História Still Looking For Love (Imagine Jennie) - Lovesick

POV Jennie

Nossa. Parecia que o meu corpo iria entrar em um colapso, como se eu estivesse num carrinho de uma montanha-russa prestes a descer de uma altura assustadora. Ela estava ali. Depois de sete anos, ela estava finalmente ali. Eu posso ter negado desde o término da escola que eu não possuía mais aqueles sentimentos fortes, mas ao ver S/N parada de pé ao lado de Lisa, meu coração acelerado anunciou que eu apenas menti descaradamente para mim mesma durante todo esse tempo. O arrependimento bateu forte contra os meus ouvidos quando eu a escutei pronunciar o meu nome, o seu jeito estático e quieto me deixou confusa por um instante mas eu sabia, ela estava sentindo o efeito do impacto em me ver de novo. Eu não a culpava, a fiz passar por tantas coisas desde aquele dia em que eu me entreguei a algumas vontades escondidas e me tranquei com ela naquele banheiro. Ela se entregou rapidamente e eu estraguei o que poderia ter sido. Observei cada movimento de seu corpo enquanto eu tentava conversar com ela, recebendo respostas apenas da minha antiga amiga. Eu tentei esconder por um minuto, não deixar óbvio o quão feliz eu me encontrava por vê-la, porém a coincidência de esbarrar nela em um lugar tão distinto do que esperaríamos uma da outra, apenas me deixou esperançosa de novo. Talvez eu tivesse uma chance dessa vez.

* flashback on *

Os beijos molhados preenchiam a pele de meu pescoço, seus dentes roçando contra o local de vez em quando e mordendo a carne levemente. Suas mãos em minha cintura me apertavam enquanto as minhas mãos seguravam sua nuca, puxando os curtos fios de cabelo e recebendo um resmungo como resposta. Eu havia pegado os pequenos detalhes, ela gostava quando eu fazia isso, os gemidos contidos que saíam de sua boca aqueciam o meu pescoço e arrepiava a minha espinha. Eu não tinha mais medo de admitir, eu gostava daquilo, eu gostava de estar com S/N. O som irritante do sinal se espalhou pela instituição, me fazendo revirar os olhos por saber que nosso tempo havia chegado ao fim e nem conseguimos passar das preliminares. S/N subiu seus beijos para o meu maxilar, depois para a minha bochecha onde ela mordeu brevemente e por fim selou nossos lábios num beijo profundo. Eu já estava acostumada com o seu gosto de menta, com a sua língua entrando na minha boca com cuidado como se ela tivesse receio que eu a rejeitasse. O problema era que ela não sabia que eu jamais cometeria esse erro novamente.

- Hm - Resmunguei quando ela se afastou, um leve sorriso se apoderando dos seus lábios vermelhos. Ela se divertia com as minhas reclamações, com a minha necessidade de tê-la por perto.

- Precisamos ir, Jen - Ela disse, ajeitando sua blusa que amarrotou por conta de minhas mãos inquietas e depois penteou os meus fios escuros, depositando uma pequena mecha atrás de minha orelha. Os meus olhos brilhavam, eu conseguia sentir isso, eu passei a amar ouvi-la me chamar de tal forma. Mas a verdade era que eu passei a amar estar ao lado dela.

- Vamos? - S/N voltou a se pronunciar, me arrancando dos meus devaneios. O sorriso encantador ainda estava em seus lábios, uma expressão meiga e apaixonante em seu rosto. Ninguém me olhava como ela, ninguém nunca me olhou como ela. Um olhar que me dizia que eu merecia aquilo, que eu merecia cada toque, cada demonstração de afeto, cada minuto de seu tempo. Jamais pensei que eu alcançaria algo assim, especialmente depois de rejeitar seus sentimentos tantas vezes. Mas ela gostava de mim, e eu estava começando a acreditar que estava realmente apaixonada por ela.

