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História Stalker - Yui


Escrita por: MoonyQueen

Capítulo 18 - Yui


Fanfic / Fanfiction Stalker - Yui

“Ai, droga de porta!” Taehyung grunhiu, enquanto jogava seu corpo contra a porta para tentar abri-la. Suspirei pesadamente e coloquei minhas mãos na cintura.

“Por que você não tenta destrancar de novo?” Eu perguntei o óbvio, vendo que ele só tinha tentado girar a chave na fechadura apenas uma vez.

“Não.” Ele grunhiu novamente, ainda empurrando a porta. “Assim, a porta teria vitória sobre mim.”

Girei meus olhos. “E desde quando destrancar a porta é dar vitória a ela? Taehyung, você é um idiota.”

Taehyung finalmente parou de empurrar a porta e olhou para mim, passando uma mão por seu cabelo. “Pode até ser, mas não pode negar que eu sou o idiota mais lindo que você já viu.”

Aproveitei esse momento de distração dele, enquanto se admirava, para girar a chave mais uma vez, e, como eu já esperava, a porta se abriu. “Viu? É assim que se faz.” Eu lhe disse, antes de segui-lo enquanto ele entrava em sua casa.

A casa de Taehyung era maior que a minha, já que ele morava com seu pai e uma irmã, ao contrário de mim, que praticamente morava sozinha. Apesar de ser muito grande, quase não tinha espaço. Sr. Kim gostava de colecionar coisas, assim como Taehyung e sua irmã, então boa parte da casa estava lotada.

Quando entrei na casa, a irmãzinha de Taehyung imediatamente apareceu saltitando.

“OPPA~!” Ela gritou, rodeando as pernas dele com seus pequenos braços. Sorri ao ver o quão pequena ela era para uma menina de 5 anos, sua altura chegava um pouco abaixo de minha cintura, lembrando que eu não sou muito alta. Ela então, animadamente, começou a fazer um discurso, para meu descontentamento, em coreano.

Taehyung era o tipo de cara que eu nunca imaginei levar jeito com crianças, menos ainda que pudesse ser um bom irmão mais velho, mas, na verdade, era. Ele era muito cuidadoso e gentil com sua irmã. Ajoelhado para ficar à sua altura, escutou atentamente e depois lhe disse algumas palavras em resposta, afagou sua cabeça e ela correu para seu quarto animadamente. Olhei para Taehyung com uma expressão interrogativa.

“E ela estava falando sobre...?” Eu comecei, minhas mãos para trás enquanto balançava meus pés para frente e para trás.

Ele riu. “Ela queria falar sobre o novo amiguinho na escola. Ele comeu o lanche dela hoje sem pedir permissão.”

Pensei então em algo... Só para irritá-lo. Levantei uma de minhas sobrancelhas. “Hm... Um menino, né?”

Taehyung de repente riu com deboche. “Se ele tentar alguma gracinha com ela, eu mato.”

Eu ri, dando tapinhas nas costas dele. “Ela ainda é pequena, Taehyung. Mas você sabe que esse dia chegará.”

“Não.” Ele afirmou. “Ela nunca vai namorar, e se namorar, eu e o namoradinho dela teremos uma longa conversa, e eu vou observá-lo 24 horas por dia.”

De repente, o pai de Taehyung apareceu no corredor, sorrindo calorosamente para mim.

“Lia! Que bom que veio jantar conosco!” Seu sorriso aumentou quando viu que eu tinha uma de minhas mãos sobre o ombro de Taehyung. Rapidamente a retirei ao encontrar um brilho esperançoso em seu olhar.

“Hm, é... Jantar.” Eu murmurei, olhando para Taehyung esperando que ele tivesse alguma reação.

“Na verdade,” Taehyung começou, ao ver meu olhar desesperado sobre ele. “Ela vai dormir aqui hoje.”

O pai de Taehyung imediatamente franziu a testa ao ouvir isso. “Não no seu quarto. Eu posso estar sendo antiquado, mas vocês ainda não deveriam dormir-.”

“Não, não, não.” Taehyung interrompeu. “Ela pode dormir no quarto da Yui.”

Seu pai pareceu mais aliviado depois de ouvir isso, deixando escapar um pesado suspiro. “Ah, sim, tudo bem.”

No jantar, comemos comida coreana, para ser mais específica, Kimchi com arroz. Sinceramente, prefiro a culinária japonesa, esse jantar fez minha língua arder como nunca antes.

Lá pelas nove e meia, eu estava no quarto de Taehyung, apenas esperando a hora de, finalmente, poder dormir e, enquanto isso, comecei a arrumar tudo para ele. Taehyung se encontrava sentado em sua cama e, quando me dei conta, notei que estava revirando minha bolsa; lendo minhas anotações, procurando por doces – e acabou encontrando uma barra de chocolate que, obviamente, foi devorada por ele. Eu continuei pegando suas roupas que estavam espalhadas pelo chão quarto e as jogava no cesto que tinha apoiado em minha cintura.

“Seu quarto está uma bagunça.” Eu reclamei.

“Hey, Lia~.” Eu ouvi Taehyung dizer, ou melhor, cantarolar. Olhei e o encontrei com meu celular em suas mãos.

“Taehyung, larga meu celular agora!” Eu exclamei.

Ele olhou para mim, antes de sorrir e descobrir que eu não tinha senha o bloqueando. Eu imediatamente larguei o cesto de roupas e corri em sua direção, pulando em sua cama e tentando tirar o celular de suas mãos, mas ele acabou desviando de mim. Minhas ações podem parecer um tanto exageradas, mas da última vez que ele mexeu em meu celular, ele pôs um toque com uma música pornográfica, não poderia deixar que algo semelhante acontecesse de novo. Sem mencionar que, se ele olhasse as fotos, ele veria as que eu estava beijando Jungkook.

Depois de mais algumas tentativas frustradas de tentar arrancar o celular de suas mãos, eu desisti, e inexplicavelmente acabei presa embaixo de seu corpo enquanto ele se sentava sobre minha barriga.

