Eles estavam viajando juntos por cerca de seis meses agora, não por escolha de Geralt, é claro, mas por insistência de Jaskier, o jovem bardo não deixando de segui-lo como um patinho, onde quer que fosse.
Ele devia se sentir seguro perto de Geralt apesar de sua vida agitada, o bruxo pensou, era um tipo de instinto básico primitivo para as classes mais baixas como betas e ômegas ficar ao lado de um alfa forte, e dada profissão de Jaskier e a incapacidade de ficar muito tempo em um lugar só, o jovem estaria sempre na estrada.
Geralt parou de se importar com o beta o seguindo dois meses depois, não adiantava tentar explicar sua vida perigosa, e ele descobriu que mostra-la também não fazia muito efeito, nem deixá-lo para trás Geralt conseguia, Jaskier tinha um olfato incrivelmente bom e iria conseguir segui-lo, mesmo se ele corresse com Roach por horas, ele sabe, ele tentou, o bardo iria encontrá-lo dois ou três dias depois, mesmo em meio ao uma floresta.
Sim, ele conseguiu fazer isso.
Quando ele xingou derrotado após isso acontecer, Jaskier riu ofegante em triunfo, sentou-se do seu lado e pegou um pedaço de seu coelho, sem nem mesmo perguntar, sorrindo para ele com a boca suja e olhos brilhantes e bochechas coradas pelo esforço de chegar até ele e Geralt pensou: foda-se, ele é fofo.
Três meses depois ele descobriu que Jaskier não era realmente seu nome em meio às constantes tagarelices do beta - a este ponto, ele já havia aprendido a sintonizar a conversa constante como um ruído de fundo, mas não conseguia deixar de prestar atenção em algumas coisas ditas aqui e ali.
"Você é um nobre?" Ele perguntou, mais confuso do que irritado, porque se tinha algo que Geralt achava difícil tragar era a nobreza, merdas pomposas e orgulhosas eles eram, egoístas e gananciosas. Era quase difícil para Geralt acreditar que Jaskier, que gostava de segui-lo por estradas poeirentas e se sujar de sangue de monstro mais constantemente do que não, que gostava de comer sua comida sem tempero, dormir ao relento, e cantar em bares e tabernas sujas, era um nobre. Mas se ele fosse pensar racionalmente, era óbvio em seus modos, sua postura, a forma de falar e se vestir. Pensando melhor, ele foi um tolo de não ter percebido isso antes.
Jaskier parecia nervoso sob o seu olhar, e Geralt quase se arrependeu em perguntar quando viu seus olhos caírem tristemente para o chão.
"Ah, bem… eu sou o filho bastardo do Lord Panktraz, você vê, mas nós nunca tivemos muito contato desde que passei a maior parte da minha vida em Oxenfurt estudando."
"Para ser um bardo."
"Não realmente." Ele disse nervoso, ansioso, e Geralt pensou que a história acabaria ai, voltando a fazer Roach marchar, surpreendendo-se com a voz do beta continuar a falar. "Eu me formei recentemente nas Sete Artes Liberais, eu poderia ser qualquer coisa, mas há algo sobre cantar e tocar para as pessoas que eu apenas… eu amo isso."
"Hmm…" Geralt soltou olhando discretamente para o bardo, o amor pelo ofício era sentido em suas palavras, mas ver em seus olhos sonhadores o quanto ele era realmente apaixonado pelo que fazia era o que fez Geralt sorrir suavemente, lembrando-se da paixão na voz de Jaskier enquanto cantava, o prazer de tocar seu alaúde, de dançar no meio de uma multidão. Ele realmente gostava do que fazia.
"Bem, isso não foi muito bem aceito pelo Lord Panktraz, é claro, e ele só precisava de uma pequena coisa, uma desculpa aceitável para mandar embora seu filho bastardo, então quando o tempo para me apresentar passou e eu continuei como um beta, ele disse que não aceitaria menos do que um alfa para um erro como eu e que eu poderia cantar em um prostíbulo se eu quisesse que não se importaria, então me colocou para fora com as roupas do corpo e o alaúde nas costas."
