Estava na recepção do hospital criando coragem pra ver Laura,me informei com a atendente e ela disse que eu precisava falar com o médico primeiro pra depois vê-la.Olhando a correria que é um ambiente desses me lembrei de tudo o que passamos até hoje,meu peito apertou lembrando do meu filho,que a Laura nem chegou a vê-lo,dói muito.Pude ver o médico dela se aproximando de mim com um olhar meio distante e com o prontuário dela na mão,me levantei e apertei sua mão.
-Bom dia doutor,como vai?
-Bem,lamento muito por seu filho meu jovem,mas ao que devo sua visita?
-Queria saber como a Laura está,se posso fazer algo pra ajudá-la.
-Bom,pode me acompanhar até o consultório,lá podemos ficar mais a vontade.
-Claro,vamos.-nos dirigimos até sua sala e sentamos ele em sua cadeira e eu em sua frente no outro lado da mesa,ele colocou a ficha sobre a mesa e abriu,lendo atentamente o que estava escrito.
-Bom,o senhor sabe da leucemia,sim?
-Sim,e por favor,me chame de David.
-Claro.O quadro dela está bem avançado,tentamos vários recursos,mas de nada adiantou,estamos fazendo quimioterapia a doença está avançando,aos poucos mas está,então...
-Então...-encoragei-o para que continuasse,mesmo com medo do que vinha a seguir.
-Ela está baixada aqui à uma semana,seu quadro é grave,só um transplante de medula pode salvá-la,ou talvez um milagre,sinto muito por sua esposa.
-Entendo,o senhor lembra de quando ela estava grávida e fizemos alguns exames?
-Claro,eu prescrevi os exames e vocês me trouxeram os resultados dois dias depois.
-Pois é,neles eu fiquei sabendo que sou compatível com ela,se o senhor me entende...
-Você quer ser o doador?
-Quero,não tenho dúvidas.
-Fico feliz com sua atitude David,mas implica em me trazer uma autorização do clube onde joga autorizando o transplante e ...-tirei a autorização do bolso e coloquei sobre a mesa.-bom,sendo assim,temos que realizar alguns exames antes e torcer que eles sejam positivos pro método.
-Onde fica o laboratório?
-Queira me acompanhar.
...
Quase uma hora depois eu terminei de fazer os exames,que ficariam prontos daqui a duas horas,foram pedidos com urgência,o que facilitou muito.Agora estou parado em frente a porta do quarto onde ela está,seguro o trinque mas não estou com coragem o suficiente de girá-lo e entrar,não sei o que me espera do outro lado da porta.Sei que seu estado de saúde é grave,mas mesmo assim,tudo que imagino não é nada com o que o médico me disse,e sei que vai doer muito vê-la assim.Uma enfermeira veio até mim e me olhou carinhosamente.
-Não fica assim,ela é forte,teve muitos traumas nos últimos meses mas está lutando como uma leoa.
-Eu sei,ela é uma guerreira,quando nos vimos pela primeira vez,ela me salvou de um carro quase em chamas...-fiquei me lembrando desse dia e sorri.
-Eu sei,ela me cota essa história quase todo o dia,a princesa que salvou o príncipe em apuros...-deu uma risadinha coma a lembrança,fiquei tão feliz por saber que ela conta nossa história de um jeito engraçado,mas ela conta,sinal que trás boas recordações.
-Eu fiz muito mal a ela,não sei se mereço...
-Não fala isso,as vezes o tempo separa pra unir novamente,mas com a essência renovada e mais forte,novos aprendizados e mais tolerância,não tenha medo,ela vai ficar desconfortável,mas vai ficar feliz que veio.Entre comigo,preciso dar a medicação.-e assim eu fiz,deixei a enfermeira entrar primeiro e fiquei escorado na porta,vendo minha princesa sendo medicada.Ela estava realmente mudada,mais magra,com um lenço na cabeça,seu rosto bem abatido,mas mesmo assim ela continuava linda.
