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História Superfície. - Estrelas.


Escrita por: sekainoowari

Capítulo 1 - Estrelas.


As duas crianças precisavam correr caso quisessem ir para o esconderijo secreto ao qual visitavam diariamente. Era um segredo, um lugar que apenas os pertencia e zelava por suas brincadeiras esperançosas. 

Aqueles dois meninos, que tinham apenas nove anos de idade, jamais haviam ido até a superfície. Foram nascidos ali, naquele complexo rochoso e subterrâneo que os guardava dos males de um mundo completamente destruído. Porém, eles ouviam, dos mais velhos, histórias incríveis sobre o céu noturno, sobre como ele era belo e abismal, mesmo que os dois pequerruchos ao menos soubessem o que abismal significava. De manhã a luz do sol viajava pelas clareiras de espelhos naturais, porém à noite, nada podia ser refletido. 

— Quando a gente chegar lá, você tem que fazer silêncio, Yams. — O pequeno loiro avisou ao amigo. Ia caminhando na frente, conduzindo a criança menor pela mão, tomando cuidado para que as rochas escorregadias não fizessem o menino cair. Kei sabia como Tadashi era desastrado quanto ao seu próprio equilíbrio. — Os vagalumes não gostam de barulho, eles sentem medo e apagam as luzes pra fugir, eles são muito parecidos com a gente. — Explicou o motivo de tanta cautela, repetindo o que foi respondido por seu pai quando infantilmente perguntou o porquê dos insetos viverem fugindo. — Só podemos bater palma uma vez pra acordar eles e depois a gente não pode fazer barulho. 

Aquelas crianças nunca haviam subido à superfície, mas acharam aquele cenário único dentro do pequeno mundo que lhes era disponível. No complexo de rochas existia uma nascente de água, que garantia vida dentro daquele buraco esquecido, as pedras molhadas e quentes eram o lugar perfeito para o descanso dos vagalumes.

Caminhando de forma calma, os dois pequenos tentavam suprimir a ansiedade crescente. Não estavam fazendo nada de errado, talvez os mais velhos considerassem aquele passeio imprudente, mas ainda estavam de certa forma seguros. Mas era diferente passear por ali, era um segredo, era como finalmente ascender à superfície e olhar as estrelas, descobrir como eram as constelações de verdade. Só eles sabiam da existência daquele lugar, então ele os pertencia. 

— Chegamos. — Kei afirmou baixinho, soltando a mão do amigo mais baixo, que sorriu. O ambiente era escuro e quente, quase como um quarto agradável. O barulho de água corrente podia ser ouvido e vez ou outra um vagalume acendia sua luz, talvez captando a presença intrusa no ar. — Se sente confortável? — O menino perguntou, sentando-se ao lado do melhor amigo. 

— Sim, tá tudo bem. — Yamaguchi afirmou, abraçando as pernas pequenas, ansioso para o show que viria. — Pode fazer. — Tadashi avisou, subindo os olhos para encarar o teto. 

Então Tsukishima bateu palma e um zumbido grave foi seguido de luzes verdes por todo o espaço. Como as rochas eram escuras o suficiente, as crianças podiam imaginar que aquele era mesmo o céu noturno que tanto era descrito pelos mais velhos, aquele mesmo céu que se mantinha apenas na imaginação das duas crianças que brincavam com vagalumes como se fossem estrelas. 

— É tão lindo, não é? — Tsukishima perguntou sorrindo, ainda mantinha-se vidrado no teto. 

— Sim, é igualzinho ao que seu pai falou. — Tadashi tinha admiração no tom de voz. 

— Deve ser incrível ver o céu de verdade. — Kei se deitou no chão, sendo acompanhado pelo melhor amigo, que lhe deu a mão, fazendo um carinho suave nas falanges finas do mais alto. 

— Prometo que um dia vou te levar pra ver as estrelas de verdade. 



— Olha só, me contaram que tem uma pessoa fugindo do treino. — Tadashi riu ao encontrar Tsukishima caminhando até o "esconderijo". 

— Olha só, parece que você também está fugindo. — Tsukishima rebateu ácido, mas sorriu fino. 

— Não estou. — Tadashi colocou as mãos na cintura. — Na verdade, estou um pouquinho, mas só porque eu estava te procurando. — Deu de ombros, passando a caminhar junto ao mais alto. 

— E era tão urgente a ponto de deixar o pelotão para trás? — Tsukishima o encarou, um misto de deboche e expectativa estava estampado em seu rosto. 

— Tem planos pra hoje a noite? — Tadashi ignorou a pergunta do rapaz. 

— Não é como se houvesse muito a se fazer aqui pela noite, ir naquele encontro motivacional do Takeda não está nos meus planos. — Kei fez uma careta e Tadashi riu, balançando a cabeça. 

— Perfeito, então vou te roubar um pouquinho, passo na sua casa a noite.

— Tem que ser a noite? O que você tá planejando, Yamaguchi? Sabe que esses dias o meu irmão tá pegando no meu pé… 

— Ele tá pegando no seu pé porque você foge do treinamento pra vir pra cá, mas não se preocupa, ele nem vai perceber que você sumiu, eu garanto. Eu nunca menti pra você, né? — Apertou a mão do rapaz. 