"Você não é um erro." Geralt soltou antes que pudesse se conter, o único pensamento de que Jaskier esteve pensando ser indesejável fez seu coração doer e os instintos gritar: proteger, cuidar, nutrir.
Ele não sabia de onde havia vindo tal sentimento desde que ele conseguia a muito tempo agora controlar todos os impulsos de sua biologia alfa.
Jaskier estava olhando para ele, surpreso, esperançoso, e Geralt quis fugir, porque aqueles olhos azuis brilhantes pareciam estar fazendo algo com ele, fazendo algo com seus sentimentos. O beta se aproximou dele, colocou uma mão suave em sua coxa e sorriu, e Geralt queria apenas correr para o mais longe possível de toda aquela situação porque seu coração estava batendo muito rápido e seu estômago se revirando quase desconfortavelmente, ele não sabia se olhava tão assustado quanto se sentia, mas se estivesse, Jaskier não demonstrou.
"Obrigado, Geralt. É a primeira vez que alguém fala isso e eu realmente acredito." Seu tom é triste, sua postura é lamentável, e Geralt se vê querendo confortá-lo até que sorrisse novamente, sua mão se movendo para a cabeça de Jaskier antes que pudesse se conter, os dedos ásperos passando suavemente pelos cabelos escuros, o coração retumbando no peito com som satisfeito que o beta soltou. Jaskier estava ronronando.
Geralt se afastou quase tão de repente quanto ele começou o carinho, pigarreando para se desfazer do silêncio esmagador e fazendo Roach parar após alguns passos.
"Suba, mas não se acostume." Ele poderia dizer que era apenas porque não queria precisar parar para o beta descansar a cada duas horas, mas era apenas porque ele queria Jaskier o mais perto dele possível, um conforto silencioso.
Jaskier sorriu largo, pegou a mão do bruxo e subiu na égua, abraçando a cintura do alfa e deitando a cabeça nas costas largas com um suspiro contente, relaxando no cheiro calmante de terra molhada, casca de árvore e grama que acompanhava Geralt, cheirinho quase impossível de sentir quando camuflado pelo cheiro de estrada, fumaça e Roach. Jaskier soltou uma risadinha e apertou um pouco mais o bruxo.
Agora eles estavam no sexto mês viajando junto e Geralt podia dizer que ele conhecia um pouco melhor o beta falador, então quando o bardo começou a ficar mais silencioso uma semana depois ele estava ficando preocupado que ele estivesse doente, o que era incomum, já que Jaskier reclamava de tudo, desde o sol quente a chuva fria, da fome, do cansaço, de seus pés doloridos, da paisagem, de alguém chamado Valdo Marx - Geralt prestou mais atenção aí, querendo saber se era alguém incomodando seu bardo - e bem, tudo, então mesmo quando Jaskier parou de falar, ele sabia que tinha alguma coisa muito errada, mas ele esperou o bardo se pronunciar.
Naquela noite, quando eles acamparam e Geralt se afastou para pegar o jantar, Jaskier montou o acampamento eficientemente, cavando a terra um pouco e fazendo uma roda de pedras com pequenos e grandes galhos no centro, esperando o bruxo voltar para fazer sua… coisa de bruxo e acender o fogo, voltando para Roach e pegando os colchonetes e peles para esticar no chão, um de um lado da fogueira e outro do outro, parando por um momento para olhar os tecidos grossos e sentindo algo se assentar no estômago porque não parecia certo, estava tão desarrumado, e por que Geralt dormia tão longe dele de qualquer jeito? A noite estava fria, o alfa podia ficar um pouco mais perto dele para aquecê-lo, certo?
Ele juntou os dois colchonetes, sentindo-se estranhamente satisfeito e ainda frustrado porque ainda não era suficiente, seus instintos diziam que não era suficiente. Então Jaskier cobriu os dois colchonetes com as peles e voltou para Roach, pegando algumas de suas roupas já usadas e parando por um momento na frente da bolsa de Geralt, mordendo o lábio inferior e pulando de pé para pé enquanto pensava se o alfa não ficaria muito chateado se ele mexesse em suas coisas, mas olhando para a cama ele sentiu o estômago se revirar novamente e corajosamente pegou uma blusa de Geralt, o cheiro do alfa impregnado em suas roupas fazendo suas entranhas se acalmarem um pouco enquanto juntava a pilha de tecidos nos braços.
