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História Speechless. (Sooshu) - Nineteen


Escrita por: cakkenutshell

Capítulo 19 - Nineteen



- Vocês têm certeza que não querem ficar mais um pouco? - Soojin revirou os olhos, discretamente. - Oras, por favor, Soojin! Shuhua, eu vou fazer aquela torta que você gosta! - a mais velha apelou para a taiwanesa sentada no carro, que repreendia um sorriso, olhando para a feição impaciente da Seo mais nova.

A mãe da coreana insistia desde a hora que acordaram, para que ficassem por mais alguns dias até o dia da viagem.

- Mamãe, se dependesse de mim, eu até voltava para casa e a senhora sabe disso. - Soojin segurou a mão da mais velha, beijando em seguida. - Mas a gente realmente precisa ir.

Shuhua parou de prestar atenção na conversa que as duas tinham na porta dos Seo, seu olhar se perdeu no corpo da mais alta entre as três. A beleza de Soojin lhe deixava nas nuvens, o corpo esguio, as tatuagens à mostra pela regata cinza de algodão, o cabelo sedoso, a boca se movimentando devagar e o sorrisinho... céus, o sorrisinho envergonhado da coreana é a cereja do bolo; Shuhua era uma completa boba apaixonada por cada partícula de Seo Soojin.

- No que está pensando? - Soojin perguntou, passando o cinto de segurança no corpo. - Minha mãe acenou e você não retribuiu.

- Oh! - exclamou, olhando a porta e acenando afobada para a mulher, que riu e fechou a porta. - Desculpa, eu estava pensando em um filme. - mentiu. Notou que a Seo estava com uma camisa de flanela e franziu o cenho. - Quem te deu essa camisa?

- Estava no carro. - apontou para trás, após colocar o cinto de segurança. - Você está área mesmo. - riu, beliscando a bochecha da menor. - Mamãe mandou, dizendo que vai chover e não quer que eu pegue gripe. - Soojin revirou os olhos. - Vamos dar uma passada no shopping daqui? - perguntou com a típica voz baixa e suave.

- Aquele que estava em construção da última vez que vim? Já está concluído? - tinha empolgação na fala da Yeh, ela adorava shoppings.

Soojin olhou para ela, com um sorrisinho concordou com a cabeça. Shuhua lhe deu um rápido selinho, escondendo o rosto nas mãos em seguida, fazendo charme. Soojin riu.

Após algumas compras - Soojin fez questão de comprar um colar para Shuhua - e um rápido lanche no Mcdonald's, o qual Shuhua insistiu feito uma criança e Soojin não se impôs a ela, decidiram ir embora o mais rápido possível.

Na segunda noite na casa dos Seo, Shuhua não aguentava mais segurar a vontade que tinha de beijar e tocar Soojin, não podendo satisfazer seu desejo por causa da irmã mais nova, que dormia na cama ao lado. Soojin entendia a taiwanesa, pois compartilhava do mesmo sentimento, então propôs um acordo de que, assim que terminassem os três dias planejados na casa dos Seo, ficariam juntas pelo resto da noite e dormiriam no mesmo quarto.

Vendo o tempo fechado a caminho da capital, Shuhua abaixou a janela e respirou fundo, afim de sentir o cheiro de terra molhada. Quando estavam prestes a passar por um conjunto de casas, Shuhua lembrou de um comentário de Hongseok sobre aquela rodovia.

- Hongseok mora por aqui. - Shuhua disse, sem se dar conta.

- Mora?

- Quer dizer, os avôs dele moram. Ele vem todo fim de semana. - explicou rapidamente. - É aquela casa ali... a amarela, eu acho. - disse apontando, lembrando vagamente da foto que Hongseok mostrou quando estavam sentados na escadaria de cimento, logo após o jantar fracassado com Hui e Soojin.

- Quer dar uma passada? - Soojin perguntou, concentrada na estrada.

- Sério? - Shuhua estranhou; Soojin não era uma das maiores fãs de Hongseok.

Soojin não respondeu, apenas virou o volante, atravessando a terra e parando em frente a porta da pequena casa amarela, que se destacava das outras por sua altura e cor chamativa. Precisava de uma reforma; a pintura estava desgastada, faltava algumas casquinhas de madeira na porta; em compensação, tinha uma pequena e bem cuidada horta de frutas, do lado contrário ao carro estacionado.