— Tá tá, só não mete a gente em problema de novo, okay? Da última vez o Ukai ficou bravo e eu não quero ter que ficar limpando o complexo todo de novo. — Tsukishima pediu e assistiu o esverdeado sorrir e sair correndo dali após concordar. 

O loiro seguiu para o mesmo lugar de antes, temeroso pelo fato de que os vagalumes que antes povoavam aquela caverna, não se davam mais o trabalho de passar por ali, sendo poucos os insetos que restaram para iluminar aquele céu artificial. 


Tsukishima não pôde fugir do treino para sempre, logo após o almoço voltou a compor a formação do pelotão. Dentro de dois anos seria um daqueles que arrisca a vida e sobe à superfície em busca de recursos. O sentimento era agridoce, um tanto diferente da infância. Naquela época qualquer menção a deixar o subsolo era visto com um quê de magia e esperança inigualável, mas agora vinha recheada de medo e apreensão. Todos os dias dormia com a sensação de que seu irmão poderia não voltar de uma missão de exploração e agora convivia com a certeza de que logo seria ele a estar no lugar de Akiteru, ele que poderia não voltar depois de um encontro com o mundo lá fora. 

Deixou o treinamento sem se despedir dos demais, ouvindo protestos de Ukai que possivelmente dizia que o trabalho em equipe garantiria o sucesso de uma missão. Não era algo em que Tsukishima planejava se ater no momento, queria ir logo para casa e se apressar para tomar banho. E assim o fez, sorrindo breve ao cumprimentar sua mãe e seu pai, aliviado por saber que Akiteru tinha voltado bem de uma missão. 

Então a noite veio e a madrugada a acompanhou, todo o complexo dormia quando Tsukishima ouviu uma batida baixinha em sua porta. 

— Já está pronto? — A voz do outro veio sussurrada. 

— Uhum, tô sim. — Murmurou ao sair, notando como Tadashi se vestia com roupas frescas, mesmo que fizesse frio. — Aonde vamos? 

— É surpresa, então se me dá licença. — Yamaguchi tirou um pedacinho de pano e se pôs atrás do loiro. 

— Pra que isso? — Tsukishima indagou, mas não fez menção alguma a negar ser vendado. 

— Pra você não espiar seu presente antes da hora. — Yamaguchi riu divertido. — As pedrinhas bonitas do fundo do poço estavam acabando, então eu precisei inovar no seu presente de aniversário desse ano. — Brincou, amarrando a venda sem machucar o rapaz. — Me dê a mão e confie cegamente em mim. 

— Não precisava me dar um presente. — Kei protestou. 

— Você nem sabe o que é. — Yamaguchi riu, passando a caminhar com o rapaz, tomando cuidado por onde pisada e instruindo o garoto a pisar nos lugares certo. — E dezesseis anos é um marco na vida de qualquer adolescente. — Brincou. 

Então continuaram a subir e andar, passando por curvas, voltas e trilhas apertadas. Depois de uma hora de caminhada o loiro sentiu uma brisa gélida bater contra seu rosto, causando-lhe um arrepio da cabeça aos pés. Logo depois um uivo agudo e quando deu-se por fé, o mundo todo era lotado de barulhos que anteriormente eram longínquos e abafados pelo labirinto cavernoso em que vivia. 

— Levei três meses pra convencer o meu irmão a me trazer até aqui. — Yamaguchi informou, tirando com cuidado a venda que cobria os olhos de Kei. — E ele me fez jurar que eu nunca iria deixar o Ukai nem o Takeda saberem disso. 

Kei abriu os olhos devagar, se acostumando com a claridade da noite, algo que jamais havia experimentado antes. O mundo não parecia ser tão convidativo assim. Não havia muitas árvores, o espaço era árido e gelado, possivelmente estéril. Mas o céu era incrivelmente pintado e lotado de cores que iam muito além do preto e prateado. O ambiente parecia brilhar arroxeado, a lua distante era cinza e brilhava muito mais do que imaginava. O mundo acima de sua cabeça era incrível. 

— Feliz aniversário. — Yamaguchi disse baixinho. — Meio adiantado, eu sei, o Makoto disse que se a gente viesse no dia do seu aniversário mesmo iria chamar muita atenção. 

— Isso é lindo, Yams. — Foi o que Tsukishima conseguiu balbuciar. — É simplesmente incrível. 

— Eu sei, eu nem acredito que é de verdade. — Yamaguchi confessou, apertando a mão do rapaz contra a sua. — Quando os vagalumes sumiram eu pensei que nunca mais iria ver o céu estrelado. 

— A gente não pode sair, não é? — Tsukishima sorriu em um misto de alegria e tristeza. Ver o céu pela primeira vez também trazia consigo um sentimento agridoce. 

— Não podemos. — Tadashi afirmou entristecido. — Mas prometo eu vou te levar pra conhecer o mundo e não vou deixar que nada aconteça conosco. — Beijou as costas da mão do menino. — Dois anos, depois da nossa primeira missão. 

— Você é um maldito kamikaze, não quero que a gente morra na nossa primeira missão. — Kei riu, abraçando o rapaz apertado. 

A vastidão do céu que era seu presente também dava esperança para os dois meninos que nunca antes haviam ascendido à superfície. 



Notas Finais


Bye.


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