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História Stay With Me - When You're Gone


Escrita por: chaespinky

Notas do Autor


Muito feliz que mal comecei e já tem 22 favoritos. Obrigada, lindas!
Se surgir alguma dúvida sobre a história podem me perguntar nos comentários que explico, ok?
Eu acho que vocês perceberam que todo título é uma letra de música né e tem relação com o capítulo, então se quiserem ouvir enquanto leem é da Avril Lavigne.

Boa leitura!

Capítulo 3 - When You're Gone


 

 

When you're gone

The pieces of my heart are missing you

When you're gone

The face I came to know is missing too

When you're gone

The words I need to hear to always get me through the day

And make it ok

I miss you

 

 

 

17 de janeiro de 2007.

Há exatamente 8 anos atrás.

 

Mais um fim de semana longe da minha garota estava chegando ao fim. Eu sabia que ganhava cada dia mais responsabilidades dentro da Columbus Corporation porque eles acreditavam em meu potencial e, mesmo sendo apenas uma assistente de marketing, sempre recebia novos desafios e projetos que encarava com toda minha dedicação. Eu estava sendo preparada por eles pra um dia, se fizesse por merecer, ser alguém importante ali dentro. E pra isso, eu era constantemente convidada a assistir palestras, participar de intercâmbios e todo tipo de coisa que viesse a enriquecer meus conhecimentos e me proporcionar mais experiência no ramo e, na maioria das vezes, isso exigia que viajasse para outras cidades.

Chaeng estava cada dia menos satisfeita com isso. Eu tentava a todo custo fazer com que ela entendesse que eu não fazia todo aquele esforço por mim, pelo contrário, eu nunca fui do tipo de pessoa que sonha alto. O meu maior objetivo era ser capaz de proporcionar à minha esposa uma vida tão boa quanto a que ela tinha ao lado dos pais. Não queria que perdesse por minha causa todas as regalias que sempre teve. Queria ser capaz de oferecê-la o melhor, mas a menina era teimosa e mimada, por mais que eu tentasse explicar, ela, simplesmente, não entendia. E foi assim que entramos em nossa primeira crise desde que nos apaixonamos.

Ter que lidar com a sua insatisfação e birra não era agradável, afinal, a nossa relação sempre foi tão perfeita quanto um filme de romance água-com-açúcar, desses que passam a tarde na TV. Mas eu sabia que aquilo não era o fim do mundo, pois nós nos amávamos e as discussões sempre terminavam em um maravilhoso sexo de reconciliação. Logo tudo iria se estabilizar e estaríamos rindo das cenas dramáticas que Chaeyoung protagonizava. Pelo menos era isso que eu pensava...

Enfim, após dois dias de saudade, estava novamente na porta do apartamento 502 B, onde eu e minha mimada - porém adorável -  esposa morávamos há três anos. Toquei a campainha na esperança de que ela abrisse a porta com seu sorriso habitual com que sempre me brindava ao voltar, pois eu não conseguia encontrar minhas chaves. Esperei e ela não apareceu. Toquei mais duas vezes e nada. Resolvi procurar mais uma vez as chaves em meio a bagunça que era minha mala. Dez minutos depois consegui entrar no apartamento, me sentindo levemente irritada.

- Amor! - Chamei em tom elevado quando vi que não havia ninguém na sala. - Chae, cadê você?

Coloquei a mala e meu casaco em cima do sofá e fui até o quarto em busca de algum sinal de vida. Ela não estava lá. Entrei no banheiro, vazio. Assim como a cozinha.

Um sinal de alerta começou a apitar em minha cabeça. Tinha algo muito errado ali, eu podia sentir. Fiquei alguns minutos parada, pensando em que atitude tomar. Dei um pulo quando lembrei do meu celular e corri para alcançá-lo no bolso do casaco. Procurei por seu contato na discagem rápida e iniciei a ligação, sentindo meu coração acelerar. A chamada foi parar direto na caixa de mensagens.

