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História Soukoku AU: Escapism - Outono


Escrita por: DoubIeBlack , Biagawa e SemanaSoukoku

Notas do Autor


E aqui estamos nós para mais um capítulo de Escapism. ❤️

Eu (DoubleBlack) sou suspeita para falar sobre esse capítulo, já que se tornou o meu favorito.
É o segundo mais longo também, então teremos bastante coisa hoje, hihi.

⚠️ ATENÇÃO PARA OS AVISOS DE GATILHO
Não haverá nenhuma descrição explícita, mas faremos menções a relacionamento abusivo, automutilação, suicídio e estupro. Nossa intenção não é chocar ou entreter usando esses temas, e sim trazer reflexões por meio dos sentimentos, pensamentos e ações dos personagens envolvidos.

TEMA DO CAPÍTULO 05
Outono

Desejamos uma boa leitura.

Capítulo 5 - Outono


Fanfic / Fanfiction Soukoku AU: Escapism - Outono

Era por volta das 5 da manhã quando Chuuya despertou. O sol mal havia nascido, mas fora o suficiente para fazer com que o ruivo acordasse, já que não havia conseguido dormir muito na noite anterior.

Por mais que se sentisse mais leve por ter se reconciliado com Dazai, as preocupações ainda não saíam de sua cabeça. Isso acabou resultando em uma insônia que só o deixara dormir por 3 horas naquela noite.

Sendo assim, ainda com Fumiya adormecido ao seu lado no futon, o ruivo se levantou em silêncio para ir até a cozinha preparar algo para comerem.

Dazai ainda se encontrava adormecido no sofá, o que arrancou um pequeno sorriso do ruivo, antes que pudesse se virar para preparar um pouco de café e achar algo que pudessem comer. Infelizmente, Dazai não tinha muitas opções em sua dispensa.

O mais alto dormia de maneira bastante torta, com um dos braços projetado para fora do sofá. Mas então o sol começou a incomodá-lo, fazendo com que o moreno se mexesse um pouco, até que acabasse abrindo os olhos. Estava sonolento e com os cabelos bem bagunçados, levantando-se calmamente até que pudesse se sentar no sofá. Olhava em direção da cozinha, vendo Chuuya atrás do balcão, preparando alguma coisa.

— Acordou cedo...

— É... eu perdi o sono. — Falou com um sorriso ao vê-lo acordado, enquanto fritava alguns ovos que havia encontrado. No forno, também esquentava alguns pães para fazer torradas.

O cheiro de café sendo feito também preenchia toda a casa.

— Foi mal. Acordei você?

Dazai balançava com a cabeça de maneira negativa, dando um pequeno sorriso. Era a primeira vez em anos que tinha alguém em sua casa que fizesse o café da manhã. - O cheiro está bom.

— É, bom, você não tinha muitas opções de comida aqui. — Falou com uma careta, terminando de fazer os ovos. — Precisa comprar comidas mais saudáveis. Álcool e macarrão instantâneo não é algo que se deve consumir todo dia.

— Não sou um bom cozinheiro. — Dizia o moreno enquanto bagunçava ainda mais os próprios cabelos. — Já quase coloquei fogo no apartamento uma vez… mas... pensando bem, até que foi divertido.

— Por algum motivo, não estou surpreso com isso. — Respondeu o menor em meio a um suspiro, desligando o forno para retirar as torradas.

Arrumou então a mesa para dispor o café da manhã improvisado que havia feito.

— Está pronto. É melhor comer antes de abrir a floricultura. 

Dazai se levantava do sofá, caminhando até a mesa com o sorriso de uma criança. Sentava em uma cadeira, pegando uma torrada com um ovo frito. Passava a comer, sorrindo como se aquela fosse a melhor refeição do mundo.

— E quanto ao pirralho?

— Acho que depois das coisas que aconteceram ontem a noite, ele deve acordar mais tarde que o normal. — Falava enquanto puxava uma cadeira para se sentar de frente para Dazai, se servindo de um pouco de café. — Guardarei um pouco para ele comer depois, quando acordar.

Os dois tomavam o café da manhã juntos, conversando um pouco, até que Dazai precisasse se arrumar para o trabalho. Não tinha exatamente um horário para abrir a floricultura, o que poderia ser considerado como uma falta de compromisso.

Mas não precisava conhecer tanto assim Dazai para perceber que ele não era um grande apreciador de rotinas.

Sendo como fosse, precisava ganhar dinheiro, e depois de um rápido banho, o moreno saia do quarto já perfeitamente vestido com o seu uniforme da "Aki Flowers".

Chuuya ainda se encontrava na cozinha, agora lavando louça, quando o mais alto se colocou ao lado dele. Antes de ir, quis falar com o ruivo, já que não sabia se aquela poderia ser a última vez.

— Você vai estar aqui quando eu voltar?

— Eu não sei, Dazai. — Dava um suspiro, levantando os olhos para ele. — Você quer que eu esteja? — Perguntou com certa expectativa, se virando para ele enquanto também deu alguns passos em sua direção, aproximando sutilmente o rosto do dele.

Dazai deu um pequeno sorriso, levando umas das mãos contra o queixo de Chuuya. Se aproximaram um pouco mais e já estavam prestes a terem os lábios um do outro, conforme desejavam. Porém, nesse exato instante, o pequeno Fumiya aparecia na cozinha, surpreendendo a ambos.

— Papai, estou com fome. — Dizia o pequeno garoto de maneira manhosa.

A essa altura, Chuuya e Dazai já tinham se afastado em alguns centímetros, sem que o beijo de fato acontecesse.

Chuuya se sentiu decepcionado por não ter sido beijado por Dazai, mesmo que não demonstrasse ao se voltar para o filho.

— Vou pegar as torradas. — Disse se afastando do maior, agindo como se não tivessem sido interrompidos pelo garoto, que ainda se mostrava bastante sonolento enquanto esfregava os olhos.

— O que a múmia tava fazendo perto de você, papai? Ele ia te machucar? — Perguntou o garoto que franzia a testa para Dazai. — Não chegue perto do meu papai!

— Não vou machucar o seu pai, nanico. — Dizia ele com uma das mãos na cintura, olhando para o baixinho com um bico nos lábios. — Mais fácil ele me machucar, sabia? Se eu deixar o seu pai bravo, com certeza ele vai me bater.

O garoto ainda se manteve com a expressão séria, como se desconfiasse de Dazai.

