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História Strawberries and Cigarettes - vhope - Said it all be worth the wait


Escrita por: SafiraOpaca e SafirArmy

Notas do Autor


Oi pessoinhas ><
Voltei já com um cap que não tava me agradando tanto no início, mas fui me empolgando tanto enquanto escrevia que escrevi demais rs
Acho que continuarei sem dia específico para postar, assim não me sinto pressionada e sempre que tiver algo pronto eu só venho e compartilho com vcs. Não deve ter mais que 4 ou 5 caps ^^

Boa leitura, perdoem os errinhos e até as NF!

Capítulo 2 - Said it all be worth the wait


Era a terceira noite deles na cidade minúscula e Hoseok já estava se acostumando com a rotina de acordar no meio da manhã e ir ajudar na oficina durante o dia. Encontrar trabalho sempre era uma prioridade que muitas vezes ditava quanto tempo eles ficariam na cidade. E de todas as experiências que tiveram, naquela pacata cidade foi onde encontraram emprego mais rápido. Ele e Jungkook ajudavam uma oficina mediana que aparentemente atendia a maioria dos veículos da cidade, já Jimin usava a própria moto para entregar os pedidos de televenda de uma farmácia, assim como para buscar suplementos ou resolver qualquer pendência cuja agilidade de sua moto teria serventia.

Era quase como se o universo falasse que dessa vez eles deviam ficar mais.

–  É a terceira vez que você vem até aqui e estamos aqui há três dias – era a voz de Jungkook, soando quase maldosa enquanto ele sentava no banco vago ao seu lado ao retornar do banheiro. Jimin se distraía com a velha junkebox laranja com um brilho fosco enquanto se decidia por qual música colocar – Por que sempre aqui, Hobi?

A pergunta era maldosa, pois Jeon sabia do motivo desde a primeira noite. Ele notara o quanto o funcionário de rosto simétrico tremera com a chegada deles três, em como seus olhos pareciam busca-los a todo momento e o constrangimento parecia entrelaçar-se a curiosidade sempre que ele se aproximava. Mas ele também viu que Hoseok se deixou distrair pelo sorriso quadrado, que fumou menos cigarros na primeira noite simplesmente porque esquecia de acender um novo se Taehyung estivesse por perto e que nos dois dias seguintes, fumara em uma quantidade anormal os filtros esbranquiçados. Hoseok estaria frustrado se não fosse tão teimoso em relação à própria liberdade. Mas se analisassem o cerne de suas atitudes não usuais, encontrariam um rapaz do interior doce e intocável protagonizando suas mudanças comportamentais.

Um rapaz que não falara mais com ele desde a primeira noite.

– Por que? - ele enfim devolveu a pergunta à Jeon, rodando a garrafa de cerveja e mirando os movimentos elegantes de Taehyung do outro lado do balcão, enquanto ele se esticava para alcançar uma garrafa de whisky – As fritas com queijo daqui são as melhores.

Jungkook riu contra o bico da própria garrafa e sentiu os braços quentes de Jimin envolverem seu corpo quando ele finalmente voltou ao seu lugar. Hoseok gostava de reparar no quão natural os corpos deles reagiam um ao outro, como se não houvesse espaço no mundo que fosse desconfortável demais para estarem juntos. A palma de Jungkook descansava na coxa de Jimin enquanto ele o abraçava com o braço que não tentava alcançar a garrafa no balcão. Instintivamente olhou para Taehyung, a calça jeans era um pouco mais justa que o moletom que o vira usar na primeira noite, delimitando as pernas longas em um charme que não chegava a ser sensual, mas era o suficiente para manter os olhos de Hoseok dolorosamente naquela região.

– Por que não tenta falar com ele de novo? – foi Jimin quem questionou, trazendo Hoseok de volta a eles.

– Não vamos ficar tempo o suficiente para que tenhamos alguma coisa – respondeu simplesmente, empurrando um bolor amargo pela garganta ao tomar uma golada longa da cerveja. Tanto Jungkook quanto Jimin franziram as sobrancelhas, como o perfeito reflexo um do outro.

– Sua justificativa é inválida já que você já conseguiu uma transa de uma noite em uma cidade em que ficamos, vejam só, por uma noite! – o sarcasmo de Jungkook acabou por fazer Hoseok rir um pouco, assim como Jimin, que usava a mão pequena para tampar os lábios em uma mania desnecessária. Ele tinha um sorriso acalentador, na visão de Hoseok.

