A empresária encarava os presentes enquanto mantinha suas mãos na cintura. Em seu rosto esboçava-se uma expressão de descontentamento pelas últimas frases ouvidas no ambiente.
— Que maluca? - Cassandra fez-se de desentendida.
— Claramente vocês estavam falando de mim. - Lili respondeu impaciente.
— Claro que não, dona Lili. A senhora entendeu errado. - Euzébia tentou amenizar.
— Além de maluca, agora vocês estão achando que eu sou burra?
— Meu amor...
— Calado, Germano. - o encarou. — Você sabia desse apelido? E você, em dona Sofia? - olhou para a menina.
— Que apelido? - o empresário fingiu espanto.
— Eu não sei de nada. - respondeu a mais nova.
— Ai, fala sério! - bufou.
— Tia, calma! - Fabinho tentou amenizar.
— Eu estou calma. - passou a mão no cabelo. — Com licença, queridos! A maluca vai no banheiro. - falou irônica virando-se em direção à porta e saiu do ambiente deixando os cinco a sós.
— Vocês em! - Germano falou estressado. — Não dava para segurar essa língua grande de vocês, não?
— Foi mal, sogrão. Nós estávamos elogiando ela, mas esquecemos de tirar o maluca da frase. - Cassandra deu de ombros. — Nem é mais algo ruim, virou tratamento carinhoso.
— Sim. - Euzébia afirmou ficando ao lado da jovem. — É carinhoso. - afirmou mexendo o pescoço.
— Vocês tiveram sorte que a mamãe não soltou os cachorros com vocês. - Sofia comentou ainda sentada no balcão.
— Porque ela vai soltar comigo, mais tarde. - Germano respondeu passando a mão na testa. — Vocês tratem de pedir desculpas para ela.
— Quê? - os três questionaram em uníssono.
— Vão pedir desculpas, sim! - o empresário exclamou saindo em busca da noiva.
Ao retornar para a sala, percebeu que ela ainda estava no lavabo, então sentou-se no sofá para a aguardar.
— Amor... - levantou-se ao ver ela sair do cômodo. — Desculpa!
— Pelo o quê? - deu de ombros sentando no sofá.
— Ué, achei que você estava chateada por conta do apelido. - sentou ao lado dela colocando seu braço ao redor do pescoço da empresária.
— Germano, eu sou chamada de bruxa pelo pessoal da Bastille, maluca, para mim, é quase um elogio. - sorriu.
— Nossa, Lili. - respirou aliviado. — Você parecia tão brava.
— Só queria zoar com vocês. A cara do Fabinho foi impagável. - gargalhou. — Ele parecia que estava com medo.
— Até eu fiquei com receio de você brigar comigo.
— Não vou brigar... - cheirou o pescoço dele. — Você está com uma cara cansada. - acarinhou o rosto dele.
— E põe cansaço nisso. - suspirou. — Hoje não tive tempo para descanso.
— Então, vamos jantar logo para você tomar um banho e deitar. - falou preocupada analisando os detalhes do rosto do noivo.
— Dona Lili... - Euzébia chamou a atenção da empresária junto com Fabinho e Cassandra que chegaram logo atrás da governanta. — Nós queríamos pedir desculpas pelo ocorrido de agora a pouco. - a mais velha falou sem jeito com as mãos para trás.
— É, tia. Não era nossa intenção chatear você. - o rapaz complementou.
— Vocês estão parecendo criança quando é obrigada pelos pais a pedirem desculpas para o coleguinha. - a empresária brincou.
— Quê isso, sogrinha. - Cassandra tomou a palavra. — Até parece que o sogrão obrigou a gente a vir aqui e te pedir desculpas. - falou cínica.
— Imaginei. - olhou para o noivo e depois para os três que estavam acompanhados de Sofia. — Podem ficar tranquilos. Eu estou na minha era clean, não vou me estressar com isso. - sorriu.
— Mas você parecia tão brava lá na cozinha. - Sofia comentou.
— Só queria zoar. - gargalhou. — A cara de preocupação de vocês foi muito boa.
