História State of Grace - Wildest Dreams

Melissa já estava cansada daquela festa.

Ela jurava que não tinha sequer sentado desde que a celebração começou, e isso havia sido há horas. Parecia que ela já tinha dançado com todos os homens do salão, menos com os que gostava de dançar.

A princesa já não aguentava mais sorrir para políticos e manter conversas chatas. Ela só queria dançar com alguém que a conhecesse e que não precisasse ser a princesinha perfeita.

Quando o rei da Noruega a cumprimentou no fim da dança ela respirou aliviada, por finalmente ter acabado, mas então viu o príncipe da Nova Ásia se aproximando e o desespero voltou a tomar conta. Ela já havia dado uma desculpa para ele da primeira vez que tinha sido convidada para dançar e nem todo raciocínio rápido a salvaria daquela vez.

Para seu grande alívio, ela foi salva por cabelos loiros e olhos cinzentos, mas não aqueles que ela estava acostumada.

-Desculpe Katsuo, mas essa dança é minha. –o rei de Illéa sorriu para o garoto.

-Claro majestade. –o príncipe se afastou.

-Já falei que você é o melhor padrinho de todos? –a menina perguntou sorrindo e começando a dançar com o padrinho.

-Não desde que cheguei aqui. –eles riram. –Como você está?

-Eu estou bem. –ele forçou um sorriso. Scorpius a olhou esperando a verdade. –Ta bem, eu estou apavorada. Meus pais falaram com vocês não é?

-Eles falaram, não sabiam o que fazer...

-E como você e a tia Rose já lidaram com isso...

-Erámos os melhores conselheiros.

-Acha que estou me precipitando?

-Não. Só você sabe das suas motivações e o que te levou a isso e ninguém, nunca, pode dizer que você está errada. –o rei respirou fundo. –Sei que parece hipocrisia da minha parte falar isso pra você depois de ter brigado com a Cassie pelo mesmo motivo, mas eu acredito que nós aprendemos com os erros, e eu aprendi.

-Eu to com tanto medo de decepcionar todos ao meu redor. De abrir mão de toda uma vida previamente construída e não fazer nada que traga orgulho para os meus pais, pra vocês.

-Melzinha, -ela sorriu com o apelido de infância. –você nunca vai decepcionar as pessoas ao seu redor. Independente do que você fizer, nós sempre vamos nos orgulhar de você.

-Obrigada. –ela sorriu. –Agora só preciso conseguir um jeito de me livrar daqueles príncipes chatos.

-Se mantenha na linha, saia com eles algumas vezes, faça algumas vontades da Cristal, que Rose, Violet e seu pai estão tentando convencê-la e desistir dessa coisa. Mas não diga que eu te contei. –ele deu uma piscadela.

-Obrigada, obrigada, obrigada. –ela abraçou o padrinho.

-Tem que agradecer a eles que estão lidando com a fera. –eles riram. –Agora vai curtir sua festa.

Ela saiu feliz da pista de dança e se aproximou de suas amigas.

Por horas ela se divertiu com seus amigos, dançou com pessoas interessantes, comeu, conversou e se sentiu verdadeiramente em uma festa de aniversário. Vez ou outra via Cygnus a olhar, mas evitava qualquer aproximação.

Quando o sol começou a se pôr ela sabia que estava chegando a hora mais importante daquela festa. Tinha no máximo mais uma dança antes de ter que fazer seu pronunciamento oficial. Uma música lenta começou a tocar, ela se levantou antes que qualquer um se aproximasse dela, caminhou até o bar e ficou de frente para a única pessoa com quem queria estar naquele dia.

-Uma última dança como Mel e Cyg, o casal mais improvável e proibido da realeza?

-Achei que não quisesse ficar perto de mim hoje.

-Seria o melhor pra nós dois, mas eu me arrependeria pelo resto da minha vida se a última dança de hoje não fosse com você.

Ele assentiu, pegou a mão dela e a guiou até o meio da pista de dança. Eles dançaram em silêncio, apenas sentindo a presença um do outro. Era a última vez que fariam isso. Daquele dia em diante, todas as vezes que dançassem seria apenas por decoro. Eles não seriam nunca mais aqueles adolescentes apaixonados. Ele seria um rei, um grande rei, e ela seria algo que ainda não sabia, mas eles não pertenceriam mais um ao outro.

Quando a música acabou eles fizeram reverencias e se distanciaram. Ele caminhou para fora do salão, sendo seguido por suas irmãs, e ela caminhou para o palco, onde seus pais e irmão já estavam.

Assim que assumiu o microfone e olhou para todos os convidados à sua frente ela entendeu o que Scorpius havia falado sobre apenas ela saber suas motivações, ali não era o seu lugar, nunca foi.

