Moro na cidade de Vassago desde sempre e por alguma razão, coisas estranhas e bizarras sempre aconteceram aqui, mas, de um tempo pra cá, as coisas parecem ter piorado, coincidência ou não, tudo se intensificou desde a inauguração do Centro de Compras Vassago.
Há quem diga que o empreendimento trouxe consigo o despertar de uma antiga maldição pelo fato de ter sido construído sobre uma área considerada sagrada, outros moradores mais radicais afirmavam existir ali, um portal para outra dimensão e que, por isso, lutaram por anos contra a construção do empreendimento que mesmo com atrasos, acabou acontecendo em 1999.
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Cresci com histórias de pessoas que afirmavam ver coisas estranhas à noite, tal como seres humanoides ou criaturas que atraíam suas vítimas para a escuridão.
Apesar de todas as lendas e superstições, o Centro de Compras Vassago já era um sucesso mesmo tendo sido inaugurado há apenas seis meses.
Era inegável o fato de que o empreendimento havia atraído novas pessoas à cidade, pessoas que vinham de todo o país só para vislumbrar os detalhes arquitetônicos e comprar mercadoria barata das mais diversas.
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Minha história, começa, de fato, em 1998, no dia 12 de fevereiro, quando completei dezesseis anos e decidi que queria morar sozinho por não aguentar mais dividir o quarto com meus três irmãos e brigar todos os dias por bobagem.
A partir daquele dia passei a economizar cada centavo que ganhei trabalhando na oficina do meu pai e então, quando menos esperei, mais de um ano já havia passado e eu finalmente pude me mudar — a contragosto de minha mãe, que era extremamente protetora e não se conformava com a ideia de ter o filho mais velho fora de casa, mas eu precisava daqui. Eu sentia a necessidade de ir além das minhas limitações.
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Saí da Baixada e fui morar no bairro de Gaspari, na Zona Sul da cidade.
Aquele parecia ser um bairro diferente de tudo o que eu conhecia.
Os vizinhos eram acolhedores, as ruas limpas, os pássaros cantavam mais alegres… tudo parecia perfeito até o dia da minha mudança, quando, ao chegar em casa, me deparei com um casal de idosos encostados no portão de casa, como se esperassem por algo.
A idosa era esguia e usava um chapelão. Seu olhar era cabisbaixo e sua pele muito enrugada — mesmo para uma idosa —. Ela usava um vestido preto de mangas compridas que escondia seus pés e mãos.
O idoso que estava ao seu lado, era tão magro quanto. Tinha os olhos grandes e negros, muito dilatados. Sua pele branca parecia com a pele de uma pessoa morta. Assim como ela, suas mãos e pés estavam cobertos pelas roupas.
Lhes cumprimentei baixinho, com certo receio pela estranheza deles. O velho olhou pra mim por alguns segundos e virou—se, dando de ombros. Eles caminharam para longe como se flutuassem no ar.
Foi uma cena bizarra, que logo esqueci quando entrei na minha nova casa.
Era maravilhosa. O lugar perfeito para começar minha nova vida, sem contar que tinha um belo jardim aos fundos e árvore frutíferas. Eu realmente tinha dado uma baita sorte em ter conseguido alugar aquela casa por um preço tão baixo.
Andei pela sala, fui à cozinha, abri os armários — que eram embutidos nas paredes — e finalmente fui conhecer meu quarto e me deparei com um grande quadro branco pendurado na parede.
“Que estranho.” Pensei ao ver aquele quadro em branco pendurado ali.
— Acho que eu posso resolver isso! — falei a mim mesmo já imaginando uma arte para preencher aquele espaço.
Removi o quadro com bastante cuidado e então me deparei com uma pequena porta. Não era um cofre, era literalmente uma porta que guardava algo.
Abri a porta e vi que havia um tambor. Não parecia ser um tambor comum. Era diferente de qualquer instrumento que eu já tinha visto em toda a minha vida.
Era feito de um arco avermelhado como sangue e possuía amarras em todas as suas laterais. Sobre ele, havia um tecido que se assemelhava muito a pele ressecada, não qualquer tipo de pele de animal… era como pele humana.
Embaixo do tambor, havia um “V” meio arredondado com círculos que formavam o símbolo do Centro de Compras de Vassago, ou, pelo menos, parecia muito com a logo da empresa.
“Porque alguém deixaria uma coisa dessas aqui?” Pensei ao mesmo tempo em que sentia um arrepio pelo meu corpo.
Assustado, decidi deixar o tambor onde estava, pelo menos até decidir o que faria com ele.
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