— Ah! - Fabinho respondeu aliviado.
— Mas eu quero saber o por quê desse apelido. - tornou a olhar séria para os três.
— Pergunta para dona Euzébia. - Cassandra soltou sem pensar e recebeu o olhar furioso da mais velha. — A senhora foi a primeira a chamar, não adianta me olhar assim não. - deu de ombros sentando ao lado de Sofia no sofá, enquanto Lili olhava para a governanta, esperando uma explicação.
— Ah, dona Lili... - suspirou. — É que o doutor contava para gente os seus surtos...
— Surtos? - olhou para Germano e lhe deu um tapa no braço fazendo com que ele reclamasse logo em seguida. — Você não fazia nada, né? Era um santo.
— Já falei que a sua mão pesa. - acariciou o próprio braço. — Mas eu não fazia nada mesmo. Você brigava comigo de graça. - respondeu a olhando.
— Tão santo! - debochou. — Tá fazendo o quê aqui? Por que ainda não foi canonizado? - questionou fazendo os demais gargalharem.
— Ué, já acabou a era clean? - questionou cínico e observou que ela permaneceu séria. — Eu estou brincando, amor. - tentou a abraçar.
— Sai! - o empurrou.
— Boa sorte, sogrão! - Cassandra brincou. — Dona Euzébia, que horas sai o jantar? Estou morrendo de fome. - passou a mão na própria barriga.
— Já está pronto. - a governanta respondeu. — Irei montar a mesa.
— Eu lhe ajudo. - Sofia respondeu juntamente a Fabinho. A mais velha concordou e os três saíram da sala, indo para a cozinha, deixando Cassandra sozinha com os sogros.
— E aí? Quando vamos saber o sexo do baby? - olhou para os dois.
— Provavelmente, na ultrassom de sete meses. - Lili respondeu trocando de sofá, pois Germano tentava a abraçar a todo custo. — Já falei que não quero chamego com você.
— Vida... - falou frustrado. — Para com isso.
— Não. - olhou para a nora. — Como foi o job na Bastille, Cassandra? - lembrou que ela havia feito algumas fotos para a nova coleção de bases da fábrica.
— Muito bom. Modéstia à parte, eu arrasei. - sorriu. — Aliás, a base é maravilhosa.
— Bom saber. Uma pena que eu não esteja indo para a fábrica, para acompanhar os novos lançamentos. - cruzou as pernas. — Mas vou pedir ao pessoal do marketing que me envie as suas fotos. Quero ver todas.
— Tomara que a senhora goste. - respondeu animada.
As duas continuaram conversando, Germano nem se interessou em entrar no assunto, pois estava cansado. Ele apenas tombou a cabeça para trás no sofá e fechou os olhos na intenção de relaxar até dona Euzébia afirmar que a mesa estava posta para o jantar.
Alguns minutos depois, a governanta da casa retornou à sala de estar para avisa-los que já estava tudo pronto. Os três caminharam até a sala de jantar e sentaram-se à mesa, onde Fabinho e Sofia já estavam. Os cinco insistiram para que Euzébia jantasse com eles, mas a mais velha não quis e ficou observando eles jantarem.
— A senhora nunca quer jantar com a gente. - Fabinho falou emburrado.
— Dificilmente eu janto e o você sabe disso, Fábio.
— Ih! Chamou de Fábio. Tá brava! - Sofia brincou cutucando o rapaz com o cotovelo.
— Não estou brava, queridinha. - passou a mão no cabelo.
— Sabe quem ia amar essa mesa cheia de gente? - Germano questionou olhando para a governanta e logo depois para o filho.
— Doutor Bernardo! Vovô! - os dois responderam juntos.
— Ele mesmo. - sorriu lembrando-se do pai.
— Provavelmente, ele já teria se juntado a dona Lili para falar mal do Senhor e a Cassandra, para falar bobagens. - Euzébia afirmou dando de ombros.
— Ele amava uma balbúrdia! - Fabinho continuou.
— Bem que vocês podiam falar mais dele, né? - Cassandra sugeriu.