— Posso bater em você também! — Falou cruzando os braços, enquanto Chuuya ria com aquela cena. — E você é uma múmia malvada. Não vou confiar numa múmia.

— Mas você dormiu no futon de uma múmia. Sabe o que isso significa? — Aos poucos o bico de Dazai foi se convertendo em um sorriso malvado. —  Significa que você logo vai se transformar em uma múmia também.

O garoto arregalou os olhos ao ouvir aquilo.

— É mentira! — Resmungou ele, correndo até Chuuya e se agarrando nas pernas de seu pai. — É mentira, não é papai? — Perguntou com os olhos levemente úmidos, denunciando que em breve choraria.

— Claro que é. Não acredite no que esse idiota diz. — Acariciou os cabelos do filho, até que o pegou no colo para senta-lo na cadeira. — Toma seu café da manhã e não liga pra ele. — Falou colocando um prato com as torradas e uma caneca de leite quente para ele.

Dazai dava algumas risadinhas pela reação do garotinho, até que consultava o relógio em seu pulso. Quando se certificou das horas, tornava a olhar para Chuuya. — Eu preciso ir.

O ruivo assentiu com um sorriso, enquanto Fumiya já devorava as torradas de seu prato.

— Então... te espero para o almoço?

— Preciso resolver algumas entregas, então… É mais provável que eu volte para o jantar. — Disse com um meio sorriso. — Mas se precisar de alguma coisa, basta descer as escadas, ou me ligar. — Dazai disse com um sorriso mais animado enquanto pegava um cartão da floricultura do bolso do uniforme, entregando-o para o ruivo, onde constava seu número de celular. E então, quando o pequeno Fumiya não estava olhado, o moreno roubava um rápido selinho dos lábios de Chuuya. Depois, foi para a porta dando pequenos risinhos, até deixar o apartamento.

E com isso o dia se passou.

Enquanto Dazai estava no trabalho, Chuuya permaneceu em sua casa, aproveitando aquela oportunidade para arrumar e limpar os cômodos que estavam urgentemente precisando de uma limpeza, tomando a liberdade de mudar alguns móveis de lugar para limpar perfeitamente o chão depois.

Fumiya também o ajudou à sua maneira, fazendo coisas como uma tentativa falha de dobrar o futon e as cobertas, após deixá-los um pouco no sol.

Chuuya evitava mexer nas coisas de Dazai, já que apenas queria deixar tudo limpo, e não sair bisbilhotando nas coisas daquele homem. Contudo, quando abriu o guarda-roupas dele para guardar um dos cobertores, acabou achando, em meio a alguns sapatos, uma pequena caixa.

Um pequena caixa, vinda de uma loja de armas.

Aquilo lhe chamou a atenção e, após se certificar que Fumiya não estava perto, Chuuya pegou a tal caixa, certificando-se do seu conteúdo. Era uma pistola calibre .22, descarregada, embora as balas estivessem ao interior da caixa também.

Próximo ao conjunto, também havia uma nota de compras, onde a data de aquisição constava “19/06”, data de aniversário de Dazai. Aquilo colocou o ruivo para pensar. O que Dazai pretendia fazer com aquela arma no dia de seu aniversário? E o que ele realmente teria feito, caso Chuuya não tivesse passado aquela noite com ele?

Sendo como fosse, o ruivo passou a sentir como se tivesse descoberto um segredo que não deveria, e para garantir que Fumiya jamais acharia aquilo, acabava enrolando a caixa em algumas roupas, colocando-a bem no fundo do guarda-roupas.

Não pretendia comentar com Osamu sobre o que tinha achado, afinal, não se achava no direito.

Enquanto isso, no andar debaixo, Dazai cuidava da floricultura como costumava fazer, realizando as entregas na hora do almoço, como havia dito que faria. Era comum ver o moreno pelo bairro, trazendo flores na cestinha de uma bicicleta bastante enferrujada.

No fim do dia, quando estava próximo do horário de Dazai retornar para a casa, a faxina do ruivo já havia acabado, e a casa estava em perfeito estado de limpeza, além do agradável perfume.

Quando Dazai voltava para a casa, estava cansado e levemente com sono, mas pensar que teria alguém para voltar, era algo que o deixava animado.

Mas assim que abriu a porta, o moreno tomou um grande susto. Piscou os olhos algumas vezes, parando na porta enquanto contemplava todo o interior, perfeitamente limpo e organizado

— Eu... errei de apartamento?

— Ahh! Essa não! A múmia malvada voltou, papai! — Fumiya gritava para Chuuya, que agora estava na cozinha preparando o jantar.

O garotinho corria em direção ao seu pai, se escondendo atrás de suas pernas.

— Já disse que ele não é uma múmia malvada, Fumi. — Falou o ruivo para o garoto, erguendo os olhos para a entrada da casa onde estava Dazai, dando um sorriso para ele. — Não. É a mesma casa de antes, mas agora sem o seu relaxo.

— Que fada passou aqui? — Disse Dazai com um pequeno riso, entrando finalmente no apartamento, deixando seus sapatos na entrada. Sorria para Chuuya por vê-lo ali, ainda que logo se voltasse para o mais baixinho da casa. — Você também está virando uma múmia, eu já disse isso, não disse?

— Mentiroso! Papai disse que você tá mentindo! — Resmungou o garoto mostrando a língua pra ele, até que se afastou de Chuuya para correr até a sala para voltar a assistir seus desenhos na televisão.

— Não foi nenhuma fada, fui eu. — Falou Chuuya enquanto terminava de colocar algumas batatas no fogo. Estava fazendo karê. — Como você vivia nessa bagunça? Até os ratos do esgoto vivem em lugar mais limpo do que como esse estava.

— Ei! — Resmungou o maior, se aproximando de Chuuya para observar o que ele estava fazendo. O cheiro já estava ótimo, e ver as batatas no fogo já lhe davam água na boca. — O que esperava de um homem adulto e solteiro?

— Na verdade, não muito. — Respondeu em um tom debochado, pegando um pouco de caldo do karê com uma colher e se virando para Dazai. — Prove um pouco.

O mais alto se esticava para que pudesse tocar a colher com a boca e beber um pouco do caldo. No processo, acabava se inclinando levemente contra o ombro de Chuuya também. — Está um pouco forte, mas está gostoso.

