eu vou sair. – ela me disse calma.

Respirei fundo algumas vezes para não voltar a gritar e me aproximei dela, segurei as suas mãos e o seu choro foi automático o que me assustou bastante.

- O que foi? Me desculpa. – falei e a puxei para um abraço. – Eu sou terrível, eu não consigo fazer nada direito. – desabafei e comecei a chorar.

- Nem tudo é sobre você. Que saco... – ela disse se afastou e saiu do quarto.

Levei alguns segundos para compreender o que tinha acabado de acontecer. Caminhei pelo apartamento em busca da ruiva, mas não a encontrei, ela realmente tinha saído e sem avisar. Esperei alguns minutos na esperança de que ela tivesse ido apenas tomar um ar afinal tinha deixado o seu celular aqui, mas os minutos se transformaram em horas e quando vi já tinha ligado para o Rafa e feito o mesmo vir até aqui.

- Já ligou pra tia Juci? – ele perguntou preocupado.

- Já, mas a Gabie não apareceu por lá! – respondi com lagrimas nos olhos.

- Nós precisamos sair pra procurar. – o André disse.

- Mas alguém precisa ficar aqui, caso ela volte. – falei e o encarei.

- Eu fico aqui sem problemas. Vai com o Rafa! – ele disse tentando manter a calma.

- Cada um em seu carro. – respondi.

- De jeito nenhum! – o Rafa falou com raiva. – Você ta muito nervosa pra dirigir sozinha, vamos com o meu carro os dois juntos. – ele ordenou.

Até tentei convencê-lo do contrario, mas foi inútil então decidi o acompanhar. Estávamos dando voltas pelo bairro, mas aquela busca parecia desnecessária. Eu conhecia a Gabie o suficiente para saber que ela jamais caminharia pela madrugada sozinha nessas ruas.

- Thalita! – ele gritou enquanto dirigia.

- Que foi? Encontrou? – perguntei assustada.

- Nós não ligamos pra Luiza. Eu tenho certeza que ela ta lá. – ele disse, pegou o seu celular e me entregou.

- Se ela foi pra casa da Luiza às coisas só vão piorar. E você presta atenção no transito, deixa que eu ligo. – falei enquanto buscava pelo numero da mesma.

- Coloca no autofalante e deixa que eu falo. Fica calada. – ele ordenou.

Eu não fazia questão nenhuma de falar com ela, então deixei que ele dessa vez tomasse conta da situação. Ela atendeu e o meu choque foi grande quando ela afirmou que a Gabriela estava lá e que inclusive já estava dormindo. Não conseguia acreditar em como ela tinha sido capaz de sair na madrugada pra ir dormir na casa daquela mulher.

- Thalitinha, tenha calma. – ele disse e me encarou preocupado.

- Eu estou calma, Rafael. Me leva pra casa... – ordenei tentei segurar as lagrimas, mas foi inútil.

- Não chora, miga. Ela não foi te trair, ela apenas buscou alguém pra conversar. –ele tentava me acalmar.

- Ela tinha muitas opções e escolheu a pior. Você sabe disso! Eu realmente cansei disso... – falei com dificuldade por conta das lagrimas.

- Como assim? – ele perguntou e estacionou na frente do nosso prédio.

- Sempre ela vai à busca da Luiza, ela que more com ela agora. Acabou. – falei decidida e ameacei sair do carro, mas Rafa segurou o meu braço. – O que foi? – perguntei com raiva.

- A Gabie ta grávida. – ele disse e me encarava como se buscasse por alguma reação.

Eu estava perdida, as palavras do Rafael conseguiram tirar toda a minha raiva. O olhava assustada e passei a tremer, afinal eu realmente tinha feito à burrice de descartar a possibilidade de que o processo tivesse funcionado com ela. O puxei para um abraço e chorei de emoção, de alegria, de amor e de surpresa. Coloquei tudo para fora e ainda assim não conseguia acreditar no quanto àquilo era incrível.

- Por que ela não me contou? – perguntei ainda abraçada com ele.

- Miga, ela teve medo. Você queria tanto... – ele disse e se afastou de mim.

Ele tinha razão, sempre deixei claro o meu desejo em ser mãe novamente, o meu desejo em gerar um filho, mas não ficaria triste porque aconteceu com a Gabie. Afinal fui eu quem pediu para que ela fizesse a fertilização também, resolvi ignorar os pensamentos negativos e só pensar na boa noticia. Implorei para que ele me levasse até a casa da Luiza, mas foi em vão...

- Eu preciso pedir desculpas! – falei desesperada.

- Miga, nós passamos a noite aqui contigo e amanhã eu te levo lá. – ele disse enquanto entravamos no apartamento.

- Tudo bem! Vocês me ajudam a encaixotar todas essas coisas? – perguntei e sorri.

- Pra quê? – o André perguntou notando a nossa presença.

- Eu e a Gabie seremos mãe e precisamos de uma casa mais espaçosa. – falei orgulhosa e o mesmo correu para me abraçar.

-Que noticia boa, que bom saber disso. Parabéns! – ele dizia me abraçando com força.

P.O.V (Gabie)

Após a terrível discussão com a Thalita acabei saindo do apartamento, mas sem ter um destino certo. Sabia que ela me procuraria com o Rafa ou com minha mãe e eu não queria ser encontrada, pelo menos não hoje. Peguei o primeiro taxi que passou e fui para a casa da Luiza, chegando lá foi ela quem pagou o motorista e me acolheu com todo amor do mundo, me ouviu, me aconselhou e me protegeu. Deitei em seu colo aos prantos depois de ter contado toda a confusão e recebi cafuné até pegar no sono...

Acordei no outro dia de manhã com a noticia de que o Rafa tinha me procurado, mas na real eu sabia que tinha sido a Thalita. Esperei que a Luiza se arrumasse para o trabalho e peguei uma carona de volta para casa. Tinha saído sem as chaves, então fui obrigada a bater na porta e ouvir de longe a morena avisar que já atenderia. Assim que a mesma abriu a porta e eu entrei no apartamento observei que os objetos estavam todos encaixotados outra vez, a encarei assustada.

- O que é isso, Thali? – falei apontando para as caixas lacradas.

- O Rafa e o André me ajudaram a guardar tudo no seu devido lugar. Nós vamos precisar nos mudar. – ela disse sorriu e me puxou para perto.

- As coisas não se resolvem desse jeito, já te disse que nem tudo é do seu jeito. Não podemos brigar por isso em um dia e no outro você mudar de ideia só pra me satisfazer. – falei com raiva.

- Eu sei disso, Gabie... Nada mais será do meu jeito! – ela disse e me deu um selinho. – Nada mais será do seu jeito também. – ela sorriu largo.

- Como assim? – perguntei preocupada.

- Você vai me presentear com um anjo. – ela disse acariciou a minha barriga e sorriu largo. – E tudo será do jeitinho dele. – ela me encarava feliz.

Aquela cena me fez chorar, o meu coração, que antes estava tenso com a precisão de contar da gravidez, agora batia acelerado de emoção. Não estava com raiva pelo Rafael ter contado, estava finalmente em paz com tudo aquilo resolvido, estava grata por ele ter feito o que não tive coragem. Thalita me puxou para um beijo apaixonado, calmo e cheio de amor. Ela me beijava e eu podia sentir toda a felicidade dela em estarmos juntas naquilo, o meu coração se encontrava em festa pela reação da morena.