As malas de Harry estavam finalmente prontas, agora ele só precisaria conter sua ansiedade que, a cada meia hora, insistia em se intensificar.
Sentira um aperto no peito ao se pegar pensando que não tinha ideia de como os Weasley viriam apanha-lo, imaginou a histeria fervorosa dos tios ao presenciar uma chegada muito bruxa, entrou num minucioso dilema entre achar graça e ficar em pânico.
Cinco horas... o menino pensou que teria um ataque cardíaco, olhando o tempo todo pela janela ávido por algum mínimo sinal da família.
Cinco e dez... ele já estava começando a ficar impaciente e nervoso, andando de lá para cá sob os olhares de tia Petúnia, que o fitava desgostosa.
Cinco e quinze... será que teriam se esquecido dele? Soltava pesados bufos de ar, fazendo força para ignorar os murmúrios indignados e irritados dos Dursley.
O relógio bateu cinco e meia, Harry estava sentado na mesa da cozinha, pode-se ouvir Válter berrar de lá da sala de estar, como se tivesse visto uma barata muito peçonhenta. O moreno correu para ver o que acontecia e instintivamente olhou para a janela, que admitia os raios de sol, cedendo ao aposento um ar de aconchego.
Sentiu-se meramente aliviado, por um instante ele pensou que o tio teria visto a misteriosa figura de preto, ele não conseguia ter uma noção básica do que seria possível acontecer fora ele correr para fora da casa gritando que estavam tentando matar ele e sua família. Coisa que... podia ser provável, não? Já que a pessoa estava... bem, aparentemente, atrás dele. Teria sido coisa produzida pela sua imaginação? Sua mente seria tão fértil a ponto de trazer um personagem que morasse no seu consciente criativo para o mundo real?
Sons de batidas e arranhões, que vinham por trás das tábuas que vendavam a lareira lhe despertaram do breve devaneio, a tia começou a esganiçar um “O que é isso? Que é isso, Válter?” tão alto que quase estava sendo impossível ouvir o que vinha por detrás delas.
— Ai! Fred, não... volte, volte, houve algum engano... diga ao Jorge para não... Ai! Jorge, não, não há espaço, volte depressa e diga ao Rony...
— Talvez Harry possa ouvir a gente, papai... talvez possa abrir para a gente passar...
E então murros contra a tábua puderam ser ouvidos, o moreno dera um salto pelo susto, sendo vigiado sob olhares assustados e afiados dos Dursley:
— Harry? Harry, você está ouvindo a gente?
— Que é isso? — vociferou o tio, investindo contra o menino. — Que é que está acontecendo?
— Tentaram chegar aqui usando Pó de Flu. — disse, reprimindo uma vontade de rir enlouquecidamente. — Eles podem viajar entre lareiras, só que vocês tamparam a entrada, esperem um pouco.
Se aproximou da lareira e chamou o Sr. Weasley, as pancadas cessaram-se imediatamente, alguém do outro lado fez “psiu”.
— Sr. Weasley, é o Harry... a lareira está bloqueada. O senhor não vai conseguir passar por ai.
— Droga! Por que é que eles inventaram de bloquear a lareira?
— Bem... É que eles têm um...
— Que é que estamos fazendo aqui? Deu alguma coisa errada? — agora a voz de Rony se juntava a dos outros, tão elevada que interrompeu a explicação do moreno.
— Não, não, imagina Rony... Está tudo sob o perfeito controle, não vê? — disse Fred, num tom tão sarcástico que uma prévia de um risinho aparecera nos lábios de Harry.
— E está tão legal, estou adorando ficar esmagado contra a parede, não me sinto nem um pouco desconfortável, não se preocupem. — debochou Jorge, a voz tão abafada que só acrescentara certeza de que estava de fato sendo esmagado.
— Meninos, acalmem-se, estou tentando pensar no que fazer... é... é, não tem jeito mesmo... Afaste-se, Harry.