— Devo ter deixado apimentado demais. — Falou com um pequeno bico, se afastando de Dazai para voltar a atenção na comida.

E já que Chuuya estava ocupado, Dazai pensou que seria uma boa oportunidade de importunar o filhote ruivo. O garotinho ainda estava sentado no sofá, assistindo ao seu desenho quando o moreno se aproximou, colocando-se bem ao lado dele.

— Não fica perto de mim não, girafa enfaixada! — Resmungou o garotinho, ainda que não se afastasse.

Ele mantinha as pernas balançando para fora do sofá, já que não alcançavam o chão.

— Ah, desculpa, eu não vi você. — Dizia o moreno com uma expressão falsamente séria. — É tão pequeno que achei que fosse só uma almofadinha.

Aquilo com certeza irritava o garoto, no entanto, ele agora parecia tentar não demonstrar.

— Então eu também não tô vendo você. — E dito aquilo, Fumiya se esticou no sofá, deitando-se sobre o mesmo e sobre o corpo de Dazai de maneira preguiçosa, como se ele de fato não estivesse ali.

— Ei! — Dazai resmungava com aquilo, embora fosse algo divertido. Era a primeira vez que interagia de verdade com uma criança. — Então não vai se importa com isso, né? — Foi quando cutucou o garoto na lateral do seu corpo, de modo que lhe fizesse cosquinha.

As cócegas faziam o garoto gargalhar enquanto se contorcia sobre o colo de Dazai, tentando se proteger das suas mãos.

— Socorro!! A múmia vai me matar!

— São técnicas milenares que eu aprendi com os faraós. — Dizia rindo, enquanto ainda fazia as cócegas até que aos poucos foi parando, para que Fumiya pudesse recuperar o fôlego. — Você ajudou o papai na faxina?

— Claro que ajudei! Na verdade, fui eu que limpei tudo. — Falou orgulhoso, se mantendo deitado sobre o colo de Dazai, com o rosto virado para ele. — Por que a sua casa tava tão suja, senhor múmia?

Dazai respondia agora virando o rosto. — Eu trabalho muuuito e sou muuuito ocupado. Não tinha tempo de limpar.

— Você não parece trabalhar tanto assim. — Falou de forma direta, mantendo os olhos para Dazai, os quais eram da mesma cor que os de Chuuya. — Ei, seu múmia. Como você conheceu o meu papai?

Ao ouvir aquela pergunta, Dazai ficava um pouco perdido, afinal, não sabia exatamente o que respondia.

— Bom... então... — Dava alguns tossidos. — Seu pai leu algumas coisas que eu escrevi.

— Que tipo de coisas? Cartas? — Perguntou o garoto, mas antes que Dazai pudesse responder, Chuuya aparecia ali para ajudá-lo.

— Vamos comer, a janta ficou pronta.

— Ebaa!! — Fumiya rapidamente se levantou do colo de Dazai, descendo o sofá para correr até a mesa da cozinha.

O moreno agradeceu em silêncio por Chuuya ter interrompido aquela conversa, mas pensar sobre aquilo também fazia com que Osamu sorrisse.

Sendo assim, logo se levantou do sofá para se juntar aos dois na mesa.

A janta entre os três ocorreu de forma agradável, incluindo as provocações divertidas que Dazai fazia com Fumiya e que o garotinho não deixava barato, sempre inventando diversos apelidos para Dazai ou apenas mostrando a língua para ele, enquanto Chuuya apenas ria com a brincadeira dos dois.

Depois da janta, Chuuya deu um rápido banho em Fumiya antes do garotinho ir mais uma vez para sala assistir aos seus desenhos.

— Ele gosta de você. — Falou Chuuya para Dazai enquanto terminava de lavar a louça, com a ajuda do moreno que agora as secava. — Ele não costumava conversar com ninguém na casa que morávamos. Ele não gostava dos empregados e bem, por mais que se mostrasse forte pra me proteger, ele tinha bastante medo do Mori...

Aquilo surpreendia Dazai, que continuava a ajudar Chuuya a secar a louca. Não gostava de pensar o que Fumiya e mesmo Chuuya tinham vivido ao lado de um homem tão asqueroso.

— Você realmente acha que ele gosta de mim? — Questionou ao olhar para o garoto na sala, distraído com os desenhos.

— Pelo jeito que ele riu agora pouco? Tenho certeza de que gosta. — Falou com um sorriso, terminando de lavar toda a louça e deixando a pia novamente limpa como estava antes. — Você tem jeito pra crianças. Eu tive que aprender a cuidar e a lidar com uma em pouco tempo, e posso dizer que eu mesmo nunca consegui fazê-lo rir desse jeito.

Dazai ficava bastante sem jeito com aquilo, embora não deixasse de ficar feliz.

De algum modo, já estava começando a se afeiçoar ao garotinho também.

— Mas acho que se saiu bem. O pirralho ama muito você.

Aquilo também fez Chuuya sorrir, afinal Fumiya era a coisa mais importante em sua vida.

— É, bem, eu tento não ficar muito bravo com ele. Apesar de que sempre que dou bronca, a verdade é que eu não aguento ver aqueles olhinhos cheio de lágrimas e… acabo cedendo na repreensão.

Os dois ficavam conversando por algum tempo, até que voltavam para sala.

Quando olharam para Fumiya, o viram deitado no sofá com o rostinho contra uma das almofadas.

Estava dormindo com o dedo na boca, bastante relaxado.

Assim Chuuya se aproximava, pegando o menino em seu colo para levá-lo novamente até o quarto de Dazai, onde o moreno prontamente arrumou o futon para que Fumiya fosse deitado ali.

Uma vez envolto nos cobertores e adormecido profundamente, Chuuya apagou a luz do quarto e encostou a porta do cômodo assim que saiu, de modo que o garoto pudesse descansar ali.

— Desculpa por ocuparmos a sua cama por mais uma noite. Não deve ser nada confortável dormir nesse sofá.

Os dois se encontravam no corredor, onde Dazai agora estava encostado contra a parede.

— Não tem problema. — Respondia de maneira sincera. — Na verdade, eu quase nunca dormia no futon. Não tem muita graça dormir lá sozinho.

— Vai ter algum problema nas costas desse jeito. — Falou com um bico emburrado, como se quisesse repreendê-lo por aquilo.

Um minuto de silêncio se fez presente, como se Chuuya não soubesse exatamente como reagir agora que estavam sozinhos. Ele mexia nas próprias mãos um pouco nervoso.