– Sim, mas não sou canalha o suficiente para fazer isso com uma criança.

Hoseok não parecia melancólico aos olhos do casal, mas era um pouco como se sentia ao roubar olhares para Taehyung novamente. Sorriu ladino e rasgado lembrando-se da repreensão que ganhou por tê-lo chamado dessa maneira e se perguntava o verdadeiro motivo de se importar em quebrar ou não o coração dele. Era de seu feitio ter pelo menos uma boa noite de sexo em cada cidade que visitavam, mas desde que colocara seus olhos no doce funcionário Hoseok se viu em meio a um impasse: não poderia tê-lo dessa forma e não conseguia olhar para mais ninguém assim depois que seus olhos cruzavam com os dele. Com um suspiro, acendeu distraidamente um dos filtros brancos tão conhecidos e exalou a fumaça para o teto tentando desanuviar os pensamentos, eram questionamentos demais direcionados a um garoto com quem mal conversava. Mas então uma movimentação a sua frente o fez abaixar o semblante, Taehyung estava a poucos centímetros de seu corpo, do outro lado do balcão, atendendo Jungkook. Se permitiu olhá-lo, reparando que o jeans ainda era um pouco mais largo do que o corpo dele, mas o moletom preto comprido cobria as partes críticas onde o pano sobrava. Hoseok não tinha razão alguma para pensar o que pensou a seguir, mas lá estava o pensamento: aquilo era tão Taehyung.

 Como se o conhecesse o suficiente para isso.

 – Vai querer alguma coisa, Hobi? – era a voz de Jungkook, mas Hoseok só tinha olhos para Taehyung. Ele esperava que, à menção de seu apelido, o garoto fosse olhar para ele pela primeira vez na noite. E ele o fez, mas com certa indiferença e frieza no olhar que fez o motoqueiro estreitar o aperto de seu indicador e mediano ao redor do cigarro.

 Desviou o olhar para além do balcão, sentindo o peso dos oculares de Taehyung invadindo sua pele de maneira incômoda, e percebeu uma lata de refrigerante de morango aberta ao longe. Sorriu contido antes de lançar aquele olhar confiante que tirava todas as certezas de Taehyung para o funcionário.

 – Eu quero um daquele – disse, apontando com o indicador para a lata aberta. Taehyung arqueou as sobrancelhas, surpreso. O primeiro sinal de alguma emoção desde a primeira vez que se viram – E aquele licor de morango de novo.

 Taehyung assentiu. Se tinha qualquer comentário ácido para fazer, engoliu enquanto girava nos calcanhares e seguia para pegar os pedidos. Com um vislumbre por entre a fumaça cinzenta, Hoseok notou os dizeres Let it be gravados na parte de trás da barra do moletom dele e acompanhou todos os seus movimentos até ele estar de volta. Taehyung depositou a lata de refrigerante e a de licor em frente a Hoseok antes de puxar uma mangueira e direcioná-la para os copos vazios dos três mosqueteiros. Enchendo-os de cerveja, se inclinou para apanhar o copo de doses, mas Hoseok o rejeitou com a mão.

 – Vou ficar com a garrafa.

 Ele pôde ver centenas de questionamentos e até mesmo alguns xingamentos por trás do olhar que Taehyung o lançou, e isso o fez sorrir. Preferia o desprezo destilado pelos olhos brilhantes do que a indiferença que vinha recebendo nos últimos dias. Taehyung acabou por dar de ombros enquanto seguia para atender o restante dos clientes e Hoseok passou o decorrer da noite distraído com cervejas e Kim Taehyung.

 A brisa noturna era suave e sua moto era a única que ainda ocupava alguma das vagas do estacionamento do bar. Ele estava apoiado contra o acento de couro, dividido sobre que fazer. A garrafa de licor de morango e a latinha de refrigerante descansavam no compartimento abaixo do acento da moto e ele encarava o vale logo após a rodovia silenciosa. Há muito fora abandonado por Jimin e Jungkook, mas não conseguira se afastar muito do estabelecimento. O Bar e Lanchonete dos Kim era o antepenúltimo comércio antes que a cidade acabasse e se abrisse para a estrada cravada nas montanhas. Hoseok observava as luzes da cidade como se fossem uma família de fadas distantes, distribuindo pozinho mágico pela noite. Ele se perguntava qual seria seu desejo, se pudesse fazer um pedido naquele momento, mas logo os retângulos iluminados no chão pela luz que saía da lanchonete se apagaram e o som das portas de vai e vem sendo empurradas e trancadas desviou sua atenção para a figura de Taehyung que saía distraído com o próprio celular.