* flashback off *

Respirei profundamente, percebendo que havia viajado um pouco para fora da realidade. O pessoal com quem eu estava conversando anteriormente continuava a falar com um entusiasmo impressionante sobre aquela empresa. Olhei ao redor do enorme escritório e encontrei ela no meio daquele grupo de estudantes, sua atenção completamente designada para a diretora da revista. Seus olhos brilhavam, bem do jeito que eu me lembrava e os seus lábios ainda formavam aquele sorriso encantador. Ela parecia querer estar aqui, ela parecia desejar uma oportunidade tanto quanto eu, mesmo calma e quieta em seu canto eu conseguia enxergar o seu interesse por esse lugar. Assim como eu sempre enxerguei o seu interesse por mim. Me debati novamente ao me distrair com meus pensamentos, eu desejava focar no meu objetivo, na minha carreira, mas eu simplesmente não podia deixar de lamentar a minha estúpida decisão naquele dia. Mesmo depois de sentir cada pequena sensação que os beijos, os leves toques e as palavras de S/N me causava, eu a afastei. O tocar do sinal naquele dia apenas me acordou para a decisão que eu já havia tomado.

Há sete anos atrás, pouco tempo depois de eu me declarar para uma jovem S/N, eu voltei a me afastar dela. Sem despedidas, sem explicações, apenas uma dor no peito compartilhada. Eu pensei que pudesse fazer aquilo, que estar com ela daquele jeito era tudo o que eu queria e tudo o que importava, porém, os rumores começaram a se espalhar, uma boca se aproximava de um ouvido que se tornava em outra boca que se aproximava de outro ouvido. Em menos de três meses a escola inteira já sabia sobre um envolvimento entre nós duas e acreditem em mim, não foi isso o que me fez cometer um erro, dessa vez, não foi isso o que me incomodou. O problema se iniciou quando eu cheguei em casa um dia, os meus pais sentados na sala, olhares e expressões sérias e assustadoras em seus rostos como eu nunca vi antes.

Eu soube na hora do que se tratava mas quando o meu pai se colocou de pé e disse que eu seria mandada para um internato, eu perdi as minhas forças. Foi difícil e complicado nos dias seguintes, eu havia prometido aos meus pais que nunca mais me aproximaria de S/N, caso eles não me mandassem para tal lugar. Obviamente eles não acreditaram em minha palavra, porém me ofereceram uma saída. Trocar de escola. Eu não poderia negar, eu não poderia descartar uma saída melhor do que a qual eles me obrigariam em primeiro lugar mas obviamente, era mais do que isso.

Sendo assim, eu continuei na escola por mais um semestre, o tempo necessário para ajeitar tudo e me chutar para outro lugar, para uma outra cidade. Sim, seria muito fácil só mudar de escola, os meus pais tinham em mente que eu ainda poderia me encontrar com S/N. Todavia, foi nesse meio tempo que eu a deixei para trás, que eu ignorei sua presença e suas tentativas em me dar aquilo que eu sempre desejei: o seu carinho. Foi doloroso vê-la confusa, vê-la correr atrás mim o tempo todo e não conseguir lhe dizer o que estava acontecendo. Uma vez, eu a prometi que seria sincera daquele momento em diante mas eu não sabia como olha-la e dizer que estava tudo acabado. Então, eu apenas sumi de sua vida.

[...]

As horas passam rapidamente quando você está presa em devaneios, assim, quando eu menos esperei eu já me encontrava na sala enfeitada por manequins e tecidos, um homem com um grande senso de moda, senso esse que era expressado por suas vestimentas, falava orgulhosamente sobre o seu trabalho e sobre o que eu faria se conseguisse a vaga para trabalhar com ele. Eu odiava admitir mas boa parte desse diálogo eu estive com a cabeça nas nuvens, o que me irritou assim que eu percebi que não estava prestando atenção na única pessoa que eu deveria escutar. Não era possível que eu mesma iria arruinar minha chance. O sorriso maravilhado ainda estava em meu rosto quando eu finalmente voltei a escutar a voz do mais velho, entendendo completamente suas palavras ao invés de ouvir apenas murmúrios ao fundo. A partir daí a curta entrevista se seguiu suavemente, ele me perguntou sobre a faculdade de moda e sobre as minhas expectativas em trabalhar nas preparações de looks e cenários para os photoshoots da revista. Digamos que foi fácil responder visto que eu já estava fora da imersão de meus pensamentos. Uma vitória, ótimo.