— Então... deve querer tomar um banho, não é? Já que passou o dia no trabalho... — Falou com o rosto um pouco baixo, e Dazai podia vê-lo levemente corado.

— Na verdade, eu estava pensando em fazer isso agora mesmo. — Respondeu com um sorriso discretamente malicioso, afinal, ainda não tinham feito nada além de apenas um beijo. — E quanto a você? Já tomou banho hoje?

Aquilo também fez o ruivo sorrir, de modo que apenas balançasse a cabeça de maneira negativa. A verdade era que já havia tomado, mas naquele momento, preferiu mentir.

— Podemos ir juntos. Sabe, pra economizar água.

O sorriso de Dazai se alargou, tomando a liberdade de pegar o ruivo pela mão depois daquela resposta. Juntos, os dois se esgueiravam para o banheiro como dois adolescentes.

Ali, assim que trancaram a porta, Dazai se inclinava na direção de Chuuya, roubando os lábios dele em um beijo intenso e já cheio de paixão.

Aquele beijo não veio como uma surpresa para Chuuya, afinal sabia que o motivo principal para tomarem banho juntos não era para de fato economizar água.

Sendo assim, o ruivo não se demorou para retribuir aquele beijo, vindo por envolver o pescoço de Dazai com os braços a medida que suas línguas se tocavam, de maneira cada vez mais intensa. Deixavam com que seus corpos se aproximassem e falassem por eles mesmos o quanto desejavam um ao outro.

Osamu então envolveu Chuuya pela cintura, puxando o ruivo em direção ao box do banheiro. Ali, o moreno ligava o chuveiro, sem se importar que eles ainda estavam de roupas. O ruivo se arrepiava ao sentir a água gelada sobre seus corpos, no entanto, aquilo não o incomodou, já que o calor que sentia dentro de si era forte o bastante para anular qualquer sensação de frio.

O beijo continuava um pouco mais intenso, e a medida que suas roupas ficavam molhadas, podiam começar a ver as curvas do corpo um do outro através delas, o que deixava tudo mais sexy.

As mãos do ruivo então passaram a desabotoar a camisa de Osamu com certa urgência, mostrando o quanto desejava seu corpo e o quanto queria continuar com aquilo.

Tudo estava bem mais intenso do que da primeira vez que transaram. Era como se ambos soubessem que estavam engatando em um relacionamento, e estavam ansiosos para aquilo.

Dazai ajudava com a camisa, ficando apenas de calça e com as faixas enroladas em seu corpo. Mas agora era sua vez de retirar a camisa do ruivo, puxando-a para cima para joga-la para fora do box.

Chuuya sorria em meio aquilo, também bastante ansioso. Agora não apenas seu coração estava acelerado, como seu membro pulsava debaixo da calça, desejando ser tocado.

Era então que ele avançou contra o pescoço de Dazai, passando a beijar e chupar a pele que não estava coberta pelas faixas, ao mesmo tempo em que suas mãos se adiantavam em desabotoar a calça incômoda que ele ainda vestia.

— Ah! — Dazai dava um pequeno suspiro ao se arrepiar por inteiro, já completamente seduzido pelo mais baixo. Não demorou muito para que Osamu tivesse sua calça retirada, bem como a roupa íntima que usava por baixo dela. Seu membro já estava ereto, o que deixava para Chuuya bastante evidente o quanto ele desejava aquilo.

— Precisamos ser discretos... o baixinho pode acordar.

— Acha que eu não sei disso, Osamu idiota? — Chamou o moreno pela primeira vez daquela forma, enquanto mantinha um sorriso malicioso no rosto.

Não se demorou para tirar a calça que também vestia, junto a sua boxer que já se encontrava completamente molhada.

— Mas isso vai ser mais difícil pra mim do que pra você. — Confessou Chuuya enquanto levava a destra contra o membro dele, passando a masturbá-lo com certa urgência enquanto seus lábios se voltaram para pescoço de Dazai, alternando entre chupões e mordidas por sua pele.

O moreno estremeceu, sentindo seu corpo inteiro se arrepiar. Novamente, era ao lado do ruivo que Dazai se sentia vivo e cheio de desejo. Dentro de si, também estava feliz, ainda que fosse um sentimento um pouco incomum para si.

Deixou com que o ruivo continuasse com aquilo por mais alguns minutos, até que puxasse o corpo do menor contra o box de vidro. Chuuya se virava se costas, de modo que Dazai pudesse se encaixar bem atrás dele.

— Droga... a camisinha está no quarto...

— Só me fode logo de uma vez. — Implorou em meio a respiração ofegante, empinando o quadril na direção de Dazai, pedindo por aquilo.

Suas nádegas se roçavam contra o membro ereto dele, o que fazia o ruivo gemer baixo em antecipação.

Com a destra, Dazai então guiava o seu membro para dentro dele, penetrando-o lentamente, já que não tinham ali nenhum tipo de lubrificação. O ruivo podia ouvir o mais alto suspirar contra seu ouvido à medida que se afundava, até que colocasse seu pênis totalmente dentro dele. — Ah... Chuu...

Em resposta, o menor teve de morder o lábio inferior para reprimir um gemido, mesmo que fosse impossível impedir sua voz de ecoar pelo banheiro, assim que era invadido por Dazai. A sensação era ainda mais prazerosa que da primeira vez, e sequer se importou pela falta da lubrificação.

— Ah... — Tentou se apoiar contra o box de vidro do banheiro, sentindo todo seu corpo tremer pelo prazer.

Os dois suspiravam baixinho, e não demorou muito para que Osamu passasse a se mover dentro dele. Movia com o quadril para frente e para trás, impulsionando o corpo do ruivo contra o vidro do box.

— Achei que... nunca mais faríamos isso... — Confessava contra o ouvido dele, suspirando a cada nova estocada para que o ruivo soubesse bem o tanto de prazer que ele lhe proporcionava.

— Ah... — Um suspiro mais alto escapou dos lábios de Chuuya, que sentia todo seu interior ser preenchido pelo membro de Osamu. Suas pernas se esforçavam para mantê-lo em pé a cada movimento do mais novo. — Também achei isso, mas... eu queria muito fazer isso de novo com você.

— Mesmo? — Perguntou com um sorriso, estocando o ruivo desta vez um pouco mais forte.

