História Stalker - Encontro

Capítulo 1 – Encontro

Espreguiço-me, bocejando e virando para o lado. Ah, essa sim foi uma boa noite de sono. Viro para olhar o despertador, vendo os minutos passarem vagarosamente. Ao levantar da cama, suspiro e desarmo o alarme do relógio, decido começar a me arrumar mais cedo do que esperá-lo tocar.

São 5:53 da manhã, a hora perfeita para me levantar e tomar um banho com tranquilidade. As aulas começam às oito em ponto, mas eu gosto de chegar mais cedo. Certo, levo menos de uma hora para tomar banho, me arrumar e me maquiar, mas o tempo extra me dá a oportunidade de acordar completamente, talvez assistir alguns desenhos animados, ler as notícias no jornal e dar uma olhada na minha lição de casa. Por volta de quinze para as sete, eu mesma começo a preparar meu almoço – em um potinho, coloco uma camada de arroz e a outra com um pouco de tomates cereja e alface, e finalizo com cubinhos de frango com molho de pimenta, preparo também uma pequena garrafa com chá – e às sete horas, já tomei meu café da manhã e tudo já está em ordem. Ótimo, tempo livre até sete e vinte e cinco, horário em que vou para a escola.

Antes de sair, claro, tomei um banho rápido, lavando meu cabelo. Depois disso, caminhei lentamente para meu quarto, vestindo um roupão velho que pertencia à minha mãe, nem me dei o trabalho de escolher uma roupa que talvez fosse mais atraente, a essa hora da manhã não estava muito inspirada para isso. Apenas vesti uma calça jeans, uma camisa cinza de manga longa com um tecido bem grosso, e uma jaqueta preta. Após passar um pouco de maquiagem para ficar pelo menos mais apresentável, peguei alguns livros e os joguei de qualquer maneira dentro de minha bolsa. Quando estava a ponto de fechar o zíper da bolsa, parei por um momento e olhei para minha janela e suas pesadas cortinas por um longo tempo.

Semana passada, as cortinas estariam abertas para que eu pudesse assistir ao sol nascer e se pôr... Mas agora...

Pode parecer estranho, e é, mas ultimamente ando com uma sensação não muito agradável. Tenho a impressão de estar sendo observada, na verdade, eu tenho sentido isso já faz alguns meses...na escola, pela cidade...mas só recentemente em minha própria casa. Odeio isso; como se cada movimento meu fosse vigiado, como um animal sendo documentado para o Discovery Channel. Se eu mantiver minhas janelas fechadas, se há mesmo alguém me espionando, essa pessoa não poderá mais me ver. Meu quarto se torna um paraíso seguro, muito mais do que meu banheiro sem janelas (lugar que ultimamente ando passando boa parte do meu tempo trancada).

Balanço minha cabeça, afastando esses pensamentos e pego minha bolsa, deixando a segurança de meu quarto para enfrentar o mundo exterior.

Chegando à escola percebo que minha primeira aula é de Ed. Física, a única que divido com minha amiga Im Naeyeon, e a aula que mais odeio. Não sou nem um pouco atlética, e toda vez que tento ser, pareço uma idiota. Naeyeon, por outro lado, é uma verdadeira atleta.

Então eu sempre dou um jeito de fingir que me machuquei de alguma forma e tudo fica resolvido. Fui então para a arquibancada, sentei-me e comecei a desenhar em meu caderno dois passarinhos que se encontravam no parapeito da janela do ginásio.

Foi então que ele apareceu.

Acho que nunca o tinha notado na escola, nem nos corredores, muito menos nos bancos das aulas de Ed. Física. Sua pele parecia de porcelana, olhos grandes e escuros, traços suaves e um cabelo negro que oscilava entre arrumado e desarrumado. Entretanto, contrastando com a leveza de seu rosto, sua roupa não lhe dava um ar muito delicado. Jaqueta preta, uma calça jeans escura e larga, um brinco de prata com o formato de uma pequena cruz na orelha direita, luvas que deixavam a ponta de seus dedos à mostra e... Um tênis vermelho escarlate.

Percebendo meu olhar fixo, ele me encarou e sorriu timidamente. “Oi.” Ele disse com uma voz baixa e suave. Vergonha foi o que senti nesse momento.

“Oi.” Eu me permiti respondê-lo antes de virar meu, sem dúvida, ruborizado rosto e voltar a me concentrar no meu desenho.

‘Ignore-o, Ignore-o, Ignore-o ’ minha mente cantarolava. Sabe o que é pior? Não importava o quão adorável ele era, não importava o quanto sua aparência era atraente, algo de errado ele tinha, e isso me assustou.