“NYAHAHAHA~!” Ele riu ao ver algo em meu celular, seu sorriso quadrado mais evidente do que nunca. Eu grunhi, enquanto tentava empurrá-lo. “Nossa, Lia...” Ele de repente murmurou, saindo de cima de mim e se sentando seriamente ao meu lado. Eu também me sentei e engoli seco.

“Não é tão ruim assim...” Eu disse. Poxa, era só um beijo, e daí? Taehyung não estaria com tanto nojo para-.

“O que você está fazendo? Vá para casa agora.” Taehyung disse friamente, seus olhos se estreitando.

Eu olhei para baixo. “Mas... Foi você que... T-tá bem... se você quer que eu vá, eu vou.” Eu me levantei para ir embora, mas Taehyung segurou minha mão.

“Não. Eu só estava lendo.” Ele disse, seus olhos fixos na tela do celular. “Você já recebeu mais de trinta mensagens desde que chegou aqui.”

Eu parei. Jimin estava me enviando mensagens?

Eu me sentei na cama de novo, mas dessa vez me senti mais pesada que antes. Pelo canto dos olhos, pude ver o jeito que Taehyung me olhava – um olhar preocupado, intenso.

“Lia... isso não é nada bom. Foi o Jimin que te mandou estas mensagens?” Ele perguntou, mostrando a tela do celular para mim. Não pude ler todas as mensagens, mas vi o suficiente para perceber que ali havia várias ameaças.

Eu balancei a cabeça positivamente, murmurando um leve ‘aham’. Ouvi as teclas de meu celular fazerem barulho, Taehyung estava digitando.

“O que você está fazendo?” Eu perguntei rapidamente, esperando que ele não estivesse respondendo as mensagens.

“Estou deletando tudo.” Ele disse, sua voz baixa e amarga. “Não quero que você leia.”

Franzi minha testa. “São tão ruins assim?” Eu perguntei, tentando pegar o celular das mãos dele, mas ele não deixou e apenas respondeu que ‘sim’ com a cabeça. “O que ele escreveu?” Eu perguntei. Talvez se eu soubesse o que Jimin queria, ele seria menos agressivo. Mesmo assim, depois de tudo o que ele me fez, eu ainda sentia que era importante tentar ser amiga dele. Eu sei que essa não era a melhor alternativa, mas eu esperava que se eu desse para ele a opção de ser sua amiga, ele desistiria de querer algo a mais. Taehyung me olhou de uma maneira que me dizia que ele não me diria nada sobre o conteúdo das mensagens. “Por favor, Tae?” Eu insisti, olhando-o diretamente nos olhos.

Com um pesado suspiro, ele começou. “Ele começou perguntando onde você estava indo... Acho que ele estava nos seguindo enquanto caminhávamos. E aí começou a ficar mais nervoso e mandou você ir para casa.”

Eu franzi a testa, olhando a parede à minha frente. Mordi meu lábio inferior, e deixai escapar um longo e profundo suspiro. “Como assim mais nervoso?” Eu finalmente perguntei, virando minha cabeça para Taehyung novamente, mas não o olhei nos olhos.

“Lia...” Taehyung murmurou. “Eu não quero que você saiba.”

“Isso vai me ajudar.” Eu menti. Eu sabia que isso poderia me machucar, e muito, mas eu tinha que saber. Era estranho o Taehyung estar me ajudando – eu, por alguma razão, não gostava muito disso. No fundo, não queria sua ajuda. Talvez eu estivesse sendo dramática demais, mas será que eu tinha que ser tão fria com o Jimin assim, sem nem mesmo escutar o que ele tinha a dizer?

Taehyung grunhiu. “Ele disse... ‘Você é minha’, ou algo assim, ‘Taehyung não te merece’.” Ele parou por um momento, como se estivesse pensando se deveria continuar ou não. “E... Disse que você era o anjo dele e de mais ninguém – ele disse que se você não fosse logo para casa, você receberia uma punição.”

Meu corpo inteiro ficou tenso; me engasguei com minha própria saliva, uma sensação estranha invadindo meu peito, enquanto meu corpo começava a tremer.

O que uma pessoa faz numa situação dessas? Eu não tenho como me esconder – como eu poderia se ele sempre me encontrava? Até mesmo em lugares públicos em plena luz do dia. Agora eu não conseguiria ir para casa sem temer essa... ‘Punição’.

Eu estava encurralada; presa, sem ter onde ir. Completamente perdida.

“Então... O que eu faço?” Eu perguntei, esperando que ele pudesse me dar uma resposta.

Franzindo a testa e suspirando, ele respondeu, a resposta que eu já esperava. “Falando sério? Eu quero que você fique aqui; assim você ficará segura. Porém...” Isso, eu não esperava. “Eu também não quero que você receba essa... Punição.”

Eu concordei levemente. “É óbvio que eu também não quero...” Para mim a forma que ele me abordava já era uma punição; o quê então seria para ele uma verdadeira punição?

Apesar de não querer saber, acabei perguntando. “Ele disse mais alguma coisa?”

Um olhar estranho apareceu em Taehyung. “Hm... Aham.”

Tentei me preparar para o que viria, fechei meus olhos com força e mordi meu lábio inferior antes de perguntar. “E o que ele disse?”

Houve um breve silêncio antes que Taehyung me respondesse, e eu então entendi por que ele não queria me contar.

Senti um enorme frio em minha barriga quando Taehyung disse aquelas palavras, porque o que era para soar como uma frase casual, havia se transformado em algo com um duplo sentido aterrorizante.

“Te vejo amanhã.”

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Eu suspirei, tirando cuidadosamente alguns fios de cabelo do rosto de Yui. Ela emitiu um pequeno suspiro, e se aconchegou mais em meu ombro. Por causa da falta de espaço no quarto de Yui, a garota de cinco anos de idade praticamente me implorou para que eu dormisse em sua cama. Eu concordei, mas acho que não foi porque ela me implorou. Acho que foi mais por que eu precisava do calor humano nesse momento, e senti-la tão perto de mim era reconfortante.

