- tenho medo desse caminho, parece tão assustador, com certeza deve ter algum assassino escondido nesses arbustos.
Charlotte se pronunciou com apreensão, olhava em todas as direções se esquivando das plantinhas que tomavam a trilha, se escondeu atrás de Adam quando ouviu um barulho entre os arbustos, Summer e Chloe aparecem como gatos sorrateiros e assustaram a garota que quase chorou.
- Summer ! Me ajude com as cestas, parem de fazer barulho vocês duas se não quiserem ter algo do que ter medo de verdade.
Ruby quase tirou o chinelo para fazer as filhas ficarem quietas, Summer estava rindo como uma foca engasgada e Charlotte chorava e xingava a irmã.
- Charlotte se você continuar fazendo barulho vai atrair as raposas.
Adam falou distraído, observando o campo com atenção como se as raposas já estivessem ali.
- papai aqui não tem raposas, e elas nem gostam de gente.
Charlotte gaguejou diminuindo o barulho, segurou o braço de Adam e começou a choramingar com medo.
- exatamente, elas não gostam de gente.
Adam encarou Charlotte antes de começar a correr e deixar todos para trás, Summer não conseguiu conter a gargalhada com a cena de Charlotte correndo atrás do pai tentando não fazer barulho, a garota parecia um umpa lumpa de tão pequena e fofa.
- acho que todo mundo vai está no lago hoje, acho que vou pôr algo mais bonito, esse biquíni me deixa gorda.
Chloe falou apertando a "gordura" de sua barriga e fazendo cara de choro, Summer respondeu com um tapa de leve na amiga.
- não me decepcione Chloe, qual o problema de está gorda? A propósito você pode sair voando se ventar forte garota do que está falando?
Chloe ainda com cara de choro ignorou Summer e colocou uma blusa.
- vocês jovens tem problemas sérios.
Ruby passou pelas meninas com seu maiô cavado e um shorts bem curto.
- sua mãe é maravilhosa, onde que compra uma assim.
Summer riu da cara que Chloe fez, ela parecia realmente está com inveja, só não sabia se era da autoestima da sua mãe ou dela por ter uma mãe como Ruby.
Praticamente todo mundo da cidade estava no lago, Chloe parecia empolgada com a aglomeração foi logo cumprimentar seus grupos de amigos, sim porque são vários, a garota é a definição de popular. Encontrou o Sr. Phillips, pai de Artur e prefeito da cidade, não soube como disfarçar quando ele fez perguntas do seu relacionamento com Arthur, a cara de Chloe entregou que não estavam bem e ela foi consolada pelo homem.
- ele não tem falado comigo nas últimas semanas, simplesmente me ignora, não se preocupe é apenas uma fase, ele se aborrece com questões da faculdade e acaba se afastando.
O homem preto de cabelo grisalho afirmou a Chloe que tinha certeza dos sentimentos do seu filho por ela, mas Chloe teve dúvidas, por mais que Arthur tivesse momentos difíceis e que se afastasse as vezes, ele nunca a ignorou dessa maneira.
- quem usa terno em um calor desses? O pai de Arthur é tão estranho quanto ele
Summer surgiu de repente fazendo Chloe rir com sua observação.
- ele só quer causar uma boa impressão
- por acaso ele não sabe que todos falam dele?
- provavelmente não
Chloe ajudava Summer a arrumar um lugar para sentar e apreciar a vista, próximo a uma árvore mas longe do lago, Charlotte logo reclamou da localização e saiu para ficar com seus amigos, enquanto os pais foram para a água. As amigas sentaram sob o sol com as caras cobertas de protetor e seus chapéus enormes.
- mas essas pessoas falam de todo mundo, não é algo com que ele ou qualquer um deva se preocupar, deixar de fazer coisas por conta do que os outros vão pensar é o mesmo que desistir de viver
Chloe pegou uma raspadinha e entregou outra para Summer, havia uma caixa térmica que Adam trouxe cheia delas, as duas se empolgaram ao perceber.
- acho que vou congelar meu cérebro hoje, quem sabe assim fica mais fácil - falou com a boca cheia e um olhar de dor - pensando bem, não vai ser tão fácil não, isso dói
Chloe deu risada e desafiou Summer, quem terminasse por último ia ter que entrar no lago e gritar 'marco' bem alto.
- você é sádica garota, não vê que estou sofrendo?
Summer perdeu o desafio e corando de vergonha foi até a água e ficou gritando 'marco' até alguém responder polo, para seu azar isso demorou quase cinco minutos, as pessoas encaravam ela com julgamento, algumas até se afastaram.
- isso foi horrível, como se essas pessoas já não me julgassem o suficiente não é mesmo Chloe, minha amiga?
Summer encarou a garota que já estava quase passando mal de rir e quis bater nela, Chloe pediu desculpas enxugando as lágrimas de tanto rir, ofereceu mais uma raspadinha para Summer que quis agredir ela mas aceitou.
- você estava ótima, foi bem resistente eu mesma não teria essa coragem
- você não precisaria ficar tanto tempo lá porque alguém te responderia com certeza. Um garoto de oito anos respondeu 'polo' me olhando como se eu fosse louca
- mas isso é porque você parecia um ganso, deixa eu mostrar como você estava
Chloe falou tirando o celular da bolsa para mostrar a gravação que havia feito.
- sua canalha, você vai me pagar
- desculpe eu não resisti
Summer quase engasgou vendo como estava realmente parecendo um ganso doente gritando sozinha.