O desespero começava a se fazer presente, mas me agarrei ao meu último resquício de sanidade e fui até o guarda-roupa me deparando com as suas gavetas completamente vazias. Ela não havia deixado nada, além de umas roupas antigas que provavelmente nem usava mais.

Cansei de me fazer de forte e me sentei no chão, recostando-me na cama e liberando as lágrimas que eu lutava pra não derramar. Ouvi um tilintar de algo caindo no chão e pude ver ao lado do tapete a sua aliança ainda dançando, até se estabilizar e parar sobre o frio e duro piso. Peguei o pequeno objeto em minhas mãos trêmulas e vi as palavras gravadas "stay with me forever" na parte interna, o choro se tornou um urro de dor. Aquilo doía tanto que eu não conseguia manter o peso do meu corpo, então me deitei sobre o tapete e me permiti botar pra fora todo aquele sentimento de angústia que estava me corroendo por dentro como uma doença.

Após meia hora, eu já não tinha mais lágrimas nem razão pra me manter daquela forma. Conseguia respirar normalmente mais uma vez, então enxuguei o rosto, respirei fundo e me levantei. Eu precisava de respostas.

Peguei novamente o celular e liguei pra única pessoa que poderia me ajudar naquele momento, a Sra. Park, sua mãe.

- Ahjumma... - Minha voz saiu embargada, como uma represa controlando aquele mar de sentimentos que queriam explodir dentro de mim.

- Oh, filha... – A mais velha tinha um tom de acalanto na voz. Eu sabia que se ela estivesse ali comigo me daria um de seus abraços capazes de sanar qualquer dor. Eu e a Sra. Park construímos uma relação muito próxima, como mãe e filha. Eu não tinha família há muito tempo e ela era uma mãezona, disposta a cuidar e ajudar a todos que surgissem em sua vida, e assim ela fez comigo.

- Onde está a Chaeng? O que aconteceu?! - Perguntei no alto do meu desespero, me sentia como uma criança desamparada que havia acabado de perder os pais.

- Desculpe por não ter ligado antes pra avisar sobre o que aconteceu, eu queria adiar seu sofrimento. - Confessou com a voz chorosa.

- Mas o que aconteceu??? Pra onde ela foi? Por que ela fez isso? - As perguntas saíam rasgando minha garganta, as lágrimas já voltavam a descer molhando meu rosto vermelho e angustiado. - Eu não to entendendo o que tá acontecendo!

- Lisa... - Ela respirou fundo, seu tom era pesaroso, como se carregasse um grande fardo. - Chaeyoung foi embora pra Austrália.

Eu não tive reação imediata, afinal aquilo nem sequer soava real. Por que ela faria algo assim comigo? Justo com a pessoa que mais a amava e venerava no mundo?

Sentei no sofá ainda calada, estava em total estado de choque. Até mesmo meu choro cessou, de repente.

- Por que... Por que ela faria isso? - Minha voz não passava de um sussurro. - Por que ela foi pra Austrália sem me dizer sequer adeus?

- Meu amor...- Era nítido o esforço que a Sra. Park fazia pra não se entregar ao choro, estava se fazendo de forte pra poder ser o meu suporte. Aquilo era o tipo de coisa que ela sempre faria. - Eu queria poder te dar uma resposta que ao menos amenizasse o que você está sentindo, mas, infelizmente, eu não tenho. Eu não sei o que deu na minha filha. Ela apenas me ligou apressada e disse que estava indo embora e que sentiria minha falta...

- Ela foi com quem?! Fazer o quê?! - Meu desespero ia aumentando conforme meu cérebro começava a processar a informação de que aquilo não era apenas um pesadelo, estava acontecendo de verdade. - Como ela pretende viver lá?

Eu podia ouvir sua respiração compassada e suspiros de descontentamento vindos do outro lado da linha, mas nenhuma palavra se proferia.