Eu estava deitada de barriga para cima enquanto ela me abraçava, seu corpo, tão pequeno, perto do meu. Eu tinha um braço ao redor dela, e sua cabeça estava recostada sobre meu ombro. Taehyung disse que Yui simplesmente me adorava. ‘Ela sempre quis uma irmã mais velha’, ele disse, antes de sorrir e continuar ‘Eu acho que ela também te vê como um tipo de figura materna’. Para ser honesta, não me importava que ela me idolatrasse, mas preferia que ela não começasse a me chamar de mãe. Toda menina precisa de uma figura feminina em sua vida, assim como a figura masculina é importante na vida de um menino. Infelizmente não tive a oportunidade de ter irmãos ou irmãs, mas ter Taehyung e Yui ao meu lado já era o suficiente. Eu via a família Kim como minha própria família.

Yui murmurou algo enquanto dormia, passando uma mão sobre seu rosto. Eu sorri ao ver isso, e a abracei ainda mais. Ela era simplesmente adorável – seu rostinho parecia o de uma boneca. O engraçado é que a população masculina, no futuro, não seria permitida em chegar perto dela se dependesse de Taehyung. Ela era linda. Pobre Taehyung; com certeza teria trabalho no futuro.

Olhei para o relógio, e suspirei ao ver que já era uma da manhã e eu ainda não havia conseguido pegar no sono. Confesso que os hábitos noturnos de Yui não ajudavam muito; um deles era dormir, não só com as cortinas abertas, mas também com a janela aberta. Eu não conseguia dormir de jeito nenhum sabendo que a janela estava aberta, olhava intensamente para fora como se a qualquer momento Jimin pudesse entrar no quarto.

“Unnie...” Eu ouvi Yui dizer subitamente. Eu olhei para baixo, vendo que seus olhos grandes e brilhantes estavam fixados em mim.

“Uh... O que foi?”

“Porque você não está dormindo?” Ela perguntou, seus olhos confusos piscando intensamente. Eu sorri.

“Eu não estou cansada.” Eu menti, esperando que ela não fosse tão observadora quanto seu irmão e percebesse isso.

Ela fez bico, percebendo que eu estava mentindo. Eu mentalmente xinguei Taehyung por tê-la deixado tão esperta. “Feche os olhos, ok?” Ela sussurrou. Eu bufei, mas fiz o que ela havia me pedido, sem acreditar em mim mesma. Eu estava seguindo as ordens de uma menina de cinco anos de idade... O que está acontecendo comigo? “Agora, pense em alguém que você goste.” Ela disse. “Mas não no Taehyung oppa!” Ela acrescentou rapidamente, o que me fez rir.

“É claro que não.” Eu respondi, suspirando enquanto a imagem de Jungkook vinha à minha mente.

“Você está pensando em alguém que você gosta muito?” Ela perguntou, parecendo um pouco impaciente.

“Aham.” Eu sussurrei.

“Ótimo.” Ela me elogiou, logo voltou a me abraçar. “Continue pensando nessa pessoa.” Ela bocejou, e um pouco depois, já havia caído novamente em um profundo sono.

Foquei meus pensamentos inteiramente no tempo que passei com Jungkook – memórias dele acariciando minhas costas, apoiando sua testa contra a minha, beijando minha bochecha... Minhas pálpebras começaram a ficar mais pesadas e, lentamente, baixei a guarda e dormi.

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Na manhã seguinte, acordei me sentindo um pouco tonta. Tentei me esticar, mas senti que havia algo ligeiramente pesado prendendo meu braço. Entrei em pânico, pedindo a Deus que não fosse Jimin, e então abri meus olhos. Fiquei aliviada quando vi Yui deitada sobre mim, babando em meu braço. Lentamente, saí de baixo dela, me sentei e me espreguicei. Foi então que notei algo estranho.

A janela não estava aberta na noite passada?

Não tive tempo para pensar muito nisso, pois vi que já eram cinco da manhã. Rapidamente me levantei, tentando procurar Taehyung para perguntar onde eu poderia tomar um banho.

Eu o encontrei na cozinha, parecia um bêbado tentando colocar leite no copo. “Olá, Tae.” Eu o cumprimentei. Ele apenas balbuciou algo que não pude compreender, já que ele estava bebendo o leite e tentando falar ao mesmo tempo.

“Entãoo.” Eu comecei, olhando inocentemente para ele. “Posso tomar um banho?”

“Hein?” Ele parou, colocando o copo no balcão. “Ah, tá, vá em frente. As toalhas estão no armário, embaixo da pia.”

Eu o agradeci e fui ao banheiro, tomei um bom e relaxante banho. Depois sequei o cabelo, e me livrei da enorme camiseta e calça que Taehyung havia me emprestado, coloquei o meu recém lavado uniforme, que o pai de Taehyung havia insistido em lavar no dia anterior.

Relaxada e pronta para mais um dia – sem maquiagem dessa vez – fiquei de pé na cozinha e esperei por Taehyung para irmos juntos para a loja. Depois de um tempo, ele apareceu, chaves em uma mão e jaqueta na outra. Ele então apontou para a porta.

“Pronta para ir?” Ele perguntou, e eu respondi que sim com a cabeça. Nós saímos – fazendo o mínimo de barulho possível para não acordar Yui – e caminhamos rapidamente para a loja.

O tempo que ficamos na loja passou lentamente, dolorosamente, parecendo horas quando na verdade haviam sido apenas minutos. Eu tive a estranha vontade de ver Jungkook de repente, e conforme o tempo passava, a vontade só aumentava e aumentava. Ele era como morfina para mim. Só de estar com ele eu esquecia todas as minhas dores e problemas, e a alegria que ele me dava era melhor do que qualquer coisa – até mais do que doce de graça.

Taehyung viu minha ansiedade e interpretou como nervosismo. “Não se preocupe Lia – Jimin provavelmente vai ser suspenso.”

Por mais que ele achasse que isso me aliviaria, não me aliviou. Eu nem tinha pensado no Jimin – e se ele estivesse por aqui agora? Mesmo que ele fosse suspenso, haveria várias outras chances de me encontrar. Ai.

“Calma.” As mãos de Taehyung de repente repousaram sobre meu ombro, como se ele estivesse me segurando para que eu não tremesse tanto. “É sério, tudo vai ficar bem.”