Shuhua bateu na porta. Ninguém atendeu.

- Acho que não tem ninguém.

- Bata de novo. - Soojin sugeriu, travando o carro e passando a mão na lataria, tirando uma inexistente sujeira.

Antes que Shuhua batesse, a porta foi aberta por uma minúscula senhora de óculos meia-lua, que passou a mão no avental e ajeitou os óculos.

- Pois não?

A vozinha fininha amoleceu as duas.

- Hongseok está? - Shuhua perguntou, meio encabulada.

A senhora arregalou os olhos e sorriu, mostrando os poucos dentes que tinha.

- Está sim. Podem entrar. - disse em tom convidativo, dando espaço para elas.

- Com licença. - disseram ao entrar.

A casa tinha cheiro de pão e alfazema, além de ser bastante ventilada. Haviam cinco janelas, as quais Shuhua pode observar os vasos de flores em cada uma; o tom roxo ao fundo de uma das janelas chamou sua atenção.

- Shuhua! - Soojin a cutucou.

Shuhua piscou e voltou a olhar a senhora corcunda a sua frente.

- Sim?

A senhora riu olhando para Soojin, que sorriu minimamente com a falta de atenção de Shuhua.
- O campo de lavanda é de chamar a atenção mesmo. - disse entre risos. - Todos que vêm ficam observando.

- Foi a senhora que plantou? - Shuhua perguntou, curiosa e indiscreta feito uma criança.

- Ah, não, não, está aí desde que eu me mudei. - a idosa acenou com a cabeça e Shuhua repetiu o ato, refreando sua língua para não perguntar desde quando aquela velha morava ali.

- Ela perguntou o que somos de Hongseok. - Soojin explicou.

Shuhua franziu o cenho; como ela deixava qualquer um entrar na casa dela sem perguntar quem é antes?

Olhou para Soojin, que retribuiu o mesmo olhar; pensaram a mesma coisa quanto a segurança da idosa.

- Amigas. Somos cantoras da mesma empresa.

A senhora arregalou os olhos.

- Me perdoem, não reconheci vocês. - disse atrapalhada ao fazer uma reverência.

- Não, não! Não precisa disso. - Shuhua tomou a frente para impedir a senhora de continuar.

- Eu não conheço muitos cantores da atualidade, só o grupo do meu filho. - disse envergonhada, fazendo Shuhua sorrir ao ouvir a palavra "filho". - Mas... acho que conheço você de algum lugar... - apontou o dedo trêmulo para Soojin.

- Ela é namorada do Hoetaek, líder do grupo de Hongseok. - Shuhua explicou. Estranhamente, não sentiu a dor que normalmente sentia com o fato. - Aliás, meu nome é Shuhua, e o dela é Soojin.

- Ah, sim! - a senhora fechou a porta e fez um gesto para que elas a acompanhassem. - Os meninos já vieram aqui algumas vezes... gosto muito do Hoetaek, muito bom rapaz, e muito bonito também. - disse em tom sugestivo para Soojin, que sorriu forçado. - A senhorita tem muita sorte. Ele falou muito da senhorita quando veio e me mostrou umas fotos.

- Então, foi pelas fotos que a senhora me conheceu.

- Ele que tem sorte, senhora. - Shuhua disse, olhando para Soojin, que corou.

- Venham, venham... ignorem a bagunça, por favor.

Shuhua não notou nada além de organização e cheiro petricor.

- Quando ele fica nessa garagem...só com um megafone para ele escutar alguém. - olhou para cima, e negou com a cabeça, batendo uma palma silenciosa, para logo abrir a porta que dava para a garagem. - Hongseok? - a senhora chamou, empurrando delicadamente as duas e fechando a porta.

- Oi!

O Yang saiu debaixo do carro com uma ferramenta na mão.

- Shuhua! Soojin! - o rapaz exclamou, surpreso, seus braços tentaram cobrir o tronco nu enquanto procurava algo ao redor. - Eu abraçaria vocês, mas estou muito sujo. - riu sem graça, pegando uma camisa velha com algumas manchinhas na cadeira giratória, perto da mesa encostada na parede.

Sem cerimônia, Shuhua foi até o Yang e lhe deu um beijo na bochecha. O rapaz sorriu, envergonhado por estar suado e Shuhua tão limpa.