De repente, sinto um braço colado no meu, e sua respiração em meu pescoço. Congelei repentinamente, incrivelmente desconfortável quando ele se inclina sobre meus ombros para olhar o que estava desenhando. Ele aponta para o pássaro da direita. “Gosto desse.” Ele disse, quase encostando em minha orelha.

Sinto meu rosto ficar mais quente enquanto balançava a cabeça e o respondia. “O-obrigada...” Meu Deus... Por acaso eu acabei de gaguejar?!

Lancei-lhe um rápido olhar e vi um sorriso se formando em seus lábios. Ele se afastou um pouco de mim. “Sou Jungkook... Jeon Jungkook.” Ele ergueu sua mão para me cumprimentar. “Prazer em conhecê-la.”

Segurei sua mão e a sacudi levemente, sentindo meu rosto queimar ao me dar conta do quanto sua mão era suave. “Sou Lia Song. Prazer em conhecê-lo.”

Ele balançou a cabeça parecendo satisfeito, e voltou sua atenção ao jogo de futebol que nossas turmas estavam participando naquele momento.

“Eu tenho te observado.” Ele disse. Eu congelo.

Vendo meus olhos se arregalarem, ele se corrige, parecendo tão em pânico quanto eu estava; “Quero dizer, tenho te observado desde que a aula começou. A sua turma e a minha dividem o ginásio no mesmo horário. Eu estava lá...” Ele apontou para as janelas do outro lado do ginásio, onde eu pude ver uma mochila e um IPhone jogados no banco, presumi serem dele. “Desculpe pelo mal entendido...”

De repente me senti mais leve e deixei escapar um suspiro de alívio. “Não, tudo bem, foi minha culpa.” Eu ri. “Eu entendi tudo errado.”

Ele apenas assentiu e deu um meio sorriso.

Pelo resto da aula não dissemos mais nenhuma palavra, até ele quebrar o silêncio; “Bom, eu devo ir.” Ele se levantou, mas antes de se afastar para ir ao outro lado pegar sua mochila, se virou e sorriu para mim.

“Obrigada por me fazer companhia.” Ele disse, parecendo genuinamente estar agradecido, mas com um olhar difícil de decifrar.

“Mas eu nem disse nada.” Eu protestei.

Ele sorriu. É a primeira vez que o vejo sorrir dessa maneira, um sorriso, que tenho certeza, seria capaz de fazer todo o círculo Polar Ártico derreter. “Não precisava dizer nada.” Ele respondeu.

Ele foi em direção ao outro lado do ginásio, me deixando lá, confusa. Eu tentei desvendar a mensagem por trás dessas palavras, mas isso só me confundiu mais, então apenas desisti.

“Nossa! Quem era aquela gracinha?!” Eu me virei para encontrar uma suada, e interessada Nayeon.

“Hã?”

Ela apontou para o lugar onde ele se encontrava. “Ah, hm, aquele era...o...” Ah droga. Esqueci o nome dele.

Droga.

“Ele não me disse seu nome.” Menti. Nayeon acreditou, e olhou para ele enquanto ele pegava sua mochila.

“Nós temos que descobrir!”

Virei meus olhos e peguei minha bolsa, ela também fez o mesmo, jogando seus tênis dentro de uma mochila rosa. Eu então percebo que ela já havia trocado de roupa.

“Quando foi que você trocou de roupa?” Perguntei.

Ela riu, me cutucando no braço. “Enquanto você estava flertando com o Sr. Eu-não-sei-o-nome.” Ignorei o tom sarcástico em sua voz, e joguei as alças de minha bolsa no ombro. “Agora vamos. Eu quero chegar à aula de inglês mais cedo.” Ela disse.

“Não posso.” Eu disse parando no meio do caminho, o que fez ela se virar.

“Por quê?” Ela perguntou.

Virei novamente meus olhos, observando de soslaio aquele garoto sair do ginásio. Ele me olhou, sorriu e acenu se despedindo. Eu ruborizei e apenas fiz um pequeno movimento com a cabeça como resposta, esperando que Nayeon não visse isso. “Eu não tenho aula de inglês com você.” Eu simplesmente disse. Ela parou e tentou processar a mensagem em sua mente.

“Ah, é verdade.”

Ele abriu a porta para algumas pessoas passarem; um dos alunos o empurra rudemente. Eu me senti incomodada ao ver essa cena, e sem entender tamanha ignorância, encarei a pessoa que o empurrou.

E assim, terminou meu primeiro encontro com a pessoa mais estranha, esquisita, assustadora, porém uma das mais encantadoras que já vi em toda minha vida.