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História Sozinhas no Celeiro - Quando dormimos demais


Escrita por: hp234

Capítulo 3 - Quando dormimos demais


"Diário de bordo 003"

"Desde o meu último registro, se passaram, aproximadamente... hum..."

"Não faço ideia de quantos dias. Caramba... Desde que peguei o gosto pela prática do sono, parece que tenho perdido cada vez mais a noção do tempo. O que me faz entender o porquê dos humanos se esforçarem para dormirem apenas durante a noite e com intervalos regulares."

"Durante os últimos dias, sempre que ficava cansada ou entediada com alguma tarefa, eu simplesmente me jogava no sofá e apagava, só para ter essa sensação de sumir e acordar depois com mais energia. Do jeito que eu estava fazendo, não teria como não se confundir. Eu durmo em qualquer hora e nem vejo quando acordo, pode ser quatro ou até dez horas depois. Os dias parecem mais curtos, as noites mais longas, e meus pensamentos ficam super agitados para trabalhar."

"Claro que esse último detalhe é de certo modo positivo, mas não do jeito que está sendo. Já que, quando acordo, eu fico com tanta energia que tenho vontade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Desenhar, ler, pintar, ver TV, montar coisas, mas sempre acabo não fazendo nada no final."

"Eu confesso que é muito bom aderir a essas práticas humanas, cada uma delas causa um prazer novo e diferente. Mas esses reveses me preocupam. Não que seja muito ruim perder a noção do tempo ou ter a necessidade de dormir todos os dias, no entanto, seria melhor eu cuidar mais de como vou adquirindo os desejos e as necessidades da vida na terra. Eu deveria, como se diz, 'Administrar' as minhas atividades."

"Um bom exemplo disso é o meu treinamento com o ukulele. Como o Steven me passou várias lições para aprender a tocar, depois de poucos dias eu consegui tocar a minha primeira música inteira. A 'Paz e Amor'. Bem... com o detalhe de que eu não consegui lembrar a parte da música que eu mesmo escrevi, mas ainda consigo tocar a maior parte que o próprio Steven fez. Fazer música é algo trabalhoso no começo e quase viciante depois que se pega o jeito. Ainda mais quando temos empenho e cuidado na hora de estudar."

"Sobre isso, acho que, depois que conseguir tocar a 'Paz e amor' inteira sem errar, vou gravar em uma fita em branco e mandar para o Steven ver como estou conseguindo tocar. Ele certamente ficará bem orgulhoso."

"Sim, é o que vou fazer."

"Peridot desliga"

 Acho que esqueci de mencionar algumas coisas no diário... Bem, de todo modo, eu não deveria me preocupar tanto em manter esses relatórios. Ás vezes eu esqueço que não estou mais em Homeworld e que não tenho nenhuma supervisora me cobrando informações detalhadas sobre tudo o que faço. Eu estou no celeiro para desbravar e aproveitar a minha nova liberdade, esse gravador me serve mais como um registro da minha curiosa jornada de descobrimento.

 E sobre as coisas que esqueci de mencionar, nesses últimos dias eu fiz uma descoberta muito interessante sobre a vida na terra. Durante um dos meus picos de energia após acordar, eu encontrei no baú do celeiro vários livros interessantes sobre os mais diversos assuntos. Havia um de piadas, um de contos de terror e também um estranho que parecia ser sobre "romance" ou coisa assim, mas o que mais chamou a minha atenção foi o "Manual básico de Botânica".

 Pelo que li na contracapa do livro, se trata de um guia de estudos sobre um tipo de forma de vida na terra. As plantas. Na mesma hora eu fiquei muito animada em poder descobrir sobre como essas plantas nascem e como criar mais delas. Afinal, uma das maiores ambições de Homeworld era criar vida através dos recursos encontrados pelo universo. Para mim, ter a chance de criar vida além das Gems era algo fantástico de se imaginar.

Então, assim que li alguns capítulos iniciais do guia, eu resolvi fazer o experimento do feijão no algodão. Era para ser algo bem simples com uma sementinha em um copo com esse algodão e água, mas encontrar essas coisas foi bem mais complicado do que imaginei. Já no começo, eu acabei passando algumas horas procurando um feijão pelo gramado em volta do celeiro, e quando finalmente achei um grãozinho preto (como o da ilustração no livro), estava com mais vontade de dormir do que procurar os outros itens. E foi o que acabei fazendo.

 Quando acordei depois, mesmo sem saber por quanto tempo eu tinha dormido, comecei a procurar por algum recipiente que serviria de vaso. Rapidamente eu achei um copinho de metal entre as peças de avião. Ela não era transparente como nas instruções do livro, mas certamente serviria. E por fim fui atrás do algodão.

