Os dois se encararam por alguns segundos, a empresária sentiu seu sangue ferver só de vê-lo em sua frente. Não havia esquecido da forma que ele falou com ela.
— Essa maluca é sua irmã? - Germano questionou olhando para Alfredo.
— Maluca é a sua... - respirou fundo. — Você me respeita, seu idiota.
— Gente o que é isso? - Julia se assustou colocando a mão sobre o peito quando viu os dois ficarem bem próximos como se fossem iniciar uma luta.
— Não é possível que o doutor Ernesto seja pai dessa doida.
— Me chama de doida mais uma vez e eu dou um tapa na sua cara.
— Ei calma. - Alfredo se meteu entre eles. — O que é que está acontecendo aqui?
— Essa mulher aí, me destratou na frente dos acionistas da Bastille. - suspirou. — Tem certeza que ela é sua irmã? Porque eu não consigo acreditar que ela partilha o mesmo sangue do doutor Ernesto.
— Alfredo eu vou bater nele. - tentou avançar mais foi contida pelo irmão.
— Calma, Lili. - olhou para o amigo. — Você também, para de provocar.
— Gente vamos parar com essa patifaria, mas que coisa! - Julia olhou para os dois. — Parece que estou vendo dois adolescentes na minha frente.
— Sua cunhada que não tem um pingo de educação, sem querer tive que baixar o nível. - falou dando de ombros e em um deslize de Alfredo, Lili segurou a gola do blaser de Germano.
— Se você continuar com gracinhas aí sim eu vou ter que perder a educação e te bater, seu ridículo. - estava visivelmente irritada.
— O que está acontecendo aqui? - Ernesto que observou a confusão se armar questionou se aproximando dos quatro. — Lili, o que você está fazendo? - quis entender o porquê da filha está segurando a gola do blaser do empresário.
— Nada, pai. - Alfredo ponderou. — Está tudo bem.
— Vocês dois se conhecem da onde? - o mais velho continuou curioso.
— Infelizmente, da Bastille. - Germano falou tirando as mãos da mulher de sua roupa.
— Infelizmente mesmo. - a loira falou pegando um espumante da bandeja do garçom que passava por ali.
— Alguém me explica o que está acontecendo? - Ernesto já estava começando a se irritar.
— Sogrão, fica tranquilo. Esses dois só se conheceram com o pé esquerdo, mas tudo vai se resolver. - Julia falou tocando os ombros do mais velho.
— Se vocês me dão licença, eu preciso ir até o bar. - Germano falou e saiu.
— Tanta gente no mundo para você ser amigo e você foi ser logo desse cara? - Lili questionou olhando para o irmão.
— O Germano é um ótimo amigo. Não compreendi esse desentendimento de vocês.
— Ele é um grosso. Você não viu o que ele falou para mim?
— Alguma coisa você fez para ele reagir dessa forma, porque não é do naipe do Germano fazer o grosseiro. - defendeu o amigo.
— Realmente. Ele é um gentleman. - Julia concordou com o marido.
— Não sei o que está acontecendo, mas devo concordar com minha nora e meu filho. Doutor Germano é um homem muito educado e querido.
— Ah pronto... - tomou um gole de champanhe. — Vai todo mundo defender o alecrim dourado. Eu que sou da família, tá?
— Lili, minha filha. Para de birra, você nem tem mais idade para esses showzinhos. - Ernesto chamou sua atenção.
— A Lili destratou ele, pai. - Alfredo comentou só para irritar mais a irmã. — Ele chegou atrasado na reunião e ela deu uma advertência para ele na frente de todo mundo. - o primogênito adorava encrencar com a mais nova, mesmo sendo adultos.
— Liliane, você tem que pedir desculpas ao doutor. - o homem ordenou.
— Pai! - ficou indignada com a sugestão do homem.
— Você pode ser adulta, mas eu ainda sou seu pai e essa não foi a educação que eu te dei.
— Olha! - o irmão bateu palmas. — Papai colocando a mimada em seu devido lugar.
— Vai a merda, Alfredo! - irritou-se.
— Parou Liliane. - Ernesto encarou a filha. — Que coisa feia para uma mulher de trinta e sete anos. - a corrigiu. A empresária que já estava irritada apenas suspirou brava e saiu na direção de Germano. — E você Alfredo... - chamou a atenção do filho. — Vê se cresce também e para de ficar encrencando com a sua irmã, que coisa. Parece que sou pai de dois adolescentes birrentos.
— Se situa, homem. - Julia bateu de leve na cabeça do marido.
