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História Supernova: Keith Kogane - Amira


Escrita por: Eiffhel e _Alaskah

Capítulo 2 - Amira








           AMIRA.

Alguns meses antes:




 

A risada escandalosa de Camille ecoava sem parar nos meus ouvidos sensíveis, me deixando um pouco incomodada, enquanto assistíamos o treinamento de pilotos dos cadetes novatos da Academia Garrinson Galaxy. Parece que era meio que um costume os veteranos virem pessoalmente ver o primeiro treino de simulação dos cadetes novatos e tirar sarro à vontade deles. Geralmente os novatos na academia começam aos dezesseis e aos dezenove estão completamente formados e prontos para serem mandados para sua primeira missão espacial.

Ainda tenho dezesseis e estou prestes a completar dezessete ainda nesse ano, mas já faço parte da turma de veteranos do último ano, simplesmente porque sou um "prodígio" humano segundo os meus superiores. Mas na verdade, sei que modéstia a parte sou muito inteligente e muito mais avançada do que os outros adolescentes Terráqueos da minha idade, isso porque sou uma híbrida. Metade alien e metade humana.

Minha mãe era uma alien e meu pai humano, por isso minha determinação em fugir do meu planeta natal para vir para a Terra e tentar me passar por 100% uma humana qualquer. Meu pai e minha mãe se conheceram por acaso nessa mesma academia. Mhor (minha mãe) era uma rebelde que dava muita dor de cabeça para minha avó ao ponto de sempre fugir do seu planeta e ir se aventurar em outros planetas. Até que ela veio para Terra e decidiu usar um soro geneticamente modificado para se passar por um humano e saciar sua curiosidade sobre a raça Terráquea. Bom, podemos dizer que ela saciou bem sua curiosidade ao ponto de engravidar do meu pai.

E agora estou aqui. Vim para Terra com o objetivo de saber mais sobre meu pai, mas descobri que ele desapareceu misteriosamente numa missão chamada Cérbero, para minha total frustração. Por algum mistério do destino, ainda continuo aqui, talvez porque gostaria de aprender mais sobre a espécie do meu pai que também é uma parte minha.

— Anda Amira! — Camille me cutuca com o cotovelo, enquanto ainda estou com os meus cotovelos apoiados sobre o parapeito e com um olhar fixo no próximo trio que vai entrar na nave simulação. — Dá uma risada também!

Muitos veteranos do último ano como Camille e eu estão aqui no terceiro andar assistindo as falhas bobas e bestas dos calouros, enquanto riem escandalosamente e zoam cada um, por qualquer errinho bobo. Essa parece ser a diversão ideal de cada veterano aqui e quando o sargento berra ou grita com algum novato, é quando eles parecem rir mais. Não consigo ver graça ou divertimento em ver as pessoas errarem ou fracassarem e por isso me recuso a me juntar as risadas dos meus companheiros, me limitando apenas a assistir.

Na minha concepção, o sargento gosta e se delicia ao torturar e envergonhar os novatos, os submetendo a serem assistidos por cadetes mais experiente que os zombam constantemente. Talvez ele pense que isso os tornaram mais fortes e mais tolerantes a críticas externas, mas não é dessa forma que vejo. Apenas vejo um espetáculo humilhante a ser torturantemente assistido contra minha vontade, pois "é o rito de passagem e também uma tradição", as palavras que Camille me disse ecoa instantaneamente na minha mente.

O que minha amiga e meus outros companheiros diriam se soubessem que sou metade alienígena? Certamente a reação não ia ser das melhores e obviamente me trancariam em um laboratório militar para fazerem experiências sinistras comigo, igual as que vi nos filmes Terráqueos de ficção científica, os quais estou tão viciada em assistir todo dia após o toque de recolher em meu quarto. É fascinante para mim as ideias malucas humanas sobre como nós, alienígenas, somos ou devemos ser. E fico mais ainda aliviada pela ficção deles não fazer jus a realidade.