Após me despedir do mais velho, eu voltei para a parte principal do escritório, sendo recebida mais uma vez pelas diversas mesas ocupadas por funcionários dispostos e atentos ao seu trabalho. Avistei os estudantes da minha faculdade, tão bem como eu avistei a minha professora e me aproximei do grupo, percebendo que cada um ali compartilhava suas expectativas da conversa que eles tiveram com algum membro superior da empresa. Eu sorri e acenei na maior parte do tempo que direcionaram suas experiências para mim, meus olhos perdidos em encontrar S/N pelo local. Encontrei Lisa conversando com uma mulher mais ao canto, ambas olhando com animação e conhecimento o que quer que estivesse aparecendo na tela do tablet, olhei na direção contrária e nada. Ela não parecia estar por ali, o que eu achei estranho. Voltei a me focar no diálogo que rodeava o meu círculo de conhecidos, me sentindo inquieta e ansiosa de repente. Eu não conseguia acalmar a minha vontade de querer vê-la de novo, de saber sobre sua vida, de ouvi-la falar sobre cada detalhe que aconteceu durante seus dias até atualmente. Eu estava curiosa para fazer parte da sua vida de novo, para dar chance á um novo começo.

Alguns minutos se passaram e a professora anunciou que já havia chegado o momento de deixarmos o escritório, permitir que os funcionários trabalhem adequadamente foi o que ela disse. Sendo assim, cada estudante deu uma olhada a mais pelo escritório enquanto a responsável por nós conversava com a diretora da revista e aquele homem que eu suponho ser o professor das meninas. Senti meu estômago se revirar com uma sensação conhecida, aquele mesmo sentimento que eu me acostumei a ter durante o tempo da escola sempre que eu estava me deslocando para o local de encontro que eu havia marcado com S/N. Era um tipo de nervosismo bom, borboletas no estômago como muitos chamariam, e eu estava me sentindo assim pois meus olhos finalmente a encontraram pelo lugar. Ela estava se levantando de uma cadeira próxima a uma mesa de um dos funcionários, conversando com um sorriso simpático nos lábios com essa pessoa. Foi instintivo, no segundo em que eu a vi, eu sorri também.

Coloquei minhas mãos no bolso do blazer e decidi me aproximar de Lisa, quando notei que ela já se encontrava sozinha. Me aproximei da loira e toquei seu ombro, fazendo-a dar um leve pulinho pelo pequeno susto.

- Oh, Jennie! Não faz isso, quer me matar de susto? - A garota disse num tom dramático, sua mão direita subindo imediatamente para a altura de seu peito enquanto seu rosto era tomado por uma expressão de terror. Ri da sua reação.

- Não. Por que você está tão assustada? - Perguntei, tentando cessar meus pequenos risos, meu cenho se franzindo com curiosidade.

- Por nada, só estava distraída. Mas me diz, você acha que eu devo ligar para aquela garota? - A loira se explicou, logo apontando um dedo bem discreto na direção que seus olhos se perdiam. Segui sua intuição e encontrei aquela garota de antes, a qual Lisa estava flertando á distância. A moça tinha cabelos coloridos, um estilo diferenciado e traços estrangeiros.

- Hum.. sei lá, ela parece.. legal - Falei ao dar de ombros, minha atenção saindo da mulher desconhecida e caindo completamente na direção onde S/N se encontrava, trocando sorrisos e risadas com uma funcionária da empresa. Engoli em seco.