- O que está fazendo?

- Verificando um vazamento e outras coisas no carro do meu avô. - Hongseok respondeu, dando dois tapinhas no teto do carro. - E o que vocês estão fazendo aqui?

- Fomos ver a família de Soojin, passamos no novo shopping, e como a casa dos seus avôs era caminho para a cidade... na verdade, quem teve a ideia de te visitar foi Soojin.

O rapaz ficou boquiaberto por alguns segundos, tentando disfarçar com um murmúrio positivo.

Soojin estava serena, mesmo com a informação divulgada por Shuhua, e isso o deixou confuso, já que sabia que a Seo não simpatizava com ele.

- Eu não vi seu carro na entrada. - Shuhua disse, olhando para fora da garagem, à procura do veículo.

Aproveitou a deixa para analisar o espaço; assim como a casa, era bastante limpo. O portão da garagem era do lado contrário da frente da casa; Shuhua podia ver algumas árvores atrás dos canteiros de hortaliças, escondendo uma pequena clareira.

- Vim de moto, que, aliás, meu avô pegou para dar uma volta escondido... minha avó odeia motos. - riu, apoiando-se no carro. - Aqui só tem uma cadeira... - murmurou, olhando ao redor à procura de outra cadeira. - Me deem licença rapidinho, vou pegar outra...

O Yang fez menção de sair da garagem, mas Shuhua lhe deu uma empurradinha.

- Não, não... eu sento aqui. - Shuhua disse, indo em direção a escada de concreto, sentando-se no segundo degrau.

Os dois sorriram, cúmplices. A noite em que Shuhua havia dado um voto de confiança a ele passou pela mente ambos.

Hongseok ficou tentado a sentar ao lado dela, porém, não queria arranjar conflito entre Soojin e Shuhua, e, principalmente, não queria que Soojin ficasse com a cara fechada para ele, agora que a Seo parecia estar mais receptiva, já que teve a boa vontade de trazer a taiwanesa.

- Meu avô está querendo fazer um segundo andar. - Hongseok apontou para a escada e para o teto, depois para a mesa, onde estava uma planta do segundo andar sob uma planilha. - A gente estava com um projeto, mas nunca tenho tempo para concluir.

- Vai pegar outro carro? - Soojin perguntou, aleatoriamente. Shuhua olhou para a Seo, que mexia em um panfleto de uma concessionária.

- Ainda não sei... recebi esse panfleto quando o sinal estava parado. Mas talvez sim... um Aston Martin. - respondeu pensativo, limpando as mãos em uma flanela vermelha.

- As peças são difíceis de encontrar na capital. - disse Soojin. - Você teria que viajar até o interior só pra arranjar... - pegou um pistão de motor sujo, que estava na mesa. - ... outro desse. Ou então encomendaria, o que ia ser mais caro.

Shuhua ficou surpresa quando os dois começaram a engatar uma conversa sobre motores e conversíveis importados. Nunca adivinharia que Soojin sabia tanto sobre carros, além do básico.

Passaram a tarde na garagem, com os dois debatendo sobre novos modelos da Jaguar e Shuhua observando a transição de cores que ocorria na clareira. Choveu, o sol apareceu, o tempo fechou novamente; foi quando Shuhua decidiu que estava na hora de irem embora.

Por insistência de Hongseok, Shuhua levou uma pequena cesta com bolinhos de morango, feitos pela avó do Yang, e foi comendo no caminho; vez ou outra, dava um pedaço na boca de Soojin, que demorava para engolir.

- Não sabia que gostava tanto de carros. - disse, sutilmente.

Soojin deu um rápido sorriso, não passando despercebido por Shuhua.

- Tem muitas coisas que não sabe sobre mim.

- Hum hum, Senhorita Mistério.

Soojin deu uma linda risada, que se espalhou pelo carro.

Shuhua observou a mão livre que a coreana manteve na coxa e a pegou, entrelaçando os dedos. Imediatamente, Soojin acariciou a pele com o polegar.

- Vocês dois são bem amigos, não é?  - Soojin perguntou, baixinho.

Shuhua achou uma graça as bochechas coradas e o esforço em focar na estrada; inclinou o corpo, dando um rápido selinho nela, voltando ao lugar com um sorrisinho sapeca.