*****
Bar.
— Por favor, mais uma dose de whisky com dois cubos de gelo. - o empresário pediu ao barman.
— Cristal dos Bocaiúva. - Lili se aproximou ironizando. — Você me desculpa pela forma que falei contigo na fábrica? - questionou sentando ao lado dele em um dos bancos próximo ao balcão.
— Não desculpo. - continuou olhando para as bebidas.
— Quê? - indignou-se. — Olha para mim.
— Não vou desculpar. - a olhou. — Você veio aqui porque seu pai e seu irmão pediram. Não foi um pedido de desculpas genuíno, então a resposta é não. - sorriu retornando seu olhar ao barman que lhe entregou a bebida. — Passar bem. - deixou ela só e saiu.
— Que abusado! - reclamou consigo mesmo e pediu uma bebida no bar.
O evento seguiu sem mais emoções. Germano conversou com alguns conhecidos que até se assustaram com a presença do empresário, pois desde o dia que ele perdeu a esposa era muito difícil vê-lo em algum evento. Lili passou a festa inteira ao lado de Júlia.
— Cunhada, desde quando vocês conhecem esse insuportável do Germano? - as duas estavam sentadas à mesa principal olhando as demais pessoas conversarem e curtirem a festa.
— Faz uns dois anos.
— Mal conheço e já odeio.
— Você é a primeira pessoa que escuto falar que odeia o Germano.
— Para tudo tem uma primeira vez.
— Pois eu adoro ele. Olha só. - chamou a atenção de Lili para o empresário que conversava e gargalhava com Alfredo. — É um partidão, solteiro e um gentleman. - jogou verde.
— Pois eu achei ele ridículo. - continuou encrencando.
— Ah não, Lili. - passou a mão no cabelo. — Para de birra, ele é um gatão.
— O Alfredo sabe que você acha o amigo dele um gatão? - falou imitando a voz da cunhada.
— Sabe sim. Nunca escondi, mas meu marido é mais gostoso que ele. - comentou gargalhando enquanto tomava um gole de gin. — Fala a verdade, Lili. Ele é bonito sim.
— É bonito, mas é um pé no saco, então perde toda a beleza.
— Eu amo quando duas pessoas começam se odiando e terminam transando. - Julia era muito expontânea e não tinha vergonha de ser sincera.
— Você tá delirando? O álcool tá te afetando. - a empresária a olhou incrédula.
— Eu mudo de nome se você e o Germano não tiverem um pega. - gargalhou.
— Pois se prepare para mudar. - Lili pontuou observando Germano. Ele realmente era muito bonito, mas o que tinha de beleza, tinha de irritante, assim pensava a empresária.
Mais alguns minutos se passaram e Alfredo subiu ao palco acompanhado de sua esposa, eles fizeram o discurso de agradecimento e ao chegarem no final da fala foram aplaudidos pelos presentes.
Liliane que havia tido um dia exaustivo na Bastille, foi se despedir da família e foi embora. Germano também já havia batido seu limite para eventos, se despediu dos conhecidos e saiu rumo a sua casa. O empresário pegou um atalho para chegar mais rápido em sua residência, mas ao passar pela rua observou um carro de luxo parado com os sinais de alerta ligados. Diminuiu a velocidade para olhar quem estava dentro do veículo e era Lili, na intensão de encrencar com ela, buzinou para que a empresária baixasse o vidro e assim ela o fez.
— Algum problema, patroa? - ironizou.
— O que você quer, idiota? - questionou irritada, pois o carro não queria ligar. Tentou mais algumas vezes, mas o veículo não dava sinais de vida, então bateu no volante estressada.
— Eu até te deixaria ai sozinha, mas meu pai levantaria do túmulo para me brigar, porque eu devo ser cortês com as pessoas, mesmo que a pessoa seja você. - comentou observando a mulher revirar os olhos. O empresário estacionou o carro e foi até ela. — Abre o capô.
— Por que eu tenho que te obedecer?
— Porque você não vai querer passar a noite aqui, né? Ou você tá vendo outro carro passar nessa via? - fez a mulher olhar para a rua que estava deserta. A contra gosto ela fez o que ele mandou.
Germano foi até o capô do veículo, o levantou, ligou a lanterna do celular e analisou as engenhocas. Com seu pouco conhecimento de mecânica ele observou que o problema era com a bateria.
— Provavelmente você esqueceu as lanternas ligadas. - se aproximou da janela do motorista. — A bateria acabou.
— E agora? - o olhou assustada.
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