— Realmente... - Lili concordou. — Quero saber mais sobre ele. - demonstrou interesse, o que gerou um sorriso no rosto de Germano. Ele amava falar do pai.
— O que vocês querem saber sobre o doutor Bernardo? - o empresário questionou.
— Tudo o que o vocês puderem contar. - Sofia respondeu animada.
— Ah... - Fabinho sorriu cúmplice para o pai. — Bernardo Duarte Monteiro, carioca da gema, advogado esforçado que lutou bravamente para conquistar seu primeiro escritório e tornar o mesmo, um dos maiores do Rio de Janeiro.
— Casado com Olívia Monteiro, era um cara extremamente apaixonado pela família. Se eu sou emocionado desse jeito, é tudo culpa dele. - gargalhou. — Tinha um jeito gaiato, que fazia qualquer um que estivesse perto dele cair na gargalhada em minutos.
— Mas também, quando ficava bravo... - Euzébia continuou. — Era Deus no céu e dona Olívia na terra. Independente se ele estivesse bravo ou nervoso, só ela sabia acalmar ele.
— Era muito gentil e se visse atos de injustiças, ele brigava mesmo. - Fabinho comentou orgulhoso. — Ele dizia que as mulheres eram os seres mais inteligentes do mundo e que os homens nada podiam fazer, além de obedecer os comandos delas. - gargalhou fazendo com que os demais sorrissem.
— Mas esse meu sogro era maravilhoso mesmo. - Lili afirmou.
— Ele era. - o rapaz respondeu. — Com certeza, iria amar você. - olhou para a empresária.
— É a segunda vez que escuto isso. - Lili sorriu. — Por que ele iria gostar tanto de mim?
— Porque a senhora é uma mulher de atitude, cheia de marra e claramente, manda no doutor Germano. - Euzébia respondeu.
— Quê? - o empresário questionou indignado.
— Manda sim. - Sofia e Cassandra responderam em uníssono, gargalhando.
— Ele gostava de ver mulheres tomando cabo das situações. - Fabinho continuou. — Tanto que só tomava alguma atitude no escritório se tivesse o aval da vovó.
— Ele sempre dizia: "Quando uma mulher estiver falando, se cale e ouça a voz da sabedoria. Elas sempre sabem de tudo.” - Germano imitou o pai. — Muita gente dizia que ele era feito de besta pela mamãe... - sorriu olhando para Lili. — Mas eles se entendiam muito bem e exalavam amor por onde passavam. - piscou para a noiva.
— Até hoje, eu lembro de uma vez que cheguei triste da escola, porque gostava de uma colega e quando me declarei, ela disse que gostava do meu amigo. - passou a mão no cabelo. — Eu tinha onze anos e nunca tinha passado pela "dor do amor". - gargalhou fazendo aspas. — Quando ele me viu, logo perguntou o que tinha acontecido e eu contei o ocorrido, dai ele me respondeu: "Fabinho, segura esse coração. Curta a sua adolescência, a sua solteirice e quando estiver disposto a dar tudo de si e amar uma pessoa incondicionalmente, aí você inventa de se compromissar com alguém. Não é sobre namorar ou casar, mas sim, sobre amar e nem todo mundo sabe na prática o que essas quatro palavras significam."
— Uau! - Lili respondeu extasiada com o que acabara de ouvir. — Ele era muito sábio.
— O pai do sogrão era incrível! - Cassandra comentou.
— Ele me deu um conselho parecido... - falou nostálgico olhando para o filho. — Quando eu decidi que pediria a Laura em casamento. A diferença é que ele acrescentou: "Se você tem certeza que vai colocar em atitude o significado da palavra amor, case-se. Se não, espere até ter certeza. É provável que você desista. Se não há certeza, não há verdade e se não há verdade, para quê viver na mentira? O gosto da desilusão amorosa é amargo e ninguém merece saborea-lo.
— Gostaria muito de ter conhecido meu sogro. - a empresária sorriu. — Ele aparentava ser um grande homem.
— E ele era, sem dúvidas! - Germano completou sorrindo para a mulher.
