Sexta-feira – 02:43
Ele ainda me olhava sério, com aqueles olhos azuis que acabaram sendo minha perdição. Eu sabia que eu devia evitá-los a qualquer custo, eu sabia que no fundo isso poderia ocorrer novamente. Mas o que eu não esperava era minha reação, era esse arrebatamento, era esse beijo, eram minhas pernas que ainda tremiam e aquela proximidade do corpo dele ao meu.
- Théo... – eu disse respirando profundamente.
- Me desculpa Thor – ele dizia ainda me encarando – eu não tinha o direito de fazer isso, mas eu precisava saber. Eu precisava tirar a dúvida da minha cabeça. Eu tinha que saber se tudo que eu me lembrei daquele porre era verdade ou não.
- Como...como assim? – eu franzia a testa surpreso.
- Thor, eu...quando eu te beijei, foi diferente de tudo. Eu sei que eu não tenho o direito de te colocar nessa situação, mas eu precisava ter certeza que não era uma coisa da minha cabeça.
- Théo, você tem noção do que você fez? Você me beijou na frente de um monte de gente. E você já me socou por menos... – eu disse me retraindo contra a parede.
- Você realmente tem medo de mim – ele balançava a cabeça desconsolado – eu acho melhor...melhor eu ir.
- Eu não tenho medo de você Théo – o olhava sério – mas minha situação não é fácil Você é meu primo porra, eu moro na casa dos teus pais. Você acha que eles aceitariam isso?
- Eu não me importo com o que eles pensam ou não – ele me encarava sério – eu precisava saber, eu não bebi nada hoje e mesmo assim...mesmo assim eu senti... – ele olhava para baixo envergonhado.
- Sentiu o que?
- Eu não sei explicar, esse é o problema porra – e ele socou a parede ao meu lado, ele parecia perdido.
- Olha, eu acho melhor eu ir pra casa...Amanhã a gente conversa – e eu ia saindo da parede quando ele me segurou.
- Eu te levo – ele disse sério – por favor...
- O...okay – gaguejei – mas preciso avisar a Isa...
Olhei em volta para ver se a encontrava e para minha surpresa ela estava a alguns passos ao lado só observando toda a cena com o canudinho do drink na boca e olhos arregalados. Eu não sei há quanto tempo ela estava nessa pose, mas ela parecia uma estátua. Fui até ela e ela sorriu, não entendi bem, mas achei melhor do que se ela começasse a gritar comigo.
- Então... – ela disse quando eu cheguei perto -...o que foi isso exatamente?
- Não faço idéia – eu disse sério – mas eu prefiro ir embora e o Théo quer me levar.
- Aaaah, já estão assim então? – ela ria.
- Isa, para... – eu balancei a cabeça – isso é loucura! Mas eu preciso conversar com ele faz tempo.
- Isso é verdade, mas, por favor, me prometa que se ele te bater você vai revidar? – e ela piscou.
- Pode ter certeza – a abracei apertado e saí.
Théo me esperava no mesmo lugar, assim que cheguei ele começou a andar e me guiar para onde ele havia estacionado o carro dele. Fomos atravessando a festa devagar e eu notei como os lugares que ele havia me tocado pareciam queimar. Minha boca estava toda pulsando e eu conseguia sentir ainda o gosto dele em mim. Aquilo era muito errado. Porra, eu não posso me apaixonar, não por ele.
Ao chegar no carro dele Théo entrou e eu entrei em seguida. Aquele perfume forte entrou por entre minhas narinas e eu me lembrei de como eu poderia segui-lo pelo cheiro. Eu to fodido. Ele ligou uma música em tom mais baixo e ficou me olhando enquanto eu colocava o sinto.
- Me perdoa pelo soco? – ele disse colocando a mão no meu braço
- Théo, você tem noção do tanto que eu fiquei mal com tudo que aconteceu? – eu disse sério encarando ele.
- Eu tenho uma idéia. Você fugindo de mim ou não olhando na minha cara estava me matando.
- Théo, nós somos primos mano. E homens – eu ainda o olhava fixamente.