Jaskier estava tão concentrado na tarefa que não viu Geralt começar a se aproximar, um javali jovem nos braços, morto. Ele ficou intrigado com o bardo mexendo em sua bolsa, então parou, escondido, para ver o que faria, os olhos se arregalando ao vê-lo pegar uma de suas blusas e cheirar profundamente. Geralt quase deixou o porco cair.
Jaskier voltou para a pilha no chão, tirando os sapatos e pisando suavemente sob as peles antes de começar a arrumar as novas peças ordenadamente, trocando algumas de lugar mesmo depois de um tempo a arrumando. Então ele parou, se sentando no meio de todas as peles e roupas e sorriu, satisfeito consigo mesmo pelo que conseguiu fazer com os poucos materiais.
Geralt estava confuso.
—Jaskier? - Chamou se aproximando, vendo o beta dar um pulo assustado antes de perceber que era apenas Geralt.
—Por Melitele, Geralt, vou amarrar um sino no seu pescoço. - Falou colocando uma mão no peito teatralmente. Geralt franziu as sobrancelhas, um sino não seria uma boa ideia para um caçador de monstros, furtividade não era uma opção, era uma necessidade. —É uma piada.
Geralt rolou os olhos. Ele sabia disso.
—Por que juntou nossas camas? - Perguntou tentando parecer desinteressado enquanto trabalhava no animal, acendendo a fogueira com Igni facilmente. Ele olhou para o beta por cima do ombro e viu seus olhos brilharem.
—Ficou bom, não é? Está frio hoje, achei que você não se importaria de dormir mais perto hoje. - Geralt não se importava, sabendo agora o quão sensíveis os humanos poderiam ser à temperatura, mas ele não disse isso, grunhindo baixinho enquanto esfolava o animal e botar um bom pedaço do porco selvagem no espeto e pendurar no fogo.
Eles comeram e Geralt se livrou dos ossos para não chamar a atenção dos animais, tirando pedaços do restante para salgar e guardar para emergências. Na hora de deitar, Jaskier já estava deitado confortavelmente debaixo de uma das peles - com a cabeça bem em cima da blusa de Geralt - parecendo contente e satisfeito, mas olhando para tudo aquilo tão bem arrumado, ele sentia… errado, apenas subir e se deitar.
—Eu… - Ele chamou, então travou a boca fechada, soltando um grunhido e franzindo as sobrancelhas, não sabendo como expressar aquele sentimento. A vontade de puxar seu colchonete e uma pele para si mesmo e deitar do outro lado do fogo foi grande, mas perturbar Jaskier com isso depois de todo o trabalho que ele teve parecia cruel, quase um crime, então ele não fez.
—Geralt? - Jaskier chamou e o alfa olhou para ele. —Você não gosta disso? Quer suas coisas de volta?
—Não, eu… - Ele gesticulou em direção a cama, rosnando frustrado quando não soube como expressar o seu desconforto. —Eu não sei se posso entrar.
Jaskier o olhou como se ele tivesse crescido um terceiro olho na testa.
—É claro que você pode, sua cama está aqui também. Vamos, sente-se aqui, mas tire os sapatos por favor. - Jaskier pediu com um sorriso batendo na colcha ao lado dele e Geralt fez, deixando as botas do lado da cama antes de entrar no amontoado macio de peles, deitando-se rígido ao lado do bardo que rolou os olhos. —Geralt, uma pedra seria menos dura que você agora. Relaxe.
Pediu se aproximando, cobrindo o bruxo debaixo da pele de urso, a pele de Jaskier, a pele com seu cheiro de flores de laranja e botão de ouro, inevitavelmente Geralt relaxou, sentindo o beta se aproximar mais até estar deitado confortavelmente contra seu peito, farejando sua camisa profundamente e soltando um suspiro contente antes de fechar os olhos.
Geralt respirou fundo, seu corpo estremecendo quando ele ergueu um braço para envolver o beta, ouvindo Jaskier ronronar como naquele dia a mais de um mês agora, esfregando a bochecha em seu peito e suspirando satisfeito até finalmente cair no sono.