Foi uma garantia, a qual Soojin havia entendido e, enfim, pôde relaxar, expirando todo o ar que prendia desnecessariamente.

- Sim, e nunca vai passar disso.

Shuhua prestou atenção nos pingos grossos descendo pela janela, anunciando a chuva; com a mão livre, tocou as gotículas pelo vidro, seguindo o caminho que elas seguiam.

Tão entretida que não notou o pequeno sorriso aliviado da Seo.

Parando no último semáforo a caminho do apartamento, a música foi interrompida por uma ligação. Soojin apertou com a mão livre no botão do painel para atender, sem ver quem estava ligando.

- Oi, amor, está fazendo o quê?

Ao escutar a voz grave, Shuhua soltou a mão de Soojin, cruzando os braços, não por ciúmes ou infantilidade, mas porque não se sentiria confortável em escutar Hui falando alguma babaquice amorosa enquanto segurava a mão da namorada dele.

Shuhua continuava sem ter o menor apreço pelo Lee, com exceção do mesmo tratar Soojin bem. Porém, isso não diminuía o fato dele existir e a existência dele, para Shuhua, era algo extremamente insignificante.

Shuhua até tentava não ter um pensamento tão cruel, mas era o que sentia em relação ao coreano. O ciúme e a inveja lhe envenenavam quando se tratava dele e Soojin.

- Estou dirigindo, por quê? - Soojin torcia para que Hoetaek não falasse algo romântico.

- Arranjei reservas para aquele restaurante que você estava querendo ir.

Shuhua prendeu um riso, balançando a cabeça; seu dia estava bom demais para ser verdade.

- Pode ser outro dia? Eu estou com um pouquinho de enxaqueca. - Soojin odiou ter que mentir para o Lee, mas não estava no clima para um encontro com o rapaz, e dizer isso magoaria ele.

Shuhua a olhou discretamente, dessa vez, não conseguiu se segurar.

- A enxaqueca que bate para não sair com o namorado. - murmurou.

Soojin lhe deu um tapa fraco na coxa.

- Ah... okay, acho que tem como remarcar.

  A voz do Lee saiu decepcionada.

- É, eu espero... o sinal abriu, tenho que desligar.

- Okay, melhoras. Soojin... eu te amo.

Não conseguindo responder, Soojin finalizou a ligação rapidamente.

- Por que não respondeu o "eu te amo"? - Shuhua questionou após um tempo.

- Eu não sei... - Soojin foi sincera.

Tanto não sabia, quanto não queria dizer; mesmo que Shuhua não estivesse no carro.

- Não consegue lidar com o que sente, não é? - Shuhua murmurou, sorrindo de lado.

Soojin reconheceu o sarcasmo e suspirou.

- Shuhua...

- Tanto faz, Soojin. Por mim, você pode ir.

Bruscamente, Soojin mudou a direção, tomando um caminho desconhecido pela taiwanesa. O carro entrou em uma viela; Soojin girou a chave, desligando-o.

- Quando você parar de me atirar para-

- Eu não estou atirando você para ninguém, ele é seu namorado. - Shuhua soltou uma risada sarcástica, apertando os braços. - Você tem um compromisso com ele, não?

- Não. - Soojin negou, começando a se irritar com a provocação da morena. - Eu não tenho nenhum compromisso com Hoetaek e você sabe disso. Se ele quisesse algo deveria ter me dito mais cedo.

- Eu já disse, se quiser ir, pode ir. - Shuhua deu de ombros, indiferente.

- Por que você faz isso, Shu? - Soojin perguntou, levemente magoada. - Eu estou aqui contigo, não é o bastante?

- Não, Soojin. Vai logo correndo para Hoetaek... - disse enquanto tamborilava os dedos no painel do carro. - É isso que você sempre faz.

Apesar de Shuhua ter sussurrado a última parte, Soojin a escutou e se sentiu péssima, afinal, era isso que ela fazia quando estava confusa: corria para os braços de Hoetaek afim de apaziguar sua mente.

- Se você me quer tanto, por que me atira para ele?

Shuhua sentiu o coração acelerar. Incapaz de responder à pergunta, a taiwanesa bufou, voltando a olhar para a janela. Escutou o barulho do cinto de segurança e assustou-se com Soojin sentando em seu colo.

