História Suffocating Memories - Beauany - Capítulo 5.

You could never feel my story
It's all you know
You could never feel my story
It's all you know

(Scotland - The Lumineers)

Any Gabrielly

Encarando o teto branco do meu quarto, percebi que isso pode ser a coisa mais tediosa para se fazer e, principalmente, que não é o método mais eficaz para fazer uma pessoa ficar com sono.

Já tinha horas que eu me encontrava na mesma posição, meu sono me abandonou a muito tempo, de um jeito que a muito não acontecia.

Olhei para meu despertador e vi que já estava quase na hora programada para ele despertar, por isso já aproveitei e desliguei antes que ele pudesse fazê-lo. Me levantei e fui até o banheiro, iria aproveitar o tempo extra para lavar o cabelo.

Enquanto estava debaixo da água, parei para pensar que em algumas horas, teria que ver Joshua e encará-lo. Espero que ele não pergunte o que aconteceu comigo, não estou nem um pouco afim de falar sobre esse assunto.

Acho que Josh não vai falar nada sobre o que aconteceu nessa madrugada, ele viu o estado em que fiquei, não seria idiota o suficiente para tocar no assunto. E se ele tocar, só espero que não seja na frente da Belinha, não quero que ela relembre como eu fiquei na época. Minha irmã ainda era muito pequena quando tudo aconteceu, ela não entendia direito o motivo de sua irmã mais velha, ficar sempre chorando e triste pelos cantos, por isso preciso dar um jeito de falar com Josh sobre ele não tocar no assunto.

Depois de tomar meu banho e lavar o cabelo, saio do banheiro e vou até a mesinha de cabeceira, onde meu celular está.

Eu

Posso falar com você?

Dígito uma mensagem para Josh, que em menos de um minuto me responde.

Joshua

Sim...

Quando?

Ele pergunta.

Eu

Agora, tem problema?

Joshua

Não, mas onde podemos nos ver?

Pode ser na varanda?

Eu

Okay, te encontro em cinco minutos...

Joshua

Okay.

Apenas faço um coque em meu cabelo, visto uma roupa qualquer e espero os cinco minutos passarem, e assim que isso acontece, abro a porta da varanda e saio.

Josh sai no mesmo momento que eu. 

Sem saber o que fazer ou como agir, me encosto no peitoril da varanda. Ele estava com o cabelo bagunçado e molhado, como se tivesse tido a mesma ideia que eu, de tomar um banho logo cedo, antes do despertador tocar.

Sim, eu consigo ouvir o despertador dele tocar.

Josh se aproximou do peitoril de sua varanda, a parte que fica mais próxima da minha, e pulou.

Sim, ele pulou.

- Me desculpa! - ele falou apressado e um pouco desesperado.

Ficamos em silêncio.

- Me desculpa por ter tocado naquele assunto, não pensei que você fosse ficar tão mal... Any, me desculpa de verdade! - ele realmente parecia preocupado com o fato de eu não o desculpar.

- Joshua, não tem problema... Só por favor, não toca mais nesse assunto... Eu realmente não gosto de falar sobre isso, é uma coisa que... Eu só não quero falar sobre isso, okay? - respirei fundo.

- Sim, okay! Não toco mais no assunto, não precisa se preocupar! - ele parecia bem aliviado.

- E por favor, não fala nada do que aconteceu com ninguém, principalmente com a Belinha! - meu olhar estava sério.

- Pode deixar, não vou falar sobre isso com ninguém! - ele esticou o dedo mindinho na minha frente, como uma promessa de criança. Dei graças a Deus por nossas varandas não serem de frente para nenhuma casa, mas sim para um lindo lago.

Apertei o dedo de Josh e depois acabei dando risada.

- Nossa, ainda bem que agora está tudo bem! - disse ele com um tom de alívio na voz - Gosto da sua companhia.

- Sério?! - perguntei realmente surpresa.

- Claro, por quê seria diferente? - agora quem parecia surpreso era ele.

- Ah, sei lá, eu sou tão... - fiz uma pausa para pensar em como me definir.

- Tão reclamona? - ele sugeriu sem olhar pra mim.

- Ei! Eu não sou reclamona, é só que as pessoas não sabem fazer as coisas do jeito que eu gosto... - ele me olhou com um sorriso e eu também sorri - Tá, eu sou um pouquinho reclamona, mas é só as vezes! - dessa vez ele caiu na gargalhada, não sei o motivo, já que o que eu disse nem foi tão engraçado.