Eu balancei minha cabeça positivamente, respirando fundo. O que ele disse a seguir foi o que me surpreendeu.

“Qualquer coisa, você tem o Jungkook. Fique perto dele o máximo que puder.”

Nunca imaginei que ele um dia diria algo parecido. Esse era mesmo Taehyung? Pedindo que eu ficasse com Jungkook?

“Eu... não tô entendendo.” Eu admiti, me sentindo um pouco idiota. “Você quer... que eu fique com o Jungkook?” Isso era novo para mim; a única pessoa que queria que eu ficasse com Jungkook era ninguém mais, ninguém menos que o próprio Jungkook. Todos eram contra a proximidade dele. Era muito estranho ouvir alguém pedir que eu ficasse com ele.

Ele tirou suas mãos de meu ombro e suspirou. “Eu quero.” Ele disse. “A única razão pela qual todo mundo queria que você ficasse longe dele era por causa do passado sombrio dele e, se ele não é mesmo o culpado por aquilo, então fique longe do Jimin e se aproxime do Jungkook o máximo que puder.”

“Mesmo assim...” Eu continuei, não querendo ir contra as palavras dele, mas querendo fazer um comentário sobre o que ele havia sugerido. “Eu sou praticamente sua irmã, você que deveria dizer ‘Ah! Não! EU vou te proteger!’, não acha?”

Taehyung riu, bagunçando meu cabelo. “Não, eu só diria isso se você estivesse envolvida com alguém como o Namjoon.” Fiquei arrepiada ao pensar nisso – Namjoon? Jamais. Taehyung deixou escapar um suspiro um tanto triste, antes de olhar para o chão e então olhar para mim. “Eu fico observando vocês na escola, sabia?” Senti um nó se formar em minha garganta – onde ele queria chegar? “É óbvio o quanto ele gosta de você... Eu nunca vi o Jungkook olhar para alguém da forma que te olha. E, conhecendo o Jungkook, tenho certeza que ele vai te proteger de tudo e de todos que quiserem te fazer mal.”

De repente me senti muito envergonhada, meu rosto ruborizou intensamente. “Sério?” Eu perguntei, sem poder acreditar nisso. Em apenas duas semanas... Seria possível?

“Sério.” Taehyung afirmou, olhava para o chão, mas então levantou seu rosto antes de sorrir para mim. “Mas, por favor, não se deixe levar pelas emoções. Um Jungkook já é o suficiente no momento, não precisamos de um mini-Jungkook correndo por aí.”

Eu imediatamente bati nele, sem acreditar no que ele havia sugerido. “Taehyung!” Eu quase gritei, meu rosto ficando mais vermelho do que já estava. “Não diga essas coisas!”

“Bem,” Ele começou, rindo de sua própria piadinha. “Vocês dois ficam tão grudados! Nossa! Vocês precisam ter um pouco mais de decência!”

Eu ri com deboche, dando outro tapa nele. “Não é assim...” Mas, por mais que eu quisesse acreditar em minhas palavras, eu não podia parar de pensar como nós éramos vistos aos olhos dos outros. “... né?”

Taehyung me encarou seriamente por um momento, antes de cair na gargalhada. “Eu não acredito que você acreditou em mim! Isso foi ótimo! Ah, eu deveria ter continuado!” Ele disse entre risadas enquanto batia palmas.

Eu grunhi, batendo nele de novo. “Vou para a escola agora.” Eu disse, percebendo que já eram quase sete horas, e que Jungkook já estaria lá.

O sorriso de Taehyung desapareceu. “Eu não quero que você vá sozinha.”

“Não se preocupe – é bem perto. Eu vou correr.”

“E se o Jimin estiver te esperando lá fora? Hein?” Ele perguntou seriamente, se debruçando sobre o balcão em minha direção.

Um pequeno sorriso decorou meu rosto. “Jungkook está esperando por mim.”

A cara fechada de Taehyung deu lugar a um sorriso bobo. “Ah, claro...” Ele murmurou, seus olhos girando.

Franzi minha testa. “O que foi...?”

“Ah, nada.” Ele disse lentamente, olhando para suas unhas. Ele de repente apontou pra mim. “Só acho que você vai mais cedo pra ficar se agarrando com ele!”

Meu rosto voltou a ficar vermelho instantaneamente, e eu acabei cobrindo minha face com as mãos. “Cala a boca, Taehyung! Não é nada disso!”

“É isso mesmo!” Ele insistiu. “‘Ah, Lia, minha salvadora que me tirou da solidão que essas pessoas terríveis me colocaram! Rápido! Venha que eu preciso de você!’ .” Ele imitou a voz de Jungkook, o que soou estranhamente parecido.

“Nãooo.” Eu choraminguei, dando um leve empurrão em Taehyung. “Você é esquisito, Taehyung.”

“Ele vai te agarrar~ lalala~” Ele cantarolou, levantando as mãos e fazendo movimentos como se estivesse apertando algo. Eu rapidamente saí de perto dele e mostrei a língua.

“Nos seus sonhos!”

Taehyung parou, de novo começando a imitar a voz de Jungkook. “Como você sabe que eu tenho esses tipos de sonhos, Lia?”

Meu rosto ficou vermelho pela milésima vez – ele imitava a voz de Jungkook tão bem, eu podia jurar que havia três pessoas na loja – então o encarei.

“Para!” Eu gritei, jogando um pacote de salgadinho em cima dele.

“Ah, você gosta bem apimentado, né?” Ele perguntou, olhando para o pacote que indicava que o salgadinho era sabor de pimenta. Incrivelmente, ele ainda estava imitando a voz de Jungkook com perfeição. “Eu também.”

“Ugh!” Eu grunhi. “VOU EMBORA!” Eu gritei, jogando as mãos para o alto e pegando minha mochila. Quando saí da loja, ouvi Taehyung me chamar, mas não voltei, pelo contrário, corri mais rápido ainda.

Corri o mais depressa que pude e, quando a escola estava à vista, diminuí meus passos para uma caminhada, sorrindo triunfante para mim mesma.