O som de choque entre seus corpos já ecoava pelo banheiro, ainda que não fosse nada elevado o suficiente para correrem o risco de acordar o filho de Chuuya. Apenas queriam aproveitar daquele tempo sozinhos, e para Dazai estavam fazendo aquilo muito bem.

A cada vai e vem do moreno, se tornava mais difícil para Chuuya reprimir os próprios gemidos. O prazer que sentia a cada estocada de Dazai se intensificava, desejando que aquele momento durasse pra sempre.

— Não quero mais sair de dentro de você... — Dizia Dazai manhoso, já completamente dominado pelo prazer. Foi então que levou uma das mãos contra o pênis de Chuuya, passando a masturbá-lo no mesmo ritmo em que o estocava. Queria lhe proporcionar o máximo de prazer possível.

— Ahh! — E sem conseguir se conter, um gemido arrastado escapou pelos lábios do menor, ainda que não fosse mais alto que o som do chuveiro. Seu corpo vibrava pelo prazer, de modo que se apoiasse contra o box do banheiro para se manter em pé. — E eu quero te sentir dentro de mim... ah... Osamu...

Em resposta a aquilo, o mais alto dava uma deliciosa lambida contra a orelha de Chuuya. Os dois gemiam o mais baixinho que conseguiam, ainda entre o vai e vem e a masturbação que Dazai fazia no menor.

— Chuu... eu vou... — Dizia manhoso, já sentindo o seu orgasmo bastante próximo.

Mas o ruivo não conseguia responder aquilo já que também sentia seu orgasmo próximo, e no instante seguinte acabou por ejacular contra os dedos de Osamu, deixando um gemido mais arrastado ecoar pelo banheiro.

— Ahh...!!

O orgasmo dos dois vinha quase que no mesmo instante, de modo que o moreno ejaculasse dentro dele, preenchendo-o com o seu líquido quente. Os dois tinham aquele momento de prazer, enquanto Dazai o estocava mais um pouco, até que se sentissem plenamente satisfeito.

Ofegante, Osamu se retirava de dentro dele, suspirando pesadamente enquanto se apoiava na parede para não cair. Suas pernas estavam levemente enfraquecidas, mas ele sorria de orelha a orelha.

— Isso foi... muito bom...

Chuuya por sua vez também se esforçava para se manter em pé, mantendo um sorriso entre os lábios.

— Foi... ainda melhor que da primeira vez. — Respondeu o outro ofegante, até que reuniu forças para se virar de frente para Dazai, apoiando a testa sobre o peito dele. — Espero que ele não tenha nos ouvido.

— Não ouviu. — Dizia o maior, confiante, tornando a puxar o ruivo para baixo da água quente do chuveiro. — Foi um bom banho, não foi?

— Tirando a parte do banho, você quis dizer. — Brincou com um riso, erguendo o rosto para selar em seus lábios. — Acha que eu mereço tudo isso? Que eu mereço ser feliz? — Perguntou pensativo, agora com uma expressão repentinamente triste e preocupada.

— Por que não mereceria? — Perguntou Dazai em um tom mais sério, agora levando as mãos contra os cabelos do ruivo. — O que você fez de errado?

Chuuya desviou um pouco os olhos.

— Bom, era o que ele sempre me dizia. Que eu não mereço ser feliz e que eu nunca vou encontrar mais ninguém além dele. — Falou com a voz um pouco baixa. — Acho que eu mereci tudo isso, afinal fui eu quem aceitei viver com ele desde o início.

— Nunca mais repita uma bobagem dessas. — Dizia Dazai, agora dando alguns beijos sobre a testa do ruivo. — Além disso, agora estamos juntos. Não que eu seja grande coisa, mas com certeza posso ser um namorado melhor do que ele.

Chuuya sorriu com aquelas palavras, ficando na ponta dos pés para que pudesse roubar mais um beijo de Osamu.

 

***

 

Depois daquilo, o relacionamento entre os dois começou a progredir. Passavam bastante tempo juntos, incluindo Fumiya, o que trazia a reconfortante sensação de que aos poucos iam se tornando uma família.

Com o passar dos dias, Chuuya começou a ajudar na floricultura também, assumindo o atendimento da loja durante ausência de Dazai, quando este precisava fazer as entregas com sua velha bicicleta.

Ainda achavam arriscado que Chuuya saísse de casa, especialmente sozinho, já que não sabiam por onde Mori poderia estar à espreita. Mas trabalhar na floricultura, mesmo que durante um curto período de tempo, possibilitava com que o ruivo ao menos tivesse algum contato com pessoas.

Em relação à noite, quando Fumiya ia dormir, Chuuya e Dazai davam suas escapadas para o banheiro, onde passaram a ter algumas aventuras noturnas.

 

***

 

Por fim, ao fim de setembro, o outono chegava.

Chuuya acordou no futon que dividia com Fumiya.

Contudo, o pequeno garotinho não estava ali.

Aquilo chamou a atenção do ruivo, fazendo com que ele se levantasse para sair do quarto.

Um forte cheiro de queimado se fazia presente. Seguindo a origem do cheiro, o ruivo encontrava Fumiya na cozinha, tentando fazer uma torrada. Contudo, o seu pão mais parecia um pequeno pedaço de carvão, de tão queimado que estava.

— O que você pensa que tá fazendo, mocinho? — Perguntou em um tom de repreensão para o filho. — Quem disse que poderia mexer com fogo?

— É que... eu não quis te acordar. — Dizia o menino se encolhendo no canto, por estar sendo repreendido. — Desculpa...

Chuuya suspirou, se aproximando do filho para desligar o fogo e tirar a torrada queimada dali.

— Sabe que não pode mexer com fogo sozinho. — Falou um pouco mais calmo, ainda que o repreendesse. — Cadê o Dazai?

— Ele saiu. — Respondeu o menino inocentemente ao se aproximar mais do pai, olhando para ele. — Saiu todo chique, com um montão de flores, mas não disse pra onde ia.

— Saiu?! — Chuuya franziu ainda mais a testa, não apenas por Dazai ter deixado Fumiya sozinho e mexendo com o fogo.

Aquilo era bastante incomum, afinal, o moreno não havia comunicado que faria uma entrega. E por que ele tinha saído “todo chique”, nas palavras de Fumiya? Para Chuuya, só havia uma única explicação:

Dazai deveria estar cortejando alguma mulher.