- Só um pouquinho?! Só as vezes?! Pelo amor de Deus Any Gabrielly, toda hora eu vejo você reclamando de algo! - ele estava se dobrando de rir.

- Por que você está rindo desse jeito? Garoto você é estranho... - balancei minha cabeça negativamente e ele riu mais ainda.

- Você é tão engraçada! Acho que a pessoa mais engraçada que já conheci! - agora quem riu foi eu.

- Você não conhece muitas pessoas, né? - ele riu ainda mais, meu Deus o que está acontecendo com esse garoto?!

- Tô falando sério! Você é uma pessoa realmente engraçada! - agora ele já estava um pouco mais controlado.

- Se você está dizendo... - me virei para ele.

De repente um silêncio desconfortável invadiu o espaço, mas Josh percebendo isso acabou com ele.

- Sabe Any, nós precisamos ser amigos, ou melhor, temos que ser melhores amigos! - agora já mais controlado de seu ataque de riso, Josh me olhava com apenas um sorriso brincalhão.

- Por que? - perguntei também com um sorriso, para ele saber que minha pergunta não era na intenção de ser rude.

- Como assim por quê? Acabei de dizer que você é a pessoa mais engraçada que eu conheço... E fora que nenhuma outra garota teve coragem de falar na minha cara, que não me acha tão bonito. Sério garota, você é muito cara de pau! E eu realmente amo isso nas pessoas! - seu sorriso ainda estava presente.

- Não sei não... Eu nunca tive um melhor amigo como você. - falei ainda em tom de brincadeira.

- Como assim, como eu?! - Josh perguntou curioso.

- Na minha antiga escola, eu não era uma pessoa popular, assim como meus amigos também não eram... - ele volta a dar risada e tenho que admitir, gosto bastante desse som.

- Então quer dizer que a senhorita, nunca teve um melhor amigo popular? Como assim?! Pensei que você fosse a pessoa mais social do mundo! - falou irônico.

- Hahaha! Como ele é engraçado! - ele ainda ria, mas não dá mesma forma que antes, agora ele estava mais contido - Eu sei que não sou a pessoa mais sociável desse mundo, óbvio que eu prefiro estar na companhia dos meus livros do que das pessoas, mas não achei que fosse tão óbvio que eu sempre fui mais na minha! - fingi indignação - Mas eu aceito ser sua melhor amiga!

- É brincadeira, mas realmente você não parece ter sido uma pessoa popular. Desde que começou as aulas, só te vi falar com três pessoas: Sabina, Joalin e Sina. - Josh inclinou a cabeça e deu um meio sorriso. - E que bom, eu não aceitaria não como resposta!

- Nada ver! Eu conheci mais uma pessoa! - falei me achando e ignorando seu comentário.

- E quem é? - quis saber curioso.

- O nome dela é Hina, conheci ela na biblioteca, ela me recomendou um livro muito bom, você deveria ler ele... - seu sorriso ainda estava estampado em seu rosto.

- É uma japonesa? - confirmei com a cabeça - É uma amiga minha, namora um dos meus amigos... - ele diz, dando de ombros - E quem mais você conheceu? - ele perguntou interessado.

- Mais ninguém, não tive tempo de falar com quase ninguém... - ele me olhou com deboche.

- Claro, você não fala com ninguém nas aula e quando elas terminam você vai direto pra biblioteca, um lugar que ninguém vai!

- Não sei porquê, a biblioteca é meu lugar favorito na escola, mais pessoas deveriam ir lá, inclusive você! - aponte pra ele.

- Quem sabe um dia você me leva. Arrastado? Com certeza, mas me leva! - ele fingiu animação.

- Okay, só preciso saber quando você está livre, os seus horários de aula eu sei, só não sei os da aula de dança... - falei pensativa.

- Olha... Alguém sabe todos os meus horários... - Josh falou com um olhar malicioso.

- Deixa de ser babaca, você sabe que nossos horários são os mesmos... - ele solta um riso nasal.

- Eu sei... Mas eu não estava falando sério sobre deixar você me levar para aquele lugar! - fiz uma cara de brava e cruzei os braços.

- Ah mas agora você vai sim, querendo ou não, por bem ou por mal, você vai sim! - ele suspirou - Nem adianta suspirar e nem ficar emburradinho, você disse que ia e agora você vai! - ele revirou os olhos - E não revira os olhos pra mim!

