História Stalker - Voltarei para te buscar

A médica ficou um tempo apenas encarando Julia, tentando digerir as palavras da ruiva. Suspirou e começou a pedir para que a delegada não tivesse perdido sua memória. Parou de frente ao quarto que Lauren estava e entrou devagar, olhando-a em sua cama. Quando Camila colocou todo seu corpo para dentro do quarto, o olhar de Lauren caiu sobre a médica, mas nenhuma palavra foi dita por ambas. Camila aproximou-se da cama de Lauren, que não tirava seu olhar da médica.

– Oi – a delegada pronunciou baixo – você é minha médica? – Camila travou, ela havia esquecido quem ela era, havia esquecido tudo – porque isso explicaria o porquê que eu estou tão bem – deu uma piscadela para Camila, que entendeu a malícia na brincadeira, bufando aliviada por Lauren lembrar dela

– Idiota – deu um tapa leve no braço da delegada – como está se sentindo?

– Bem, mas com um pouco de dor na cabeça – Lauren estava com algumas partes enfaixadas, seu rosto ainda havia marcas da briga – e você?

– Bem – esboçou um sorriso e sentou-se ao lado da cama, pegando a mão da delegada – já te deram a notícia?

– Qual?

– Identificaram o mascarado – a delegada ficou um tempo olhando para Camila, que aguardou uma resposta

– Já te falaram quem é? – a médica negou – quero ir vê-lo – ia apertar o botão para chamar o médico, mas Camila impediu-a.

– Espera! – segurou a mão da delegada – ele pediu para que eu fosse vê-lo.

– O quê? Sozinha? – Lauren deu uma risada irônica – jamais.

– Por quê? – a delegada continuou com sua expressão fechada, se negando a aceitar que Camila fosse sozinha ver aquele sujeito – tudo bem, vamos esperar, então, que você receba alta para irmos vê-lo juntas.

Lauren apertou o botão para chamar o médico e logo o mesmo entrou em seu quarto.

– Quero receber alta!

– É o que todos querem antes mesmo de serem internados – cruzou os braços e encarou Lauren

– Mas eu quero hoje – insistiu.

– Não creio que seja uma boa ideia – começou a observar os papéis relacionados à Lauren – se bem que sua recuperação tem sido boa.

– O que mais falta?

– Só repouso e alguns remédios – deixou os papéis de lado e olhou para Lauren

– Eu cuido disso em casa – sentou-se na cama, fazendo algumas coisas desconectarem de seu corpo, o médico suspirou e ajudou-a levantar, sabendo que não ia adiantar insistir.

– Eu vou mandar a papelada lá para frente enquanto você se arruma para sair.

O médico saiu do quarto e Lauren foi pegar suas coisas para trocar-se no banheiro do quarto, mas como um de seus braços estava enfaixado junto com seu ombro. Olhou para Camila, que sorriu e foi ajudá-la. Entraram no banheiro e Camila tirou o roupão do Hospital do corpo de Lauren. Ao olhar sua barriga que estava com alguns curativos, Camila sentiu-se ainda mais triste, ela estava muito machucada.

– Será que tem como eu tomar um banho com isso? – olhou para seu corpo

– Por enquanto, não – suspirou e colocou a blusa da delegada

Tentou ignorar o resto das marcas que achou pelo corpo de Lauren e logo acabou de vesti-la. Saíram do quarto e encontraram com Jonas e Julia no lado de fora do prédio.

– Teimosa – revirou os olhos ao ver Lauren

– Também é bom te ver de novo – Julia negou com a cabeça, mas acabou rindo e indo dar um abraço de leve na delegada – e esse é seu novo namorado, então?

– Sou Jonas – falou sorrindo, mas Julia repreendeu-a com o olhar

– O quê? Tenho que conhecer meu cunhado, não tenho? – a ruiva bufou e todos riram – Então, Jonas – o policial olhou-a esperando a mesma continuar – é você quem vai me levar para ver o homem que prenderam?

– Pode ser – assentiu e apontou para o carro que ele estava

– Lauren – a ruiva parou em frente a delegada – certeza?

– Absoluta!

Camila e Lauren entraram nos banco de trás, enquanto Julia e Jonas estavam no banco da frente. Mais ou menos cinco minutos depois eles estavam parando em frente à delegacia, onde o sujeito estava. Desceram do carro e Lauren logo foi reconhecida ali. Viu Kate, que sorriu surpresa ao ver a delegada, sorrindo de volta.

– Lauren Jauregui – ouviu uma voz conhecida quando as portas do elevador abriram, era seu chefe

– Sr. Tormena – apertou a mão do mais velho

– Acho que te devo certas desculpas – foram conversando enquanto iam até onde o homem mascarado estava

– Fiquei sabendo o que fez, foi o bastante – sorriu para o homem, que deu de ombros

– Fiquei feliz por saber que cheguei a tempo – suspirou e pararam em frente a porta que dava acesso para as salas de interrogatório, estava apenas Lauren e Camila com ele.