 Hoseok se limitou a observá-lo por alguns momentos. Ele tinha uma ligeira linha de tensão no canto dos lábios e uma ruguinha entre as sobrancelhas enquanto checava algo. Ele andou com certa pressa até um ponto de ônibus vazio cujo uma das lâmpadas havia parado de funcionar. Parecendo sem alternativas, se jogou no banco e encarou a mesma cidade que levara Hoseok para devaneios tão longínquos. Hoseok checou as horas: ele realmente iria esperar um ônibus às uma e meia da manhã? Suspirou, afastando-se da moto enquanto afundava os dedos frios no bolso do casaco verde escuro e pesado. Não era como se tivesse ficado ali todo aquele tempo apenas porque gostava da vista, então caminhou relaxadamente até que Taehyung pudesse ver a ponta de seus sapatos e erguesse um olhar surpreso em sua direção.

 – Oi – foi tudo o que disse e em apenas um lampejo de olhar, viu confusão e assombro nos olhos castanhos. Tinha algo na facilidade que Taehyung demonstrava os próprios pensamentos mesmo em silêncio que mexia com o íntimo de Hoseok.

 – Oi – ele respondeu por fim, como se não tivesse muita escapatória – O que está fazendo aqui?

 Para quem mal perguntava o que ele gostaria de beber, aquele estava sendo um bom diálogo. Hoseok umedeceu os lábios e passou os dedos pelos cabelos. O que estava fazendo ali?

 – Admirando a paisagem – deu de ombros e Taehyung arqueou uma sobrancelha teimosa em sua direção antes de repuxar um sorriso ladino de quem não tinha sido convencido. Hoseok soltou o ar, transparente – O que faz aqui?

 – Eu trabalho aqui – ele disse, sarcástico enquanto apontava para trás, em direção ao Bar e Lanchonete e Hoseok só não revirou os olhos por estar sorrindo pequeno com a petulância.

 – E acha que vai conseguir um ônibus a essa hora?

 Dessa vez o rosto de Taehyung voltou para a pequena máscara de tensão que Hoseok observara quando o viu sair do Bar e Lanchonete. Ele bateu o celular entre os dedos e o motoqueiro percebeu que estava desligado.

 – Às vezes passa um desgarrado – ele disse em um muxoxo baixo, fazendo Hoseok perceber que ele também não acreditava que passaria um ônibus àquela hora. Taehyung bufou – Eu pensei em chamar um mototáxi, mas meu celular descarregou antes que eu conseguisse.

 Hoseok quase conseguiu prender um sorriso satisfeito. Quase. Mas era impossível quando continuava a sentir que todas as coisas o levavam àquele garoto emburrado e preocupado com a forma que chegaria em casa. Hoseok estendeu a mão, fazendo-o olhar para cima desconfiado.

 –  Eu te dou uma carona – ofereceu e viu que Taehyung mordia a parte interna da boca antes de desviar o olhar.

 – Não precisa – disse.

 – É claro que precisa. Ou você pretende dormir no ponto até o primeiro ônibus da manhã passar? – Taehyung ergueu as sobrancelhas como se pensasse na ideia e Hoseok riu desacreditado – Por que tão relutante?

 Então Taehyung ficou sério, naquele distanciamento frio que Hoseok vinha experimentando nos últimos dias. Ele parecia a lua, mudando de fases mais rápido do que o motoqueiro conseguia acompanhar.

 – O que você realmente quer, Hoseok? – o questionamento o pegou desprevenido e ele deixou a mão voltar a se pendurar ao lado do corpo.

 – O que quer dizer? Só estou oferecendo uma carona – viu quando Taehyung umedeceu os lábios e baixou os olhos para o celular desacordado entre os dedos.

 – Sinto que quer brincar comigo – foi direto, fazendo o estômago de Hoseok borbulhar em um sentimento nada familiar enquanto o via ser tão sincero. Como apenas as jovens almas podem ser – Sinto isso desde que entrou no Bar.