O alfa olhou o beta adormecido e sentiu seu peito se encher com uma felicidade estranha, uma satisfação incomum, uma vontade de segura-lo em seus braços e nunca mais soltar se apoderando dele enquanto abraçava o bardo para dormir. Geralt fechou os olhos, nem percebendo estar correspondendo o ronronar de Jaskier enquanto caía no sono.
Na noite seguinte teve o mesmo arranjo, e na noite após essa; se repetindo por uma semana inteira mesmo quando a noite não estava tão fria, onde a necessidade de contato físico para se esquentar não era existente.
Jaskier também ficou mais quieto, abrindo a boca apenas para reclamar, e ele reclamava das coisas mais preocupantes como dor de cabeça e de estômago, e estranhas como dores nos mamilos, que tipo de doença fazia alguém ter dor nos mamilos? Parecia tão surreal que Geralt ignorou, como se fosse uma brincadeira, e Jaskier não falou mais disso.
—Geralt, minha cabeça dói, vamos parar um pouco... - Jaskier falou um dia no meio da tarde e Geralt pensou: ah, é por isso que ele não está cantando hoje.
Eles já haviam caminhado bastante, desde o almoço, e pelo silêncio de Jaskier, Geralt teve que admitir que havia se esquecido do beta, seus instintos gritando para ele que era um alfa ruim por isso, e ele não iria discutir, era a verdade, ele fez o bardo andar por mais de 3 horas direto no sol, seu odre já devia estar vazio depois de tanto tempo no sol quente e o bruxo parou imediatamente, olhando para trás.
Oh merda.
Jaskier estava pálido, chegando muito perigosamente perto da cor do leite, e ainda suas bochechas estavam coradas como se tivesse levado um tapa, suando profusamente em sua camisa, tendo descartado o gibão pelo calor. Geralt saltou de Roach, confiando que a égua não iria para qualquer lugar longe dele, e correu para o beta quando viu que suas pernas tremiam.
—Vamos, eu consigo ouvir uma cachoeira à direita, você pode se refrescar um pouco lá. - Geralt falou já passando um braço por cima do ombro e segurando a cintura, assobiando para Roach segui-los.
Jaskier estava ofegante, sua mão livre apertando a barriga e soltando gemidos fracos porque porra, dói e ele não sabe por quê já que não havia nada de diferente que ele havia comido para isso acontecer, ele estava assustado, e ele apenas queria que parasse porque Geralt não podia ficar parando por sua causa quando havia uma cidade a um dia de caminhada de seu ponto atual e ele sabia que Geralt estava ansioso por um trabalho.
—Me desculpe… - Ele soltou com um gemido fraco, patético, e seu estômago deu uma pontada, fazendo suas pernas parando de funcionar. Jaskier viu as feições duras do alfa apenas se aprofundarem com isso enquanto o segurava contra o peito agora, uma mão nas costas e outra sob os joelhos.
—Silêncio. - Foi tudo o que ele disse, baixo e rouco, e Jaskier se sentiu tentado a obedecer, escondendo o rosto na curva do pescoço de Geralt e sentindo a dor se acalmar um pouco sob o cheiro de casca de árvore, terra molhada e grama, tudo cheirava a alfa, mas além disso era preocupação e culpa e tristeza e Jaskier entendeu que Geralt não estava irritado com ele. Isso o deixou feliz, que o alfa não estava irritado com ele, e Jaskier relaxou em seu toque, se Geralt queria cuidar dele, ele não iria reclamar.
Ele deve ter dormido em algum momento, porque a próxima coisa que ele se lembra é de ser sentado na margem de uma pequena cachoeira, percebendo que deve ter acordado quando Geralt colocou seus pés nus na água gelada e ele pulou, tentando se afastar, mas Geralt era um alfa forte, não apenas isso, como também era um bruxo forte, e não importou o quanto ele tentasse, ele não conseguia se afastar de seu porão, gemendo miserável nos braços do bruxo pelo frio e agora, a dor que começava a voltar como uma vingança por ter mandado embora antes.