Abri a porta principal, e fiz meu caminho habitual até meu armário. Lentamente abri o abri e coloquei minha mochila e outros pertences ali dentro.

Quando já tinha organizado tudo, suspirei, fechando a porta e apoiando minha testa nela. Hoje seria um dia estressante, sem dúvida, assim como o dia seguinte também seria. Fiquei nessa posição por um bom tempo, tentando relaxar enquanto respirava profundamente.

Enquanto estava nesse tipo de meditação, não pude ouvir nada à minha volta, e isso fez que eu me assustasse quando senti um par de braços rodearem a minha cintura, mas me acalmei quando ouvi uma voz familiar murmurar ‘Oi’ em meu ouvido.

“Oi.” Eu respondi ao cumprimento de Jungkook, o sentimento de paz invadindo meu corpo. Pude senti-lo apoiar seu queixo sobre meu ombro, seu peito contra minhas costas, e isso era reconfortante. Sorrindo, abri meus olhos, e me afastei ligeiramente do armário. Quase que imediatamente, Jungkook soltou um pouco meu corpo, permitindo que eu me virasse e ficasse de frente para ele, mas ele não deixou de continuar a me abraçar.

Seus lábios se curvaram ligeiramente, formando um leve sorriso, seus olhos carregados de preocupação. Ele acariciou minha bochecha com sua mão. “Você parece melhor hoje.” Ele me disse, o sorriso desaparecendo de seu rosto. Eu balancei minha cabeça positivamente. “Fico feliz por isso.” Ele apoiou sua testa sobre a minha, e olhou diretamente em meus olhos. “Como foi ontem à noite?” Ele perguntou, seus olhos se fechando quando seu nariz encostou no meu.

“Boa.” Eu murmurei. “Eu dormi na casa de um amigo.” Imediatamente, depois de ter dito isso, eu me arrependi. Jungkook de repente se afastou de mim.

Eu não queria isso.

Então, em uma tentativa de tentar fazê-lo se aproximar de novo, apoiei minha cabeça contra seu ombro, e escondi meu rosto em seu pescoço, enquanto o abraçava com força. Ele retribuiu o abraço ligeiramente.

“Que amigo?” Ele perguntou, soando como se não se preocupasse muito – talvez ele tivesse achando que o ‘amigo’ na verdade era uma ‘amiga’, ou seja, Nayeon – e começou acariciar minhas costas traçando círculos e linhas.

“Taehyung.” Eu disse, num tom baixo, não querendo que ele escutasse. Mas ele escutou. Parou de me fazer carinhos, e eu pude sentir seu corpo ficar tenso.

“Taehyung.” Ele repetiu, deixando claro em sua voz que não havia gostado nada disso.

Engoli seco. “Aham.”

“Você costuma dormir sempre na casa dele?” Ele perguntou, um forte tom de reprovação em sua voz.

“Não.” Eu afirmei, dando leves tapinhas em suas costas. “Foi mais por... necessidade. Eu não queria voltar para aquela casa vazia e me sentir sozinha lá.”

Ele quebrou o nosso abraço, se afastando ligeiramente e olhando para mim, fazendo bico. “Se você se sentir sozinha, você pode ficar na minha casa... Minhas irmãs não se importariam.”

Irmãs? Deixei isso pra lá, e apenas concordei. “Ok.”

Um sorriso genuíno tomou conta de seu rosto – ele me puxou de volta para um abraço. Seus dedos começaram a brincar com meu cabelo, e ele começou a falar entusiasmadamente. “Nós podemos assistir filmes e comer sorvete, e você pode bater papo com minhas irmãs, e eu posso cozinhar para você, e nós podemos brincar com os gatinhos, e eu posso tocar uma música para você, e nós poderemos ficar acordados a noite inteira conversando sobre qualquer coisa, dormirmos juntos e acordarmos atrasados para a aula do dia seguinte, e podemos tomar café juntos e-.” Ele deixou escapar um suspiro sonhador. “Ah, vai ser ótimo.”

Eu ri contra seu ombro, apertando meu abraço levemente ao ver o quanto ele era fofo. “Você tem gatos?” Eu perguntei, me afastando um pouco e puxando seu braço para que pudéssemos nos sentar.

Ele respondeu que sim, enquanto se sentava ao meu lado. O brilho que havia em seus olhos, era similar ao brilho de uma criança de três anos de idade que contava animadamente como havia sido seu primeiro dia de aula. “Aham; três. Eu os encontrei dentro de uma caixa em um dia muito frio... Fiquei com pena deles, então os coloquei dentro do meu casaco. Estavam todos juntos... Tinham sete, mas os quatro gatinhos que estavam por cima morreram congelados, só os que ficaram por baixo sobreviveram.” Ele agora olhava diretamente nos meus olhos, sorrindo. “A menor é Sarang, que quer dizer amor em coreano; ela é miudinha, tem as patinhas tão pequenas e branquinhas, enquanto o resto do pelo é cor de pêssego. As orelhas e o focinho são brancos também. Ela gosta de comer, e adora puxar seu cabelo quando você a abraça... E ela tem lindos olhos amarelos.” Ele então pegou minha mão e continuou a falar sobre os gatinhos. Senti minhas bochechas corarem. “E a gatinha de tamanho médio é a IU – minha irmã e eu que escolhemos esse nome por causa da cantora IU. Ela tem o pelo marrom com algumas listras douradas e cinzas, e seus olhos são verdes... e ela é tão engraçada! Ela adora pular por aí e brincar com as pessoas, e quando você sobe as escadas, ela costuma agarrar seus pés nos primeiros degraus.” Jungkook disse, tentando imitar o movimento da gatinha com as mãos. “Ah! E tem o Rufus.” Eu ri ao ouvir esse nome. “Ele é o único menino entre os gatinhos... ele é todo negro, com olhos marrons e a língua mais rosa que existe! Ele gosta de dormir e é muito preguiçoso, e quando ele anda, é bem devagarzinho... tipo-.” Jungkook fez um efeito sonoro pra representar o gatinho andando, não sei exatamente como descrever, mas soou como um ‘Nhaaa~ih~’, misturado com um bocejo, logo ele voltou a falar. “Ele sempre parece dizer ‘Estou tão cansado’... Ele é meu preferido. Ele dorme comigo – sempre se aconchega perto do meu braço, e dorme sempre nas posições mais esquisitas! Uma vez eu o encontrei dormindo dentro do pote de comida vazio com a barriguinha para cima e a boca aberta!” Ele parou com sua história, e olhou para mim. “Acho que você vai gostar muito deles!”