- Eu sei de tudo isso Thor, eu pensei em tudo isso.
- Porque você me seguiu até aqui hoje? – eu usei as palavras da Isa de propósito.
- Eu...eu não sei. Eu achei que você não fosse vir, e quando te vi na porta com a Isa eu...eu achei errado – ele olhava envergonhado para frente.
- Errado? E me beijar é certo?
- Pelo que eu senti, eu diria que sim... – ele disse me encarando sério.
Eu o olhava com a boca aberta. Nunca, jamais em minha vida eu o imaginaria falando algo assim. Eu não queria me envolver ainda mais com isso, mas ele parecia ter certeza que aquilo era o certo. Ele não pensa em tudo que pode acontecer? Em todos os problemas que isso pode trazer pra mim ou pra ele? Ele só pensa no que ele sentiu?
- Você não sentiu o mesmo? – ele me pegou de surpresa novamente.
-Eu...erm... – eu virei o rosto envergonhado.
- Thor? – ele segurou meu braço chamando minha atenção.
- Não Théo, me desculpa...mas não – eu disse e agradeci quando minha voz não tremeu.
Eu sabia que aquilo era uma mentira monstruosa. Era capaz de eu ter sentido muito mais coisas que ele, mas aquilo não era certo. A gente não podia simplesmente ter um relacionamento. Por mais que eu viajasse quando o beijava. Por mais incrível que fosse. Aquela não era a rota mais fácil, e eu não queria problemas. Eu não podia simplesmente chegar na casa dos meus tios e causar toda essa mudança. Namorar meu primo...não, não era certo. Mesmo que eu sentisse que era.
- Porque eu tenho a impressão que você mente? – ele disse pro nada e saiu com o carro.
Eu não respondi nada, fiquei calado até chegarmos em casa. Ele saiu calmamente do carro, me esperou descer e abriu a porta pra gente entrar. Ele ainda me olhava de relance, mas eu achei melhor não prolongar a conversa. Não hoje. Ele subiu na minha frente e quando abriu a porta do quarto dele olhou pra trás.
- Boa noite Thor, dorme bem.
- O...obrigado – eu respondi com a testa franzida em surpresa – você também.
QUE PORRA É ESSA? Foi meu primeiro pensamento ao fechar a porta do meu próprio quarto. Ele me deseja uma “boa noite” e meu coração sai disparando assim, do nada? Merda, merda, merda, merda. Decidi ir tomar um banho quente para aliviar minha cabeça e tentar dormir. A água quente realmente me acalmou, mas minha mente ainda repassava vários acontecimentos. E minha boca ainda pulsava levemente. Deitei na cama e apaguei lembrando o beijo mais uma vez.
Sexta-feira – 10:22
Acordei com batidas na minha porta. Não sabia exatamente o quanto eu havia dormido, só lembrava que não tinha aulas. E daquele beijo, que vai me assombrar pelo resto da vida pelo jeito.
- Entra – eu disse sentando na cama enquanto a porta abria.
- Você pretende dormir até que horas? – era Théo, só de shorts.
- Eu...eu não sei que horas são. O almoço já ta pronto? – eu perguntei tentando saber se dormi demais.
- Não, ainda são dez horas. Mas como somos os únicos em casa eu tava pensando em fazer um café pra gente, tudo bem pra você? – ele levantou a sobrancelha.
- Tudo...se quiser eu te ajudo – disse surpreso.
- Então vem – ele disse acenando com a cabeça.
- Já...já vou. Eu vou escovar os dentes e desço – eu disse saindo da cama enquanto ele me analisava.
Théo saiu deixando a porta aberta e eu fui para o banheiro. Meu olho ainda roxo porém parecia um pouco melhor, não estava mais inchado e aos poucos eu notava que o roxo ia virando algo mais claro nas extremidades do hematoma. Escovei os dentes e decidi nem mexer no meu cabelo, seria impossível arrumar ele sem um banho. Desci as escadas alguns minutos depois e escutava o Théo fritando alguma coisa no fogão.
- Que que você ta fazendo? – eu disse entrando na cozinha e vendo ele no fogão.