- Meu Deus, o que eu fui arrumar pra minha vida?! - ele perguntou olhando para o céu.

- Não reclama, você que pediu! - dei um tapinha em sua nuca.

- Ei! - reclamou ele - Eu só pedi, porque não sabia o que iria enfrentar!

- Pois então vou te dizer o que você vai enfrentar. Eu sou, provavelmente, a pessoa: mais chata, irritante, mandona, encrenqueira, barraqueira, insuportável, reclamona e maluca que você vai conhecer! - ele pensou por um instante.

- Eu vou ter que enfrentar tudo isso?! - ele fez uma cara nada boa.

- Sim. Ah e esqueci de falar que quando eu tô de TPM, é ainda pior... Então já vai se preparando! - dei um tapinha nas costas dele como conforto.

- Acho que eu vou querer enfrentar! - eu olhei pra ele surpresa.

- Só pra constar que eu não incluí, que você vai ter que comprar comida pra mim... Ainda vai querer? - perguntou com um sorriso.

- Sim! - agora sim eu estava surpresa.

- Tem certeza? Depois não tem devolução, em... - olhei com uma certa dúvida.

- Absoluta, vai valer a pena! - ele sorriu.

- Então é oficial, somos melhores amigos! - e simples assim eu ganhei um melhor amigo, que acho que vai ser o melhor que já tive...

- É, então eu preciso arranjar um apelido pra você... - ele disse pensativo.

- Aí não, eu odeio apelido! - nunca gostei de apelidos, minha mãe sempre disse que me deu um nome, então é para todos usarem ele.

- Mas todos os melhores amigos tem um apelido... - ele fez biquinho.

- Nem vem com essa, minha mãe sempre fala que se ela me deu um nome, é pra ele ser usado! - ele continuava com um biquinho - Nem adianta fazer bico.

- É óbvio que eu vou te chamar por um apelido, só não sei qual... - ele parou pra pensar por um tempo - Já sei! - ele gritou me assustando.

- Para de gritar maluco! - falei tapando a boca dele.

- Já sei! - repetiu, só que mais baixo - Seu apelido vai ser... - fez um suspense - Cookie!

- Cookie?! Por quê? - perguntei sem entender.

- Ah, sei lá... - ele parou por um instante - Eu gosto e achei engraçado e, assim como é com os cookies, eu gosto de você e te acho engraçada! Então é isso, seu apelido vai ser Cookie! - ele me deu um sorriso e eu sorri de volta.

Tá legal, confesso que gostei do apelido. Por mais que seja meio sem sentido, eu achei fofinho...

- Eu sei que você gostou! - disse ele convencido - Ah, e só pra deixar claro, só eu tenho o direito de te chamar assim!

- Até que não é tão ruim... Mas agora eu preciso de um pra você... - fiz uma cara pensativa, nunca fui boa com esse negócio de criar apelidos.

- Não precisa, eu já tenho um perfeito!

- E qual seria? - perguntei curiosa.

- Josh. - disse simples, o olhei confusa.

- Ué, mas esse já é seu apelido... - comentei, ainda confusa - Todo mundo te chama assim, qual vai ser a graça?

- Quase todo mundo me chama assim, tem uma única pessoa que não usa ele... - ele me olhou sugestivo.

- Sério?! Eu nunca te chamei de Josh? - perguntei realmente surpresa, nunca reparei que nunca o tinha chamado por esse apelido.

- É sempre Joshua, não sei porquê toda essa formalidade... - ele tinha uma tom meio emburrado - Até porque nós somos jovens, mesmo assim você é sempre tão formal quando a pessoa em questão sou eu...

- Tem razão, nós somos jovens. Mas mesmo assim eu sou formal, e não é só com você. E o que tem eu te chamar de Joshua? Afinal de contas é o seu nome, ou estou errada? - dei de ombros.

- Não. - sempre respondendo de maneira simples.

- Não o quê? Joshua não é seu nome ou não estou errada? - ele riu irônico.

- Engraçadinha... Sim, meu nome é Joshua. Não, você não está errada. E o que tem você me chamar por esse nome, é que eu não gosto. - respondeu, acho que foi por esse motivo que nunca o chamei de Josh, gosto de irritá-lo.

- Okay, se você quer ser chamado de Josh, é assim que será! - dei ênfase em seu nome.