— Aquele idiota... — Murmurou baixinho com a testa franzida, sentindo uma pontada de tristeza dentro de si.

Sentia que havia se iludido e Dazai realmente não queria nada sério consigo. Ele deveria ter se cansado agora que faziam sexo quase todos os dias, e ido atrás de alguma outra dançarina de boate, exatamente como fez consigo.

— Vai assistir seus desenhos, eu termino aqui. — Falou o ruivo finalmente para o filho, tentando não demonstrar para o pequeno o quanto estava magoado.

Felizmente, Fumiya nada percebia, indo inocentemente até a sala para assistir televisão, deixando Chuuya sozinho com seus próprios pensamentos.

O ruivo fazia o café da manhã para ele e seu filho, mesmo que sua mente continuasse focada em Dazai e com quem ele poderia estar. Sendo assim, pouco acabou comendo pela manhã, mesmo que se esforçasse para se manter animado para Fumiya. Não queria que ele se preocupasse.

E o moreno continuava sumido durante a tarde. Quanto mais as horas se passavam, mais angustiado Chuuya ficava.

Finalmente, por volta das 16h, a porta do apartamento vinha por se abrir.

Dazai estava de volta.

Ele usava um terno preto, bem elegante, com uma pequena rosa em um dos bolsos do paletó.

Vê-lo daquela forma causou uma sensação estranha em Chuuya. Osamu havia se ausentado o dia todo, sem dar qualquer satisfação, e agora parecia voltar como se nada tivesse acontecido. O ruivo estava com ciúmes, então sequer veio por cumprimenta-lo quando chegou. Fingia estar mais interessado em algum filme infantil que passava na televisão e que ele assistia com seu filho.

Ao ser respondido apenas por Fumiya, a atenção de Osamu se voltou para Chuuya. Por hora, preferiu deixar aquilo quieto por um momento, indo tomar um banho. Afinal, precisava de um, já que havia ficado fora o dia inteiro.

Enquanto isso, o ruivo permaneceu na sala, sentindo-se cada vez mais triste e decepcionado. Tinha medo de ser trocado por outra pessoa, ou de perder aquele relacionamento, que agora era tão importante para si.

Meia hora depois, Dazai voltava para a sala, agora vestindo uma calça preta de pijama e uma blusa branca de mangas compridas.

Se sentava no sofá, bem ao lado de Chuuya.

— Sobre o que é o filme? — Perguntava com certo interesse.

Chuuya se afastou um pouco de Dazai, vindo por cruzar os braços, se mostrando emburrado.

— Sobre um homem que tinha uma amante. — Falou sem olhar para ele, e Dazai podia ter certeza que definitivamente não se tratava de um filme assim, já que era uma animação infantil.

— Oh. — Ele levava uma das mãos até o próprio queixo ao ouvir aquela resposta, como se refletisse. — Meio estranho para um desenho, né?

E olhava de volta para Chuuya, analisando a maneira como estava agindo.

— É, talvez. — Respondeu de forma fria, mantendo os olhos na televisão, até que veio por se levantar do sofá, dando as costas para Dazai e Fumiya, que parecia alheio àquela discussão.

Dazai franzia de leve a testa, cogitando todas as possibilidades possíveis que explicassem o motivo para o ruivo tratá-lo daquela maneira.

Mas pensando bem, sabia que só tinha um jeito de descobrir.

Era por isso então que ele vinha por se levantar do sofá, seguindo Chuuya pela casa.

Acabou o encontrando no quarto, dobrando algumas roupas do filho. Dazai entrava no cômodo discretamente, fechando a porta atrás de si para que Fumiya não precisasse ouvir aquela conversa.

— Você parece bravo. — Começou usando o tom de voz mais sutil possível, para que aquilo não parecesse uma briga.

— Pareço? — Mas Chuuya por sua vez o respondia de maneira irritada, continuando a dobrar as roupas, bem impaciente. — E por que se importa? Já deve ter arrumado outra dançarina pra cortejar por aí.

— Eh? — Dazai inclinava com a cabeça levemente para o lado ao ouvir o menor dizer aquilo, ficando visivelmente confuso. — De onde tirou isso?

— Você saiu com um buquê de flores, todo arrumado, e passou o dia todo fora. Acha que eu sou idiota?! — Falou ainda mais nervoso, voltando os olhos para ele. — Eu nunca devia ter aceitado ficar na sua casa. É claro que você se enjoaria de mim e iria procurar outras pessoas por aí. — Começava a dizer sem pensar. — Você sempre preferiu mulheres, não é? Eu quem fui idiota em pensar que você poderia se apaixonar por um homem como eu.

Dazai piscava os olhos algumas vezes após todo aquele sermão, mas logo depois, acabou dando um pequeno sorriso. Havia entendido tudo agora, e aquela era a primeira vez que Chuuya revelava suas inseguranças tão abertamente, mesmo que em meio a uma crise de raiva.

Dazai tentava se aproximar dele, mas era recebido por um pequeno soco no peito pelo ruivo.

— A flores eram para outra pessoa, sim. — Dizia Dazai ainda olhando para o mais baixo. — Mas não é o que você está pensando.

Chuuya voltou com os olhos para ele, fuzilando-o com o olhar, especialmente ao ouvir que as flores realmente tinham sido levadas para outra pessoa.

— Então por que não fica com ela e esquece de mim? — Falou ainda mais bravo.

— Chuu, não é o que você está pens--

— É melhor eu e o Fumi irmos embora. — Disse de maneira mais rude, embora soasse um pouco triste também. A testa do ruivo se mantinha bem franzida, mas já tinha amenizado a expressão. Não queria ir embora de fato, mas ainda estava bravo o bastante para dizer aquilo.

Queria atingir Dazai de alguma forma, e conseguiu.

O moreno desviou os olhos, parecendo ficar desolado. Definitivamente, não queria se ver sozinho de novo.

— Eu fui ao cemitério. — Dazai confessava sem olhar para Chuuya. — E precisarei ir novamente amanhã. — Um suspiro. O moreno apenas vinha por balançar a cabeça, virando-se então para ir em direção a porta. Era melhor ficar um pouco afastado do ruivo, mas antes que realmente saísse do quarto, Dazai parava por um momento. — Só... não vá embora.