- COM QUEM ELA FOI??? EU PRECISO SABER A VERDADE! - Gritei sem conseguir mais controlar meu total devaneio, eu estava perdendo a cabeça. Eu só queria que ela dissesse que era apenas uma brincadeira de mau gosto e a minha mulher aparecesse sorridente pela porta.

- Ela foi com um rapaz... – A mãe de Chaeyoung disse, por fim, como se aquilo doesse pra ser dito. - Disse que iria refazer a vida dela com esse homem na Austrália ou algo assim...

- Mas quem é esse homem?! - A pergunta saiu como uma faca de dentro de mim, rasgando todos os meus órgãos internos de dentro pra fora.

- Eu não sei, minha filha. Ela não me deu detalhes e eu fiquei tão chocada que nem sequer consegui captar algumas informações. - Confessou nervosa e confusa, era perceptível seu tom de culpa.

Eu não conseguia falar, pensar ou ter qualquer reação. Só podia sentir as lágrimas voltando a escapar e a mão que segurava o celular tremendo próxima ao meu ouvido. Tudo parecia rodar e perder o sentido.

- Você sabe que pra mim é como se fosse uma filha e eu sempre tive muito orgulho de te ter como nora. - Ela fungava, deixando claro que já havia se rendido ao choro também. - Eu só quero que você saiba que não importa o que você tenha feito pra causar essa reação em minha filha, eu jamais vou aprovar a decisão que ela tomou de fugir com esse homem e vou pedir a Deus que ela perceba logo a bobagem que está fazendo e se arrependa. - A mais velha parou por um momento e suspirou languidamente. - Vocês foram feitas uma pra outra, Lalisa, qualquer pessoa que conhece vocês sabe disso.

- Não, ela tomou essa decisão. Ela escolheu esse homem e jogou fora tudo que nós vivemos. Me virou as costas sem ter a consideração de me dizer adeus. - Afirmei já sentindo a mágoa escorrer por minha boca. - Mesmo que ela se arrependa e volte atrás, nada mais vai ser como antes, a partir de hoje.

A Sra. Park ficou por mais alguns minutos tentando me consolar em vão. Nada que ela falava parecia ter algum efeito sobre mim. A tristeza e o rancor cresciam na mesma intensidade dentro do meu peito dolorido. Era como se meu coração, que um dia Chaeyoung encheu de vida, de repente se tornasse um órgão morto, duro, sem cor e sem utilidade.

 

 

We were made for each other

I'll keep forever

I know we were

All I ever wanted was for you to know

Everything I do I give my heart and soul

I can hardly breathe

I need to feel you here with me

 

 ***

 

Uma semana se passou desde o ocorrido e eu não podia me sentir pior. Era como se eu tivesse me tornado um corpo sem vida, meu coração ainda batia, ainda havia fôlego em meus pulmões, mas não restara uma alma.

Apesar de me sentir daquela forma, eu havia decidido, em meio aos meus dias de reclusão total, que não iria desistir da minha carreira que estava apenas começando. Mesmo que tudo aquilo tivesse se iniciado graças a ela, eu sentia que devia a mim mesma continuar crescendo mesmo sem o seu apoio. E foi movida a isso, que me levantei da cama, de onde eu quase não saí durante 7 dias.

A minha grande sorte foi ser tão estimada por minha chefe, Lee Chaerin, que era a Gerente de Marketing e também esposa do presidente da empresa, Choi Seunghyun. Ela foi totalmente compreensiva e me permitiu tirar alguns dias de recesso, apesar de que na versão que contei a ela eu havia perdido alguém muito próximo da família (o que de fato não era mentira, mas com certeza ela imaginou outra coisa).

Cheguei ao prédio da Columbus pela manhã, já me sentindo cansada como se tivesse trabalhado o dia inteiro. Ainda na recepção, encontrei Jisoo e sorri aliviada por ver um rosto amigo depois de tantos dias só. A baixinha, que só tinha mantido contato comigo por telefone - já que não permiti a ela que me visitasse -, me deu um longo e reconfortante abraço e fomos andando em direção ao elevador.