- Você costumava ser de grande ajuda nesses momentos, o que aconteceu? - Lisa disse, dando um leve soco no meu braço. Franzi o cenho e voltei a olhar para a loira ao meu lado, desistindo de uma feição ofendida para cair na risada ao ver que Manoban realmente não havia gostado da minha resposta anterior. Balancei a cabeça desacreditada, ela não mudou nada.

- S/A! Como foi lá? Eu vi ela flertando com você - A loira anunciou a chegada de sua amiga, se encontrando com S/N na metade do caminho e jogando um braço envolta do pescoço dela, trazendo-a para mais perto e então a provocando com o comentário malicioso. S/N revirou os olhos e continuou a andar com Lisa grudada em seu corpo.

- Você está vendo coisas demais. Ela só é muito gentil e foi ótimo, eu acho. Como foi com você? - Ela perguntou, retirando o braço da amiga de seu pescoço e cortando qualquer pensamento inadequado que Manoban havia gerado em sua cabeça. Ou que eu havia gerado na minha cabeça. Suspirei aliviada e ajeitei a postura quando elas pararam na minha frente.

- Incrível. Essa vaga com certeza é minha - Lisa declarou confiante, apoiando o braço em cima do ombro de S/N e logo fazendo a garota afasta-la mais uma vez. A loira fez bico e veio para o meu lado. Mordi o lábio para não rir da cena. Essas duas juntas deve dar vida a uma amizade interessante.

- Que bom que você continua confiante, Lalisa - Comentei com um sorriso, cutucando a garota com o cotovelo. Lisa desmanchou o bico e deixou as costas ereta, encorporando uma postura convencida, me fazendo rir novamente.

- Foi.. tudo bem pra você também? - A voz de S/N soou baixa, quase hesitante ao direcionar a pergunta para mim, me obrigando a levantar os olhos em sua direção sem nem me importar se eles brilhavam por causa dela. A expressão em seu rosto era confusa, eu não sabia dizer se ela estava frustrada ou brava por me ver, ou se ela estava aceitando aos poucos que havíamos nos reencontrado.

- Acredito que sim. Obrigada.. por perguntar - Respondi rapidamente, me debatendo por parecer tão desesperada em trocar uma única frase com ela. No fim, respirei fundo e agradeci por ela não me ignorar completamente, recebendo um leve sorriso de sua parte.

- Agora que nós estamos livres, nós deveríamos relaxar um pouco, o que acham? Ir comer alguma coisa. Eu vi uma lanchonete aqui perto - Lisa propôs, deixando de olhar para a tela do celular e guardando o mesmo no bolso de sua jaqueta, seus olhos transitando entre o meu rosto e o de sua atual amiga.

- Hum.. pode ser - S/N disse, um tom incerto em sua voz, o que me fez questionar que seria possível ela não querer, ou não estar pronta para ficar na minha presença. Me remexi no meu canto. Eu deveria dar espaço e esperar que ela processasse a informação de que eu estava de volta, porém eu não conseguia afastar o desejo de querer saber sobre sua vida.

- Você vem, né Jennie? - A loira me perguntou com um olhar desafiador, quase me obrigando a balançar a cabeça positivamente. Mordi o interior da boca, ponderando se seria uma boa escolha aceitar o convite.

O que realmente poderia dar errado? S/N poderia me xingar por horas por ter sido tão insensível com ela no passado, porém ela não faria isso tão repentinamente e ainda mais na frente de Lisa. Ela poderia fingir que eu não estava ali, o que me destruiria mais do que se ela gritasse na minha cara o quanto ela me odeia. Eu já sentia minha perna balançando de nervoso e a loira me encarando cada vez mais perto enquanto eu pensava em uma resposta. Olhei para S/N, tentando mais uma vez ler o que ela poderia estar sentindo, pensando, mas falhei miseravelmente. Porém, eu a vi assentir levemente com sua cabeça, me incentivando com um sorriso fraco a fazer o mesmo.

- Claro - Falei ao assentir, a loira comemorando ao som da minha resposta positiva.