- Ótimo! - me deu um sorriso satisfeito.

- Mas agora eu preciso entrar, ainda tenho que arrumar meu cabelo... E isso demora! - falei fazendo um certo drama, mas que demora isso é verdade! - Ah, já vou te avisando... - ele me interrompeu.

- Lá vem, tem mais coisa?! - perguntou se fingindo bravo.

- Como a partir de hoje, você - apontei pra ele - vai ser meu motorista particular... - novamente fui interrompida.

- Pensei que eu fosse seu melhor amigo...

- E é. Mas com isso vem o cargo de motorista! - um sorriso se formou em meu rosto.

- Tudo bem, prossiga por favor! - fez um gesto para que eu continuasse.

- Já vai se preparando, porque pra arrumar esse cabelinho cacheado aqui, - mexi em meu cabelo - demora um século. Então já vai se acostumando a esperar! - saí caminhando em direção a porta da minha varanda, deixando Josh ali sozinho.

Assim que entrei em meu quarto corri pra arrumar meu cabelo, porque como disse pra ele, arrumar meu cabelo leva um século...

(...)

Quando desci as escadas, Josh e Belinha já me esperavam.

- Finalmente! - minha irmã falou com as mãos pra cima.

- Podemos ir? - Josh perguntou tirando os olhos do celular.

- Sim. - dei um beijo em minha mãe e abri a porta - Primeiro as damas! - falei cordialmente quando Josh passou.

Ele apenas revirou os olhos, destravou o carro, abriu a porta para Belinha e depois abriu pra mim.

- Você sabe que não precisa fazer isso, né? - entrei no carro e antes de responder minha pergunta, Josh deu a volta no carro e se acomodou em seu lugar.

- Sei, mas é que eu sou um cavalheiro! - dei risada.

- Você?! Cavalheiro?! - falei enquanto ele dava partida no carro.

- Sim. - respondeu simples.

- Tá mais pra um cavalo... - murmurei em português.

- O quê disse? - ele perguntou confuso, por não entender o português.

- Nada! - ele desviou o olhar da estrada por um segundo, apenas para me dar um olhar desconfiado.

- Okay... - disse deixando pra lá.

O silêncio se instalou no carro por apenas alguns segundos, já que eu fiz o favor de pegar meu celular e conectar no carro, não sou obrigada a ir nesse silêncio todo. Por isso coloquei uma música qualquer da minha playlist.

- Quê merda é essa? - Josh perguntou ao ouvir o começo da música.

- Não é merda, é uma música! - revirei os olhos.

- Tô falando da letra. - ele disse surpreso - Não pensei que você gostasse desse tipo de música...

- Tem algumas que são boas. - dei de ombros.

- Qual o nome dessa? - ele perguntou balançando a cabeça no ritmo da canção.

- Scotland...

- Quem canta?

- The Lumineers.

- Gostei! - ele continuava balançando a cabeça no ritmo.

Depois disso não falamos mais nada, as músicas da minha playlist continuavam a tocar e a cada nova música, Josh reclamava, perguntava o nome ou quem cantava. E assim foi nosso caminha até a escola.

Quando finalmente entrei no corredor dos armários, encontrei com Sabina que observava discretamente um dos garotos ali perto.

- Oi! - cumprimentei, mas acho que ela nem se quer me ouviu - Sabina! Oiiii... - balancei minha mão em frente a seu rosto.

Depois de uns dois segundos ela finalmente pareceu notar minha presença.

- Ah, oi Any! - respondeu meio envergonhada ao perceber meu olhar na mesma direção que o dela.

- Quem é ele? - perguntei sugestiva.

- Bailey May. - respondeu simples.

- Então ele é o garoto de quem você tinha falado, no dia em que nos conhecemos! - ela arregalou os olhos.

- Como você sabe?!

- É bem óbvio que você gosta dele... - Sabina me encarou surpresa.

- Sério?! - olhou pra ele novamente.

- Sim, ainda mais se você continuar olhando pra ele desse jeito. - ela rapidamente desviou o olhar pra mim, na tentativa de disfarçar.

Sabina suspirou.

Comecei a mexer no meu armário e assim que fechei a porta, caminhamos em direção a sala de matemática.

- Você já falou com ele sobre isso? - meu tom de voz era baixo.

- Não... - olhei pra ela incentivando a continuar, Sabina logo percebeu que sua resposta era muito vaga e eu não me contentaria só com isso, então ela continuou - Não quero estragar nossa amizade, conheço Bailey desde pequena e nossas famílias são amigas, não quero que por minha causa isso acabe...