 Hoseok ficou em silêncio. Ele estaria muito errado? Taehyung era esperto o suficiente para notar que Hoseok reparava no modo que olhava para ele e ele estava em seu direito de se preservar de qualquer mal entendido futuro. O próprio Hoseok tentava evitar esse tipo de situação.

Tentava?

Então por que estava parado na madrugada de um dia qualquer na frente de um garoto que mal conhecia em um ponto de ônibus no meio do nada? Hoseok não tinha muitas certezas naquele momento, mas uma delas era a de que não queria brincar com Taehyung.

 – Nunca quis brincar com você – disse e percebeu que ele tentou disfarçar que prendia a respiração – Agora pode me deixar te levar para casa? Não vou te largar sozinho no meio do nada, não sou tão ruim assim.

 Taehyung parecia ler todos os pensamentos secretos de Hoseok naquele momento, olhando-o nos olhos sem pudor algum. Mas por fim, deu de ombros e se levantou, carregando uma mochila que Hoseok mal reparara até estar ao lado dele. Sem muitas certezas sobre o que poderia dizer, seguiram em silêncio até a moto e Hoseok tinha um sorriso que faria Taehyung repensar suas decisões quando girou a chave na ignição. Olhou por cima dos ombros para se certificar que Taehyung tinha colocado o capacete e então, lentamente, deixou o veículo escorregar para fora da calçada, alcançando a pista. À esquerda, os postes iluminavam o caminham que os levariam até o centro da cidade, de onde Taehyung o guiaria até sua casa. À direita, o desconhecido se abria depois dos últimos três estabelecimentos da cidade e a pista seguia lisa e misteriosa para muito além do que eles poderiam imaginar.

 Hoseok sentiu os dedos de Taehyung apertarem sua cintura de uma forma quase íntima, quase repreensiva, quando ele virou a moto para a direita. As luzes que antes pareciam fadas agora eram borrões multicoloridos no vale abaixo deles e Hoseok sorria enquanto a moto cortava noite adentro, as pernas de Taehyung tencionadas enquanto os joelhos dele por vezes esbarravam em sua perna, as mãos apertando-o gradativamente enquanto aumentava a velocidade.

 – O que você está fazendo?! – conseguiu, com certa dificuldade, distinguir o que a voz esganiçava contra o vento – A cidade é para o outro lado!

 Hoseok torceu o guidão e aumentou ainda mais a velocidade, tendo o prazer de sentir Taehyung transpassar os braços por seu abdômen e se grudar à suas costas. Não tinha prazer nenhum em pensar que ele estava com medo, mas mentiria se dissesse que não estava gostando da proximidade forçada.

 – Relaxe, Taehyung – gritou de volta, virando a cabeça minimamente para ser entendido – Está precisando sentir a estrada um pouquinho.

 Hoseok gostava do vento frio batendo contra seu corpo, tremulando seu casaco e fazendo um barulho abafado contra seu capacete. Gostava ainda mais de sentir Taehyung ao seu redor, esquentando seu corpo com o dele sem ao menos perceber. Naquele momento, ele só queria mostrar àquele garoto o que sempre sentia quando cortava a estrada daquele jeito: a sensação de despertencimento, a liberdade sobre duas rodas que energizavam sua alma. Nem dez minutos tinham se passado quando a velocidade foi se reduzindo gradualmente até a moto parar entre as gramíneas da estrada, pendendo ligeiramente para o lado enquanto Hoseok apoiava um pé no chão e a desligava. Taehyung desceu primeiro, tirando o capacete e olhando quase bravo para ele.

 – Eu sabia que não deveria ter subido nessa coisa – ele grunhiu, passando os dedos de maneira nervosa pelos fios cor de chocolate que se bagunçaram com o vento e o atrito do capacete. Hoseok sorria aquele sorriso que o irritava na mesma medida que fazia seu estômago revirar – Achei que tivesse dito que não ia brincar comigo.

 Hoseok tinha voltado a se escorar na moto e cruzou os braços em um gesto inconsciente, observando Taehyung em silêncio. Não o encarava assim desde o primeiro dia e a intensidade que exalava daquele garoto fazia suas mãos coçarem de vontade de agarrar um cigarro para se distrair.

 – E não estou – respondeu por fim, firme. Agora o semblante sério de Taehyung parecia mais o de uma criança emburrada enquanto ele abraçava o capacete contra o corpo. Hoseok praguejou mais uma vez por notar tantos detalhes.