- É isso aí. Vamos lá garotas! - Lisa disse animada, jogando um braço nos ombros de S/N e o outro nos meus, trazendo nós duas para perto de seu corpo, ficando entre nós. Olhei para a expressão alegre da loira e depois para o semblante sem reação de S/N, o verdadeiro significado de alguém que já está acostumada com o inacabável entusiasmo de Manoban. Sorri ladino e assim como S/N, deixei a loira nos encaminhar para o elevador.

[...]

O dia ainda permanecia refrescante e apreciável, assim como eu o encontrara mais cedo quando saí de meu apartamento. Os ponteiros apontavam umas dez horas e alguns minutos daquela manhã então o sol já podia ser avistado no céu, porém escondido entre algumas nuvens. Como eu bem me lembrava da época do colégio, Lisa tagarelava sobre um assunto do qual eu realmente não estava prestando atenção enquanto caminhávamos por uma calçada levemente movimentada na cidade de Seoul. S/N tentava argumentar com o que a loira dizia mas acabava se frustrando ou se irritando com o lado energético da outra garota, suas expressões mudando constantemente entre um franzir de cenho e um revirar de olhos. Eu apenas me mantinha calada, um leve sorriso no rosto enquanto eu apreciava a interação das duas garotas. Nunca pensei que elas se tornariam amigas e isso obviamente atiçou a minha curiosidade, como elas se aproximaram?. De minuto em minuto, a cada passo que eu dava, meus olhos caíam sobre S/N, sua roupa casual bem organizada no corpo me lembrava do seu jeito sincero e acolhedor, assim como me recordava da sensação de ter os seus braços envoltas de minha cintura.

Era esperado que eu perderia as contas de quantas vezes tive que chacoalhar a cabeça para me livrar de tais pensamentos, para me livrar das lembranças que me prendiam aos sentimentos que eu tinha pela a garota. E mesmo assim, eu não me impedi de continuar desviando os meus olhos de uma Lisa falante e animada, para uma S/N que ouvia e se arrependia consequentemente das histórias da anterior. Quando entramos na aconchegante lanchonete, fomos surpreendidas com o cheiro tentador dos hambúrgueres que estavam sendo feitos, tão bem como nossos ouvidos foram presenteados com a música alegre e baixa que tocava pelo ambiente. Lisa saltitou até uma mesa ao fundo, se esparramando pelo estofado do banco e nos chamando com um aceno rápido. Olhei para S/N, que se manteve de pé ao meu lado após entrarmos no local, ela apenas sorriu brevemente, pedindo com o seu iniciar de passos que eu a seguisse, e assim eu o fiz.

- Vocês não acham uma loucura a gente ter se encontrado? Tipo, é possível que nós trabalhemos no mesmo lugar a partir da próxima semana - Lisa disse com entusiasmo, suas mãos recolhendo o porta guardanapos que estava em cima da mesa e batendo os seus dedos no objeto.

- Vamos com calma, Lisa. Nós não somos as únicas querendo esses estágios - S/N disse, um tom realista porém preocupado em sua voz. Talvez fosse importante para ela conseguir essa vaga. Seu corpo sentado ao meu lado fazia eu me sentir quente e confortável, como se nunca tivéssemos ficado afastadas por tanto tempo. Era um sentimento maravilhoso, eu queria poder agarrar suas mãos que estavam entrelaçadas em baixo da mesa mas também não queria forçar nada, não queria cruzar a linha.

- Eu sei mas olha bem para nós. Somos perfeitas para trabalhar lá - A garota sentada a nossa frente declarou, os seus lábios se esticando num sorriso confiante enquanto ela soltava o porta guardanapos e começava a mexer em seu celular, suas costas curvadas se esticando ao se penderem para trás, contra o encosto do banco. Ri quieta em meu canto, me sentindo inspirada e contagiada pela confiança da loira. Era bom reencontrar Lisa também.