- Você pretende falar com Sra. Lee? - Jisoo perguntou um tanto reticente.

- Claro, foi graças a ela que pude tirar uns dias de folga. - Respondi, dando de ombros.

- Nesse caso, é bom que você esteja ciente de que ela sabe que essa história de que alguém da sua família morreu é mentira.

Minha amiga me encarou, analisando minha reação. Eu estava confusa, não só pelo que ela acabara de me contar, mas também por notar que todos a minha volta me olhavam e cochichavam entre si. Tentei ignorar aquilo por um momento, pois sabia que Jisoo tinha algo a me contar. Entramos no elevador enquanto eu ainda pensava, minha mente estava meio lerda após tantos dias só chorando.

- Como ela pode saber que é mentira? Você contou?!

- Como se eu tivesse algum tipo de contato com a Poderosa, né? - Ela revirou os olhos, sorrindo de forma sarcástica. - Ela é a mulher do presidente da empresa, Lisa. Aliás, você só tem contato com a Chaerin porque ela parece ser obcecada por você...

- Ok Jisoo, corta o papo furado e me conta logo o que aconteceu! - Minha irritação era cada vez mais evidente.

- Desde quando você é grossa desse jeito? - Ela, enfim, me encarou nada satisfeita com minha atitude. - Não precisa descontar em mim os seus problemas, Lis...

- Só me fala de uma vez, Kim Jisoo. - A interrompi, sem paciência.

O elevador chegou ao 3° andar onde ficava a área de atendimento ao cliente. Jisoo desceu, pois trabalhava ali e eu a segui pra obter as respostas que ela enrolava pra me dar. Peguei-a pelo braço, sem nenhuma delicadeza, e sai a arrastando até o banheiro.

- Vamos, Jisoo. Me fala de uma vez.

Ela bufou, visivelmente nervosa. Nem sequer conseguia me olhar nos olhos.

- O Sr. Choi conhece o cara com quem a Chaeyoung foi embora. - Disse ela, como se estivesse desabafando um segredo. - Parece que os pais deles são amigos de longa data ou algo assim. Só sei que esse cara é muito rico e herdeiro de uma fortuna.

Me recostei na pia de mármore, pois de repente o peso do meu corpo pareceu dobrar. Parte do meu cérebro ainda não aceitava que tudo aquilo era mesmo real, mas uma informação como aquela vinha como um tapa, doloroso porém necessário pra me despertar da ilusão.

- Provavelmente eles devem ter se encontrado com o Sr. Choi e a Poderosa antes de os dois pombinhos irem pra Austrália. - Jisoo continuou. - E, como os seus adoráveis chefes conhecem a Chaeyoung, já que você a apresentou, acho que ficou meio óbvia a situação. Todo mundo tava careca de saber o quanto você era louca por aquela garota. Não se fala de outra coisa nessa empresa.

- E o que estão falando? - Perguntei, já sentindo aquela sensação de angústia, tão conhecida por mim nos últimos dias.

 - Ta todo mundo comentando sobre você ter sido trocada por esse cara milionário. A família dele é meio conhecida. Dizem que ele tava aqui estudando e agora ta indo pra Austrália assumir uma das empresas do pai. - Ela abaixou a cabeça como se tivesse vergonha de me contar sobre aquilo e me deu um tempo pra digerir o que acabara de falar. - As pessoas aqui não gostam de você, Lalisa. Só porque você é a queridinha da Sra. Lee, mesmo sendo uma simples assistente. - Jisoo voltou a me encarar, eu via cumplicidade em seu olhar. - Eles estão rindo de você e só estou te contando tudo isso porque queria que você soubesse por mim, alguém que jamais ficaria feliz por sua derrota.

Apertei com força o mármore gelado da pia até sentir minhas mãos ficando dormentes, abaixei o rosto comprimindo os olhos. Eu queria chorar mas parece que não havia mais o que sair de mim, nem sequer lágrimas. Eu estava exausta de toda aquela merda, não podia mais suportar. Além de ser abandonada da pior forma, eu ainda teria que aguentar aquela humilhação?