O moreno correu para perto do sofá, mas o corpulento tio Válter foi de encontro à lareira. E então, ela explodiu, indo madeira para todos os lados, um pedaço acertou o homem bem na testa, que se debruçou brevemente ao ser atingindo.
Cabeças ruivas escorregaram para fora, espalmando as vestes de segunda mão e olhando impressionado para os arredores.
Rony, animadíssimo em rever o melhor amigo, correu até ele e o abraçou desajeitado, ignorando completamente tia Petúnia sussurrar penosa suas fantasiosas suposições de que o marido teria de levar pontos na testa, Duda, estava encolhido atrás da mãe:
— Rony está ansioso para saber o que você tem para contar a ele, está desde ontem tagarelando feito um retardado. — disse Fred, que recebera um olhar repreendedor do irmão. — Oh, este é o seu primo?
O garoto se encolheu ainda mais atrás da mãe, agora segurando o traseiro como se fosse cair, com certeza se lembrava da última vez que recebera a visita de um bruxo.
— Sim, é o Duda. — respondeu Harry, observando Jorge se postar ao lado do gêmeo.
— Harry nos contou que você fica importunando ele. — comentou lentamente, como se o menino não entendesse sua língua.
— Que audácia! Dudoca não o importuna! — guinchou Petúnia, mas nenhum dos gêmeos lhe deu atenção.
— Rony, porque você não vai ajudar o Harry a apanhar suas coisas? — sugeriu o Sr. Weasley, sem perceber que Fred apontava para o irmão um saco de balas no bolso da calça.
Nada disseram, giraram nos calcanhares e subiram as escadas em direção ao quarto, Harry se encontrava em um estado tão grande de entusiasmo que não queria perder tempo ficando mais um segundo naquela casa.
— Então, o que é que você tem para me contar? — perguntou o ruivo, parecendo descarregar algo muito pesado dos ombros, notavelmente estava se roendo de curiosidade.
Harry correu para sua cama, tirando de debaixo do travesseiro o mesmo anel em formato de cobra, brandindo na altura do rosto do amigo, que arregalou os olhos e apanhou-o muito impressionado, o rosto ostentando uma expressão peculiar, como se visse a coisa mais bonita do mundo:
— Quem lhe deu isso? — perguntou, sem desviar o olhar para encarar o outro, que juntava suas coisas, andando para lá e para cá.
— Eu não sei, tive um sonho esquisito que alguém vinha até a casa dos meus tios, quando acordei, encontrei isso refulgindo à luz do luar, lá no jardim.
— Você não conseguiu ver quem era? — esticou o braço para devolver o objeto, olhando meio atordoado para todas as coisas do moreno já de prontidão para serem carregadas.
— Não, era uma silhueta difusa, a princípio... no dia em que recebi o seu bilhete, logo de manhã, eu vi uma pessoa parada na frente da janela...
— Está brincando? E como essa pessoa era? Ela fez alguma coisa? — perguntou num atropelo, como se tivesse trinta perguntas e quisesse que todas fossem respondidas imediatamente.
— Bem que eu queria estar... não sei, ela trajava roupas negras, era impossível localizar um rosto se quer saber... não fez nada, só ficou olhando, como se quisesse muito alguma coisa que tivesse dentro da casa.
Rony ergueu as sobrancelhas, parecendo assustado e ao mesmo tempo à caça de alguma coisa para dizer:
— É... isso é no mínimo muito esquisito... já contou à Mione?
— Não, ainda não.
— Então conte, ela sempre sabe de alguma coisa. — debruçou-se e apanhou a alça do malão e a Firebolt do amigo, dirigindo-se em direção a porta.
Harry, que ainda apertava o anel na palma da mão, esticou os dedos e observou o objeto, deveria leva-lo? Se fosse realmente contar a amiga, teria de leva-lo para que ela pudesse estuda-lo, não é?