- Ovo mexido – ele virou a cabeça em minha direção – você gosta?
- Sim... – a mesa já estava arrumada – você me disse para ajudar, mas você já arrumou tudo?
- É, faltava só fazer o ovo, então decidi te chamar – ele olhava novamente para o fogão.
Eu fiquei grato dele estar concentrado no fogão e não ver minha cara de espanto. Ele praticamente tava fazendo café da manhã pra gente, ele foi me acordar...Que que tá acontecendo aqui? Eu decidi não ficar me torturando com esse tipo de pensamento.
- Bom, vou fazer um café então – eu disse indo pegar a garrafa térmica.
- Okay, as coisas ficam naquele armário – ele disse apontando o dedo.
- Obrigado, você gosta de café adoçado ou sem açúcar – eu me sentia estranho ao fazer esse tipo de pergunta.
- Pode ser adoçado se você souber fazer – disse enquanto mexia os ovos.
Eu sabia, se tinha uma coisa que eu havia aprendido a fazer com a minha mãe era café. Organizei tudo que eu ia usar e fui colocar água para ferver no fogão, que ainda estava ocupado pelo Théo. Dei a volta onde ele estava e coloquei a água em outra boca do fogão. Antes que eu abrisse a boca ele acendeu o fogo pra mim e ficou me olhando quando eu levantei o olhar surpreso.
- Obrigado – murmurei sem jeito.
- Não tem de quê – ele me deu um sorrisinho e eu fiquei vermelho.
Ele terminou os ovos e os colocou em um prato na mesa enquanto lavava as coisas que havia sujado. Eu ainda esperava a água do café ferver, encostado no balcão ao lado do fogão. Notei quando ele abriu a torneira e acabou espirrando água demais em si mesmo. E então seu corpo entrou na minha mente. Eu reparava em todos os músculos do seu peito e em como seus braços eram fortes. Nada era exagerado, mas ele realmente tinha um corpo lindo. Desviei o olhar e os pensamentos antes que ele notasse.
Terminei de fazer o café logo depois que ele se sentou na mesa. Coloquei a garrafa térmica na mesa e me sentei de frente para ele. Me servi dos ovos e de umas torradas e também do café que eu havia preparado. Ele esticou o braço tatuado segurando uma xícara na mão indicando que também queria café e eu o servi.
- Nossa – disse ele bebendo o café – que delícia, parece o café da tia.
- É porque eu aprendi com ela... – eu disse levantando uma sobrancelha.
- Faz sentido – ele riu e eu senti o clima ficar mais leve.
- Os ovos mexidos também estão muito bons – eu disse sincero.
- Valeu, não sei cozinhar muita coisa.
- Sei como é...
- Eu queria te pedir desculpas...Por ontem, e pelo soco e por tudo mais – ele me olhava sério e eu notava seu rosto ficando vermelho.
- Théo...tudo bem, não se preocupa. Mas eu gostaria que você entendesse que essa situação é bem complicada para mim.
- Thor eu sei o que eu senti quando te beijei – ele disse sério – mas eu não vou e não quero forçar ninguém a nada... okay?
- O... okay! – eu disse sentindo meu rosto esquentar.
Ele não vai me forçar, isso quer dizer que ele entende não é? Isso quer dizer que a gente vai continuar sendo somente primos e acaba por aí? Sem complicações, como eu queria. Como eu queria. E nessa hora eu o via lambendo levemente seus lábios para tirar um pouco de café que havia no canto da boca. Como eu queria...Porra para de pensar nisso seu imbecil.
- Você ta afim de fazer algo hoje? – ele me perguntou do nada.
- Não sei, como assim?
- A gente podia ir nadar, o dia ta gostoso – ele olhava pela janela da cozinha e a luz do sol fazia seu olho brilhar.
- Tudo bem. Que horas?
- Mais tarde, depois do almoço.