 – Então por que estamos aqui?

 Os braços de Hoseok se descruzaram até as mãos se enterrarem nos bolsos dianteiros. Parte de toda aquela impulsividade era sim para mexer com Taehyung, mas uma fração muito maior era por um motivo simples e bobo que o agonizava quando pensava com afinco. Então ele fez o que sempre fazia quando estava apreensivo e nervoso: escondeu a sinceridade em uma falsa pose confiante. Tirando as mãos do bolso, sorriu ladino e cortado enquanto enfim levava o cigarro até os lábios.

 – Porque queria passar um tempo com você – disse, com uma naturalidade que desmontou Taehyung, do jeito que Hoseok havia desejado fazer. Claramente se aproveitando do momento de defesas baixas, ele passou os dedos carinhosamente pelo braço do funcionário e o puxou em sua direção, até que estivessem próximos o suficiente para que Taehyung sentisse o cheiro de tabaco e sabão de limão mais uma vez – Você não queria passar tempo comigo, Taehyung?

 Aquela proximidade nublava qualquer repreensão de Taehyung e ele se sentia estúpido por ser tão vulnerável de maneira tão fácil àquele homem. O que ele não sabia é que por trás dos dedos firmes e dos olhos imperativos, Hoseok tremia tanto quanto ele, sentindo a temperatura de Taehyung contra seu tato e reparando em ainda mais detalhes por ele estar tão perto. Ele tinha uma maldita pinta no nariz que pareceu a Hoseok mais delicada que qualquer fada que pudesse imaginar. Com medo do que tudo aquilo pudesse desencadear, Hoseok soltou Taehyung e soprou a fumaça contra o céu, tentando expulsar a tensão de dentro de si em direção à noite. Quando voltou a descer o olhar, Taehyung havia se colocado ao seu lado e deixado o capacete na moto. Ele abraçava os próprios cotovelos e olhava para o horizonte brilhante, em uma resposta muda ao questionamento de Hoseok. O motoqueiro sorriu antes de se virar e abrir o compartimento da moto, puxando os pedidos que havia feita no Bar e Lanchonete horas atrás, junto de um cobertor surrado listrado de cinza e azul. Taehyung arqueou as sobrancelhas e fez a última coisa que Hoseok gostaria e que iluminou a noite inteira: ele riu. Incrédulo e ingênuo, sem ter ideia de como aquele simples som e repuxar de músculos faciais desconcertaram o motoqueiro por inteiro.

 – Você planejou tudo isso? – questionou com um divertimento mesclado ao assombro. Hoseok deu de ombros, dando dois passos para longe da moto enquanto prendia as bebidas com um braço e fazia movimentos bruscos com a mão livre para desdobrar o cobertor. O cigarro preso na boca fazia o mundo se pintar em preto, branco e prata a sua frente.

 – Não tudo, mas claramente não foi para mim que comprei um refrigerante de morango.

 A frase saiu abafada pelo filtro que o atrapalhava, mas logo Hoseok percebeu a movimentação de Taehyung enquanto ele puxava as bebidas de seu braço, o liberando para que arrumasse o cobertor melhor. E o motoqueiro notou que ele sorria. Era um sorriso tão simples, tão inocente e puro que o coração de Hoseok se contorceu no peito e ele enfim se perguntou se realmente deveria estar ali com ele, pensando o que pensava dele, querendo o que queria com ele. Mas já tinha ido longe demais para voltar agora, então se contentou em estender o cobertor e sentar-se com uma perna esticada e a outra dobrada, apoiando as mãos atrás do corpo enquanto esperava Taehyung se sentar com as pernas cruzadas ao seu lado. A garrafa e a latinha agora eram as únicas coisas entre eles e um silêncio entrecortado por sons noturnos pairou até que Taehyung pigarreasse e se remexesse.

 – Já que não vai falar nada, pode pelo menos colocar uma música? – falou e Hoseok o olhou, percebendo que ele começava a cutucar as próprias unhas em movimentos nervosos. Ele estava ficando desconfortável, mas Hoseok só conseguiu sorrir.