- Se você diz, Manoban - S/N comentou baixo, um breve riso caindo de sua boca ao se dar conta da insistência da outra, seus olhos deixando de percorrer as feições da amiga para se instalarem nos pôsteres de filmes colados na parede do estabelecimento. Não consegui impedir que um sorriso pequeno se formasse em meu rosto. Eu só queria que ela olhasse para mim.

- Uh, preciso atender. Já volto - Lisa anunciou de repente, seus olhos atentos a tela do celular enquanto ela se levantava, seu corpo rapidamente sumindo do nosso campo de visão. Uma música conhecida ainda preenchia o ambiente, um ótimo adendo ao silêncio que ficara quando a loira se retirou. Minha garganta coçava, havia tantas coisas que eu queria dizer e mesmo assim eu não tive a coragem de coloca-las para fora. S/N se remexeu ao meu lado, suas mãos unidas saindo de suas pernas e caindo na planície da mesa, seus dedões acariciando sua própria pele.

- Então.. - Nossas vozes saíram em uníssono, criando um ar ainda mais constrangedor e incompreensível entre nós. Eu sentia minhas bochechas se ruborizarem, um efeito da minha surpresa por ela ter pronunciado uma palavra. Ajeitei uma mecha de meu cabelo atrás da orelha e passei minhas mãos suadas pela calça. Eu estava um tanto nervosa. S/N limpou a garganta e manteve seus olhos em suas mãos.

- Achei que você estivesse fora da cidade - Ela disse baixo, seu rosto se recusando em se virar na minha direção enquanto as palavras saíam de sua boca. Engoli em seco com sua suposição, seria difícil não me sentir desconfortável ao ouvi-la falar sobre a última vez que nos vimos.

- Hum.. eu.. eu estava mas voltei, pra fazer a faculdade aqui - Expliquei rápido e brevemente, me embolando nas palavras enquanto eu tentava não entregar o quão arrependida eu me sentia por nunca ter lhe dado uma explicação. Na verdade, eu me sentia envergonhada. Eu poderia ter lidado com aquela situação de uma forma melhor, de um jeito menos dolorido para mim, para ela. Mas acho que acabei fazendo o que pareceu mais fácil naquela época.

- Isso é bom - Ela respondeu simplesmente, voltando ao silêncio de antes. Mordi o interior da boca, sua falta de interesse me deixava inquieta. Não parecia certo eu despejar tudo o que aconteceu de uma vez nas costas dela mas também não dize-la o motivo de eu ter ido embora, me colocava numa posição de insensível. Ela provavelmente deveria achar que eu não me importava uma gota com ela.

- S/N.. - Tentei depois alguns segundos, virando o meu corpo diagonalmente na sua direção, esperando que ao menos o seu rosto viesse de encontro ao meu. Entretanto, ela não me olhou, sua voz apenas caiu de seus lábios, firme e fria.

- Não, Jennie. Não vamos falar sobre isso. Faz muito tempo, está no passado agora - Ela pontuou, seus olhos me observando de lado, não possuindo a certeza ou a vontade de me encarar completamente. Meu peito apertou com sua fala e minha boca secou repentinamente. Dessa vez, eu não sabia o que dizer.

- Acreditam que aquela garota queria que eu participasse de um ménage com ela e o namorado? - Lisa voltou de forma espontânea, se jogando no estofado tão bem como ela fez quando chegamos na lanchonete, nos alertando do tópico do telefonema que ela recebeu minutos atrás.

Normalmente, eu teria franzido o cenho, levantado uma sobrancelha ou ao menos soltado uma risada com a informação desnecessária mas naquele instante, eu apenas sorri fraco e me esforcei para não demonstrar o incômodo que eu sentia. Não era tristeza, eu não tinha o direito de ficar triste pela decisão da garota em não querer falar sobre o passado. Portanto, o que eu sentia, poderia ser classificado como uma quebra de expectativas. Uma pequena decepção. Eu, ao menos, achei que ela iria querer saber o que houve.