—Geralt por favor… - Ele chorou, tremendo, se agarrando a blusa do alfa e esperando que ele entendesse que não era aquilo que ele queria. Não que ele soubesse o que era de qualquer jeito.
—Droga Jaskier, você está superaquecido, eu preciso refrescar o seu corpo ou você pode ficar muito doente, agora fique quieto.
Falava entre dentes, com raiva, mas não era raiva dele e Jaskier sabia disso, mas a voz grossa, o tom rouco, o comando, fez algo estranho ao corpo do beta, sua barriga se apertou dolorosamente, como se uma mão invisível estivesse apertando seu estômago e ele sentiu algo descer e ele precisava sair, ele precisava ir, mas Geralt não iria solta-lo, mesmo que ele estivesse lutando mais desesperadamente agora.
Ele não podia fazer aquilo na frente do alfa, era humilhante demais, ele não sabia se conseguiria encarar Geralt novamente se fizesse aquilo e o simples pensamento de que o alfa se afastaria dele por isso era doloroso, quase uma dor física, e ele se viu chorar, soluçar alto, mas era tarde demais, e estava vindo, sentindo molhar suas calças finas, seu traseiro ficando encharcado com isso, e ele chorou alto, parando de lutar, o corpo tremendo violentamente nos braços do alfa, do alfa que se afastaria a qualquer momento, que iria deixa-lo, com nojo, pegar Roach e não olhar para trás.
Mas um minuto se passou, e os braços de Geralt ao seu redor eram tão firmes quanto antes, e Jaskier arriscou olhar para cima, para as feições do bruxo, esperando ver nojo e repulsa e aversão, mas… não, Geralt tinha os olhos fechados, narinas dilatadas cheirando, e Jaskier não sabia se isso era pior ou apenas estranho.
—Me desculpe… por favor, Geralt, me desculpe-
—Jaskier.
O alfa falou, severo, e Jaskier choramingou, encolhendo-se, fechando os olhos e pensando que era agora, seria agora, o que quer que fosse, mas nada aconteceu, Geralt não se afastou, ele não disse mais nada enquanto seu aperto se tornava cada vez mais fraco, ainda que não o deixasse.
—Jaskier… - Sua voz estava mais suave agora, mais gentil, assim como os braços ao seu redor, e Jaskier soluçou quando sentiu mais da coisa vil sair, vendo Geralt estremecer Jaskier abriu a boca para- para quê? Falara para ele ficar e acabar com seu orgulho? Ou pedir para ir e continuar com sua dignidade? Mas fosse o que fosse, Geralt não o deixou expressar isso. —Jaskier, você está entrando no cio.
Jaskier parou, olhando para o alfa estupidamente por um momento, registrando suas palavras em sua mente confusa e dolorida. Vendo Geralt continuar encarando ele com expectativa quando na verdade ele deveria dizer: Brincadeira! Você só teve uma dor de barriga. Mas isso não aconteceu, ele ainda estava muito sério, as narinas dilatando se contraindo a cada respiração.
—Eu sou… sou um beta.
—Você está no cio, Jaskier.
—Meu tempo de apresentar passou! Eu sou um beta! Eu não- não posso- eu não posso, Geralt… - Ele não conseguia falar isso, ele não podia dizer aquela palavra, não queria admitir a realidade, mas ela estava bem ali, saindo de sua bunda e encharcando suas coxas, estava na dor em sua barriga, em seu útero, estava na dor nos fodidos mamilos, estava na porra do ninho que ele montava e desmontava todas as noites para compartilhar com Geralt. Jaskier estava enjoado. —Eu acho que vou vomitar…
Ele não vomitou, mas Geralt foi gentil em prepará-lo caso ele fizesse, inclinando seu corpo para o lado e segurando seu peito com uma mão grande, a outra fazendo carinho nas costas.
—Vamos Jaskier, não é o fim do mundo.
—Geralt, eu sou um bardo, já era ruim quando era um beta, sendo um- um ômega, vai ser ainda pior, os alfas… eles- eles-
—Seja o que for, eu não vou deixar acontecer. - Geralt rosnou, o som fazendo mais daquela coisa molhar o solo embaixo da bunda e ele gemeu miseravelmente, era tão estranho.