- Mas por quê acabaria? Não vai me dizer que ele é um daqueles garotos, que ficam cada dia com uma menina diferente? - segurei em seu braço fazendo ela parar.

- Ele e Josh são a dupla... Acho que os únicos que prestam daquele grupinho é o Noah, o Harvey, o Krystian, o Lamar, o Andrey e o Samuel... Os oito são os melhores amigos, mas estão sempre juntos com o time da escola. - imaginei que Josh fosse um galinha, mas não sabia que Bailey também era - Acho que o Josh é o pior, Bailey pelo menos já assumiu algumas namoradas, mas o Josh... Ele nunca namorou e não dá indícios de que um dia vai namorar com alguma das garotas que já dormiu com ele... - Sabina entrelaçou nossos braços e recomeçamos a andar.

- Alguém sabe o motivo disso? - perguntei, ele já havia me contado, meio por cima o motivo, mas quero saber se alguém além de mim sabe.

- Não, Josh é um garoto meio estranho... Por mais popular que ele seja, sua vida fora da escola é bem privada, ninguém sabe quase nada sobre ele, nada além do que ele permite... - ela tinha um tom um pouco curioso, talvez Sabina também queira saber mais sobre Joshua tanto quanto os outros.

Demorei um pouco pensando no que responder, mas quando abri minha boca para falar algo, um grito me fez parar.

- Cookie! - o apelido que Josh me deu já era familiar de uma forma estranha, quando me virei com um sorriso, Sabina automaticamente também se virou - Cookie, que bom que te encontrei! - ele falou colocando as mãos no joelho buscando fôlego.

- O quê aconteceu?! - perguntei já preocupada, depois de finalmente parecer se recuperar da correria ele falou.

- É que você esqueceu seu celular no carro. - me entregou o aparelho de capinha brilhante.

- Ah, obrigado! Nem tinha percebido que não estava comigo... - guardei no bolso da blusa de frio.

- Não foi nada, vocês estão indo pra aula de matemática? - perguntou e Sabina assentiu.

- Sim e por sinal, já estamos atrasadas! - e ela começou a me puxar pelo corredor até estarmos dentro da sala, onde ela se sentou em seu lugar perto do meu.

- Tá legal, o que foi isso? - falei ao ver sua cara de curiosa e surpresa.

- Eu que te pergunto, que história é essa de Cookie e de celular no carro dele?! - perguntou ela curiosíssima.

- Ah, não é nada... - dei de ombros ao ver as outras meninas entrando na sala e logo se jogando nos seus lugares ao nosso lado.

- Oi meninas! - cumprimentei com um sorriso e Sina e Joalin retribuíram o mesmo.

As duas lançaram um olhar curioso na direção de Sabina, que continuava me olhando de um jeito estranho.

- O que houve com ela? - Sina perguntou.

- Ela tá assim porque... - fui interrompida pela morena.

- Eu tô assim, porque a Any aqui - apontou pra mim - tá saindo com o Josh e não disse nada!

- Quê?! - Sina e Joalin perguntaram ao mesmo tempo.

- Calma gente, não é nada disso! - tentei explicar mas novamente fui interrompida.

- Então explica essa história direito, porque eu não estou entendendo nada! - Joalin mandou.

- Josh e eu somos melhores amigos! Simples. - respondi com a informação bem por cima.

- Desde quando? - foi a vez de Sina perguntar.

- Desde hoje. - falei sem dar detalhes novamente.

- Any, pelo amor de Deus para de dar as informações por cima e conta logo toda a história, daqui a pouco a professora vai chegar e eu vou morrer de curiosidade se não souber o que aconteceu! - Sabina falou calma, mas fazendo um drama danado.

Quando eu ia abrir a boca pra começar a explicar toda a história, a professora Cindy entrou segurando algumas de suas coisas nos braços e seu belo sorriso.

- Depois eu conto tudinho pra vocês... - me virei e ouvi Sabina suspirar frustrada.

(...)

Como sempre as aulas foram tranquilas, nesse exato momento estou na biblioteca sozinha, como de costume.

Meus fones de ouvidos já estavam a postos, quando alguém entrou desesperado.