-Boa noite a todos. –ela deu seu melhor sorriso. –Obrigada por terem vindo ao meu aniversário e por terem sido tão gentis no dia de hoje. Minha família e eu estamos felicíssimos com a presença de vocês aqui. Sabemos que muitos vieram de longe e isso nos alegra ainda mais. Quero também agradecer aos meus pais por tudo que fizeram por mim durante todos esses dezenove anos, ao meu irmão por ser o melhor do mundo e aos meus padrinhos, o rei Scorpius e a rainha Rose, por terem vindo até aqui mesmo em meio a todos os preparativos para a Seleção. Mas hoje é um dia ainda mais especial. Há tempo, venho pensando sobre a minha vida e o que quero fazer com ela. Sei que pode parecer bizarro, eu, uma princesa, com toda sua vida traçada, estar pensando sobre o que quer fazer com a sua vida, mas eu pensei. E conclui que quero muito mais do que essa coroa tem a me oferecer, por esse motivo, eu Melissa Quinn Lima, princesa herdeira das Nações Latinas, renuncio ao meu trono.

***

Foi uma loucura após o pronunciamento de Melissa.

A maioria queria explicações sobre o acontecido e saiam irritados por não recebê-las.

Os convidados de Illéa partiram assim que a maior parte do furdunço acabou. Eles precisavam voltar logo, dado a Seleção que começaria no dia seguinte.

A maioria deles preferiu dormir no avião, já que chegariam a Illéa pela manhã, mas os três irmãos não conseguiam pregar os olhos. Eles estavam sentados em um sofá na parte mais afastada do avião.  Mantiveram o silêncio durante as primeiras horas de voo, mas as princesas não aguentavam ver o irmão com aquela cara.

-Cyg, conta pra gente que te deixou assim. –Cassiopeia pediu.

-Não foi nada. –ele falou cabisbaixo.

-Cygnus, você não estava muito bem à festa inteira, mas no final você piorou, você ficou chorando na estacaria do palácio e vem falar pra gente que não foi nada. Logo pra nós? Suas irmãs que te conhecem desde sempre e sabem muito bem que você não é do tipo que chora a toa. –Calisto falou.

-Vocês querem mesmo saber? –elas assentiram. –Ta bem, vou contar, mas vocês não podem contar pra ninguém. Nem pra mãe, nem pro pai, Lucas, Dean, Joana, Logan, absolutamente ninguém.

-Ta, nós não vamos contar. –Calisto falou.

-Juram de dedinho?

-Nós não temos mais oito anos Cygnus. –Cassiopeia riu, mas o irmão permaneceu sério. –Ok, ok. –as irmãs juram.

-Eu e a Mel tivemos um relacionamento secreto nos últimos dois anos.

-Ta de sacanagem? –Cassiopeia ficou boquiaberta.

-Eu não acredito. –Calisto olhava em choque para o irmão.

-Podem acreditar, eu não to brincando.

-Como isso aconteceu? –Calisto perguntou, mais recuperada que sua irmã.

-Lembram das bodas de ouro dos nossos avós? –elas assentiram. –Então, naquele dia eu estava chateado por causa daquela história com a Marie, tinha brigado com a mãe por causa disso e não queria ficar fazendo cara de família feliz pra um monte de jornalistas, então na primeira oportunidade eu fugi. Passe pelo bar, peguei uma garrafa de vinho e fui pro gabinete, quando eu cheguei lá a Mel estava sentada no chão, ela tinha brigado com a tia Cristal por causa daquela coisa de ser uma princesa melhor, vocês lembram disso. –ele parou par tomar folego antes de continuar. –Nós ficamos conversando, bebendo, até que começamos a falar daquele namorico que tivemos com doze anos, rimos muito de como erámos bobos, mas no meio de tudo isso algo meio que acendeu, não sei se foi o vinho, ou se aquele sentimento só precisava de uma faísca, mas eu lembrei de como eu sempre a achava linda, divertida, inteligente e como era apaixonado por ela, então eu simplesmente a beijei. Quando fiz isso eu já esperava o tapa e o sermão, mas eles não vieram, ela me beijou de volta, então as coisas começaram a esquentar e o pai e o tio Rafa entraram no gabinete. –as princesas seguram a risada. –Nós falamos que bebemos, levamos um sermão gigantesco e depois daquilo ficamos meses sem nos falar, até o baile de natal, onde a gente se reencontrou, bebemos de novo e fomos parar no meu quarto, dai em diante as coisas continuaram assim, nós conversávamos, bebíamos e ficávamos, sempre que nos encontrávamos, isso durou um ano, até aquele problema com a Anastácia, tivemos nossa primeira briga nesse dia, foi então que decidimos ser exclusivos, a partir daí já não era só físico. E nós continuamos a nos encontrar escondidos todas as vezes que estávamos juntos. Sempre tínhamos uma garrafa de vinho, nós conversávamos, passávamos noites em claro só pra poder ficar naquela nossa bolha. –ele respirou fundo, relembrando do relacionamento. –Pouco antes de você, Cassie, começar a falar sobre renunciar, nós conversamos sobre tornar público, mas decidimos que era melhor esperar o aniversário dela. Já que a tia Cristal não desistia da ideia de ela escolher um príncipe, era melhor esperar, se eu estivesse na lista ela apenas me escolhia, se não estivesse nós contaríamos tudo pros nossos pais.