Houve uma súbita e poderosa vontade de experimentar o objeto, levou-o até a mão direita, quase encaixando-o no seu dedo anelar quando parou, com o abrupto e inteligente pensamento: e se tiver amaldiçoado? A pergunta vagou sua mente por um instante, recebendo uma resposta em seguida: se tivesse realmente amaldiçoado, ele teria percebido algo de errado, não é? Mas como nada aconteceu... que mal poderia fazer?
Há muitos males que aquele anel poderia lhe causar, mas ele não pensou ou não quis pensar em todos eles, simplesmente colocou-o no dedo e, foi como se espasmos violentos e água fervente lhe atravessasse o estômago.
— Harry, está tudo bem com você? — perguntou o ruivo, em tom preocupado.
O moreno apenas assentiu, a respiração havia ficado ofegante e o coração retumbando célere dentro do peito, foi como se tivesse corrido.
Apanhou a gaiola da coruja e descera as escadas, o misto de sensações perturbadoras ainda lhe salpicando. Ao adentrar a sala de estar, deparou-se com uma escandalosa algazarra entre os tios, que pareciam muito desesperados, o Sr. Weasley, constrangido, tentando apontar a varinha para uma massa gorda de carne humana que cuspia algo de uns trinta centímetros, roxa e viscosa e, os gêmeos rindo-se histéricos, as lagrimas beirando os olhos.
— Que aconteceu aqui? — perguntou, olhando de um para outro, tentando entender toda aquela bagunça.
Ninguém lhe respondeu, Arthur apontou sua varinha para o buraco na parede e disse Incêndio! e chamas irromperam instantaneamente, crepitando alegremente como se já tivessem sido acesas a horas.
Tirou do bolso um saquinho fechado com cordões e atirou para Fred, que desamarrou-o, tirou uma pitada de pó e jogou nas chamas, que viraram verde-esmeralda e rugiram com mais força do que antes.
— Vão na frente, não, não, Harry, eu resolvo isso, pode ir! — disse para o menino, que se aproximou dos tios.
Os gêmeos foram na frente, ainda gargalhando muito alto, achando engraçadíssima a cena do enorme linguão de Duda, que guinchava feito um porco na tentativa de fugir do abate.
— Aposto que você nunca mais vai aborrecer o Harry! — disse Fred com dificuldade, ainda ria tanto que pensava que iria desmaiar.
— “A toca!” — disseram por fim, aproveitando o breve momento que conseguiam cessar o ataque de risos, esfregando as barrigas que doíam.
Então foi a vez de Harry e Rony adentrarem o fogo que não queimava, o moreno ainda com a mão do anel de cobra segurando a gaiola de sua coruja e Rony, que também ria da cena cômica à sua frente, levando o malão do amigo e a Firebolt.
Disseram “A toca!” também, e seu último vislumbre da sala de estar foi Sr. Weasley arrancando com a varinha um terceiro enfeite da mão do tio, que tentava acerta-lo com os demais enfeites como se fosse tiro ao alvo, tia Petúnia gritando agachada por cima de Duda e sua língua pendurada para fora como uma grande e viscosa jiboia.
Harry não queria ter de perder o espetáculo, mas, mais dos enfeites do aposento estavam sendo arremessados, no momento seguinte começaram a rodopiar em grande velocidade, e a visão da sala de estar dos Dursley desapareceu de vista numa erupção de chamas verde-esmeralda.
— Aonde é que você esteve? — uma figura alta, magra e loura postou a sua frente, sobressaltando-o.
Seu coração disparou no peito devido ao susto que a mãe lhe dera, mal colocara os pés em casa e já estava sendo questionado sobre seu paradeiro, coisa que já estava mais do que acostumado a mentir.
— Dando uma volta. — respondeu, visivelmente de saco cheio.
— Hum, de vassoura, presumo? Vi você aterrissar no nosso portão...
