História Stay With Me - Livro II - Chapter 25

Kayla não nos levou a uma boate lotada. Na verdade, era mais um barzinho que tinha música ao vivo e pessoas dançando vez ou outra.

Era um bom começo para voltar a socialização.

—Imaginei que você não fosse gostar de lugares muito lotados num momento como esse.- foi o que ela disse quando sentamos em uma mesma no fundo do salão.

—Imaginou certo, apesar de eu achar que essa também foi uma escolha mais pessoal, estou errado?- eu disse assim que pedimos uma bebida para o garçom.

—Está certíssimo também, infelizmente, já que isso quer dizer que quilos de maquiagem foram em vão.- Kayla riu e eu a acompanhei.

—Então estamos aqui para compartilharmos nosso sofrimento?- perguntei não muito entusiasmado com a ideia.

—Terapeuta estão muito caros hoje em dia, não que isso afete você, mas perceba que uma mera secretária não recebe tão bem assim para se dar o luxo de uma coisa dessas.

—Não sei se eu levo isso como um desabafo, uma ofensa ou uma tentativa de receber um aumento.- brinquei e ela tentou fazer uma cara de ofendida.

—Não que eu recusaria esse aumento, mas que tal começarmos logo com essa sessão antes que a bebida estrague nossas respostas e comecemos a ficar sinceros e sentimentais?

—Acho uma ótima ideia.

De fato, aquela era a primeira vez que eu via Kayla tão aberta e casual. Isso me deixou um pouco mais confortável para entrar em certos assuntos e quando dei por mim, a minha história com Jessica já fluía para fora da minha boca como um rio abundante.

Na verdade, contei tudo desde o começo. Desde meu noivado precoce com a Meri, de como nossa relação só se desgastava com os dias, como eu procurei a fuga na dança e acabei conhecendo a Jessica.

Como eu tive a ridícula ideia de esconder a minha verdadeira intensidade e como eu fui me apaixonando a cada dia mais por ela. Como eu estava preso na Meri e ela estava presa ao seu ex-namorado Ryan, mas mesmo assim quando estávamos juntos parecia que nada disse importava.

Contei também como escondi que eu estava noivo, e por ironia a minha noiva era sua irmã.

Kayla quase engasgou com a cerveja nessa hora.

—Ela não sabia que você era o noivo da irmã dela?- ela disse se recompondo.

—Jessica sabia que o noivo de Meri era Tyler Richards, mas eu nunca havia a visto pessoalmente e meu pai proibiu que divulgassem imagens minha na imprensa por segurança. Além disso, eu tinha dado outro nome para ela.- passei a mão pelo meu rosto.

Repassar a história em voz alta dessa vez esclareceu que raiz de tudo isso foi culpa minha.

Culpa da minhas mentiras.

O resto da história Kayla já tinha ouvido da boca dos meus amigos e até mesmo da minha.

A história de Kayla não tinha nada a ver com a minha.

Era uma coisa mais familiar do que algo que envolvia mentiras.

Era quase um daqueles romance água-com-açúcar só que sem o final feliz.

Ela nascera numa vila tradicional da Escócia. A vila  era tão tradicional que os casamentos ainda eram planejadas de berço pelos pais.

Os pais delas eram donos de fazenda e os do garoto prometido a ela eram comerciantes.

Eles eram amigos desde infância e faziam praticamente tudo juntos.

—Era natural que desenvolvêssemos algum tipo de sentimento pelo outro.- Kayla prendeu os cabelos atrás da orelha. —Na verdade, era ótimo que isso acontecesse, já que passaríamos o resto da vida juntos.

Ela disse que o garoto sempre dizia que não estava contente com o destino que ele teria. Não a parte de ficar com ela, mas ele não queria assumir os negócios dos pais.

—Minha família era diferente da dele, eles não queriam que eu ficasse em casa cuidando do lar e dos filhos. Porém o acordo já estava feito.

Então ela fez uma cara de como se lembrasse do dia como se fosse ontem.

—Eu sabia que ele planejava fugir, acho que todos sabiam disso, mas não achavam que ele conseguiria. O pai dele era muito influente e ai de quem acobertasse a fuga do filho.

Quando amanheceu na vila, o tal garoto tinha fugido para qualquer lugar longe dali.

—Na noite anterior, nos encontramos e ele me contou da briga feia que teve com o seu pai. Eu me senti traída quando soube da notícia de manhã. Ele sabia o quanto eu queria sair dali também, além disso ele sabia o quanto eu queria ficar com ele.

Eu poderia ver a mágoa nos seus olhos. A mesma mágoa que vi nos olhos de Jessica várias vezes. Ela deveria ficar com o olhar assim toda vez que mencionava meu nome e as burradas que já fiz.

—Enfim, minha mãe estava preocupada com os rumores de que ele havia fugido pois não queria se casar comigo e meu pai achou melhor pagar uma faculdade para mim fora do país. Menos problemas para família, não que eu estivesse reclamando. Então foi como vim para aqui. Eu descobri depois de um tempo que ele também estava aqui estudando, nos encontramos e ele me pediu perdão. Jurou que me amava.- ela deu uma pausa e engoliu a seco.