-Querida,tenho um presente pra você.-a enfermeira disse alegre,e foi dando espaço pra que ela me visse parado na porta.Dei um sorriso e pude ver uma lágrima escorrer pelo seu rosto.-Minha princesa,não fica assim,seu príncipe veio te ver,não chora,sorria pra ele.-a enfermeira limpou seu rosto com uma gase e depois veio em minha direção.-tenha paciência,e apenas concorde,ela vai ceder.-deu uma piscadinha e foi corredor afora.Fixei meu olhar em Laura e fui me aproximando aos poucos,etá estar perto o suficiente pra tocá-la,mas não o faria agora.
-Oi,princesa.
-Não quero você aqui,vai embora,não preciso de sua compaixão.-ela virou o rosto pro outro lado,deixando o lenço em sua cabeça torto,me permitindo ver que seu lindo cabelo agora estava raspado.
-Adoro mulheres de cabelo curtinho,assim como o seu.-dei um sorrisinho,ela virou o rosto me olhou friamente.
-Então vai atrás dela,pois eu já estou com a validade no limite.
-Pra mim não parece,continua marrenta,do jeitinho que eu me apaixonei.-cruzei os braços e fiquei admirando ela,que parecia realmente tão frágil,mas com o espírito de uma leoa,minha leoa.
-O que você quer aqui?
-Vim saber como você está,conversar um pouco,preciso ouvir sua voz Laura,eu sei que pra você as coisas estão difíceis,mas pra mim não está muito diferente não.-sentei-me ao sua lado na cama e segurei sua mão.
-Eu não pude ver meu filho,não sei nem como ele era David.-ela começou a chorar,apertando minha mão,apertei de volta passando um pouco de força que eu também buscava ter.
-Eu só pude vê-lo depois,mas não do jeito que eu queria-comecei a me lembrar do dia do velório.
-Sua mãe veio me ver ontem,ela é uma pessoa maravilhosa.
-Eu sei,ela que me dá forças pra continuar todos os dias,se não fosse por ela eu já estaria morto.
-Por que,você sempre fez o que quis,nunca se importou com os sentimentos alheios,o que mudou agora?
-Eu também perdi um filho,lembra?
-E que estaria vivo se você não tivesse feito o que fez,ele estaria aqui,dentro de mim,vivo David Luiz,VIVO DAVID!-ela gritou e eu comecei a chorar,não dava pra acreditar em como a dor transformou ela em uma pessoa amarga.
-Você não é mais o meu anjinho,o que ouve com você?
-É minha vez de ser arrogante,fazer você sentir tudo o que eu senti todo esse tempo,aproveite bem,porque não será por muito tempo.
-Por favor Laura,eu vim em missão de paz,eu te amo e preciso saber como você está.
-Já viu como estou,então vai embora,e não fique com esperanças,eu não vou durar muito tempo,então procure outra diversão,pois eu vou morrer logo.
-Não desista assim tão fácil,eu acredito que você vai sair dessa e ainda pra comemorar,vou te levar pra jantar.
-Desse tamanho e acredita em fadas,coelhinho da páscoa,papai noel,que patético...-revirou os olhos e continuou me encarando,séria e determinada.
-Eu vou embora,mas antes eu quero fazer uma aposta.
-E qual seria?
-Se você sair dessa,que eu sei que vai,por que acredito e tenho fé,você vai jantar comigo,lá em casa,eu farei a comida,o que acha?-falei que faria a comida por que sei que ela vai dizer que eu sou uma negação nas panelas.
-Eu sei que não vou sair daqui,mas deixa esse jantar pra próxima vida,o que acha?
-Acho que está muito pessimista,mas eu sei que você vai estar bem,e antes que imagina.
-Tchau David!
-Até Laura.-sai daquele quarto e fui atrás do médico,queria saber se os exames já tinham ficado prontos.Fui até seu consultório e o encontrei lendo alguns exames.
-Que bom que chegou,estou vendo o resultado dos exames,sente-se.-e apontou a cadeira em sua frente,me sentei e tremia de nervoso.
-O que diz aí,são notícias boas?
-São ótimas notícias,você é o doador perfeito,se quiser,já pode ficar baixado aqui e assim que tudo for autorizado eu faço o transplante.
-Quero sim,pode me dar os papéis da baixa que eu já deixarei tudo encaminhado.
Ele me deu as papeladas e me dirigi até a parte burocrática do hospital,fiz minha baixa e voltei ao consultório,tinha esperança de que agora eu faria a coisa certa,salvar o meu anjo dela mesma.
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