— Também quero saber mais da minha sogra, Olívia, em! - Lili sugeriu.
— Em breve. - Germano gargalhou da curiosidade da noiva.
Os seis continuaram conversando sobre as histórias de seu Bernardo e gargalhando da maioria delas. Após o jantar eles se deliciaram com um pudim gelado de coco, Lili, como de costume desde que descobriu a gravidez, comeu mais do que todos. Logo, os presentes deixaram a sala de jantar.
Fabinho, Cassandra e Sofia subiram para o quarto, pois haviam combinado de maratonar a série favorita dos três, F.R.I.E.N.S.
Enquanto isso, na sala de estar, Germano tentava convencer Lili a dormir na casa dele.
— Não quero. - cruzou os braços andando pelo ambiente. — Como você pôde contar só as minhas partes nas nossas brigas? Isso não se faz. - o olhou.
— Lili... - suspirou. — Eu já pedi desculpas. Nós nem estávamos juntos na época e você sabe que brigava comigo de graça.
— Você me tirava do sério.
— Bastava eu respirar perto de você para você ficar estressada comigo.
— Tá vendo como você é? - passou a mão no cabelo. — Se faz de vítima, sempre!
— Mas eu estou falando a verdade... - levantou-se. — Era sempre você que começava.
— Porque você provocava. - seus olhos marejaram. Os hormônios da gravidez estavam dando seus indícios.
— Ah... - aproximou-se dela. — Tá vendo? Já estamos brigando. - a puxou para si. — Desculpa, meu amor. Não precisa chorar. - cheirou toda a extensão do rosto dela.
— É a droga desse hormônio. - bufou permitindo-se ser abraçada por ele. — Vou para casa.
— Fica aqui, Lili. Por favor! - pediu manhoso a apertando mais em seus braços. — Hum? - deu-lhe vários selinhos.
— Para de querer me comprar com beijo. - falou ainda emburrada.
— Não vou parar. - respondeu cheirando o pescoço dela. — Fica? - mordeu o lóbulo da orelha dela.
— Para... - respondeu completamente rendida nos braços do noivo. — Tudo bem, eu fico.
— Isso! - sorriu animado. — Você não acha que eu mereço uma massagem? - questionou arqueando as sobrancelhas.
— Você merece é uns tapas, Germano. - bateu no peito dele.
— Um pouquinho de carinho... - uniu as mãos em forma de prece. — Por caridade!
— Ridículo. - gargalhou do noivo. — Vamos! - o puxou para subirem as escadas juntos.
Ao chegarem no quarto, Lili logo sentou na cama retirando as sandálias e deitando na mesma, já Germano seguiu para o banho. Após alguns minutos, o empresário retornou e deitou ao lado da noiva, que compreendendo o cansaço dele, passou a massagear suas costas até perceber que ele havia cochilado. Então, ela se levantou, foi até o banheiro e fez suas higienes.
Em busca de mais conforto, a mulher foi até o closet que havia no quarto do homem, retirou sua roupa, pegou uma das camisas dele e vestiu, retornando para a cama, se aconchegando nos braços dele dormindo logo em seguida.
Eram quase meia noite e quarenta, quando Germano acordou, observou Lili dormindo tranquilamente ao seu lado e sorriu ao ver que ela usava sua camisa. Com muito cuidado, o empresário se levantou, calçou as sandálias e caminhou até o andar de baixo da casa na intenção de tomar um copo com água. Após fazer o que se propôs, decidiu ir até seu escritório, pois algo lhe ocupava a mente o deixando preocupado.
Ao entrar no cômodo, ligou a luz e sentou em sua cadeira, abriu a gaveta ao lado direito da mesa e retirou de lá uma pequena caixa vermelha. A abriu e passou a observá-la, alternando seu olhar entre a caixa e o porta retrato em cima da mesa.
Ele estava se sentindo mal. Precisava colocar toda aquela angústia para fora.
— Pai? - Fabinho bateu na porta que estava entreaberta e entrou. — O que aconteceu? - questionou ao ver o homem chorar silenciosamente.
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