O próximo trio a entrar no simulador é a equipe de Katie, ou melhor, agora; Pidge Gunderson. Ela dá um pequeno aceno para mim e um sorriso discreto antes de entrar na nave de simulação acompanhada de um cara alto de pele morena, um pouco rechonchudo, mas ainda sim aparentava ser muito forte, usando uma faixa amarela na testa. E tinha outro cara magricelo, cabelo castanho e olhos da mesma cor, mas era falante demais, dizendo sem parar que era o melhor piloto que a Academia tinha.

— Aí esse McClain é muito irritante. — Camille comentou fazendo uma careta. — Nem dá para acreditar que ele pegou o lugar do gostoso do Keith.

Ao dizer aquele nome rapidamente minha atenção está totalmente voltada para minha amiga.

— Keith?! Keith Kogane?! — Digo rapidamente e um pouco alto demais para atrair atenção de grande parte do terceiro andar do simulador. Sinto meu rosto arder um pouco, quando sinto que por alguns demorados segundos, sou o centro das atenções do andar.

Minha vergonha parece divertir Camille, que abre um sorriso malicioso com minha reação nenhum pouco discreta e talvez... Um pouco desesperada...?

— Ora, ora, temos outra fã girl para o fã club do Kogane?! — Sua insinuação me faz revirar os olhos em desgosto.

— Não viaja. — Me limito a dizer, tentando parecer neutra e normal, como se o meu coração não estivesse palpitando sem parar no meu peito.

Todo mundo na Academia sabe quem é Keith Kogane. Ele era um cadete, mas foi expulso por insubordinação. Tudo bem tenho que admitir que o cara era realmente bonito. "Um gato" como os Terráqueos diriam. O garoto até conquistou um mini fã club de garotas malucas que o idolatra como um deus, só porque ele deu uma de "bad boy" e desacatou ordens de superiores.

Se eu o conheço? Não. Gostaria de conhecer? Talvez. Não levem para o lado de atração física ou coisa parecida, só gostaria de conhecê-lo por que... Ele conhecia... Ou pelo menos conheceu meu pai... Takashi Shirogane conhecido como Shiro...

Sou desperta de meus pensamentos pela sirene avisando sobre o fim da simulação e pela cara do sargento, certamente a equipe de Pidge não se saiu como o esperado. Na verdade eles foram péssimos. O engenheiro vomitou na caixa de câmbio. O piloto bateu. E Pidge não conseguiu estabelecer uma boa comunicação com a base para efetuar o resgate. A situação não poderia piorar, na verdade, poderia sim, quando o sargento fez uma menção proposital ao desastre da missão Cérbero, a mesma missão em que meu pai desapareceu juntamente com o pai e irmão de Pidge.

"A culpa foi do piloto".

Pidge, como sempre perdeu a cabeça, mas o piloto da sua equipe conseguiu tampar a boca dela a tempo antes que ela soltasse totalmente todos os insultos dedicados ao sargento. No entanto, já é tarde para mim. Aperto fortemente meus punhos e sinto minhas longas garras alienígena crescerem desenfreadamente ao ponto de ferirem a carne da palma da minha mão, fazendo a palma da minha mão se tornar úmida e ensopada pelo meu próprio sangue.

Sempre é assim quando se pergunta sobre a missão Cérbero. Culpam sempre meu pai.

Ainda sob questionamentos surpresos de Camille; sobre o que aconteceu ou para onde estava indo, decido deixar o terceiro andar, totalmente exausta daquela besteira toda de rito de passagem ou tradição. A única coisa que gostaria era de um bom banho, me livrar do sangue nas minhas mãos e ir dormir um pouco, ou pelo menos tentar.




 

***




 

No meu dormitório, após um banho relaxante no vestiário feminino, me pego encarando fixamente o teto do meu dormitório. As paredes do meu dormitório estão ocupadas por diversos papéis com fotos de Shiro e constantes reportagens ou anotações de informações importantes que consegui sobre ele. Há um fio vermelho de lã colado sob as anotações, fazendo conexão sobre outras possíveis pistas sobre a missão Cérbero, Shiro, Keith Kogane e sua ligação misteriosa com meu pai... Nunca consigo sair do mesmo lugar.