- Cookie? - ouvi a voz de Josh se aproximando, mas ele tinha um tom desesperado que eu nunca tinha ouvido - Ah, aí está você! - se sentou ao meu lado no chão, agora demonstrando estar aliviado por ter me encontrado.

- Aconteceu alguma coisa? - levantei meu olhar para conseguir encará-lo. Mesmo sentado Josh ainda conseguia ser mais alto que eu.

- Não, só queria passar um tempo com a minha melhor amiga... - ele disse desviando o olhar do meu.

- Você estava chorando? - perguntei ao notar seus olhas azuis meio avermelhados e o nariz também um pouco vermelho.

- Não! Eu... Eu... - ele gaguejou tentando disfarçar.

- Josh não minta pra mim! - repreendi.

- Eu só não quero falar sobre isso, pode ser? - perguntou meio receoso.

- Tudo bem... Mas saiba que não importa o que seja, vai ficar tudo bem! - concordei ao reparar em seu estado, então dei um sorriso reconfortante e ele também sorriu.

Ficamos em silêncio por um tempo nos encarando, até ele desviar o olhar para o livro em minhas mãos.

- O que você está lendo? - ele perguntou já tomando o livro de mim.

- A Rainha Vermelha... Já te falei desse livro, eu acho... - ele começou a folhear as páginas, mas sem desmarcar onde eu lia.

- Parece bom... - me devolveu e logo se levantou.

- Não parece, é bom. - confirmei.

- Vem! - ele estendeu a mão para me ajudar a levantar.

- Pra onde? - perguntei aceitando sua mão esticada.

- Preciso de um favor seu... - ele disse um pouco envergonhado.

- Pra que precisa de mim? - deu para perceber meu medo em minha voz, por isso Josh se apressou em explicar.

- Quero que você cante pra mim... Sua voz e muito linda e me trás um sentimento bom! - ele se escorou em uma das estantes ali perto.

- Tem certeza? Você é a única pessoa que já falou isso sobre a minha voz... Não sei se... - ele me interrompeu apressado.

- Ei, para com isso. Ninguém nunca falou isso, porque você nunca cantou em público! Tenho certeza, se um dia você cantar, as pessoa vão te elogiar tanto, que vai até esquecer de mim... - falou como se isso realmente fosse acontecer um dia.

- Eu nunca vou te esquecer, você é meu melhor amigo, lembra? - dei um tapinha em sua testa e ele riu.

- Mas e então, vai cantar ou não? - seu olhar era esperançoso.

- Tudo bem eu canto... - comecei a cantar bem baixinho, só para ele escutar, Scotland, a música que ouvimos hoje no carro.

Josh fechou os olhos apreciando o som da minha voz, aquilo por algum motivo me fez arrepiar por inteira, preferi não ligar pra isso e continuei a cantar baixinho, só pra ele.

Agora Josh tinha um semblante tranquilo, bem diferente de como ele chegou aqui, antes ele parecia atordoado, como se alguma coisa o tivesse perturbado... Ele realmente é uma pessoa misteriosa, parece estar sempre escondendo alguma coisa de todos... Seus olhos azuis parecem sempre esconder algum segredo, alguma dor ou um tipo de ressentimento.

Mas por algum motivo, minha presença parece ter lhe dado uma espécie de paz e, principalmente, minha voz parece ter relaxado seu corpo e mente...

- Você usou... - ele comentou ainda de olhos fechados e apreciando minha cantoria.

- Usei? O quê? - perguntei confusa.

- Meu apelido... - ele respondeu, ainda de olhos fechados.

Uma pausa e quando o silêncio tentou se instalar no ambiente Josh tratou de eliminá-lo.

- Não pare de cantar... Sua voz me acalma... - seus olhos azuis continuavam fechados, mas agora já estavamos sentados no chão novamente, mas dessa vez Josh deitou a cabeça em meu colo e minhas mãos automaticamente foram para seus cabelos, em um carinho simples.

Com a cabeça em meu colo, os olhos fechados, minhas mãos em seus cabelos, Josh pareceu relaxar e aos poucos foi se acalmando e um sorriso involuntário surgiu em meus lábios, ao ver que só a minha presença e meu carinho já o acalmava.

- Você tem razão, esse é o melhor lugar da escola! - um sorriso se formou nos lábios dele, tive a impressão de que ele não falava da biblioteca... Mas deixei pra lá.

Você nunca pode sentir a minha história
É tudo o que você sabe
Você nunca pôde sentir a minha história
É tudo o que você sabe