- Qual é o nome dele? - Minha voz saiu densa e cheia de rancor, era como se outra pessoa falasse por mim, alguém muito mais sombrio.

- Do ricaço? Eu não lembro...  - Ela franziu o cenho e retorceu os lábios, como se mapeasse o cérebro em busca de uma informação exata. - Eu fiquei sabendo de tudo isso só ontem, porque como sabem que sou sua amiga ninguém queria me contar, mas sou muito esperta e fui pegando as coisas no ar... Se você quer mesmo saber de tudo, pode ficar tranquila que consigo pra você a história completa nos mínimos detalhes, o nome do cara, pra que cidade eles foram, em quanto tá estimada a fortuna dele...

- PARA! - Gritei sem imaginar que sairia tão alto, a mulher em minha frente se assustou, arregalando os olhos. - Desculpa... Mas para. Eu não quero mais saber de nada. Ela fez a escolha dela, ela decidiu ficar com ele e jogar todo nosso amor no lixo. Que ela seja feliz ou não do lado dele, não me importo. A partir de hoje, não quero ouvir falar no nome dela ou qualquer coisa que tenha relação com ela. Park Chaeyoung está morta pra mim. - Me aproximei do grande espelho disposto do lado esquerdo do banheiro e analisei por um momento o rosto da mulher totalmente destruída que ele refletia. Senti pena da mulher de profundas olheiras e semblante cansado. - Agora a única coisa que é real pra mim é o trabalho. Descobri da pior maneira que o amor é uma grande piada que quem ri por último é o mais esperto. Eu não fui esperta no amor, mas vou focar todas as minhas energias pra crescer dentro dessa empresa e dar motivos reais pra esses babacas me odiarem. E aí... – Abri um sorriso quase diabólico. - Eu vou rir por último.

Aquelas palavras saíram como uma profecia amaldiçoada e cada uma delas tinha um gosto amargo de rancor e mágoa, o que ultimamente pareciam ser as únicas coisas que eu era capaz de produzir.

Naquele dia, não só Chaeyoung tinha morrido pra mim. Morreram também promessas, juras de amor, planos, sonhos e, mais do que tudo, morreu uma parte de mim.

***

 

 

 

17 de janeiro de 2015.

 

Eu ainda tentava compreender que aquilo realmente estava acontecendo. Park Chaeyoung em pé a minha frente, oito anos depois de ter me virado as costas sem dizer adeus. A única mulher que amei na vida e aquela que destruiu a fé que um dia tive no amor.

Voltei a ficar de pé num impulso, mas não conseguia falar uma palavra sequer, nada saía. Me vi totalmente paralisada, tentando digerir a ideia de que ela estava mesmo ali. Meus olhos arregalados e úmidos, a boca semiaberta, não conseguia disfarçar o choque, não conseguia nem ao menos respirar.

Quando nossos olhares se cruzaram pela primeira vez, meu corpo inteiro estremeceu, como se um raio me atravessasse da cabeça aos pés. Minhas pernas fraquejaram e me senti tonta, me apoiei na mesa apenas com a ponta dos dedos para não perder o equilíbrio, mas nem por um segundo quebrei o contato entre nossos olhos. Suas íris castanhas estavam indecifráveis, eu daria qualquer coisa no mundo pra saber o que ela pensava naquele momento, mas seus olhos não davam nem uma pista. Ainda assim eles eram intensos como se dissessem tanta coisa, mesmo sem dizer nada.

Vê-la ali, parada em minha frente, fez com que passasse um filme lento e doloroso de tudo o que havia acontecido entre nós, desde quando eu a conheci com um sorriso infantil entre os lábios até o fatídico dia em que ela me abandonou e me deixou entregue à minha solidão. Era como se seus olhos fossem a tela onde eu assistia, cena por cena, aquela história de amor sem final feliz.