—Porém quando ele soube que eu ainda tinha contato com a minha família e como nossas família, como eu disse, eram muito próximas, ele disse que não poderia arriscar. Não naquele momento. Ele queria se firmar aqui primeiro, queria ter uma situação em que a família dele não podia obrigá-lo a voltar. Então nos separamos novamente. E nos encontramos novamente. Era um ciclo de idas e vinda, que parecia quero destino eram duas pessoas diferentes.- Kayla olhava as pessoas passando no outro lado do vidro. —Uma queria que nós ficássemos juntos e a outra não. Uma nos juntava e outra nos separava.

Kayla afirmou que tentou esquecê-lo.

—Eu me sentia mais traída a cada vez que nos separávamos, então quando nos encontramos mais uma vez ele me disse que estava gostando de alguém e que não queria me magoar. Eu disse que achava ótimo, já que eu iria mesmo exigir que parássemos com essa enrolação toda e dessemos um basta nisso. Terminamos amigos, eu acho.- ela deu a primeira fungada e eu sabia que viriam outras.

Meio desconfortável cheguei minha cadeira para mais perto dela e passei o braço pelo seus ombros para confortá-la.

 —Então há uns dias, eu fui em lugar e lá estava ele de novo. Ele e a namorada dele e, sabe...-as lágrimas delas não conseguiam mais ser presas.—Acho que ele nunca olhou para mim como ele olha para ela. 

Ficamos alguns minutos em silêncio ouvindo apenas a música do local e o choro baixinho de Kayla.

—Sabe, um vez me disseram que quando é para acontecer, não importa quantas reviravoltas a história tenha, o que tem de acontecer sempre acontece.- lembrei das várias vezes ouvindo alguém me falando algo similar a isso em relação a mim e a Jessica, mas...

—Você acredita nisso, Tyler Richards?- ela riu descrente tentando enxugar as lágrimas.

—Sinceramente, não.- eu ri e Kayla me acompanhou com um sonho de como quem diz "Eu sabia", mas eu continuei.—Não no meu caso. As reviravoltas da minha história com a Jessica foram a maioria causadas por mim mesmo. Cada história é um caso diferente e eu, não sei porque, acredito que a sua irá dar certo.

—Isso se chama me dar falsas esperanças. E se não der certo?- ela olhou nos meus olhos.

—Bem, você já ganhou um amigo para te ajudar nas horas difíceis, se não der certo você ganha um companheiro para chorar pitangas com você sobre desastres na vida amorosa.- me deu um soco fraco na costela.

—É, acho que formaríamos uma bela dupla de fracassados no amor.

*

—Tem certeza que não vai ser um incômodo?- Kayla perguntou pela décima vez enquanto nós descíamos do carro em direção ao elevador da garagem.

Kayla disse que era dia de party e afterparty no apartamento em que ela dividia com a amiga dela.

Eu entendia bem como era não conseguir dormir durante as festinhas de Marc e ofereci meu apartamento para ela passar a noite.

—Já falei que não tem problema.- apertei o botão do meu andar e ela levantou uma sobrancelha.

—Não estou preocupada em ser um incômodo para você, por favor, estou perguntando sobre Susie e Marc.- nós começamos a rir, não sei se pela audácia de Kayla ou pelas bebidas.

O elevador parou muito antes do previsto. No térreo. 

Não conseguíamos parar de rir até a porta deslizar revelando a pessoa do outro lado.

Me perguntava se algum dia meu coração não ia bater assim tão rápido quando a visse.

Ela pareceu surpresa, olhou de mim para Kayla  e de Kayla para mim.

Apenas murmurou algo como um "Boa Noite", entrou no elevador, apertou o número do seu andar e ficou de costas para nós.

Minha vontade era saber por que ela estava andando na chuva sozinha no meio da noite, mas não era um bom momento.

Kayla lançava olhar sugestivos para mim como quem mandava eu fazer algo a respeito, mas como sempre não fiz.

Nem mesmo quando a ouvi fungando baixinho.

"Deve ser o frio." pensei comigo mesmo.

Deveria ser o frio só isso.

A porta do elevador se abriu no andar dela que forçou sua voz, que estava rouca.

—Hm...Até mais.

Eu quase fui atrás dela.

Quase.

—Já ter deixaram ciente que você é um babaca, não é?- foi a primeira coisa que ouvi depois que a porta fechou.

—Já. Ela mesma já fez isso.- passei a mão pelo rosto respirando fundo.

—Tem certeza que está tudo bem se eu passar a noite aqui?-Kayla abaixou o tom de voz.

—Por que não estaria. Vamos, antes que eu deixe você aí do lado de fora.- eu parei na frente da minha porta procurando as chaves.

—Caridoso como um um milionário mão de vaca.- poderia imaginá-la  revirando os olhos atrás de mim.