Chuuya perdia completamente a fala ao ouvir para onde Dazai havia ido, e rapidamente, tudo começou a fazer sentido. Mas saber daquilo o deixou com um amargo sentimento de culpa dentro do peito, além de se sentir um completo idiota por pensar coisas erradas de Dazai.

O ruivo abriu a boca para dizer alguma coisa, mas teve que fechá-la assim que viu Osamu deixar o quarto. Chuuya se sentia realmente mal por ser tão impulsivo e tirar conclusões precipitadas, e se xingava mentalmente por ter dito aquelas coisas sem pensar.

Depois daquilo, o clima entre os dois ficou bastante estranho.

Chuuya não conseguia encarar Dazai, por achar que ele estava magoado pelo que havia lhe dito no quarto. Por sua vez, Dazai não conseguia encarar Chuuya, achando que ele ainda estava bravo.

Mesmo assim, se esforçavam para que nada parecesse diferente para Fumiya. Assistiram a mais um filme com o garotinho depois do jantar, até que o pequeno acabasse dormindo com a cabeça contra o peito de Dazai.

Ver aquela cena acalmava um pouco mais o coração do pai, afinal, nada havia desejado mais do que alguém que seu filho pudesse gostar e se sentisse seguro. Dazai também dava um pequeno sorriso ao ter o jovem menino em seus braços, demonstrando em silêncio o quanto também gostava de Fumiya.

Mesmo assim, os dois ainda não conseguiam se olhar, muito menos conversar sobre o assunto que os tinha feito chegar a aquela situação.

Sendo como fosse,  pegando o garotinho no colo, o moreno seguiu então para o quarto, de modo que pudesse deitar Fumiya no futon.

— Eu já vou dormir também, então, boa noite. — Era apenas isso que Osamu dizia, enquanto Chuuya cobria o corpo do filho com um cobertor.

O menor quis responder algo antes de vê-lo sair, mas achou que talvez só piorasse as coisas.

O coração de Chuuya estava apertado, deitando-se ao lado do filho com um dos piores sentimentos do mundo. Não sabia como poderia se desculpar com Dazai, ou se sequer tinha esse direito.

E se a relação deles tivesse sido estragada para sempre?

Mas foi então que, em meio a tantos pensamentos, Chuuya pôde ver um pequeno pedaço de papel ser colocado por baixo da porta do quarto.

Curioso, o ruivo se levantou do futon, caminhando em silêncio em direção ao suposto bilhete. Sentando-se ao lado da porta, Chuuya pode desdobrar o papel para ler o seu conteúdo. A luz presente no quarto era fraca, mas era suficiente para que pudesse enxergar.

Logo percebeu que se tratava de um pequeno cartão escrito por Dazai, exatamente como ele costumava fazer, quando tinham se conhecido na boate.

 

"Não vou enjoar de você, e também não vou procurar outra pessoa.

Você ser um homem ou uma mulher, nunca fez nenhuma diferença para mim."

 

O ruivo entendia que, para Dazai, escrever era muito mais fácil para dizer o que ele queria, já que pessoalmente, provavelmente não conseguiria dizer aquelas palavras de maneira tão clara.

Enquanto Chuuya lia seu cartão improvisado, o moreno se encontrava sentado no corredor, do outro lado da porta, esperando por uma possível resposta.

E ela acabava vindo poucos minutos depois.

Chuuya havia encontrado uma caneta no quarto, escrevendo sua resposta na própria carta de Dazai, na parte de trás. O pedaço de papel era então devolvido por baixo da porta, de modo que ele pudesse pegá-lo e ler as palavras que lá havia.

 

"Desculpa por ter desconfiado de você.

É que ainda é difícil acreditar que alguém realmente goste de mim e talvez, só talvez, eu tenha ficado com um pouco de ciúmes."

 

Aquilo acabava roubando um sorriso involuntário de Dazai, que pegava mais um cartão para poder escrever. Poucos instantes depois, mais um papel deslizava para baixo da porta.

 

"Eu sei. Mas para falar a verdade, você ficou bem fofo com ciúmes".

 

— Não fiquei não, idiota! — Resmungou Chuuya se voltando para a porta fechada, mas parando de falar assim que Fumiya se remexeu no futon. Mesmo assim, Osamu acabava ouvindo, rindo baixinho do outro lado.

O ruivo então tornou a escrever no cartão, devolvendo-o para Dazai.

 

"Odeio a ideia de imaginar você com outra pessoa e fiquei com muita raiva por pensar que você levou flores pra alguém, já que esse era o "nosso lance".

Eu te peço desculpas por não saber pra quem eram as flores e por não ter perguntado.

Mas a culpa também é sua!!!

Podia ter me dito antes de sair, idiota."

 

E logo abaixo de suas palavras, tinha um desenho com um rosto emburrado.

Dazai deu um pequeno riso ao ver aquilo, escrevendo mais um cartão para poder passá-lo por baixo da porta.

 

"Não quis dizer porque ainda é difícil.

Se lembra da última carta que eu te mandei na boate? Onde eu contei a história de um amigo?

Bom, não era de um amigo...".

 

Chuuya então respondia.

 

"Acha que eu sou burro? É claro que eu sabia que não era de um amigo."

 

Era o que vinha escrito logo em seguida, e assim que Dazai terminou de ler a carta, a porta do quarto se abriu. Chuuya então saia do quarto para se sentar ao lado do moreno, agora no chão do corredor.

— Pode falar comigo se quiser. — Disse o ruivo da forma mais compreensiva que pôde.

A verdade era que Chuuya ainda sabia muito pouco sobre o que havia acontecido com Dazai, e mesmo que não soubesse todos os detalhes do que havia acontecido, já tinha a consciência de que era sério, algo que afetava ele profundamente.

Não havia perguntado antes, porque nenhum dos dois se sentia preparado para aquela conversa. Mas agora, não podiam mais evitá-la, e ambos estavam cientes disso.

— Você já sabe da minha história então... eu gostaria de saber sobre a sua também. — Disse Chuuya suavemente pegando em uma das mãos do outro.

Dazai se encolheu um pouco, ainda que se aproximasse de Chuuya o suficiente para encostar a cabeça na dele. Tê-lo ali era uma sensação reconfortante, por mais que fosse difícil lidar com o que havia acontecido no passado.

— Hoje fazem três anos... que o acidente aconteceu — Disse em um tom mais baixo, ainda que Chuuya fosse perfeitamente capaz de ouvi-lo. — Mas tem uma coisa que eu... alterei na carta. 

