História Starving - Capítulo 1 - Inferno 2.0

Starving

 Capítulo 1 - Inferno 2.0

 - Como ele se atreve? Depois de oito meses acha que pode vir aqui, invadir minha nova vida e minha confeitaria com todo o showzinho dele? – Falei apertando com mais força o saquinho que usava para aplicar o glacê nos bolinhos. – Ele acha isso justo? Porque olha, não é nem um pouquinho.

- Baek, ele deve estar com saudades de você. – Luhan respondeu em tom divertido, apenas recebendo um olhar reprovador de minha parte. – Okay, me desculpe. Mas, eu em momento algum falei que era da vida pessoal, sua cabecinha que formulou isso.

 - Lu, ele não me avisou e nem me perguntou se eu queria! Fiquei sabendo que ele iria vir pra cá por essa merda de jornal! Ele não se importou se eu aceitaria, ele só bateu o martelo e decidiu e iria vir com todo aquele ego. 

 - Mas você não pensou que isso poderia ajudar sua confeitaria à ganhar mais clientes? O dinheiro que ganharia poderia ajudar a contratar mais pessoal, ao invés de você ficar aqui até de madrugada fazendo cupcakes, tortas e todo o restante que você faz aqui.

- Pode até ser, mas isso foi falta de consideração, Lu.

 Eu estava com o meu amigo, Luhan, na cozinha de nossa casa fazendo alguns cupcakes como terapia, uma forma de nos acalmarmos enquanto conversávamos sobre tudo, desde coisas boas até meu ex-chefe e esse sendo o meu pesadelo de agora.

 Park Chanyeol, esse é o nome do meu ex-chefe e companheiro de cozinha. Trabalhei para ele por quatro anos, com muito esforço e dedicação. Consegui subir ao cargo de chef em dois anos, quando ele começou a fazer um programa de televisão chamado Chef Hot Kitchen’s Cake. A parte do hot combina bastante com sua aparência sedutora. Alto de cabelos negros, que destacavam com perfeição contra sua pele branca igual a uma trufa branca, mãos grandes que davam conta do recado quando precisava amassar algumas massas, ágeis. Não que eu repare no meu ex-chef. Não, longe disso. Eu apenas o via com muita frequência.

Bom, continuando, eu deixei o Bagunçoso, sua confeitaria, para abrir minha confeitaria própria e por outros motivos e circunstâncias. No Bagunçoso, haviam vários boatos de como consegui meu posto de chef em tão pouco tempo naquela cozinha. Um desses era sobre termos um caso, de eu ter me oferecido. Eu ignorava aqueles boatos, ou apenas tentava não dar importância ao que falavam.  Mas como qualquer outro ser humano, eu tinha limites. E quando atingi o meu, fiz minhas malas, escrevi minha carta de demissão e fui embora pra bem longe. Eu também não aguentava mais a agitação de Seoul, muito tumultuada, sirenes a cada cinco minutos, gritos de pessoas brigando a todo momento. Decidi, então, vir para Bucheon, ou melhor, voltar. Bucheon não era aquele tipo de cidade pacata ou de interior, mas era relativamente mais calma do que Seoul.

  - Mas porque eu? Só porque trabalhei pra ele?

  - Você sabe que não é só por isso, Baek. As pessoas podem não estar prestando neste momento, mas você sabe que é apenas questão de tempo antes da verdade vir a tona. Qualquer que seja a notícia sobre o Chef Hot delicioso e dono do coração da metade da população coreana, estar interessado em um homem, principalmente de um com quem ele já trabalhou, treinou, ensinou e a quem entregou sua amada, querida e magnifica confeitaria. Ah, sem esquecer de quem, no tempo, rolaram umas boas e longas fofocas sobre serem amantes, uma coisa realmente muito interessante, afinal. Isso não é uma daquelas noticias que botam no início do jornal ou aquelas de um gatinho em cima de uma árvore que ninguém se pergunta de como aquele animal chegou até lá. Baekhyun, essa será a notícia! Está entendendo o que é isso?

Não vou mentir que me senti um tanto quanto enjoado, daquele jeito que sentimos quando vemos o Chris Hemsworth, sem camisa, ou a Scarlett Johansson vindo em nossa direção, só em sonho. Resumindo, quando botamos em hipótese que aquela pessoa que gostamos, pode, mesmo que miseravelmente, gostar de nós. Fiquei com o estômago embrulhado, como ficava com frequência “naquele tempo”. Mas o tempo tinha misericordiosamente, encontrado o seu fim fazia oito meses. Amém, irmãos!