Eu concordei. “Eu adoro coisinhas pequenas e fofinhas.” Eu afirmei, colocando uma mão sobre meu peito, como se estivesse indicando que os gatinhos já tinham um lugar especial em meu coração.

Ele então fez bico. “Então você me amaria mais se eu fosse um Mini-Jungkook?” Ele perguntou, jogando sua cabeça levemente para o lado. Eu ri, balançando minha cabeça.

“Não, eu te amo de qualquer maneira.” Depois do que disse, comecei a me sentir um pouco desconfortável... Espero que ele não se prenda muito ao ‘eu te amo’ que eu disse, porque não era exatamente o que eu queria ter dito. Porém, felizmente, ele pareceu não se importar muito com isso, e começou a brincar com meus dedos.

“Hm, quantas...” Eu comecei, me movimentando um pouco. “Quantas irmãs você tem?”

“Três.” Eu me assustei ao ouvir isso – eu não costumo me dar muito bem com garotas. Sério. Nayeon é uma das únicas amigas que eu tenho... Ou tinha.

“Três?” Eu perguntei, fingindo gemer de dor. “Por que tantas assim?”

Ele riu. “Essas são só as que estão aqui na Coréia; o resto está morando em outros países, uma no Japão e três nos EUA”

“Espera, espera, espera.” Eu disse, começando a contar o número de irmãs nos dedos. “São SETE! Você tem sete irmãs?!” Essa mera possibilidade já era absurda.

Ele balançou a cabeça positivamente. “Depois que minha irmã mais velha nasceu, eles quiseram ter um menino, então eles continuaram tentando... Sete filhas mais tarde, eu nasci.”

Fiquei boquiaberta. “Não querendo ofender sua existência ou qualquer coisa do tipo, Jungkook, mas eu já teria desistido depois da segunda gravidez.”

Ele fez bico. “Mas se eles não tivessem tentado tanto, eu não estaria aqui com você.”

“E então ninguém teria te colocado como alvo, e nada disso talvez estivesse acontecendo; provavelmente eu ainda estaria morando no Canadá!” Eu disse.

“Ah, eu queria mesmo te perguntar sobre isso.” Jungkook murmurou, antes de sorrir e me puxar para que me sentasse em seu colo. “Você veio do Canadá?” Eu afirmei com a cabeça, sim, eu vim daquela terra fria. “Por que você não tem sotaque canadense?” Ele perguntou, me ajeitando em seu colo.

“Por que você não tem sotaque coreano?” Eu devolvi a pergunta, minha sobrancelha levantada. Ele sorriu ao ouvir isso, segurando uma de minhas mãos.

“Eu te perguntei primeiro,” Ele disse, pressionando um leve beijo nas costas de minha mão. “E eu tenho sotaque sim.”

“Muito pouco.” Eu lhe disse. “É bem fraco... Eu pensei que você tivesse nascido fora pro seu inglês ser tão bom assim.”

Ele balançou a cabeça negativamente. “Não, eu nasci na Coréia, mas fui morar com meus avós maternos nos EUA, quando tinha oito anos voltei para cá.”

“Hmm...” Eu murmurei. Agora eu entendia por que ele falava inglês tão bem.

“Aham.” Ele repetiu, apoiando sua testa contra a minha.

“Hmm... então você aprendeu coreano depois dos oito anos?”

“Aham.”

“Então cadê seu sotaque?” Eu choraminguei, segurando a jaqueta dele. “Você tem que ter um.”

“Não.” Ele balançou a cabeça. “Eu tive um bom professor.”

“E quem foi?”

“Meu pai.”

“Ah...” Então, talvez, quando ele veio para a Coreia, seu pai lhe ensinou coreano. Mas então porque não ensinou antes? Será que não moravam juntos em sua infância? Resolvi não lhe perguntar sobre isso, com medo de estar invadindo sua privacidade.

“Aish! Você sempre me faz falar tanto!” Jungkook de repente reclamou. “Bem, agora quero que você fale...” Ele agora voltou a me olhar nos olhos, senti sua mão subindo por minhas costas. “Cadê o seu sotaque canadense?”

“Eu nunca tive um.” Eu disse, balançando minha cabeça levemente. “Nem todos têm. Isso é só um estereótipo.”

“Ah,” Ele murmurou. “Sua mãe tem?”

Girei meus olhos. “Minha mãe É o estereótipo!”

Acho que essa foi a primeira vez que eu vi Jungkook rir com tanta vontade; era ótimo vê-lo assim, sua risada soava como música para meus ouvidos. Queria que ele risse mais assim.

Nós conversamos por mais algum tempo sobre assuntos irrelevantes, antes do sinal tocar e nos despedirmos para irmos para nossas respectivas aulas.

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Sua mão puxou a minha de novo, insistindo que eu o seguisse, mas eu não queria. Olhei para as enormes portas do ginásio, sabendo que quando passasse por ali não me sentiria nada bem. “Hm... Será que nós não podemos ficar aqui?” Eu perguntei a Jungkook. Ele se virou para me olhar, seus olhos cheios de preocupação.

“Por quê?” Ele perguntou, chegando mais perto de mim. “Qual o problema? Você está se sentindo bem?” Ele levantou sua mão e a colocou sobre minha testa, depois ficou sério. “Você não está com febre... O que-.”

“Eu só não quero entrar lá.” Eu murmurei, olhando para o chão enquanto mexia na barra de meu casaco nervosamente.

“Por que não?” Ele perguntou novamente, sua voz carregada de curiosidade.

Eu pressionei meus lábios formando um bico, olhando para ele e tentando fazer a melhor cara de súplica possível. “Eu só não quero entrar...” Vendo que isso não tinha funcionado, eu peguei sua outra mão e comecei a balançá-las de maneira infantil. “Por favor...?”