- Soojin... - Shuhua murmurou como um alerta.

Soojin pôs os braços nos ombros da taiwanesa, fazendo pequena pressão para impossibilitá-la de fazer algum movimento. Sabendo que ela não sairia, Shuhua retirou o próprio cinto e ajeitou o banco para que as duas pudessem ficar em uma posição confortável.

- Você me deixa tão confusa... - Shuhua disse, pondo suas mãos nas coxas da Seo.

- Não, Shu, você me deixa confusa... - murmurou em um tom lamentável.

Shuhua não entendeu, mas nada falou.

Ficar daquele jeito com Soojin era satisfatório, visto que a Seo não agia de tal forma com frequência.

Suas mãos subiram para a cintura fina, onde acariciou. Shuhua notou que a coreana mudou a expressão e imediatamente começou a beijar seu pescoço; por mais que estivesse irritada com a situação que se encontrava, não queria que Soojin pensasse em mais nada preocupante enquanto estivesse com ela.

- Shu...

O corpo da taiwanesa esquentou ao escutar o sussurro suplicante da morena quando sua boca tocou o ponto de pulso.

- Termina com ele... eu te dou tudo, tudo o que quiser. - implorou, com a voz arrastada. - Eu posso te dar amor, carinho, sexo... tudo o que você quiser... você sabe que eu posso...

- Shuhua... - Soojin gemeu, sentindo as mãos apertarem sua cintura com demasiada força.
O ato irracional só piorou com o gemido contido da Seo, Shuhua apertava a carne em suas mãos com volúpia.

- Eu te dou o mundo, Soojin. Eu te dou isso. - a Yeh pegou a mão da coreana e pôs em seu peito. Soojin suspirou ao sentir os batimentos acelerados sob a pele quente.

Queria gritar para Shuhua o quanto a queria, o quanto desejava ser dela, o quanto queria entregar seu coração a ela - por mais que o Lee ainda tivesse uma pequena porcentagem dele. Ou era o que pensava.

- É por que eu sou mulher? É isso? - questionou, levemente irritada, fitando um ponto no volante. - Porque se for essa a questão...

Soojin segurou seu rosto e só então Shuhua pôde ver os olhos que tanto amava marejados.

- Nunca vai se tratar disso, Shu, nunca! Está além da carne.

- Meus sentimentos não são o suficiente para você então? - tentou soar indiferente, mas seu desânimo a entregou.

Soojin encostou as duas testas delicadamente.

- Os seus sentimentos são o suficiente para mim. Você é mais que suficiente para mim. - Soojin a beijou demoradamente. - Eu que não consigo ser forte o suficiente...

- Forte o suficiente?

Shuhua encarou os olhos escuros, que pareciam falar algo para ela. Infelizmente, não conseguia desvendar a coreana e aquilo lhe frustrou.

- Por que ainda insiste nisso? Você não o ama mais. Eu sei disso. - murmurou sob os lábios da Seo.

- Você não sabe de nada. - Soojin resmungou.

- Você nem consegue dizer "eu te amo" para ele, Soojin! - Shuhua limpou uma lágrima solitária prestes a cair do rosto da Seo. - Só está com ele por conveniência. - disse, irritada, olhando o próprio polegar molhado. – Eu só queria uma chance para te mostrar... – a fala um tanto romântica, mesmo não finalizada, saiu agonizada, impaciente, odiosa.

- Tem coisas que achamos ter certeza de que queremos, mas-

- Eu quero você, sempre tive certeza disso. Não me venha com papinho de física do universo. - Shuhua resmungou. - Essa situação... - negou com a cabeça.

- Eu sei. - Soojin sussurrou, rapidamente. - Eu não queria que você estivesse nessa posição. - As mãos frias tocaram o rosto de Shuhua.

- Eu sei que estar com ele é mais fácil. - disse de repente, convicta. - E que você apenas sente desejo por mim, certo, eu aceito isso, mas não aceito você negar que não sente algo por ele quando está claro tão claro.

Por que Shuhua lhe olhava daquele jeito? Por que, ao menos uma vez, não podia ser que nem a taiwanesa, mandar o mundo às favas, e dizer o que pensava e o que sentia?

Por que tinha um maldito instinto protetor e um medo ridículo de ficar sozinha, que estavam a fazendo estragar tudo?