- Luhan, não existe nenhuma notícia para contar ou fazer matéria sobre. Nunca existiu motivo para aqueles boatos, mesmo que interessantes, bem maldosos. Principalmente da parte de Chanyeol. Você era o único que sabia de como eu me sentia a respeito do meu chefe. E se eu soubesse que tinha aberto a boca, teria matado você durante dormia, escovando os dentes ou até mesmo fazendo uma arte barroca nada agradável em seu banheiro.

- Você está insinuando que... – O interrompia antes mesmo que ele completasse a linha de raciocínio.

- Não, claro que não! Não intenda errado, de modo algum. Eu confio em você!

Luhan era como uma família para mim, eu confiava nele como se confia que uma mão pode morrer para salvar seu filho. E eu sei que esse sentimento é recíproco.

- Não teria me importado, se tivesse dito, de qualquer forma. – Comecei. – Quer dizer, ninguém na face da Terra, desse planetinha bem grade e azul, se importaria com meus sentimentos por ele, porque Chanyeol não se importava, não se importa e muito menos, se importará. Sem dúvida, isso não é algo de se tornar notícia agora. Sim, graças a ele, minha vida profissional foi do paraíso ao inferno em pouco tempo, por quatro anos. E ele nunca me defendeu daqueles boatos, nem ao menos uma vez. Nunca fez alguma coisa para mudar aquela situação desagradável. Entretanto, mesmo aquilo tendo me magoado e eu ter odiado a situação em que eu estava, não me surpreendi dele não ter feito nada. Chanyeol não dá importância àquilo que não o interesse ou que não o dê dinheiro. Prefiro, ou melhor, quero acreditar que ele não tem nenhuma ideia do que acontecia naquele tempo e de que está mexendo com um ninho de cobras aos vir até minha confeitaria. Não acho que ele faria, de propósito, algo tão... – Procurei a palavra, mas eu não estava conseguindo achar.

- Cruel? Atroz? Sádico?

 - Não. Inconsequente. – Finalizei. – Isso ode prejudicar o programa.

 - Ele teve que vender a ideia dele de algum jeito.

 - Você acha que Chanyeol me usou como justificativa? Mesmo que, em hipótese, ele tenha feito isso, os produtores e a diretora teriam caído na nele? Não tem nada ara ser explorado aqui, Lu. Nós nunca fomos nada além de colegas de trabalho.

- Infelizmente, né? Pode concluir assim, que eu deixo. – Falou pegando os cupcakes prontos e os levando para a mesa e eu fui até a geladeira buscar o suco. - Tem razão, isso não faz o tipo do que ele faria. Talvez, finalmente, ele tenha se dado conta de que tornou sua vida em um verdadeiro inferno. – Sugeriu se sentando à mesa e pegando um bolinho. – Pode ser que, pela perspectiva dele, trazer o programa dele até Bucheon seja uma forma de se redimir pelo que fez. Uma forma de ajudar e tentar consertar as coisas. Isso sim, se parece com algo que ele faria.

Quase me engasguei com o pedaço de cupcake que tinha acabado de morder.

- Ajudar? Consertar as coisas? Como? Invadindo meu santuário? Minha casa? Minha nova vida? E transformar tudo o que fiz em um circo? Como caralhos isso é diferente da minha vida antiga? Transformar minha nova vida em um inferno 2.0? Até o Chanyeol não é tão imbecil e idiota.

Ou seria? Acho que não.

- Pode ser que as fofocas e os  problemas na cozinha não tenham sido o atrativo. Ele pode ter mencionado em você, que largou uma carreira ascensão como pâtissière premiado do Bagunçoso para abrir sua própria confeitaria em Bucheon. – Falou, embora não soasse como se estivesse convencido da ideia. Não completamente. – Além do mais, quando você se foi, deixou um tanto de gente apaixonada com o seu talento.

Bufei apoiando minha cabeça na minha mão direta.