- E você aceitou? - S/N questionou a loira, incentivando-a a contar mais sobre a tal proposta que recebera.

- Nah. Deixa pra próxima - Lisa respondeu com um tom descontraído, quase como se estivesse acostumada com esse tipo de convite. S/N riu anasalado e passou a olhar o cardápio do local. Apenas suspirei quietamente. Talvez fosse melhor deixar essa situação de lado, começar de novo significava esquecer o passado, certo?. Era possível que isso fosse exatamente o que S/N queria, esquecer completamente o passado.

- Mas então Jennie, conta mais sobre o que você andou aprontando por aí? Tá namorando? O que você cursa mesmo? - A loira perguntou em seguida, não permitindo que o silêncio caísse sobre aquela mesa. Minhas sobrancelhas se arquearam em meu rosto, um sentimento de surpresa dentro de mim como se eu tivesse sido pega fazendo algo de errado. Olhei para Lisa que esperava sorridente por uma resposta e depois para S/N, que não aparentava estar prestando atenção no que lia. Ela parecia perdida em seus próprios pensamentos.

- Hum.. eu faço moda, Lisa. E não, eu não estou namorando - Respondi meio sem graça, bisbilhotando discretamente a garota que sentava ao meu lado, esperando alguma reação de seu corpo sobre o que eu havia acabado de revelar. Será que ela estava sozinha também?.

- Ótimo, é um alívio ouvir isso. Sabe como é chato ser amiga de um casal? É muito chato e entediante. Agora você vai ser a minha companheira de balada - A garota continuou a falar, encorporando uma expressão de derrota em seu rosto ao revelar sua situação com um casal de amigas. Franzi o cenho no mesmo momento, me perguntando estupidamente de quem se tratava, até eu juntar o óbvio com o óbvio. Oh.

- Lisa, menos, por favor - S/N a advertiu, seus olhos ainda presos no cardápio. Voltei a franzir o cenho levemente, dessa vez em confusão, ela não queria que eu soubesse de seu namoro? Ou ela somente não desejava que eu soubesse de nada sobre sua nova vida?.

- Menos nada, você tem que ver como a S/N é melosa com a.. - A loira começou a falar com o seu típico entusiasmo, escorando seu corpo sobre a mesa para me alertar de seu divertimento com aquela história. Porém, sua amiga não parecia estar se divertindo do mesmo jeito. Meus olhos estavam arregalados, eu estava surpresa e meio decepcionada com a informação sobre aquele namoro, e a forma como S/N estava lidando com isso me deixava ainda mais intrigada. Qual o motivo de tanta restrição sobre esse relacionamento? Por que eu não podia saber sobre ele?.

- Lisa - S/N repreendeu mais uma vez, seu tom firme soando como uma mãe que não estava gostando nem um pouco das atitudes da filha. Observei a cena com todo cuidado possível, confusa e curiosa sobre esse relacionamento. Há quanto tempo elas estavam juntas? Será que era um namoro sério? Como elas se conheceram? Quem era a garota?. Muitas dúvidas e nenhuma resposta. Quero dizer, havia uma resposta. O tal namoro explicava parcialmente a vontade de S/N em não falar sobre o que aconteceu entre nós, sobre em quais termos nos encontrávamos. Mas pelo o que parecia, não havia mais termos entre nós. Não havia nada.

- O que? - A loira indagou confusa, olhando seriamente para a amiga. S/N abaixou o cardápio e o colocou de lado.

- Não vamos falar disso - Ela declarou, simples e direta. Me mantive quieta enquanto as duas trocavam olhares fixos e intensos, quase como se conversassem por telepatia.

- Ok, ok. Vamos pedir o que então? - Lisa disse após desistir do assunto, acatando as vontades de S/N e me deixando totalmente inerte do que realmente poderia estar acontecendo. S/N parecia tão segura ao não querer falar sobre o seu atual relacionamento. Ela estava decidida, não iria me falar sobre isso, será que eu queria mesmo saber de quem se tratava?.