– E o que fez o senhor mudar de ideia sobre minha culpa?

– Eu nunca quis acreditar – suspirou – mas você sabe como é, precisamos de provas e seus álibis te condenavam – Lauren assentiu, ele tinha razão nessa parte – a única coisa que poderia retirar sua culpa era uma digital.

– Uma digital? Então você encontrou uma, certo? – o homem assentiu e deixou que Camila e Lauren entrassem na sala de controle, que havia um vidro que dava para ver quem estava na sala de interrogatório – esse é seu homem, Lauren.

Lauren aproximou-se do vidro, ela reconhecia aquele homem, não parecia nada estranho para ela. Olhou para Camila, que estava com suas mãos tampando a boca, seus olhos arregalados e focados no homem do outro lado do vidro.

– Camila? – aproximou-se da médica – você o conhece?

– Sim – assentiu retirando suas mãos da boca – e você também – a delegada olhou novamente para o vidro – Paulo, lembra?

Foi como se Lauren ouvisse um “click” em seu cérebro quando Camila disse aquele nome. Paulo foi um professor com pouca diferença de idade no colégio em que ambas estudaram. Lauren lembrava bem dele, em como tinha ciúmes da Camila quando a via conversando com ele. Em como ele olhava para ela, como ele odiava Lauren por ter Camila. E então lembrou-se também do dia em que a delegada viu ele encarando escondido enquanto Camila ensaiava sua dança em uma das salas. Lauren aproximou do lado do homem e sussurrou em seu ouvido: “você nunca terá ela!”. Isso a fez lembrar do que ele disse para Lauren antes da mesma apagar por uma pancada.

“– Você está armada, não quer conversar – sua voz soou conhecida, grossa e rouca, mas não se lembrava de onde – o que quer?

– Paula, Paula Vieira – engoliu em seco, qualquer movimento que ela tentasse, a flecha ia direto em sua cabeça

– Ela é toda sua – girou a cabeça continuando a encarar Lauren – se me entregar Camila

– Você nunca terá ela!

(...) antes de desmaiar ainda sentiu sendo pegada no colo e ouviu-o dizer:

– Você já me disse isso, sabia? – e então apagou”

Bufou, não queria acreditar que ele seguiu Camila e a si durante esse tempo todo sem que ela notasse. Sentia raiva, ódio, queria socá-lo até perder a consciência, mas respirou fundo e falou que iria entrar na sala de interrogatório para falar com ele. Camila abriu a boca, mas desistiu de falar, indo ficar apena olhando Lauren e Paulo pelo vidro da sala. Lauren entrou e reparou que as mãos do homem estavam algemadas na mesa. A expressão da delegada era séria, quase neutra, ela tinha planos para ele.

– Ora, ora – o homem sorriu – olha só quem está viva – Lauren sentou-se de frente para ele

– Não era seus planos, não é? – sorriu irônica

– Nem tudo sai como planejamos, não é mesmo? – deu de ombro – mas minha consciência está bem limpa.

– Limpa? Mesmo depois de ter matado duas garotas inocentes?

– Eu não matei ninguém – sorriu, fazendo Lauren olhá-lo sem entender – o sangue dessas meninas estão em suas mãos, delegada – sussurrou aproximando-se de Lauren

– Como assim?

– Você me transformou no que eu sou, Lauren – sua voz ficou grossa, em um tom doentio – você é a responsável por cada mal que eu causei àquelas meninas e Camila.

– Não fale o nome dela – esbravejou, o homem aproximou-se novamente

– Camila, Camila, Camila – Lauren estava irritada, seus punhos cerrados e ódio subindo, o homem riu

A delegada se levantou e saiu da sala, voltando para onde Camila e seu chefe estavam. Bufou batendo a porta.

– Quanto tempo de prisão? – olhou para seu chefe, que desviou o olhar

– Nenhum, ainda – Lauren e Camila olharam-no surpresas – calma, calma. O juiz pediu para averiguar se ele não tem problemas mentais.

– Se ele tiver, vai ser tratado até poder responder por seus crimes, certo? – o homem assentiu e Lauren deu uma última olhada para o vidro, ele estava encarando-a, como se também conseguisse vê-la do outro lado

– Vamos sair daqui, por favor – Camila agarrou o outro braço de Lauren, os olhos da médica estavam marejados.

Moveram-se para saírem da sala, mas ouviram Paulo dizer algo.

– Camila? – a delegada tentou continuar puxando a médica, mas a mesma soltou-se e olhou para trás – eu sei que você está ai, amor – o sangue de Lauren ferveu e Camila aproximou-se do vidro, reparando que o homem olhava no lugar certo onde ela estava – fica tranquila, ok? Eu voltarei para te buscar!