Terminamos o café concentrados em comer. Como ele havia arrumado tudo eu disse que a louça era minha e que ele tava liberado. Ele me olhou surpreso, mas não fez objeção. Não gosto de pesar em cima de ninguém. E ele tava sendo bacana, notei que talvez o café fosse mais um pedido de desculpas do que outra coisa. E me achei idiota por pensar que ele talvez quisesse me fazer uma surpresa. O que ta acontecendo comigo?
Eu ainda lembrava de todas as sensações da noite passada, mas escolhi negá-las. Uma hora elas sumiriam. Teriam que sumir. Seria melhor assim, pensei enquanto lavava um prato. Foi quando eu me lembrei daquela manhã em que ele sonhava e me abraçava e um arrepio subiu por minha coluna. Me concentrei na louça. Era a melhor coisa que eu podia fazer no momento.
Quando o almoço chegou, desci do meu quarto e almocei com meus tios e meus primos como se nada tivesse acontecido. Passei mais um tempo no meu quarto após o almoço lendo meu livro quando alguém bate na porta.
- Entra – eu disse abaixando o livro.
- Você vai ir nadar? – Théo me perguntava.
- Vou, preciso colocar minha sunga – disse me levantando.
- Espero você lá na sala então.
Coloquei minha sunga, um shorts largo de jogador e uma regata. Peguei meu óculos de sol, um protetor e desci. Nós fomos no carro do Théo até a piscina do condomínio. Estava praticamente vazia, só havia um senhor nadando quando chegamos. Entramos nos vestiários e eu tirei a camiseta e o shorts ficando de sunga. Quando olhei para o lado percebi que o Théo havia tirado a camiseta e me olhava. Colocamos nossas coisas nos armários e eu passei um pouco de protetor no rosto, nos braços e no peito. Eu era muito branquelo e queimadura de sol era algo foda pra mim.
- Você quer que eu passe nas suas costas? – ele disse sério.
- Erm...acho que não precisa – eu disse franzindo a testa.
- Não precisa ou você está com medo?
- Okay...se você puder fazer o favor – eu disse passando o protetor pra ele e virando de costas.
Ele então colocou o protetor direto na minha pele, a sensação gelada foi estranha. Então vieram as mãos quentes dele. Essa sensação não era estranha, pelo contrário minha pele a conhecia muito bem. Ele espalhava o protetor de forma calma e passava suas mãos por minha costa. Eu fechei os olhos e tentei me concentrar que aquilo não era nada demais, sem sucesso. Quando ele passou as mãos nos meus ombros e na parte de traz do meu pescoço eu soltei um suspiro baixo, ele parecia me fazer relaxar só com as mãos.
A ação deve ter durado um minuto no máximo, mas foi o suficiente para me deixar corado. Sentia meu rosto esquentando e quando me virei notei que ele tinha uma expressão estranha no rosto, parecia encabulado e olhava para baixo me entregando o protetor. Foi então que notei que talvez a sunga dele estivesse um pouco mais apertada do que deveria. Desviei o olhar e tenho certeza de ter ficado ainda mais vermelho. Ele estava ficando excitado?
- Vamos – ele me disse com a toalha nas mãos na frente do corpo.
Eu o segui e ficamos um bom tempo sentados só conversando sobre besteiras. O dia estava bem quente e abafado e eu notei que tanto eu quanto Théo estávamos suados. Decidi cair na piscina para me refrescar. Agora a piscina era praticamente só nossa.
- Eu vou entrar – disse ficando de pé – você vem?
- Vai lá depois eu vou.
Pulei na água, estava agradável, nem muito gelada nem quente. Nadei um pouco pra lá e pra cá e até me esqueci que o Théo estava ali sentado na espreguiçadeira. A piscina do condomínio era bem grande. E em uma das extremidades era até que bem funda, pois tinha um trampolim de dez metros de altura. Não eram todos que o usavam e eu com medo de altura jamais me arriscaria. Saí da água depois de um tempo e fui deitar na outra espreguiçadeira.
Notei que ele me olhava quando deitei ali ao lado dele. Continuamos conversando sobre coisas aleatórias. Descobri o nome de algumas daquelas bandas que estavam no quarto dele e que ele havia ido em shows da maioria. Era ótimo poder falar sobre esse tipo de coisa com ele, o clima parecia mais leve. Quando ele levantou dizendo que iria pular na piscina eu acenei com a cabeça e fiquei ali deitado.