-Me desculpa. –Cassiopeia falou.

-Não faz isso Cassie. A culpa não é sua. –o príncipe segurou a mão da irmã. –Nós tivemos dois anos para assumir o que tínhamos e nunca fizemos, não é sua culpa, estamos bem com isso.

-Por que você não renunciou também? –Calisto perguntou.

-Porque nós decidimos que não poderíamos fazer isso com você e com o Lucas. –ele também segurou a mão da outra irmã. –Não quero que você também se sinta culpada. Nenhuma de vocês duas tem culpa, ok? Foram as escolhas que eu e a Melissa tomamos que nos levaram a isso.

-Por isso você estava chorando? –a mais nova perguntou.

-Ontem nós ficamos juntos pela última vez, na festa foi a nossa última dança. Foi demais pra eu aguentar.

As irmãs o abraçaram.

-Pode chorar se quiser. –Cassiopeia falou.

-Eu estou bem, de verdade.

-A gente devia tentar dormir. –Calisto falou e os outros assentiram.

Os três saíram do sofá e sentaram em suas poltronas. Eles fizeram o menor barulho possível para não acordar os outros, em pouco tempo estavam dormindo também.

A chegada à Illéa foi agitada. 

Os Potter logo foram pra casa, pois Joana precisava estra pronta em pouco tempo para o início da Seleção.

Logan foi para o dormitório dos soldados se prepara para trabalhar naquele dia.

Os Brice resolveram ficar para o café da manhã e fazer da refeição a despedida de Dean. Todos comemoravam a partida do rapaz e lhe desejavam o melhor naquela turnê.

Antes que ele fosse embora, Cassiopeia o parou no hall do palácio.

-Nós não tivemos tempo pra resolver as coisas.

-Podemos conversar quando você quiser. Quando você estiver pronta. Meus pais tem um itinerário da turnê, com as datas, horários e até os hotéis onde vou ficar, é só você aparecer. –ela o abraçou.

-Promete se cuidar? Não faça nenhuma besteira, foca na sua carreira e seja brilhante como eu sei que você é. –ele beijou a bochecha dela e saiu do abraço.

-Eu amo você.

-Eu sei.

O rapaz saiu pela porta e a menina foi para o seu quarto.

A manhã seguiu corrida e cansativa, assim que o almoço acabou, as princesas foram para seus quartos se prepararem para a recepção das selecionadas e a rainha foi para o salão das mulheres conferir os últimos detalhes.

-A última vez que eu te vi nesse salão, nós éramos as últimas garotas na Seleção. –Rose sorriu ao ouvir uma voz familiar que não ouvia há muito tempo, ela se virou e abraçou a amiga que fez no momento mais inusitado da sua Seleção.

-Lisa. –a ex-selecionada retribuiu o abraço. –Estou tão feliz que tenha aceitado o trabalho.

-É uma honra substituir a Joen. –elas sorriam uma para a outra. –Olha só pra você, nem parece que criou três filhos enquanto governava um país.

-Olha pra você. Viajar te fez bem. Mas me conta sobre a sua vida, temos meia hora antes da recepção, posso te lembrar os lugares do palácio enquanto conversamos.

As duas andaram pelo castelo enquanto conversavam sobre o tempo que passaram distantes.

Após o fim da Seleção, Lisa resolveu tirar um tempo para ela, pegou o dinheiro que recebia como selecionada e viajou por todo o mundo. Conheceu culturas e pessoas diferentes, por fim, criou raízes na Holanda, onde conheceu um rapaz, eles se casaram e tiveram um único filho. A mulher sentia falta no seu país natal e o proposta para trabalhar na Seleção foi como um presente para a família dela.

Não demorou até que os outros membros da família real se juntassem as duas mulheres.

Cygnus e Scorpius passariam a tarde trabalhando, com o intuito de tirar o rapaz do meio do furacão que começaria. Lisa ficaria no palácio e receberia as selecionadas no salão das mulheres, onde seriam preparadas para a primeira refeição na competição. Rose e as princesas iriam para a praça central, onde receberiam as jovens vindas de todo o país.

A Seleção estava, finalmente, começando.