- Muito bem, talvez tenham ficado impressionados e embasbacados porque você deixou bem claro que eles são um bando de asnos fofoqueiros e de mentes pequenas e desprezíveis. Mas o que realmente interessa é que não há uma alma que duvide de seu talento, e muito menos de você. – O sotaque adorável de Luhan era estranho quando ficava com raiva. Parecia que eu estava levando bronca de alguém da realeza. – O babaca do Chanyeol te escolheu porque o seu talento fez com que se destacasse e merecesse esse tipo de apoio. Ele te deixou encarregado do Bagunçoso porque ele te achava capaz de cuidar dela sem que ele morresse de preocupação. Aquele homem trata a confeitaria dele como se fosse um filho, ele não deixaria nas mãos de algum qualquer que não desse conta do recado, ou que não fosse capaz de cuidar dela. Quando você foi embora, todo mundo tinha ciência de que você merecia tudo aquilo que conquistou. Mesmo que em pouco tempo. 

- Estas mesmas pessoas não tiveram nada melhor pra fazer do que espalhar aquelas fofocas cruéis e aquelas grosserias vulgares sobre como “conquistei” o meu posto, e em quantas posições eu fiquei, em quais lugares daquela cozinha, ou até mesmo fora, fiz, e com quanta frequência, para ser digno de tal.  – Falei. – Eu sabia o que falavam. Você sabia, todos sabiam na verdade. Aquilo foi repulsivo, indecente, nojento, e não vou fingir que eu não me magoei. Eu fiquei muito magoado. Aquilo nunca tinha ocorrido comigo antes, Lu.

- Você é muito bonzinho, Baek. Foi por isso que fizeram todo aquele show. – disse Luhan. – É um garoto legal, divertido e o melhor amigo que todo mundo quer ter. E eles te maltrataram. Mas você, meu querido, mostrou que o buraco é muito mais embaixo.
 
                    - Lu, eu não concordei em gerenciar o Bagunçoso quando Chanyeol começou a filmar o programa porque queria provar por “a” mais “b” que eu merecia. Fiquei lá porque pensei que era aquilo que eu mais queria, aquilo pelo que eu tinha me esforçado pra caralho para conseguir. Era um sonho gerenciar uma renomada confeitaria. Eu sabia que tinha conquistado aquilo pelo meu talento, até porque fui eu que ralei igual um condenado para conquistar aquilo. E isso, era tudo o que importava.

Naquele tempo, de qualquer forma.

Eu estou feliz com minha adorável confeitaria, mesmo não sendo famosa igual à de Chanyeol. Minha querida Wonderland Sugar era minha, meu pedaço naquele grande e concorrido mercado de gastronomia.

- Fui chef executivo do Bagunçoso por quase três anos. Eu aguentei aquilo tudo por três anos! Contudo, eu sei que. talvez devo ser conhecido na indústria gastronômica. Ou fui. Mesmo que seja verdade, qual é o sentido me arrastar de volta para aquilo tudo? Chanyeol é e continuará sendo bem-sucedido pra caralho, sem mim, não tenho nenhuma dúvida disso.

- Eu não sei, pode ser que ele realmente pense que de alguma forma, está te ajudando.

- O que é um tanto arrogante e ofensivo, não? Em nenhum momento pedi ajuda de ninguém e definitivamente nem a dele. Meus negócios estão indo bem.

Quando eu decidi ficar em Bucheon, fui logo procurar um lugar para a minha confeitaria. Assinei o contrato de locações, comprei os equipamentos e planejei toda a ornamentação de confeitaria. Tentei não me culpar por ter deixado o Bagunçoso para trás, deixar Chanyeol na mão e de ter deixado todo meu sucesso pelo qual eu tinha batalhado tanto em Seoul. Eu só fiquei mais confuso quando me dei conta de que o principal sentimento que estava sentindo de ter abandonado aquilo tudo, toda aquela agitação e brilho era de alívio.

- Lu, vamos aproveitar esses cupcakes de floresta negra com recheio de trufa de framboesa com uma cobertura divina de ganache de chocolate processado. Deixa isso pra lá, quando ele chegar, eu resolvo isso. Não adianta eu ficar decorando as falas, porque eu sei que quando ele chegar, eu vou falar tudo, menos aquilo que ensaiei. – Falei tirando o bolinho da forminha de papel.

- Que estão divinos, na verdade.

Era muito bem tê-lo por perto. Ele sempre tentava fazer parecer que tudo aqui que me afligia e me incomodava, iria passar. Tudo passa e Chanyeol não seria diferente.

Cedo ou tarde tudo iria se ajeitar.