- achei que estava linda, quis responder mas me distrai vendo você
Uma voz grave ecoou perto demais, Summer virou rapidamente e deu de cara com aqueles olhos negros pesados, o coração acelerou de um jeito que pensou estar tendo um infarto, levantou e se afastou sem olhar para trás, estava descalço e o chão quente fazia arder os pés mas não chegou a se importar, continuou a caminhar, desnorteada e quase tendo um ataque de pânico, avistou sua mãe e correu até ela. Não havia percebido ainda mas estava tremendo, suando frio e chorando, gritava que não conseguia respirar.
°°°°
- pode me dizer o que aconteceu? Eu fiquei muito assustada Summer você não parava de gritar
Chloe falou preocupada, estava acomodando Summer na cama depois de passarem o dia no hospital com ela em estado de choque estavam cansadas.
- Peter foi ver você no hospital, estava bem preocupado, ele também deixou essas flores agora a pouco
Chloe jogou verde para ver a reação de Summer, não tinha certeza mas sua intuição lhe dizia que havia algo de muito errado e Peter estava envolvido já que foi depois de vê ele que Summer teve um ataque.
- não quero flores, eu só quero dormir Chloe.
Summer puxou a amiga para lhe fazer companhia e as duas dormiram quase abraçadas, Summer ainda estava assustada.
- bom dia, fiz panquecas para você, depois do café se arrume que vamos sair
Adam falou servindo uma xícara de café para Summer, passou pela filha e deu um beijo em sua testa fazendo carinho em seus cachos, a garota sentiu que ele estava pior que ela. Summer quis chorar mas não tinha forças, aquele pesadelo estava voltando e ela que pensou que tinha acabado.
- você tem certeza que não quer que eu fique com você? Eu posso, não tem problema
Chloe estava com o coração apertado, não queria deixar Summer mas sabia que ela precisava de um momento sozinha.
- amanhã nós vamos a feira de antiguidades, não se preocupe eu estou bem.
Summer se despediu de Chloe, deixaram ela em casa e Adam levou Summer até o centro da cidade que ficava a uns quarenta minutos. Saíram das estradas de pedras e seguiriam pelo asfalto até o pequeno aglomerado, alguns prédios antigos e muitas pessoas, a cidade fica cheia nas férias, as pessoas vem de longe atraídas pelo clima bucólico e a tranquilidade de um lugar quase esquecido a maior parte do ano. Summer observava os turistas e os moradores que pareciam turistas, todos empolgados com seus grupos de amigos, pensou que foi assim para ela um dia. No colégio ela e seus amigos saiam da aula e passavam em uma lanchonete velha quase esquecida, ficavam matando o tempo até o horário do primeiro ou segundo ônibus para casa, muitas vezes perdiam todos os ônibus e ficavam presos na cidade, seus pais tinham que buscá-los ou ficavam na casa de Arthur, acampavam no quintal porque sua casa era pequena para sete pessoas dormirem. Os pais de Nathan quase nunca o deixavam dormir fora então eles tinham que implorar para o Sr. Phillips convencê-los, em troca eles limpavam o jardim e a piscina.
- eu vou esperar você aqui fora, se preferir que eu suba com você, mas se quiser eu posso ir para casa e você volta de ônibus - Adam quase gaguejou, tirou o cinto e arrumou os cabelos grisalhos com a ponta dos dedos, era uma mania de quando ficava nervoso - você sempre dizia para eu não te esperar quando vinha aqui
- pode me esperar aqui, depois a gente pode ir em uma livraria, queria pegar uns livros novos, se quiser a gente pode passar no seu amigo, você sempre diz que vai vir vê-lo mas nunca vem
Summer sorriu para o pai tentando confortá-lo de alguma forma, Adam estava mais apreensivo que ela, seu olhar de preocupação já estava sufocando a garota, mas sabia que ele não conseguia se afastar, diferente de sua mãe ele tinha essa dificuldade de dá espaço, tinha medo de que ela escapasse então apertava o mais forte possível, isso funcionava para Summer mas não para Charlotte, não tinha como manter Charlotte perto mesmo ela morando debaixo do mesmo teto.
A garota entrou na sala de sua antiga psicóloga com as mãos nos bolsos e um olhar inquieto, demorou para se acostumar. Sabia que precisava falar mas não se sentia pronta, sempre que chegavam no assunto ela se desesperava, a respiração mudava imediatamente, as mãos começavam a suar e ela ganhava um copo de água e aquele olhar de preocupação de que ela já estava cansada. A senhora com cabelos negros presos no alto da cabeça em um coque bem feito se chamava Rosie, era psicóloga de Summer a sete anos, fazia um ano que ela não a via, também não quis ver ninguém nesse período porque acreditava que estava tudo bem, mas foi logo percebendo que estava errada, Rosie fez Summer perceber que não estava se atentando aos sinais.
- posso perguntar como foi ou isso vai te fazer revirar os olhos para mim?
Adam se pronunciou assim que Summer entrou no carro, a garota quase revirou os olhos, só queria respirar, se arrependeu de ter o deixado esperando, quis dizer que ia voltar sozinha mas também não sabia de conseguiria. Havia acabado de confessar a Rosie, depois de quase duas horas sentada contando uma história cheia de reviravoltas, que no caso era a sua história nos últimos quatro anos, Summer confessou a culpa que sentia, o medo que a fazia fugir das pessoas, a angústia que só aumentava.
- papai, eu quero ir para casa, não estou bem
Summer tinha a voz trêmula e o rosto encharcado, o homem não sabia o que fazer, quis dizer algo mas estava paralisado, apenas dirigiu, quase estasiado. Era a segunda vez em dois dias que via Summer desmoronar, sabia reconhecer na filha quando as coisas não estavam bem mesmo sem ela ao menos querer demonstrar, ver ela se entregar daquela maneira o deixou alerta, mas não sabia o que fazer, o que você faz quando vê a pessoa que você mais ama agonizando em dor e não há remédio que faça isso passar?
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