 Com um movimento um tanto atrapalhado, tirou o celular do próprio bolso e o ofereceu para Taehyung, que o questionou com o olhar apenas por um ínfimo momento antes de aceitar o aparelho e deslizar pelas músicas do aplicativo aberto. Em menos de um minuto Shape of Heart de Sting embalava a noite perolada. As luzes da cidade pareciam tremeluzir além deles e Taehyung enfim relaxou contra a manta quase áspera abaixo deles.

– Sobre o que quer conversar já que o silêncio te incomoda? – a voz de Hoseok sobrepôs a música assim que ele finalizou o cigarro, apoiando um braço no joelho dobrado. Taehyung umedeceu os lábios.

 – Podíamos jogar um jogo de perguntas – sugeriu e Hoseok o lançou um olhar cético como se perguntasse você realmente sugeriu isso? – É um jeito de nos conhecermos melhor.

Hoseok engoliu uma risada e puxou a garrafa de licor em sua direção, fazendo Taehyung sorrir contido enquanto abria a própria latinha, o som do gás escapando contra o ar da noite o fazendo se sentir o protagonista de alguma história adolescente.

 – Certo, eu começo então – Hoseok decidiu, analisando as luzes distantes como se buscasse uma pergunta nelas – Qual o melhor lugar que já visitou?

 – Sokcho – Taehyung respondeu sem hesitar e Hoseok o olhou confuso. O funcionário deu de ombros – Nunca fui para nenhum lugar além de lá e com certeza é melhor do que aqui. Sua vez.

 Hoseok demorou um instante para analisar a diferença gritante entre os dois por um momento. Ele era um homem da estrada, da liberdade e das descobertas. Sentia-se inquieto sempre que era obrigado a passar tempo demais em um lugar, enquanto Taehyung nunca havia explorado nada para além de cem quilômetros de sua própria casa. Tomou um gole da própria bebida, passando a língua pelos lábios como se quisesse cada gota que pudesse ter escapado.

 – Suwon – disse e Taehyung arqueou as sobrancelhas. Achou que ele fosse um homem da cidade grande e do barulho, Hoseok tinha essa agressividade nas linhas que o contornavam, como se tivesse nascido para o tumulto – Gosto da natureza e do cheiro de história que o lugar tem. Qual seu maior sonho?

 Taehyung pareceu se encolher em uma bola de seu próprio corpo e Hoseok o olhou. A latinha estava entre as penas cruzadas e as mãos se esfregavam como se ele tivesse frio, ou com nervoso. Ele deu de ombros, ainda sem olhar o motoqueiro.

 – Não tenho um – disse e Hoseok se espantou quando ele ergueu um semblante conformado em sua direção – Não tem muito com o que sonhar por aqui.

 Hoseok tomou mais do licor, sentindo o doce se esparrar na língua com a mesma intensidade que o álcool queimava sua garganta. Há muito se descobrira alto tolerante isso, mas se via cada vez menos resistente quando o assunto era Taehyung.

 – Sonhar não depende de um lugar – disse por fim – Depende de você e suas vontades.

Taehyung o olhou, analisando-o daquela forma que deixava Hoseok nervoso. Só então percebeu que assim, quando se olhavam ao mesmo tempo, ficavam perto demais para que ele disfarçasse o quanto era afetado por aquele garoto. Taehyung se aproximou de forma perigosa e Hoseok notou que ele tinha cheiro de camomila e morango.

 – Então meu sonho é beijar você.

 O motoqueiro chegou a conferir se era realmente ele quem tinha o conteúdo alcóolico entre os dedos, pois era Taehyung quem parecia embriagado. Mas o que ele havia dito? Sonhos tem a ver com você e suas vontades e Taehyung tinha acabado de explicitar sua vontade. Ele queria Hoseok. O motoqueiro se deixou aproximar mais um pouco, suspirando derrotando antes de colocar a garrafa atrás do próprio corpo e se deixar mais livre a explorar. E ele explorou, erguendo os dedos ásperos pelo trabalho na oficina, contornou o maxilar de Taehyung enquanto tocava o nariz dele com o seu. Escutou ele suspirar e fechar os olhos quando movimentou o nariz pelo dele, tocando a pele com os dedos em tamanha delicadeza que Taehyung sentia que poderia derreter contra os toques dele. Hoseok não percebeu quando cerrara os próprios olhos, mas era instintivo se guiar por Taehyung. Ele roçou os lábios nos de Taehyung de maneira tão superficial que o funcionário separou os próprios e ergueu-se minimamente em sua direção, ansiando-o, mas com medo de quebrar todo o clima em que estavam. As mãos nervosas dele enfim alcançaram a jaqueta pesada em uma súplica para que Hoseok mantivesse sua palavra e não brincasse com ele. E não era como se o motoqueiro pudesse conter as próprias vontades por muito mais tempo também.