—Por favor não faça isso.
—Me desculpe. - Geralt pediu rápido, assustado, e Jaskier suspirou, escondendo o rosto nas mãos. —Você quer que eu te deixe-
—Não! Por favor, por favor Geralt, não se vá-
Seu desespero fez o alfa apertar seus braços ao seu redor, forte e protetor, guiando seu nariz para a curva do pescoço onde ele podia sentir o cheiro calmante que ele parecia liberar propositalmente para acalmá-lo, funcionando maravilhosamente, relaxando seu corpo e sua mente, até ele sentir que poderia derreter nos braços de Geralt.
—Eu não vou embora, tolo, eu não deixaria você aqui sozinho depois… disso. - Falou esfregando círculos em suas costas, fazendo carinho em sua nuca.
—Obrigado…
—Eu preciso montar acampamento, ok? Eu acho que você vai querer… se limpar.
—Sim… - Ele sussurrou, então engoliu e se esforçou para se afastar do alfa. —Eu- eu acho que eu deveria tomar banho agora.
Geralt assentiu, soltando-o cautelosamente, esperando um pouco para ver se não entraria em pânico novamente antes de se levantar e começar a se afastar.
Jaskier suspirou, sentindo-se estranhamente vazio sem o toque de Geralt nele, mas ele se controlou para não correr atrás do alfa, ele precisava, mas ele não deixaria seus instintos dominá-lo, ele era melhor do que isso, e ainda assim, ele não podia deixar de desejar as mãos fortes em sua nuca, o carinho nas costas, seu cheiro forte e calmante.
—Foda-se… - Sussurrou, levantando-se trêmulo para tirar a camisa suada, sentindo muito calor de repente, e por um momento a água gelada da cachoeira não parecia ser tão ruim, abaixando a calça e a roupa íntima. Ele olhou discretamente para trás, descobrindo que Geralt não estava olhando para ele, e quando se afundou na água gelada, não conseguiu descobrir se o sentimento afundando dentro dele, era alívio ou decepção pelo alfa não estar olhando.
Quando ele se sentiu satisfeito - conseguindo tirar totalmente o estranho líquido espesso da bunda - Jaskier voltou para a margem, encontrando uma toalha e roupas limpas, não conseguindo descobrir quando Geralt teve tempo de pôr aquilo ali, mas agradecendo mesmo assim, lançando um olhar para o bruxo que mexia no fogo agora e esquentando a carne salgada de javali no espeto. Jaskier descobriu que Geralt estava propositalmente evitando olhar para ele quando viu que estava de costas para a cachoeira.
Se aproximando do acampamento, ele viu que Geralt não tinha apenas montado a fogueira, mas também tentou arrumar a cama e Jaskier sentiu um puxão estranho para o emaranhado de peles porque não estava certo, mas agora que ele entendia porque ele precisava arrumar a cama, ele se sentia tentado a não fazê-lo. Até Geralt falar.
—Eu tentei arrumar do jeito que você tem feito. Mas você pode colocar do jeito que quiser, tem algumas roupas minhas lá, caso você precise.
Ele não queria precisar, mas ainda assim, foi tentador demais, e ele se viu entrando no ninho bagunçado que Geralt fez para ele, sorrindo com carinho apesar de tudo, arrumando as peles ordenadamente, dobrando as blusas de Geralt perto de seu lado do ninho, onde estava a pele mais quente, mas também enrolando suas próprias roupas ali, era quase um círculo no fim, e estava faltando, parecia errado, mas era aquilo que ele tinha a mão e ele teria que se contentar com isso.
Seu corpo estava começando a ficar quente de novo quando ele terminou.
—Melhor? - Geralt perguntou, fazendo seu estômago se apertar novamente e Jaskier fechou os olhos, a realização o atingindo.
—Eu vou sujar suas peles…
—Eu não me importo.