Meus olhos começaram a se encher de lágrimas e, de imediato, lembrei que aquele show tinha uma plateia atenta e silenciosa. Olhei para os senhores em volta da mesa e todos me encaravam confusos, sem ter ideia do que estava acontecendo. Não, ninguém me veria vulnerável novamente.

Despertei do meu transe em questão de segundos e atravessei a sala como um furacão, sem conseguir encará-la mais uma vez ou acabaria cambaleando e caindo na frente de todos. Passei por ela e quase me senti sufocar com seu perfume, era tão forte e marcante, cheiro de mulher. Eu só precisei daqueles minutos em sua presença pra constatar que Chaeyoung era minha criptonita.

Corri em direção à minha sala na esperança de que ninguém notasse que eu era uma mulher se desfazendo em pedaços. Por sorte, consegui chegar em meu esconderijo sem desmoronar por completo. Ao menos não externamente, porque, dentro de mim, tudo era caos como um cenário de guerra em uma cidade em ruínas.

Fechei a porta atrás de mim e me recostei ali mesmo, liberando, enfim, as lágrimas que já estavam me machucando, pedindo passagem pra sair. Meu choro era quase desesperado e os soluços já se faziam presentes, me fazendo aparentar uma criança de 2 anos. Há quanto tempo não me sentia tão frágil e débil como naquele dia e era tudo culpa dela.

Como ela se atreveu a fazer isso comigo? Já não bastava destruir a minha vida e me transformar naquele ser humano digno de pena, ela ainda se achava no direito de me fazer passar por mais essa humilhação? O que era aquilo? Algum tipo de plano maligno onde além de me trair e me apunhalar pelas costas da forma mais covarde possível, ela tinha que vir esfregar na minha cara o quão satisfeita estava com a decisão que tomou quando escolheu o milionário a mim? O que Chaeyoung queria comigo, afinal?

Ouvi batidas insistentes na porta onde eu estava apoiada e dei um pulo com o susto. Seria ela? Meu coração disparou tão frenético que o senti pulsando em minha boca. Caminhei a passos apressados até minha mesa e espalmei as mãos em cima dela sustentando o peso do corpo com os braços, não tinha coragem de ver quem estava abrindo a porta que rangia atrás de mim. Ouvi o som de passos se aproximando, o choque de saltos contra o piso ressoavam pela sala que se encontrava em completo silêncio. Todos os músculos do meu corpo se tensionaram instantaneamente e prendi a respiração sem ao menos me dar conta disso.

- Srta. Manoban... – A voz de Irene soou branda a alguns metros de distância. O alívio foi tão grande que senti como se fosse desmaiar, eram emoções demais pra um só dia. – Os dirigentes e acionistas da empresa querem que volte para a reunião, estão todos sem entender nada. - Ela fez uma pequena pausa. - E a Sra. Park Chaeyoung a espera.

Sra. Park Chaeyoung... Senti a bile subir pelo esôfago e um gosto amargo dominou meu paladar ao ouvir aquelas palavras.

- Irene... – Estava de cabeça baixa, tentando pensar em alguma saída pra aquela situação em que me meti sem ter consciência. – Eu não posso voltar lá.

- Mas todos estão confusos e, eu diria, um pouco indignados com o que aconteceu. Eles querem respostas. - A secretária disse num tom ameno, pois era visível que eu não estava bem. - A senhorita é a presidente da empresa.

- Eu sei, mas... Eu não posso. - Suspirei cansada, sentindo o peso do mundo em minhas costas.

- Sinceramente, eu não sei o que está acontecendo, mas pra lhe deixar desse jeito com certeza é algo grave. - A moça pôs a mão em meu ombro de forma cautelosa pra demonstrar-me seu apoio, em resposta, meu corpo pareceu relaxar. - Hoje é um dia importante pra Columbus e eles precisam da senhorita.

Virei um pouco o rosto, mirando-a de soslaio e pude ver seu olhar compreensivo sobre mim. Suspirei fundo na tentativa de internalizar o que ela havia dito e me pus ereta mais uma vez. Eu precisava encarar meus demônios e não iria me deixar vencer por eles.