— Se viu, por que é que você ainda me faz perguntas? — seu tom de voz era hostil, nem sequer dirigiu o olhar para a mulher, estava muito ocupado despindo as luvas de couro das mãos.
— Eu quero saber para aonde é que você vai quando decide dar essas voltas! — ela cruzara os braços, os olhos azuis examinando as vestimentas dele. — Por que sempre se veste dessa forma quando sai?
— Por que eu gosto, e hoje está frio, algum problema?
E quando decidira finalmente olha-la, pôde perceber seus olhos muito arregalados, o rosto possuindo um semblante aterrador de desespero, levou as mãos trêmulas até os lábios, como se não acreditasse no que estava vendo:
— Aonde é que está o seu anel? — disse num fio de voz, temerosa em ouvir a resposta, as engrenagens do cérebro trabalhando com mais rapidez.
Olhou então para sua própria mão, magra e de dedos esguios, engoliu a seco quando se lembrou que deixara cair no jardim da casa dos tios de Harry Potter, repreendendo-se mentalmente por ser tolo o bastante em usá-lo por cima da luva.
Quando formava palavras para sua explicação pré inventada, eis que uma sensação esquisita surgira no seu interior: uma onda de espasmos violentos e a sensação de água fervente lhe atravessou o estômago, agarrou a cintura e cerrou os dentes, sentindo os olhos lacrimejarem ardorosos.
A mulher a sua frente olhou ao seu redor, parecendo esperar alguém que lhe causasse muito medo aparecesse e fosse pegá-la em flagrante cometendo um terrível crime:
— Você esteve lá, não esteve? — perguntou, amparando-o até uma cadeira, o fazendo se sentar enquanto as expressões amenizavam. — Você esteve no Potter novamente, não esteve, Draco?
O menino empertigou-se na cadeira, desconfortável e sem escapatória, não tinha como mentir daquela vez, Pansy Parkinson estava viajando nessas férias... é, ele não tinha desculpas, estava encurralado. Mas o tempo que levou pensando, foi como se confirmasse mudamente a pergunta da mãe.
— Eu não posso acreditar nisso! Esteve esse tempo todo indo para lá? Posso saber fazendo o quê?
A voz dela já estava deixando-o exausto, não queria lhe dar explicações para algo que nem ele mesmo sabia. Por que estava, quase as férias todas, indo ver o garoto da cicatriz? Por mais que ele se questionasse, não conseguia ter uma resposta satisfatória ou que suprisse sua necessidade de saber a razão de seus feitos.
— Com certeza ele deve ter colocado o anel no dedo, por isso está passando mal desse jeito. — ela se acocorou, passando as mãos no rosto mais pálido que o normal do filho. — Aquele garoto é um poço de sentimentos, a situação acabou de se inverter, o que é que será de você agora? — os olhos dela ficaram aquosos, estava sendo exagerada aos olhos de Draco.
— Você fala como se eu fosse morrer.
— Mas, pode! Já não lhe disse tudo sobre essa maldição? Que é que aconteceu, entrou por um ouvido e saiu pelo outro?
— Não, eu escutei atenciosamente, mamãe. Mas estamos longe, não será o mesmo impacto que deveria se-
— Draco, você esteve se colocando em perigo estando tão próximo dele... que diabo te deu? Seu pai poderia suspeitar dessas suas saídas! — o cortou, temor, receio apreensão impregnados na voz.
— E espero, francamente, que ele não subestime minha capacidade mental. Ele pensa que eu não seria tão tolo de ir até lá!
— Eu também pensava! Você ainda não me respondeu, por que estava indo ver o Potter?
O louro ficou em silêncio, a olhando fixamente, como se tivesse sido hipnotizado ou apenas sido petrificado. Levantou-se, secando o suor da testa com as próprias luvas, colocando-as nas mãos magras da mãe e retirando-se do aposento, almejando uma resposta que explicasse todas suas interrogações como ela.
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