—Eu sim. - Murmurou, sentindo-se muito pequeno de repente. —Eu não queria isso, Geralt…
Sua voz estava embargada e ele queria se bater porque era tão humilhante, ele não é um homem fraco, ele não deveria chorar seus sentimentos para fora assim, ele foi rejeitado sua vida inteira e mandado embora antes de completar a maioridade porque seu pai pensou que ele fosse um beta, imagina sua decepção se soubesse que ele é um ômega? - Não que ele se importasse com o que o homem odioso diria - Ele deveria saber lidar com a dor da decepção, mas isso? Isso era simplesmente muito.
Geralt estava na sua frente agora, puxando-o em um abraço, não precisando guia-lo ao pescoço dessa vez, seus instintos fazendo ele levar o nariz até a glândula odorífica e ficar lá, respirando pesadamente até sentir o calor incômodo recuar, suas entranhas se acalmar e sua mente ficar vazia, Geralt se afastando alguns minutos depois.
—Esse é o seu primeiro cio, você está assustado, mas vai se acostumar. Nada vai mudar. - Geralt falou olhando diretamente para ele, e Jaskier se viu assentindo, exausto, agora que Geralt se afastou, a dor estava voltando e o calor também, era horrível. —Vamos comer, e então eu vou te ajudar a passar por isso.
Jaskier olhou para ele estupidamente por um segundo até entender a implicação daquelas palavras, sentindo seu rosto queimar e a estranha mancha descer para molhar novamente sua roupa debaixo. O ômega gemeu e escondeu o rosto nas mãos. Do outro lado da fogueira, sentindo o cheiro de Jaskier, Geralt sentiu o próprio rosto esquentar suavemente.
—Não assim. - Ele se apressou em dizer, vendo Jaskier espiar por entre os dedos.
—Não?
—Não. Você precisa do toque e o cheiro de um alfa, e eu vou te dar isso até o cio acabar.
—E então você vai me deixar na próxima cidade e seguir o seu caminho… - Não era para Geralt ouvir seu murmúrio, mas ele subestimou a audição do alfa, Geralt rosnando irritado e fazendo-o se encolher.
—Eu disse que você ser um ômega não muda nada, se você quiser continuar me seguindo, bem. - Jaskier tentou procurar algum traço de mentira em sua fala, mas relaxou quando não conseguiu descobrir nada. Geralt era honesto demais para mentir, ele não tinha necessidade disso.
—Obrigado…
—Agora venha comer, e depois nos deitamos.
E foi o que eles fizeram, Jaskier beliscou a carne, sem fome, bebeu um pouco de água e voltou para o ninho, revirando sob as peles com dor, o calor fazendo sua pele suar e formigar e sua mente ficar nublada, tentando se agarrar ao cheiro de Geralt na blusa que agarrava ao peito mas não era suficiente, ele precisava de mais, precisava do alfa ali com ele, mas Geralt estava terminando de guardar a carne ao alcance da mão quando estivessem no ninho, enchendo os odres para manter a hidratação, amarrando Roach em uma parte mais gramada para a égua pastar e então finalmente, finalmente, quando o sol já estava começando a desaparecer no horizonte, o alfa pediu para entrar em seu ninho.
—Apenas venha aqui já e acabe com essa dor infernal, bruxo, ou- ou eu vou chorar. - Ele murmurou abafado contra a blusa do alfa e Geralt bufou, divertido.
Foi quase instantâneo, no momento que Geralt se deitou ao seu lado, Jaskier estava colado a ele, nariz no pescoço, mãos no peito, pernas entrelaçadas, tentando fazer o alfa tocar a maior parte de seu corpo, sentindo o cheirinho selvagem e ainda estranhamente calmante do bruxo e sentindo o corpo relaxar, a dor na barriga amenizar e o corpo voltar a temperatura natural, soltando um suspiro contente e satisfeito antes de fechar os olhos, e quando ele estava quase caindo no sono, o ômega podia jurar que sentiu os lábios de Geralt no topo da cabeça, o carinho na nuca, o aperto suave nas costas e sussurrava algo que ele não conseguia entender antes de adormecer.
Aquilo durou cinco dias, cinco dias estranhamente nebulosos que Jaskier gostaria muito que fosse apenas um sonho.
Mas não era.
—Nós vamos gerenciar.
Geralt falou na noite do quinto dia, e depois de tudo o que o alfa fez por ele, Jaskier não teve motivo para duvidar.
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