- Diga a eles que já estou indo. – Ordenei buscando alguma firmeza em minha voz.

***

Entrei na sala de reuniões sem conseguir controlar a insegurança dos meus passos. Todos sabiam que havia algo errado. Sempre fui como uma fortaleza inabalável aos olhos de qualquer um ali, mas agora me sentia acuada, enfraquecida, destroçada e isso era nítido.

Passei por ela novamente, que ainda se mantinha de pé, sem desviar o olhar em sua direção e sentei-me em meu lugar de sempre, evitando ao máximo encarar a outra extremidade da mesa, onde se encontrava a mulher mais linda que meus olhos já puderam admirar.

- Bom... - Pigarreei, preparando-me para ter que, finalmente, direcionar alguma palavra a ela, apesar de minha única vontade ser sair correndo dali. - Vamos acabar logo com isso. – Minha voz trêmula e meu olhar perdido me delatavam. – Chaeyoung.... – Senti meu peito se contrair ao pronunciar seu nome em voz alta. - Ou melhor, Sra. Park, deseja falar alguma coisa antes de começarmos?

A mulher que eu jamais imaginei ver de novo passou alguns segundos calada me encarando e eu retribuí o olhar, sentindo todo o meu corpo formigar tamanho era meu nervosismo, era como se um buraco negro me sugasse e eu, simplesmente, me deixasse levar por ele. Mantive meus olhos nela até o último segundo, tentando parecer tranquila, enquanto por dentro eu gritava por socorro. Chaeyoung permanecia indecifrável, me olhando como se nem respirasse, parecia feita de gelo.

Ousei por um momento desviar o olhar para o seu corpo e analisei a mulher à minha frente. Ela estava... deslumbrante. Era como se eu soubesse que aquela havia sido um dia a minha pessoa, porém não a reconhecesse mais. Park Chaeyoung tinha um porte que exalava poder, maturidade. Muito diferente da Chaeng com quem compartilhei uma parte da minha vida.

Ela vestia uma blusinha branca de seda, com mangas longas e um decote generoso que ressaltava seus seios visivelmente maiores. Na parte de baixo, trazia uma saia preta de cintura alta que moldava perfeitamente seu quadril e coxas, ambos também muito diferentes de antigamente. Era um corpo de mulher, diferente do corpo de menina pelo qual me apaixonei. Em seus pés, ela trazia um Scarpin preto, com um salto absurdamente fino. A maneira como ela se equilibrava e mantinha a postura a deixava ainda mais sexy e tenho certeza de que estava olhando para ela com cara de deslumbre. Voltei meu olhar ao seu rosto e percebi que ela ainda me encarava, engoli em seco quando seus olhos também me analisaram por um instante. Não sei quanto tempo ficamos naquele diálogo mudo e sem tradução, até que ela quebrou o silêncio, me tirando do meu estado de torpor.

- Bom dia. - Sua voz firme ecoou pela sala e só com aquilo todos os pelos do meu corpo se eriçaram. Ela abriu um sorriso fraco e superficial, encarando a todos do alto de sua postura perfeita. – Como vocês já sabem, eu me chamo Park Chaeyoung, mas também podem me chamar de Roseanne Park. – Mesmo com aquela avalanche de emoções toda a minha atenção se voltou ao seu sotaque australiano que me pegou totalmente desprevenida. Por que tudo naquela mulher era fodidamente sexy? – Meu esposo, Kim Jonghyun, está doente. Não sei quando poderá assumir o cargo de vice-presidente ao qual foi designado pelo contrato feito entre a Columbus Corporation e a KJ Group, mas se não houver nenhum tipo de resistência, pretendo assumir o seu cargo enquanto ele não se recupera. Ele já me deu todas as coordenadas e sei que poderei suprir as expectativas dos senhores, assim como fiz por diversas vezes em outras de nossas filiais espalhadas pelo mundo. - Ela voltou a me olhar e não tive reação imediata, além de piscar mais do que o necessário, como se aquilo pudesse limpar a neblina em minha mente que me impedia de pensar direito. - E então, o que me diz, Srta. Manoban?