Théo então fez uma coisa que eu não esperava. Ele começou a subir no trampolim e meu coração gelou. Ele iria pular lá de cima? Eu entrava em desespero só de pensar. Pra mim aquilo era muito alto. E muito arriscado. Ele continuava a subir e eu o olhava sem piscar. Chegando no topo ele simplesmente se jogou lá de cima em um mergulho. Quando emergiu estava do outro lado da piscina, ele deveria ser acostumado a fazer isso. Mas o problema maior foi a hora que ele saiu da piscina na frente das espreguiçadeiras.
Eu conseguia ver como se em câmera lenta os músculos do braço dele fazendo esforço ao içá-lo para fora da água. Seu peitoral e barriga e aquela sunga, molhados. O cabelo jogado para trás e aqueles olhos que por causa da água estavam ainda mais azuis. Ele caminhou na minha direção e eu via suas coxas e suas panturrilhas se mexendo como se em uma aula de anatomia. Eu olhava tudo.
- Você ta bem? – ele me disse quando sentou
- Sim... – eu agradecia por estar de óculos escuros – eu me assustei com você pulando lá de cima.
- Ah é, você tem medo de altura né – ele sorria.
- Medo não, fobia.
- Por quê? – ele me perguntava ainda sentado olhando pra mim agora com a testa franzida.
- Erm...é uma lembrança difícil... – eu disse tirando óculos e olhando pra ele – se você prometer não rir eu te conto.
- Prometido.
- Quando eu tinha uns dez anos havia um grupo de garotos que pegava muito no meu pé. Eles enchiam meu saco quase todos os dias na escola. E um dia ajudei um amigo contra dois deles. E eles decidiram que seria uma boa idéia me pendurar do segundo andar da escola de cabeça pra baixo, segurando meus pés. – Théo me olhava sério com a boca entreaberta – Se um dos professores não tivesse aparecido e ajudado eles a me por de volta eu teria caído de cabeça no meio do pátio.
- Caralho, que merda – ele disse indignado – aconteceu alguma coisa com eles?
- Foram suspensos por quase um mês, mas depois nunca mais me encheram o saco. Então acho que até foi uma coisa boa, porém toda vez que eu olho de lugares altos eu ainda consigo sentir como se alguém segurasse meus tornozelos e tudo vira um borrão.
- Você sabe que você é maior que isso né? – ele colocou a mão em meu ombro – Um dia vai superar. Se quiser ajuda, você pode pular comigo – ele dizia sorrindo.
- Obrigado – eu disse sorrindo de volta – mas acho que eu ainda não to pronto, é mais forte do que você imagina.
- Se você diz, eu já disse que não vou te forçar a nada – ele se deitou na espreguiçadeira.
Ficamos ali por mais uma hora até que o sol começou a se por. Voltamos para casa que ainda estava estranhamente vazia e eu decidi ir tomar um banho. Tirei a minha roupa e quando eu tava quase tirando a sunga me assustei com alguém na porta.
- Meus pais não vão voltar tão cedo – ele ia dizendo olhando pro chão – e minha irmã vai passar o fim de semana na casa de uma amiga. Você quer pedir alguma coisa pra comer?
- Eu... – disse olhando pro Théo – pode ser. O que você quiser está bom.
- Tudo bem, mais tarde a gente liga e pede algo.
Quando ele saiu e fechou a porta eu finalmente entrei no chuveiro. Tinha sido uma tarde gostosa, tirando o fato de que eu estava reparando demais no Théo e em seu corpo pra ser mais exato. Enquanto a água quente caía sobre meu corpo eu me dei conta que a gente passaria a noite praticamente sozinhos em casa. Achei melhor parar por aí pra não imaginar mais nada do que pudesse acontecer. Ele havia dito que não me forçaria, mas e eu? Você também sabe bem o que sentiu quando o beijou, pensei embaixo d’água.