Por que tinham que ser tão famosas e viverem em um lugar tão mentalmente fechado?

Eram perguntas que a Seo odiava se fazer por nunca obter uma resposta e uma direção para seguir.

- Sai do meu colo. - Shuhua virou o rosto, tirando as mãos dela. - Ser um passatempo é uma merda quando se para pra pensar. - riu, sem humor algum.

- Você acha que é um passatempo para mim? - Soojin perguntou, sem acreditar.

- Não é questão do que eu acho. Não é óbvio o suficiente? Eu sabia no que estava me metendo quando fui no seu quarto dias atrás e fiz aquela estúpida proposta. Se uma amante não é um passatempo, um objeto de desejo, então o que seria?

- Eu não queria que você estivesse nessa situação, Shuhua. - Soojin tornou a dizer. - Você pode não acreditar, mas essa merda está acabando comigo a cada segundo! - a mais velha voltou ao seu lugar e pôs as mãos no volante, o apertando. - Refutando o que você disse: um objeto de desejo deixa de ser um passatempo quando há sentimentos em jogo, e nesse caso existe desde o início. - disse, com raiva. Raiva de Shuhua, raiva de si, raiva da sua covardia, raiva de seu sentimento. Raiva por sentir raiva.

Shuhua entreabriu a boca, pensando no que a coreana havia acabado de dizer. Seria uma declaração? Mas, então, olhou para o anel de compromisso estupidamente brilhante em meio aos outros de prata que ela tinha no dedo anelar e mordeu o lábio, a ideia evaporando de sua cabeça como fumaça.

A raiva lhe deixava completamente imatura, irracional, infantil e quaisquer definição que exista para suas atitudes impulsivas. Para ela, se Soojin realmente a queria, não estaria com o perfeito Lee Hoetaek.

E, por que estava ligando tanto? Ela não se importava mais, como disse uma vez.

- O que não garante que uma hora esse sentimento esteja à um fio de acabar?! - Shuhua questionou, amargamente, querendo realmente não se importar.

Soojin ficou calada durante a partida no carro e o resto do caminho para o estacionamento, até que finalmente soltou:

- Precisaria seguir em frente de algum jeito, para acontecer.

- Seguir em frente é a coisa mais fácil do mundo quando você se liberta de suas amarras internas.

E, então, Soojin segurou suas lágrimas, mordiscando uma parte do lábio, decidindo apenas continuar calada, e pensar.

- Sempre fazemos isso... não importa o quanto prometemos... sempre estragamos a paz entre nós. - Shuhua murmurou ao descerem a rampa que dava para o estacionamento.

Quando Soojin estacionou o carro, Shuhua fechou os olhos, recobrando a racionalidade ao perceber que estava sendo uma idiota com a mais velha, começando uma briga desnecessariamente necessária, já que não ligava para o que Soojin sentia por ela, como pontuou há dias atrás.

Uma mentira deslavada.

- Olha, eu não quis...

- Está entregue. - Soojin sussurrou, fitando o volante.

Sabendo que a coreana precisava de um tempo para si, Shuhua pegou a mochila no banco de trás, colocando a alça em um ombro e saiu do carro, batendo a porta acidentalmente com força; a morena apertou o tecido em sua mão, descontando a frustração na pobre mochila, praticamente se arrastou pelo estacionamento, xingando-se mentalmente, pensando que, provavelmente, Soojin devia achar que estava com raiva dela, quando na verdade ela só sentia raiva da situação em que as duas estavam.

- Shu!

Shuhua mal teve tempo de identificar quem lhe chamou, pois assim que se virou, um corpo colidiu com o seu e sua boca foi esmagada pelos lábios do estranho.

A Yeh arregalou os olhos, ao reconhecer a franja ruiva, levou as mãos à cintura da menina delicadamente e retribuiu o beijo, confusa.

Jiwoo se afastou antes que desse tempo de beijá-la corretamente. Ainda de olhos fechados, a coreana fez uma careta.

- Foi um desafio, me desculpe... - disse, em um fio de voz.

Shuhua olhou para trás da ruiva e conseguiu identificar uma das três garotas presentes:  Sooyoung.

- Jungeun extrapola nos desafios. - se explicou novamente, nervosa com o silêncio de Shuhua. - Fala alguma coisa, por favor.