 Ele levou a outra mão para abarcar o outro lado do rosto de Taehyung e logo em seguida foi como a colisão de estrelas de neutrons. Enquanto a voz de Van Morrison escapava baixinho do alto-falante de seu celular cantando Have I Told You Lately, os lábios de Hoseok se espremiam contra os de Taehyung e nada mais importava. Ele tinha a maciez de um pêssego e a calmaria de um mar sem ondas, mas era tão avassalador quanto o mais temível dos tsunamis. Aquele garoto de rosto perfeito que se encaixava perfeitamente em suas mãos fora capaz, apenas no singelo mexer dos lábios, de destruir tudo o que Hoseok achava saber sobre beijar. O motoqueiro passeou os lábios por ele, acariciando o superior primeiro, seguindo para o de baixo e então seu queixo. Quando voltou, a ponta de sua língua contornou o arco fino formado pela fenda no lábio superior de Taehyung e ele entreabriu a boca em uma rendição suave que fez Hoseok estremecer enquanto tocava-o mais intimamente. Deslizou pela cavidade quente, movendo-se com paciência até que Taehyung acompanhasse seu ritmo.

 E eles sentiram, pela primeira vez, que o beijo deles tinha gosto de morangos e cigarros. Era envolvente com uma ponta incômoda de desejo que parecia representada pela nota amarga do álcool. Os dedos de Taehyung apertaram ainda mais a jaqueta quando os dedos de Hoseok começaram a descer de seu rosto para tocá-lo no pescoço, o polegar logo traçando a linha firme de sua clavícula enquanto o motoqueiro guiava a outra mão até sua nuca e guiava a direção para qual ele deveria tombar. Firme e intenso, era assim que Taehyung sentia Hoseok, sugando tudo de dentro de si até que os pulmões queimassem em reclamação pela falta de ar. Como se sentisse isso, Hoseok descolou os lábios, mordiscando os vermelhos de Taehyung, chupando-os com lentidão como se hipnotizados pela carne inchada. Taehyung só abriu os olhos quando sentiu os dedos em seus fios puxando sua cabeça para trás, e ofereceu-se de bom grado aos lábios que deixavam rastros em seu pescoço, arfando contra a noite como se pedisse socorro. Hoseok grunhiu antes de virá-lo em seus braços, ajeitando-o abaixo de seu corpo e se apoiando em um dos braços para analisa-lo melhor.

 Taehyung tinha o rubor da noite e do calor do beijo nas bochechas, as pupilas dilatadas denunciavam que ele tinha tanto desejo nas veias quanto Hoseok. A forma como os cabelos dele se espalhavam pelo cobertor fez com que Hoseok perdesse tempo demais analisando-o, então foi o funcionário quem ergueu os braços dessa vez, puxando-o de volta para perto, sentindo falta do calor dos corpos e das respirações pesadas. Foi ele quem afundou os dedos nos fios escuros dessa vez, se remexendo contra Hoseok até que ele tivesse uma mão firme debaixo de seu moletom, apertando sua cintura e se movendo vagarosamente contra seu corpo. Hoseok o ajeitou mais uma vez, puxando-o para baixo até que os quadris se chocassem e arfassem juntos na boca um do outro. Taehyung enveredou uma das mãos por dentro do casaco verde quando sentiu Hoseok descer um caminho perigoso por sua coxa. Os dedos esguios faziam pressão na parte frontal enquanto polegar resvalava na parte interna da coxa e Taehyung sentia que queimava em uma combustão espontânea por dentro. Ele estava prestes a sentir a colisão das estrelas ardentes novamente quando Hoseok tencionou os músculos de forma a confundir Taehyung. Ele se separou lenta e dolorosamente, beijando seu maxilar e seu pescoço com mais calma até alcançar seu ouvido.

 – Taehyung – chamou e o funcionário sentiu todo o esforço que ele fazia para falar naquele momento – Quantos anos você tem?