A noite estava indo bem, Théo estava no quarto dele e quando eu cansei de ficar no meu decidi descer e assistir algum filme na TV. A última vez que fiz isso terminou num episódio desagradável, mas hoje acho que nada demais aconteceria. Deitei no sofá e liguei num canal aleatório, fiquei um tempo procurando alguma coisa que me interessasse, mas sem sucesso. Meu estômago estava começado a acordar e achei que era melhor falar com Théo pra gente pedir alguma coisa.
Subi as escadas e quando cheguei no quarto dele bati na porta. Nenhuma resposta. Bati mais algumas vezes e nada. Vai ver ele está dormindo, pensei. Abri a porta devagar pra não acordá-lo assustado, mas quem ficou assustado fui eu. Théo estava de costas para a porta sentado na cadeira na frente de seu notebook, sem camiseta e com os shorts arriado até os pés e pela movimentação frenética ele só podia estar se masturbando. Ele usava fones e assistia alguma coisa que eu não conseguia ver.
Eu fiquei paralisado segurando a porta aberta, assim como minha boca. Ele gemia e eu podia ver os músculos de suas costas e seus braços se mexendo. Antes que eu pudesse fechar a porta e sair sem que ele me notasse ele gozou. E eu sei disso porque o gemido dele era rouco e longo, sua respiração estava acelerada e ele parou de se mexer. Foi quando ele se virou ainda sentado para pegar algo com o que se limpar que ele me viu.
- Você tava me assistindo? – ele perguntou com a testa franzida em surpresa.
- Não...quer dizer, foi sem querer... – eu olhava para baixo envergonhado -...eu ia te dizer pra gente pedir algo logo porque eu to ficando com fome e eu bati na porta várias vezes e você não respondeu, então eu abri a porta achando que você estivesse dormindo...e...e me desculpa. Eu não queria...eu não vi nada.
- Tudo bem – ele tinha um sorriso no canto da boca – se você me der licença eu já desço e a gente pede, okay?
- Okay... – e fechei a porta o mais rápido possível.
Desci a escada correndo e sentei no sofá. Puta que pariu, que merda, porque esse tipo de coisa continua acontecendo comigo. Liguei a TV novamente e fiquei ali esperando ele descer. Não demorou muito e Théo estava sentando do meu lado no sofá, como se fosse começar a rir a qualquer momento. Eu fiquei calado, não queria passar ainda mais vergonha.
- O que você acha da gente pedir um Yakisoba – ele disse meio vermelho.
- Pode ser, eu disse que o que você quisesse tava bom.
- Vou ligar lá e a gente espera aqui na sala – ele saiu e foi até o telefone.
Enquanto Théo ligava eu fiquei assistindo TV, a cena ainda estava na minha mente e por mais que eu quisesse esquecer eu não conseguia. PORRA. Meu celular vibrou enquanto eu procurava alguma coisa que prendesse minha atenção. Era uma mensagem de uma ex-namorada que havia se tornado minha amiga. Eu ri das coisas que ela estava falando e Théo sentou do meu lado.
- O que foi? – ele me perguntou olhando pro celular.
- Ah, nada. Uma amiga que me mandou mensagem contando algumas coisas – eu olhava pra ele.
- Hum...amiga? – ele disse franzindo a testa.
- Ela já foi minha namorada, mas hoje é só amiga mesmo. Ela me lembra um pouco a Isa – eu disse pensativo.
- Você devia ser cheio das namoradas lá né – ele disse rindo e colocando os pés na mesa de centro.
- Nem tanto, tinha muitos amigos. Algumas ficantes, mas namoradas mesmo foram só duas. E essa é a única que eu ainda converso – eu também ri – e você muitas namoradas além da Isa? – eu não ia deixar barato.
- Como é que você sabe? – ele me olhava com a testa franzida mas rindo.
- Ela me contou...
- Filha da puta, eu imagino as coisas que ela te conta – ele balançava a cabeça em negação.
- Nada demais. Ela é sua amiga há muito tempo e só me conheceu há alguns dias.
- Mas porque ela te contaria isso – ele ainda me olhava franzindo a testa.