Shuhua mantia as mãos na cintura de Jiwoo, sorrindo atrapalhada e retribuindo discretamente o aceno que uma garota loira fez com o braço esquerdo, enquanto o outro segurava um caixa de cerveja. Supôs que a mesma fosse Jungeun.

- Que surpresa... - Shuhua sussurrou e Jiwoo sorriu, envergonhada. - Já tinha me esquecido como era beijar você.

- Digo o mesmo. - Jiwoo se afastou da taiwanesa. - As meninas queriam sair para cumprir os desafios e como estávamos por perto... - murmurou e acenou com a mão para que se aproximassem. Enquanto as três andavam em direção a elas, Jiwoo mordeu o lábio. - Me desculpa por isso.

- Tudo bem, eu não ligo, só fiquei surpresa. - Shuhua respondeu, corada. Observou o rosto nada amistoso de Sooyoung e mordeu o lábio assim como Jiwoo.

- Olá, Shuhua. - Jungeun a cumprimentou, um pouco empolgada.

- Oi. - Shuhua sorriu, tímida.

- Essa é Jungeun. Heejin. Sooyoung. - Jiwoo apontou para a loira, seguido da morena e a mais séria.

Não havia necessidade de apresentar Ha Sooyoung, pois Shuhua a conhecia muito bem, admirava o talento e a presença de palco que ela tinha. Além de que Jiwoo, uma vez, durante os poucos momentos que passaram juntas, mencionou o nome da morena e logo após se calou, como se tivesse sido doloroso; com muita descrição, a taiwanesa conseguiu arrancar mais coisa da Ha através de Jiwoo, mandando o clássico ‘’pode desabafar, se quiser’’, o qual a coreana não foi contra.

Shuhua tinha a leve desconfiança de que a garota a sua frente era quem Jiwoo já havia gostado - ou ainda gosta. E o jeito como Sooyoung a encarava só enfatizou isso na sua mente. Mas, é claro que era apenas uma teoria... que havia uma grande possibilidade de ser real.

Shuhua cumprimentou as duas com um aceno de cabeça.

- A gente vai sair para beber, quer vir? - Heejin perguntou, passando o braço pelo pescoço de Sooyoung, que agora encarava Jiwoo.

- Pode ser. - disse, meio relutante.
Shuhua quis recusar, estava sem ânimo depois do que aconteceu com Soojin, mas o olhar de Chuu sob si a fez desistir de primeira.

A ruiva bateu palminhas, sorrindo abertamente.

- Eu disse que ela ia aceitar. - Jungeun soltou para Heejin, que observava Sooyoung.

- Vamos, então? - Heejin perguntou, puxando Sooyoung para ir na frente.

Antes de sair, a Jeon sorriu simpática para Shuhua e lançou um olhar para Jungeun, que revirou os olhos. Estavam se comunicando.

- É uma idiota mesmo... - Jungeun deixou escapar e Jiwoo lhe deu uma cotovelada. - Mas Sooyoung é.

- Vamos. - Shuhua segurou firme a mão da coreana e rapidamente juntaram-se as meninas na frente. Shuhua sentiu-se mais relaxada com o entusiasmo e a energia de Jiwoo, pretendeu não se preocupar com mais nada naquela noite.

Isso porque não sabia que Soojin havia visto tudo.

Do beijo até saída de mãos dadas com Jiwoo.










Soojin estava mais que decidida depois da conversa mal resolvida, aliás, ela só permaneceu no carro para criar coragem. O jeito como Shuhua agiu depois da ligação foi o que lhe deu coragem.

Coragem para, enfim, tomar a decisão correta.

O silêncio após a fala de Shuhua no carro a fez pensar, e muito: Hoetaek, Shuhua e ela. Desde o início. Não havia mais como sustentar aquela situação, uma vez que se perguntou mentalmente se ainda o amava como o homem da sua vida e a resposta foi inexistente.

Estava mais que claro, ela apenas tentou remendar o amor de Hoetaek sob o de Shuhua, confundido a simpatia que tinha por ele com o amor do início de relacionamento da primeira vez.

Agora, Shuhua estava lhe odiando e ela quebrou a promessa de nunca a machucar.

Seo Soojin se sentia o pior ser humano existente.