 Essa foi a parte mais complicada, simplesmente não havia isso em lugar nenhum do celeiro ou perto dele.  Eu olhei em quase todos os lugares, mas não encontrei nada. À aquela altura eu já estava um pouco triste porque uma Gem especialista em criar outras Gems não era capaz sequer de criar uma plantinha. 

 Porém, ao ler a pagina seguinte do manual, que ainda falava sobre o experimento do feijão, o livro explica que o algodão serviria como um substituto da terra. Ou seja, eu poderia simplesmente colocar terra úmida sobre o feijão que ele ainda cresceria.

 Animada e com pressa, eu corri para fora e enchi o copinho de metal com terra. Em seguida eu pus um pouco de água e enterrei a semente com o dedo indicador no copinho. Estava ansiosa para ver a mudinha crescer. Mas sabendo que seria muito chato ficar olhando e esperando, eu resolvi me deitar no sofá e tirar mais uma soneca. Não tinha como negar, eu adorava dormir, mesmo que isso me deixasse perdida.

 No dia seguinte, a primeira coisa que fiz ao abrir os olhos foi apontá-los instintivamente para o meu copinho de metal. Estava transbordando entusiasmo para ver a minha primeira criação não gem. Por isso, e por não conseguir ver o interior do copo daquela distancia, eu saltei do sofá e fui checar se a mudinha já tinha aparecido. Mas, não havia nada. O copinho estava apenas com terra e a semente ainda estava ali enterrada. Eu fui tomada por uma leve decepção, mas sabia que as plantas não cresciam rápido. Então apenas coloquei um pouco mais de água na terra e fui fazer outra coisa.

 Mais tarde, depois de ter tirado mais umas horas de sono, eu fui verificar de novo se o feijãozinho tinha dado sinal de vida. Porém, para o meu desânimo, a terra continuava exatamente igual como deixei da ultima vez. Então apenas coloquei um pouco mais de água e fui fazer outra coisa.

 Quando fui dormir depois de ter treinado um pouco de ukulele, eu pensei que o problema mais provável do meu feijão estar demorando para crescer era o solo. O livro dizia especificamente que deveria ser um algodão molhado, então talvez feijões não crescessem em terra molhada. E se no dia seguinte o feijão ainda não tivesse nascido, era porque eu não deveria ter tentado alterar a formula das instruções. (Talvez até o copinho que eu usei fosse um problema, o livro se referia a um copinho descartável transparente. Nunca se sabe.)

 Acordando no dia seguinte, eu estava com uma tremenda expectativa. Se eu virasse a cabeça para ver o meu copinho, eu poderia pular de alegria pelo meu feijão ter finalmente nascido, ou pular de raiva porque eu provavelmente deveria ter dado um jeito de arrumar algodão. E, para a minha surpresa, não, o feijão não tinha nascido.

 Com um gesto quase involuntário, eu levantei e me me atirei no chão onde estava o copinho.

– Por que você não cresce?!– Gritei

 No mesmo instante, Lápis apareceu na porta do celeiro com uma expressão de curiosidade no rosto.

– O que houve dessa vez, Peridot?– Perguntou Lápis, com um sorriso leve – Está tentando cantar de novo?

– Eu plantei uma semente terráquea nesse copo, mas ela não quer nascer – Falei erguendo o copo e, por acidente, derramando toda a terra úmida no chão.

 Lápis olhou para aquela terra esparramada do meu lado e, se aproximando interessada, se agachou e pegou a semente suja com a ponta dos dedos.

– Essa é a, como chamou? Semente?– Perguntou, me mostrando o torrãozinho.

– Sim, eu tive um trabalhão para achar ela no meio da grama.

– Peridot, não sei como te explicar, mas isso é uma pedrinha – Disse ela limpando o pequeno grão com dedos – E pelo que sei, pedras não viram plantas. Não viram nada, na verdade.

 A forma como Lápis me olhou parecia risonha e quase surpresa. Eu havia tentado plantar uma pedra.

***

 Lápis Lazuli já parecia estar pegando um pouco mais leve comigo. Ao invés de ter deixado ela irritada como quando tentei cantar, eu consegui fazer ela esboçar um leve e animado sorriso por ter falhado na missão de plantar uma simples mudinha. Isso, embora eu estivesse um pouco desanimada por ter passado trabalho a toa, fez eu me sentir mais tranquila sobre a convivência no celeiro. Ainda que Lápis estivesse sozinha no topo do silo, eu sabia que cedo ou tarde nós acabaríamos nos dando bem.

 No dia seguinte ao da minha desistência da ciência botânica, eu resolvi que treinaria só mais um pouco de ukulele e que iria gravar uma fita com a música "paz e amor" para mandar para o Steven. Depois de ter treinado bastante e passado muitas horas cantando baixinho para não atrair a atenção de ninguém, eu finalmente iria mostrar que estava me saindo bem na arte da música.