- Porque eu... – ai eu me lembrei do fora que eu havia dado – porque eu dei um fora com ela.
- Como assim? – ele se arrumou no sofá me olhando melhor.
- Eu...eu achei que ela fosse sua namorada porque ela te deu um selinho. E perguntei sobre e ela riu e disse que já havia sido, mas que hoje em dia “só rolava uns beijos”.
- Puta que pariu – ele ria – a Isa é foda.
- É, ela é mesmo...
- Mas porque você queria saber se a gente namorava? – agora ele estava mais sério e me olhava com os olhos estreitos.
- Já te disse, por causa do selinho.
- Só isso? – ele franzia a testa – Então você tá de olho na Isa?
- Não...não é isso – eu não podia falar que era mais nele que eu pensava do que nela.
- Hum... – ele parecia sorrir – eu perdi minha virgindade com ela.
- Erm...é...sério? – eu disse ficando envergonhado, não tinha perguntado nada disso.
- Sério, ela é especial pra mim.
- É eu imagino...
- E você, com quem foi? – ele me olhava novamente sério.
- Minha virgindade? Hum...eu não cheguei a transar, digamos assim – eu devia estar da cor do meu hematoma.
- Como assim? – ele me olhava espantado
- Eu só cheguei até o sexo oral – eu disse olhando o chão – meus namoros não duraram muito e eu não queria forçar nada.
- Você...você é realmente virgem? – ele tinha a boca entreaberta.
- É o que eu acabei de te dizer – o censurei com o olhar.
- Porra, eu perdi a minha com 15 anos e achei até que tarde – ele não ria mas parecia realmente chocado.
- Dá pra parar de tirar sarro da minha cara?
- Não...não é isso. Eu realmente achei que você não fosse mais virgem...
- Mas eu sou e eu não vejo nada demais nisso – disse olhando pra TV.
- Não, não é um problema. Me desculpa.
- Sei lá, eu quero que seja realmente especial sabe. Agora pra me lembrar sempre.
- Você está certo – ele sorria enquanto me encarava – tenho certeza que vai ser.
- Você ainda não me respondeu se houve mais namoradas além da Isa... – eu disse mudando de assunto.
- Ah...só mais uma também, mas durou bem pouco. E depois só umas ficantes.
Nós ficamos assistindo um desenho animado que passava que era totalmente retardado, ríamos e ficavamos conversando sobre o que aquilo significava. Foi tão divertido que a gente nem viu a hora passar e o yakisoba logo chegou. O Théo havia pedido duas embalagens individuais e dois refrigerantes. Os malditos hashis estavam lá novamente.
- Você quer um garfo? – ele falou sério.
- Não, vou tentar novamente – eu ri.
Mesmo tendo alguma dificuldade eu me saí bem melhor que da última vez, mas ainda assim precisei de uma ajuda para encaixar os hashis nos dedos. Comemos ali mesmo no sofá, tomando o maior cuidado possível, enquanto assistíamos a mais um episódio do mesmo desenho sem nexo. A companhia dele era outra coisa nesses últimos dias. Eu só esperava que ele não mudasse pro outro extremo logo em seguida.
- Você tá afim de jogar um pouco? – ele me disse quando voltou da cozinha.
- Video-game? – eu perguntei espantado – Você tem
algum?
- Tenho sim, vou buscar as coisa espera aí.
Ele subiu as escadas e eu fiquei ali esperando, não sabia que ele tinha um video-game. Ele não parecia exatamente o tipo que gostava tanto de games como quando era criança. Mas curti bastante a idéia, jogos de luta sempre foram nossas favoritos. Ele voltou trazendo um PS4 e controles e cabos. Eu já estava super animado.
- Que que a gente vai jogar? – ele disse enquanto montava tudo.
- Tem luta? – eu disse sorrindo.
- Sabia... – e ele ria.
- Ué, você sempre apanhou de mim nos jogos. Na vida real era eu que apanhava. Vamos ver se pelo menos nos jogos eu ainda continuo melhor.