Inspirou e expirou profundamente, batendo na porta. Viu a luz acender. Ele estava em casa. Não demorou para que o coreano aparecesse, sem camisa e com uma cara de sono.

Soojin não esperou o rapaz dizer alguma coisa e foi entrando no apartamento, jogando a bolsa na mesa.

- Não estava com enxaqueca? - Hoetaek perguntou, confuso. Bocejou, depois arregalou os olhos para se acostumar com a claridade.

- Eu sai com Shuhua. - foi direta, soando firme. - E antes de ontem, ficamos juntas o dia inteiro, e antes disso também, e todos os outros dias da semana passada...

- Sim, e? - Hoetaek franziu o cenho.

Soojin ia dar um ponto final. Foi seu intuito quando deu partida e, sem pensar em mais nada, seguiu até o apartamento do namorado. Sua missão ali era a finalização de um ciclo, de momentos intímos, beijos trocados, noites compartilhadas, de absolutamente tudo. Ela ia terminar com ele.

Soojin ia ser sincera, mesmo que magoasse uma das pessoas mais importantes para ela, mesmo que significasse que Hoetaek agora tivesse noção que, em todo esse tempo, ela estava apaixonada por outra pessoa e pior: estava se relacionando com essa pessoa.

Soojin ia contar tudo, desde o começo. Ela não ia implorar para que ele entendesse seu lado, ela iria entendê-lo se a odiasse e dissesse que nunca mais queria ver sua cara.

Soojin estava preparada para tudo. Ela ia ser corajosa e mandar tudo para o ar.

Ela ia finalmente se libertar de suas amarras internas.

Contudo, a imagem de Shuhua beijando Jiwoo corroeu seu sistema, circulando por todo seu cérebro. Seu gênio ruim lhe dizia:

Ela seguiu em frente.

Você vai ser um passatempo, assim como ela pensou que fosse para você.

Seu gênio bom imediatamente tentou convencê-la de que Shuhua não faria isso com ela, que ela não seria um passatempo para Shuhua.

Ma ela sabia que, uma hora, Shuhua não iria querer ficar por baixo naquele caso. Uma hora, Shuhua não ia vê-la como sempre viu. E o jeito como a menor agiu no carro mostrou que essa hora estava chegando, se não chegou.

Ela não te quer mais.

Por mais hipócrita que fosse, Soojin sentia um bolo em sua garganta desde aquela cena. Ela não queria Shuhua com outras pessoas e não importava mais se seu desejo fosse sujo porque ela finalmente ia tomar a atitude correta. Não por ela e Hoetaek, mas por Shuhua.

Shuhua era o que ela queria, o que sempre quis.

Soojin sempre soube o quão podre estava sendo, principalmente com seu namorado, que a encarava preocupado. Ela precisava libertá-lo também. Ela precisava fazer o certo.

Só que, como conseguiria fazer o certo, se no final seu medo se concretizaria?

Ela iria ficar sozinha. E pior: ser um passatempo para Shuhua.

Você pode amar de novo. Todos podem.

Soojin engoliu seco.

Faça tudo novamente. Reconstrua.

Desabotoou a camisa de flanela lentamente, pensando na cena do estacionamento, que se repetia em slow motion na sua mente; as mãos de Shuhua em outra garota, a boca de Shuhua movendo-se, o visível interesse de Shuhua...

Ele merece tudo de bom. Você não o merece se não fizer por onde.

Seu gênio bom buscou a racionalidade em si; talvez, libertando Hui, ela pudesse ficar livre de qualquer peso e finalmente ser de Shuhua.

Contudo, nada garantia que Shuhua ainda a queria e gostaria de um compromisso sério; que é a única coisa que Soojin aceitaria entre as duas, caso tudo isso acabasse.

Do que adianta desistir dele se no final você vai ficar sozinha?

Soojin desceu o short com a maior lentidão possível, aceitando que seu gênio bom havia perdido.

Você não vai aguentar ficar sozinha. Você sabe disso.

- Soojin... - Hoetaek murmurou, desconcertado com a imagem a sua frente.

Esqueça tudo. Esqueça ela.

Soojin soltou todo o ar de seus pulmões. Caminhou até o rapaz e sussurrou em seu ouvido uma súplica.

- Me faça esquecer tudo.




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