 Após mais uma manhã tranquila de sono, eu acordei cheia de entusiasmo e a primeira coisa que fiz foi pegar o ukulele e me sentar do lado de fora do celeiro. Eu tomei cuidado para afinar o som das cordas, em seguida treinei um pouco a posição dos dedos e, por fim,  vi o melhor volume de voz que poderia usar.  E então, tomando um pouco de fôlego, comecei a cantar alto para que até os passarinhos pudessem me ouvir.

Enquanto cantava, até eu me surpreendi por estar conseguindo fazer tudo certo. Minhas mãos deslizavam suavemente pelo braço do instrumento e a minha voz parecia se encaixar perfeitamente com o ritmo e os acordes. No final, eu fiquei tão animada que acabei fazendo algumas notas altas de mais, e Lápis de repente surgiu do meu lado com uma expressão estranha no rosto, me fazendo perder o compasso da música.

– Err... Oi – Disse ela – Eu ouvi você cantando e fiquei curiosa para ver, você está tocando muito melhor.

Então eu entendi aquela expressão, parece que havia conseguido chamar a atenção dela. Porém, dessa vez, de um jeito agradável.

– Obrigada... – Respondi, insegura – Eu sabia que ia conseguir.

– Por favor, toque de novo para eu ver.

– Err... tudo bem – Respondi, me preparando para tocar.

Na hora, confesso que fiquei com medo de tocar e me embolar de novo como da primeira vez que tentei mostrar a ela. Mas eu consegui tocar perfeitamente e errei apenas em uma parte no meio que, por um minuto esqueci qual era o acorde. Quando terminei o refrão, Lápis parecia muito animada e se pôs a aplaudir com um sorriso agradável no rosto. Eu me senti muito feliz com isso e logo me passou pela cabeça que seria uma boa hora para gravar a música.

– Ei, você quer gravar essa música comigo para mostrar ao Steven?– Indaguei

– bem... – Ela hesitou – é melhor não, eu não sei tocar nada.

– Vamos, Lápis – Insisti – Você pode me acompanhar com uma batida. Acho que tenho algo aqui que você pode usar.

Eu fui até o velho baú do celeiro e encontrei embaixo de uma lona atrás dele alguns instrumentos musicais que nem imaginava estarem ali. Tinha uma gaita de boca, um banjo e um pandeiro. Esse último eu pensei na mesma hora que Lápis poderia tocar tranquilamente e ainda ficaria bonitinho na música. Então voltei, entreguei a ela e preparei o gravador.

– O ritmo é assim – Comentei fazendo o acompanhamento no ukulele – É só você fazer uma batida que se encaixe.

Lápis tentou acompanhar e estava indo muito bem, então eu mostrei que ia ligar o gravador e fiz sinal para começarmos a tocar.

No início, Lápis parecia um pouco tímida e apenas fazia uma batida leve enquanto eu cantava. Eu estava tentando tocar devagar para nenhuma de nós se perder, mas quando cheguei no refrão, acabei me empolgando e comecei a tocar mais rápido e cantar mais alto. Na mesma hora, Lápis esboçou um sorriso mais confortável e passou a fazer uma batida mais animada. 

 Nós duas estávamos tocando bem juntinhas e tudo estava se encaixando perfeitamente, até que, ao chegarmos em outro refrão, Lápis se pôs a cantar também. É algo difícil de explicar, já que eu não esperava que fosse acontecer, mas a voz dela era tão doce e melódica que dava um tom totalmente novo à música. Além de ser um ritmo animado com uma letra de amor à terra, agora tinha um toque de emoção de alguém que quer amar, mesmo que sinta medo. Logo em seguida, chegando ao final da música, nós começamos a tocar mais devagar e a cantar o último refrão juntas.

 Aquele momento foi simplesmente o melhor de toda a música. Nossas vozes pareciam se encaixar perfeitamente e davam o último toque de emoção a todo aquele belo conjunto. Quando terminamos, eu havia até esquecido de desligar o gravador. Meus olhos se colaram aos de Lápis e dava para sentir as minhas bochechas queimarem. Ela pareceu corar um pouco e em seguida disse.

– Acho... que nos saímos bem – Lápis esboçou um sorriso tímido, que apenas acentuava a nova cor do seu rosto.

– Também... Acho – Falei, também um pouco tímida.

– Acho que vou voltar para o silo agora – Disse se virando e se preparando para voar – Mas eu gostei de cantar com você.

– Eu também – Comentei, lembrando do gravador e desligando-o.

 Steven sem dúvida ia adorar ver como nós duas estávamos tocando, e também como estávamos quase conseguindo nos tornar amigas.

 



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