O ruivo se manteve em silêncio, apenas vindo por acariciar a mão de Dazai, como se o incentivasse a continuar a falar.

— Foi tudo muito rápido. — Começou o moreno enquanto fechava os olhos, passando a brincar suavemente com os dedos de Chuuya. — Foi no hospital que eu descobri que a Shimeko, minha esposa, havia morrido no acidente.

 Fez uma pequena pausa, enquanto reviva tudo dentro de si. Sentia um nó na garganta, pois aquela era a primeira vez que conversava sobre aquilo com alguém.

— Mas ainda tentaram salvar o bebê. Me contaram que... era uma menina. — Apertava de leve os dedos nos dele. — Ela nasceu, Chuu... e... eu pude pegá-la nos meus braços, mesmo que uma única fez.

Dazai apertava a mão de Chuuya ainda mais forte, enquanto abaixava a cabeça ao dizer aquelas palavras.

— Ela se foi no dia seguinte. — Engoliu em seco, suspirando em sofrimento. — Eu fui ao cemitério porque hoje é o aniversário dela, da minha filha... mas... amanhã será o seu aniversário de morte.

Ao ouvir aquilo, Chuuya sentiu ser invadido por uma tristeza profunda. O ruivo sabia que jamais seria capaz de entender a dor de Dazai, mas apenas a possibilidade de perder Fumiya já era suficiente para fazê-lo ter ao menos uma ideia.

Foi então que o ruivo o puxou contra seus braços, envolvendo o corpo do maior com forte abraço, enquanto passou a lhe acariciar os cabelos.

— Sinto muito por tudo isso, Dazai. E sinto muito por você ter ficado sozinho durante todo esse tempo.

E sem que conseguisse mais se conter, o moreno começava a chorar, escondendo o rosto contra o peito de Chuuya. Ele se agarrava às roupas do ruivo, deixando todo o seu sofrimento simplesmente fluir, como nunca havia feito antes.

— Eu só queria morrer... — Dizia de maneira abafada. — Eu ainda quero morrer. — Chorava contra o peito dele. — Eu penso nela todos os dias, Chuu... penso em como ela seria, e em quem poderia ter se tornado.

Chuuya mantinha as carícias contra os cabelos de Dazai, como se o incentivasse a continuar chorando e por tudo para fora.

— Mas eu tirei isso dela... eu tirei isso dela, porque eu errei.

— Dazai...

— Por que eu ainda estou vivo? — Questionava ao erguer a cabeça para o ruivo. Nesse momento, Chuuya podia ver os olhos castanhos cheios de lágrimas.

— Não sei porque você está vivo. — Respondeu enquanto o olhava nos olhos. — Mas eu sei que, caso não estivesse, talvez eu e o Fumiya também não tivéssemos sobrevivido naquela noite de chuva. — Falou calmamente. — Talvez estivéssemos na rua ou, ainda pior, Mori poderia ter nos encontrado e feito alguma coisa.

Dizendo aquilo em um tom mais baixo, Chuuya passava a apoiar o queixo sobre a cabeça de Dazai, o apertando mais em seus braços.

— Então eu fico feliz que você ainda está vivo, porque, sabe... assim eu pude me apaixonar por você.

Dazai piscou os olhos algumas vezes ao ouvir aquela confissão. Por mais triste que ainda estivesse, sentiu uma pontada de felicidade, como se estivesse vendo a luz de um farol e meio a uma sombria tempestade.

Agora um pouco sem jeito, o moreno abaixava a cabeça, tentando limpar as próprias lágrimas.

— Também me... apaixonei por você... — Disse mais baixo. — E não quero que você e o Fumiya vão embora.

Chuuya deu um sorriso ao ouvir aquilo.

— Nós não vamos. Eu não conseguiria te deixar. — Deu um beijo sobre os cabelos dele. — E o Fumiya também gosta muito de você. Ele não iria aceitar ir embora desse jeito.

— Isso é bom... — Disse agora com um pequeno riso, mesmo ainda que meio ao choro.

Chuuya também vinha por sorrir, especialmente após ouvir a proposta que o moreno tinha a lhe fazer.

— Gostaria de ir ao cemitério amanhã comigo?

Ao ouvir aquela pergunta, o ruivo acabava levando a destra contra o rosto de Dazai, fazendo-lhe uma carícia enquanto o ajudava a secar as lágrimas.

— É claro que sim.

O moreno sorriu ainda mais, e então se inclinava na direção de Chuuya, roubando os lábios dele em um beijo. E assim, os dois não apenas se reconciliavam, como também conheciam mais um do outro, o que tornava o elo entre eles ainda mais forte.

 

***

 

No dia seguinte, Chuuya não tinha mais motivos para ter ciúmes e se colocava a ajudar Dazai com as flores. Até mesmo Fumiya parecia interessado em ajudar, levando um ramo de rosas brancas entre os dedos.

No cemitério, a lápide de Shimeko ficava ao lado da filha do casal, ambas cheias de flores que Dazai havia deixado no dia anterior.

Ao lado das lápides, havia uma grande árvore. Suas folhas já começavam a cair, secas e escuras, pelo início do outono.

— Quem são essas pessoas, papai? — Fumiya perguntava enquanto via Osamu cuidadosamente colocar as novas flores sobre a lápide da filha.

— São pessoas importantes para o Dazai. — Respondia Chuuya calmamente.

— Então são pessoas importantes pra gente também. — Concluía Fumiya com um sorriso. — Ontem ele parecia triste. Não quero mais ver o "papai Dazai" assim.

O moreno não havia ouvido aquilo, mas Chuuya não conseguia conter um grande sorriso ao ouvir as palavras do filho. Mais do que nunca, sentia como se fossem realmente uma família, e sabia que Fumiya via daquela forma também.

Sobre o túmulo da filha, lia-se "Aki Dazai", e ao olhar para cima e ver as folhas secas se desprenderem da árvore conforme o vento, Chuuya achou aquele um nome muito bonito. ¹

Depois que Dazai terminava de arrumar as flores, era surpreendido pelos dois Nakahara, em um abraço bem apertado.

E pela primeira vez, o dia mais difícil do ano para Dazai se tornava um pouco mais suportável.


Notas Finais


Notas:
¹. Aki = (秋) Outono.

Muito obrigado por ler!
Amanhã teremos a postagem do sexto e penúltimo capítulo: despedida.

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