- Eu... – ele parecia sério, e foi quando eu me dei conta do que tinha dito.
- Foi mal Théo, eu não quis te culpar nem nada, monta logo isso aí – eu sorria.
Ele terminou e me entregou um controle enquanto sentava do meu lado. Ele sentou perto e eu sabia o porque. Ele ia me dar cotoveladas enquanto a gente lutava como ele sempre fez e por um momento eu sorri daquilo, ele iria levar um pau e tanto. Escolhemos um dos jogos de luta da nossa infância, porém muito mais bem feito. Era impressionante a imagem naquela TV de cinquenta polegadas.
Começamos e como eu havia predito não demorou muito para ele começar a querer me atrapalhar enquanto eu jogava. E eu revidava de maneira ainda mais rápida. A primeira partida foi fácil demais, ele não teve chance. Ele me olhava rindo. Jogamos mais algumas tantas partidas e ele não conseguiu ganhar nenhuma. Até que lá pela décima partida ele havia quase ganhado e eu virei no último momento da luta de desempate.
Eu ria demais e ele partiu pra cima de mim me xingando de várias coisas absurdas enquanto me dava alguns socos no ombro. Ele não estava sendo violento, mas estava agindo como meu primo de anos atrás. Ele estava em cima de mim me socando e me xingando e eu continuava a rir. Théo cansou e começou a rir também olhando pra minha cara, e eu me afundei no azul daqueles olhos novamente.
Ele deve ter percebido que eu parei e fiquei olhando para ele fixamente porque ele foi se aproximando, apoiado com sua mão em meu peito e quando ele estava próximo ao meu rosto eu não consegui me segurar e o beijei. Ele recebeu minha boca de forma quente e acariciava minha língua como ninguém havia feito. Era como se a gente soubesse exatamente o que o outro queria. Seus lábios eram macios e eles roçavam gentilmente nos meus.
Ele deitou em cima de mim com seu peito e eu sentia seu peso e o calor da sua pele. Eu afundava no sofá e me sentia perdido. Ele continuava me beijando e eu querendo cada vez mais. Ele mordia meus lábios levemente e eu gemia e isso parecia deixá-lo ainda mais voraz. Ele apertava suas mãos em meu rosto, meu pescoço e muitas vezes explorava meu peito e minha barriga.
Quando ele colocou a mão por dentro da minha camiseta e percorreu com os dedos minha pele nua eu me curvei todo enquanto ele me beijava, como se ele controlasse meu corpo através do toque. Ele gemia baixo por entre o beijo e me arragava mais. Eu não queria sair daquele sofá nunca mais. Ele então me puxou e eu deitei junto com ele, nossos corpos se tocando quase que por inteiro e ele fazia questão de roçar suas coxas em minhas pernas.
Minhas mãos percorriam seu peito e seus braços até que eu decidi colocar uma mão por baixo de sua camiseta como ele fazia comigo. Ele gemeu e eu continuei percorrendo todos os músculos dele, seus mamilos, seu peito e continuava a beijar aquela boca quente sem parar um minuto. Foi quando ele me abraçou apertado e eu pude sentir sua ereção contra a minha própria. Eu estava muito quente e não conseguia pensar em mais nada além daquela boca e em suas mãos que me faziam arrepiar.
De repente escutamos um carro parando em frente de casa. Théo me soltou e me olhava assustado. Só podiam ser meus tios. Eu me sentei rapidamente e ele também. Eu o olhava sem saber o que pensar ou falar, decidi ir para o quarto. Quando meus tios abriram a porta eu já subia as escadas sem dizer nada para o Théo. Era por isso, exatamente por isso que você não podia beijar ele, seu imbecil.
Deitei na minha cama ainda com o coração disparado, já não sabia se era pelo beijo ou pelo susto ou pior ainda pela culpa. Meus tios podiam ter visto uma cena e tanto, ou minha prima. Aquilo não podia acontecer. Porque você beijou ele? Porque? Porque tem que ser tão bom? Mais uma vez os pensamentos me assombravam, mas como estava cansado pelo dia acabei dormindo sem muita demora.
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