 Taehyung apertou os dedos contra os ombros dele, temendo que ele se afastasse. Mas Hoseok continuou com os lábios resvalando em sua pele, quase como se tentasse acalmá-lo, mas as mãos não eram mais atrevidas, eram quase carinhosas por cima do moletom. Ele se ergueu quando o silêncio se estendeu demais, fitando o olhar de súplica de Taehyung. Mas esperou pacientemente até que ele desistisse e cedesse, os dedos contornando o maxilar do motoqueiro.

 – Dezenove – murmurou, rouco pela intensidade dos últimos momentos e temeroso dos próximos.

 Ele viu Hoseok fechar os olhos e apoiar a testa em seu peito. Afundou os dedos nos fios dele e quase chorou quando ele se afastou de seu corpo. Jurava ter escutado ele murmurar um “tão perto”, mas não tinha certeza. Se sentou e observou ele puxar ar com força, como se tentasse retomar aos poucos o controle.

 – Isso não é importante – deixou escapar e viu olhos bondosos o olharem de volta. Não eram como os olhares de pena, mas Taehyung também não gostou deles. Queria Hoseok o olhando como a cinco minutos atrás. Engoliu em seco quando o polegar acariciou seu queixo e resvalou em seu lábio inferior.

 – É sim – ele disse, mas não parecia capaz de cessar o carinho na pele macia. Os olhos do motoqueiro não encontravam os do funcionário quando ele disse – Eu prometi que não brincaria com você.

 Taehyung franziu o cenho. Aquilo não tinha sido uma brincadeira, ele sentiu na intensidade que fora tocado por Hoseok. Queria gritar que sua idade era apenas um número qualquer e que o que realmente deveria contar eram suas vontades, mas se conteve.

 – Não foi uma brincadeira para mim – disse, mas Hoseok parecia inalcançável. Com um suspiro, logo estavam arrumando as coisas para partirem, como se o que tinha acabado de acontecer não passasse de um sonho ardente e distante. Quando Hoseok o ofereceu o capacete, Taehyung segurou seu pulso até que ganhasse seu olhar – Quando você vai partir?

 Hoseok não deveria ficar impressionado com a esperteza do rapaz, mas seus olhos dobraram de tamanho ao ouvir a pergunta. Óbvio que ele havia entendido o que dissera com não brincar com ele: Hoseok era um nômade, não podia foder o coração do garoto e logo depois ir embora. Era imoral além de ilegal.

 – Nunca ficamos mais de um mês em um lugar – disse e para sua surpresa, a expressão de Taehyung se iluminou ao invés de se carregar, como ele imaginou que aconteceria.

 – Um mês é tudo o que preciso – disse, confundindo Hoseok. Taehyung sorriu – Daqui um mês eu faço vinte e vou poder ficar com você como os adultos ficam, sem que pese sua consciência.

 Hoseok demorou apenas um instante para espantar toda a aura pesada que estivera ao seu redor com uma risada incrédula. Kim Taehyung era inacreditável, mas observar os olhos brilhantes em sua direção com uma esperança nada sutil de sua resposta o fez se lembrar o quão fraco era nas mãos dele. Se aproximou, suspirando contra o rosto dele até que ele fechasse os olhos, só então roubou um selar casto e subiu na moto, esperando que ele fizesse o mesmo. As palavras gravadas no moletom de Taehyung pareceram brilhar como placas de neon em sua mente.

Let it be.

 – Um mês – disse e quase escutou o sorriso se abrindo no rosto de Taehyung enquanto ele se agarrava às suas costas.

 Era diferente da ida. Os dedos em seu abdômen pareciam mais quente e o peito apertado contra suas costas, mais nítido. Hoseok sentia Taehyung por toda parte com muito mais força do que deveria e todas as fadas do mundo pareciam brigar em seu estômago. Como se enfim entendesse o que Hoseok havia falado na ida, lentamente os braços de Taehyung se desprenderam do motoqueiro e ele os ergueu contra a noite, sorrindo maior do que jamais tinha feito e deixando que o vento e a estrada se unissem a ele como se fossem um.

Cigarros, morangos e liberdade. Era assim o sabor de Jung Hoseok.


Notas Finais


É isso, galeris!
Horário aleatória pq quem liga pras horas na quarentena?
Ainda não sei oq pensar desse cap, mas espero que tenham aproveitado :3

Obrigada por lerem até aqui e até o próximo ~
XOXO


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