- Bom, eu... Eu não sei se isso vai dar certo. – Disse fitando minhas mãos sobre a mesa porque, de repente, perdi a ousadia de encará-la.

- Mas, Lalisa... – Levantei o rosto quase que por reflexo. Ouvir meu nome sendo pronunciado por sua voz era demais pra mim, senti um soco no estômago e me custou muito não deixar transparecer o quanto tudo aquilo estava me matando por dentro. Ela, por sua vez, balançou levemente a cabeça e continuou. – Srta. Manoban, eu posso lhe garantir que sou mais do que capaz de encarar esse desafio, eu tenho como provar isso com fatos e números. Você não irá se arrepender.

- Não! – Levantei-me e bati a mão na mesa com violência, expondo todo o ódio que estava sentindo. Por fim, consegui ter alguma reação, mesmo que não fosse das melhores. – Eu já estou arrependida. Eu me arrependo todos os dias! - Minha voz saía rasgada, entredentes.

- Se arrepende de que? - Uma voz masculina me fez voltar a realidade e perceber que havia mais meia dúzia de velhos babões assistindo a cena.

- E você ainda pergunta? – Comecei a gaguejar tentando achar uma razão plausível praquela cena. – Me arrependo de ter feito negócio com essa empresa. – Disse inquieta, passando a mão nos cabelos.

- Eu posso saber porquê? – Chaeyoung perguntou com um ar de indignação.

- Por que... – Me senti presa numa encruzilhada, todos os olhos da sala estavam voltados pra mim e eu, a cada segundo mais desnorteada. As coisas estavam saindo do meu controle. – Porque eu imaginei que quem iria me ajudar a comandar a maior empresa de telecomunicações do país, seria o seu... – Minha voz ficou levemente embargada. – O seu marido, Kim Jonghyun.

Chaeyoung franziu o cenho e mordeu o lábio inferior, parecia assimilar o que eu dizia.

- Bom, se é assim... – Pegou sua bolsa que estava na cadeira e direcionou o olhar aos senhores em volta da mesa. – Eu não tenho mais nada o que fazer aqui. Passar bem. – Antes de sair, me encarou uma última vez, pude ver seu maxilar marcado exprimindo o quanto estava insatisfeita, ela suspirou e saiu sem dizer mais nada.

Todos olharam pra mim confusos e, de alguma forma, irritados. Eu sabia que se ficasse ali vulnerável e sem nenhuma explicação concreta pra aquela cena ridícula, acabaria me encrencando ainda mais. Então, respirei fundo, recuperei meu ar de mulher superior, antes que fosse massacrada por suas perguntas.

- Eu avisarei aos senhores a data da próxima reunião. – Disse no alto da minha prepotência.

- Mas Srta. Manoban... – Um dos presentes interferiu, era o gerente de alguma área da Columbus que eu nem sequer fazia questão de lembrar.

- Não questione, Hanguk. Só aceite. Se você tivesse capacidade suficiente pra estar à frente de uma empresa como essa, você estaria no meu lugar. – Disse com numa expressão de desdém. - Mas não está. Então só obedeça às minhas ordens, está bem?

Não esperei a resposta e saí exuberante, como sempre, tentando disfarçar ao máximo o quanto tudo em mim estava em ruínas.

 

 

 


Notas Finais


E aí? O que acharam? Me contem nos comentários pois to sedenta por opiniões.

Update: eu criei uma playlist no spotify com as músicas da fic. Só tem 3 músicas ainda, mas conforme forem saindo os capítulos eu vou adicionando.
Twitter: @parkchaelisa
Playlist Stay With Me: https://open.spotify.com/user/nandatumblr1/playlist/3fc2Rbb1VNjHTLJ3yyDQ1d
When You're Gone: https://www.youtube.com/watch?v=0G3_kG5FFfQ


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