Ele sorriu, se inclinando e me dando um beijo no rosto. “Okay.” Ele murmurou, antes de suspirar e voltar a olhar para mim. Suas mãos se ergueram e ele as colocou sobre meu rosto, uma de cada lado, senti um frio na barriga. “Eu vou pedir à professora mais um dia livre para você, tá bem?” Quando eu concordei, ele continuou a falar. “Mas só se você me disser qual é o problema.”

Eu grunhi. “Isso não é justo.”

“É sim.”

Inevitavelmente, eu franzi minha testa – era como se ele estivesse fazendo um teste comigo para ver se eu confiava nele ou não, e eu não gostei nada disso. Eu já não confiava muito nas pessoas antes mesmo de começar a ser seguida, agora então. Será que ele não podia entender isso? Bem, acho que não, já que ele não sabia o que me deixava tão hesitante. Mesmo assim, ele deveria entender que eu não queria contar para ele isso. Assim como há coisas que eu não conto para ele, há coisas que ele não conta para mim...

“Eu não quero encontrar a Nayeon.” Eu menti, desviando meu olhar do dele para que ele não percebesse. “Ela vai começar a me pedir e perguntar um monte de coisas sobre a festa do Namjoon na quarta-feira.”

Ele suspirou, olhando para mim como se dissesse que ele sabia que aquela não era a verdade, mas, mesmo assim, me beijou na testa antes de ir falar com a professora. Assim que ele foi, eu me agachei, rodeando minhas pernas com meus braços, não gostava de ficar sozinha. Aqui, os corredores estavam vazios, já que as pessoas não costumavam entrar no ginásio por essa porta, e sim pela porta do outro lado. Era horrível imaginar o que poderia me acontecer enquanto eu estava sozinha.

“Lia...” Eu ouvi sua voz, tão perto que eu senti sua respiração sobre meu pescoço, e olhei rapidamente pra cima, mas não havia ninguém. Continuei olhando para os lados, procurando por ele. Jimin... eu tinha acabado de ouvir sua voz. Talvez eu estivesse ficando louca, mas parecia tão real! Olhei o corredor rapidamente, caminhando até a esquina para ver se ele não havia se escondido atrás da parede, mas ele não estava lá. Em um estado de semi-pânico, eu caminhei de volta para o lugar que estava antes, olhando à minha volta, procurando por sua presença.

No fim de minha cansativa procura, eu me apoiei contra a parede, ofegando. Eu não conseguia respirar. Era como se o ar que entrava em meus pulmões não fosse o suficiente. Comecei a massagear minha cabeça que, de repente, começava a doer. Tentei respirar mais fundo, mas parecia que o ar não ficava lá dentro por muito tempo. Uma palavra veio à minha mente; hiperventilação. Eu estava hiperventilando. Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava abanar meu rosto. A brisa me refrescou, e eu continuei a sacudir minhas mãos. Puxei minhas pernas, fracas, para mais perto, tentando estabilizar minha respiração.

Eu odiava isso, eu odiava o fato de Jimin ter o poder de me causar algo assim, e isso no fundo também era culpa minha. Ele nem estava aqui, mas para mim, era como se sua presença estivesse em todo o lugar. Ele me seguia mesmo não me seguindo em carne e osso. Ele me assombrava.

O nó em minha garganta aumentou, parecendo que minhas vias respiratórias estavam sendo obstruídas. O ar estava pesado e difícil de respirar, e eu de repente comecei a ficar com calor. Comecei a ouvir um forte barulho no meu ouvido, TUM-TUM. Era meu coração que batia cada vez com mais força. Muitos pensamentos começaram a se passar em minha mente, vozes ecoando, lembranças, tudo se confundindo. Minhas ações eram mecânicas, automáticas. Eu não conseguia sentir a ponta dos meus dedos tocarem meu rosto ao enxugar as lágrimas, também não havia percebido que estava com meu braço sobre meu peito, como se isso fosse me ajudar a respirar. Eu não controlava meus próprios movimentos, eu não conseguia entender porque eu fiquei de repente tão aterrorizada.

Minha visão começou a se distorcer, e tudo começou a ficar escuro. Eu senti que poderia morrer bem ali e agora.

“Lia!” Rapidamente eu olhei para cima, vendo Jungkook correr em minha direção. Minha visão melhorou um pouco, mas ainda estava embaçada. Eu, por instinto, estiquei meus braços em sua direção, tentando alcançá-lo, segurei-o com firmeza enquanto ele se abaixava e me segurava. Ele falou em uma voz baixa, porém firme, pedindo que eu respirasse fundo, mas eu não conseguia. Senti Jungkook segurar meu rosto entre suas mãos, e ele repetiu. “Respire pelo nariz; respire pelo nariz.” Sua voz parecia distante aos meus ouvidos, outrora parecia próxima. Tentei seguir suas instruções ao máximo, mas meu corpo lutava contra isso. Ele continuou a repetir a frase, e eu continuei a fazer o que ele pedia, logo começou a fazer efeito. Fiquei surpresa ao ver que assim que eu pude controlar minha respiração, o controle do resto do meu corpo também voltou, mas demorou mais.

Depois do que pareceram ser horas, abri meus olhos. Jungkook me encarava, sua respiração irregular. Passei uma mão pelo meu rosto, enxugando minhas lágrimas e o suor. Minha aparência devia ser horrível. Vi que ele estava preocupado, e para acalmá-lo, deixei escapar uma leve e amarga risada.

E de repente, eu me encontrava em seus braços, minha cabeça apoiada em seu ombro, enquanto ele me abraçava e acariciava meu cabelo. “Ah, você me assustou.” Ele murmurou; senti um beijo no lado de minha cabeça. “Eu fiquei tão assustado, Lia...” Fiquei surpresa ao vê-lo tremendo – ele parecia tão calmo quando estava tentando me ajudar. Ele fungou, e eu senti meu coração se quebrar em pedacinhos.

“Eu estou bem.” Minha voz era fraca e tremia um pouco. “Está tudo bem, Jungkook.”

