História Sua paleta de cores e aromas - Meu perdão

Naquele dia o seu branco estava manchado com o tom mais lindo de azul. O céu estava impregnado em seu corpo e de repente eu estava voando sobre ele. O vento estava forte, fazendo a terra passear por seu timbre já pintado de marrom.

E mais uma vez, nós estávamos no jardim antes de você sair para trabalhar e deixar um beijo tão doce quanto seu sorriso em meus lábios.

Você sempre gostou de observar o céu e sentir o vento bagunçar suas madeixas, por isso nós colocamos uma mesa com cadeiras lá, para que você possa se sentir bem. Ás vezes eu te pego forrando um lençol no chão e deitando, apreciando o universo em sua rotina.

“Eu não volto tarde.”

Você disse antes que eu não pudesse mais ver o seu sorriso gengival pela porta, mas não foi exatamente isso que aconteceu.

Eram 06:35 da manhã do dia seguinte, e eu havia madrugado sentado numa poltrona em frente à janela, esperando algum rastro de sua cabeleira verde-limão passar pela rua.

Foi quando eu te vi cambaleando na calçada com uma garrafa de vodca na mão.

Você pensava que beber até vomitar iria resolver seus problemas, achava que isso iria lhe trazer paz e que iria fazer você esquecer a confusão que é sua cabeça. Mas não iria. No mínimo, iria trazer uma bela ressaca no dia seguinte.

O seu corpo pálido estava riscado do laranja, culpando o sol a nascer novamente. Diria que você estava lindo com o tom alaranjado passeando por suas sombras, mas estava furioso demais pra isso.

Quando você entrou em casa, eu quis te bater, mas eu amava demais os seus olhos felinos e castanhos, e apesar do verde amar o vermelho, eu nunca te machucaria, mesmo se estivesse extremamente magoado.

Eu te amava muito.

O aroma de algo adocicado misturado com sabonete comum não estava no seu corpo pequeno e magro. Você tinha se embebedado de novo, depois de ter me prometido não voltar naquele bar que ficava perto daquela plataforma que daria direto ao mar.

Você fedia.

Você sabia o meu medo de você simplesmente ver uma oportunidade ótima para se tornar preto e pular dali, da última vez eu consegui chegar a tempo de você beber aqueles remédios coloridos como o arco-íris, mas eu me pergunto se eu conseguiria te impedir de voar por minha visão até que tudo se torne um último suspiro.

Sem cor e sem vida.

Você me olhava confuso e infantil, eu pude ver o desespero em seu olhar, como se você soubesse que o que fez fosse errado. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, você havia tido uma crise e deixado seu corpo chover por horas novamente e eu não pude ajudar, me sinto horrível por isso.

Só Deus sabe o quanto eu fiquei machucado te vendo com os cabelos bagunçados, as roupas amarrotadas e o cheiro de todas as bebidas alcoólicas possíveis te impregnando. Eu iria te dar um sermão até sua cor mudar para vermelho, mas eu não consegui.

De novo.

Eu realmente deveria ter gritado com você e dizer o quando é idiota por me fazer sentir tão preocupado, mas eu apenas tirei a garrava já vazia de sua mão e deixei no chão, esperei você retirar seus sapatos e coloquei seu corpo mole em meu colo, nos levando pro quarto.

Aconcheguei seu rosto cansado no meu peito e te abracei sem me importar se iria tontear apenas com o cheiro de multidão pairando pelo quarto, fazendo você se agarrar em meu corpo e respirar fundo enquanto murmurava embolado e baixinho.

“Me perdoa, Nam...”

Eu deixei sua paleta de cores e aromas tomar conta de mim mais uma vez.

E mais uma vez eu te perdoava, Yoongi.