“Como assim ‘tudo bem’?” Ele riu sarcasticamente, me afastando ligeiramente para que ele pudesse ver meu rosto. Sua mão se moveu do meu cabelo para acariciar minha bochecha. “O que você teve? O que você sentiu exatamente?”

Eu funguei, respirando fundo. “Eu... não conseguia respirar... me faltava ar. Eu não conseguia pensar direito... tudo parecia tão surreal. Não sentia minhas mãos, e não conseguia controlar minhas ações, na parava de chorar... eu pensei que ia ficar louca – ou que eu fosse morrer logo... e... e eu estava... muito assustada...” Tentei pensar em mais alguma coisa que havia sentido, e me lembrei das pernas. “Estava tonta, e minhas pernas estavam muito... fracas...” Jungkook franziu a testa, colocando meu rosto novamente entre suas mãos.

“... Você teve um ataque de pânico, Lia.” Essas palavras surtiram um efeito em mim maior do que deveriam.

Um ataque de pânico?

Ataque de pânico...

Eu estava ficando realmente louca.

Ele suspirou, colocando seus braços em volta de mim, depois me levantou e me manteve de pé. “Você acha que consegue caminhar?” Ele perguntou, baixando sua cabeça para olhar meu rosto. Eu respondi que sim, e ele me soltou, mas ficou perto o bastante para me segurar caso eu caísse.

Eu dei um passo hesitante, mas parecia que eu não tinha forças para carregar meu próprio corpo. Senti minhas pernas fraquejarem, mas fiquei feliz por Jungkook estar tão perto. Ele me segurou, não deixando que eu fosse de cara no chão, então voltou a me segurar de pé.

“Obrigada.” Eu murmurei, me sentindo uma idiota. Ele sorriu, colocando uma de suas mãos em minhas costas, me empurrando levemente como se me encorajasse a andar. Com sua ajuda, consegui dar alguns passos. Ele continuou a sorrir enquanto me ajudava, e quando finalmente eu consegui andar sozinha, ele me recompensou com mais um beijo na testa. Franzi a testa quando ele começou a me puxar para dentro do ginásio. “Pra onde você tá indo?” Eu perguntei, ficando nervosa só de pensar que eu entraria no ginásio.

“A sua professora não acredita que você está se sentindo mal – ela quer te ver.” Ele parou, me olhando. “Tenho certeza que ela vai acreditar assim que te ver.”

Franzi minha testa. “Minha aparência é tão ruim assim?”

Ele riu, apertando minha bochecha. “Você tá com a aparência de quem acabou de ter um ataque de pânico, só isso.”

Como Jungkook havia previsto, a professora imediatamente me dispensou e me aconselhou a ir pegar um pouco de ar fresco.

Jungkook me levou para fora, mas, surpreendentemente, nós ficamos relativamente perto da escola. Nós não ficamos nem mesmo embaixo da árvore, e eu odiei isso – me sentia exposta.

Fiquei apoiada na parede da escola, já totalmente recomposta do ataque de pânico. Quando abri meus olhos, Jungkook estava à minha frente, a ponta de seus pés encostando nos meus. Suas mãos me tocaram, uma no ombro e outra na bochecha, e eu sabia que estava prestes a passar por um interrogatório.

Ele deixou um pesado suspiro escapar, e suas mãos caíram ao lado de seu corpo. “Qual o problema? Você pode me contar, não pode?”

Eu franzi a testa; não era tão fácil. “Eu não sei.” Eu admiti. “Eu não sei exatamente o que é errado e o que é certo, e nossa-.” Eu suspirei. “Isso é tão frustrante.”

“Bem,” Ele murmurou. “Comece a contar pelo início.”

Eu balancei minha cabeça. “Não é tão fácil assim.”

“Por que não?”

“Porque...” Eu encolhi meus ombros, incerta de como responder. “Porque não.”

Uma onda de diferentes emoções invadiu o rosto de Jungkook, algumas eu não pude reconhecer, e ficou mais difícil ainda ver seu rosto quando ele abaixou a cabeça, mas logo voltou a levantar a cabeça, parecendo impaciente e dominante. “Olha...” Ele disse de repente. “Eu sei que aquilo não foi um simples ataque de pânico, foi um bem severo. E eu também sei que, para uma pessoa ter um ataque desses, é preciso ter uma razão, uma causa. Agora, eu não sei qual é essa razão.”

“Eu sei o que é.” Eu disse, esfregando meus braços gelados. Ele percebeu que eu estava com frio e se aproximou mais, acariciando meus braços para gerar calor.

“Então me diz o que é.”

Eu suspirei, me inclinando para frente, até recostar minha cabeça sobre seu peito. Respirando fundo, tentei não me concentrar muito no nome da pessoa que estava a ponto de dizer. Então disse.

O corpo de Jungkook ficou tenso. “Jimin?” Ele repetiu o nome que eu tinha acabado de dizer, como se quisesse confirmar o que havia escutado.

“Aham.”

Seus braços lentamente me rodearam, e ele me envolveu em um abraço. “E o que ele te fez?”

Lágrimas começaram a se acumular em meus olhos. Não diga a ele, não diga, não diga, não diga. “Nada.” Ah, pronto. Não diga mais nada, Lia. Não diga. Isso é tudo o que ele precisa saber.

“O que ele te fez, Lia?” Ele insistiu, sua voz agora mais firme, porém cheia de preocupação, e isso fez que eu perdesse minhas forças.

Fechando meus olhos com força, as lágrimas acumuladas deslizaram por minhas bochechas, tentei pensar na melhor maneira de lhe contar. “Por que você não pergunta a ele...?” Eu murmurei, percebendo que eu não seria capaz de lhe contar.

Depois do que pareceu uma eternidade, ele me surpreendeu ao me levantar e me levar ao pátio da escola. Ele se sentou cuidadosamente em baixo da árvore, e em nenhum momento me soltou.


Notas Finais


Heey~! Volteeei! Como está sendo o início de 2018 para vocês? Espero que esteja sendo maravilhoso. =D
Passando aqui correndo só para deixar mais um capítulo, estou trabalhando em uma surpresa para vocês e espero terminar em breve. ♥
Saranghae~


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