Já estava tarde, certamente deveria ser madrugada e sequer conseguia pegar no sono. Estava com uma insônia muito forte, pois minha cabeça não parava de pensar sobre diversas coisa. Isso é tão frustrante e patético, que soco meu travesseiro como resposta a esses diversos sentimentos ruins e pesados que sinto em meu peito.

Recentemente, havia conseguido uma pista. Um nome, na verdade. Adam. O atual companheiro do meu pai. Ou pelo menos era antes de Shiro desaparecer. Seja o que for; Adam foi à última pessoa que conviveu e viu meu pai. E talvez ele possa ser a única pessoa nesse planeta que pode tentar me fazer me sentir próxima ao meu pai de certa forma. Mas, como sempre, não consegui encontrar nada sobre Adam, sequer uma pista de como achá-lo ou encontrá-lo.

Olho para as palmas das minhas mãos, não encontrando sequer um sinal das feridas que abri ali ao deixar minhas garras crescerem e cerrar os punhos tão fortemente ao ponto das minhas garras ferirem a mim própria. Essa é uma das vantagens de ser parte alienígena. A cura e a regeneração acelerada. Mas isso não é o suficiente para fazer me sentir bem, ou aliviar a tempestade de emoções que estou sentindo.

A música dos meus fones de ouvido ressoa um pouco alto, tentando deixar-me mais calma. Acho que a música Terráquea e sua invenção de celulares e fones de ouvido é algo extremamente impressionante, ao ponto de sempre querer tê-los comigo o tempo todo. Olho para o chão, ao lado da minha cama e Rocket dorme tranquilamente, encolhida em uma pequena bola fofamente peluda, o que faz um involuntário sorriso surgir em meus lábios.

Rocket é uma mascote típica no meu planeta. É uma espécie de raposa de pelagem azul escura, com alguns desenhos simbólicos em azul fluorescente. Ela tem longas e pontudas orelhas e olhos grandes também. É extremamente pequena e aparentemente fofa e inofensiva, mas assim como eu, Rocket só aparenta. Quando irritada ou ameaçada, minha raposa espacial deixa de ser essa coisa fofa e se transforma num monstro gigante e assustador.

Já fazia cerca de trinta minutos desde que o alarme do toque de recolher já havia ressoado. Todos deveriam estar em seus respectivos dormitórios. No entanto, minha mente vaga até Pidge. Talvez ela tenha ficado tão chateada quanto eu, quando o sargento mencionou sobre a missão Cérbero. Afinal, o irmão dela e o pai também desapareceram com o meu pai.

Conheci a Pidge quando ela ainda era Katie Holt, uma garota determinada a encontrar pistas sobre o desaparecimento de seu pai e irmão na missão Cérbero, ela era tão determinada que quando decidiu invadir o escritório do sargento para descobrir e reunir informações, eu a ajudei a passar pelos guardas e por todo sistema de segurança da Academia. No entanto, logo Katie foi pega pelo comandante Iverson, mexendo em suas coisas e como consequência foi proibida de pisar na Guarnição para sempre.

Também fui a responsável por ajudá-la a conseguir os documentos falsos e se passar por um garoto chamado Pidge, para que assim ela pudesse retornar a Academia e continuar sua busca. Dei a ideia do novo corte de cabelo e ela acabou usando as roupas antigas do irmão, Matt, para auxilia-la no seu fingimento e na sua missão.

Acho que por causa disso, acabamos nos aproximando e nos tornando amigas. Afinal, eu também tinha perdido um parente na missão Cérbero. No entanto, mesmo Pidge e eu estabelecendo um laço afetivo de amizade, ainda não havia contado para ela sobre mim. Sobre eu ser uma híbrida de humano com alienígena e ainda ser filha de Shiro. E não posso negar que me sinto péssima toda vez em que tenho que mentir para Pidge e debochar de suas teorias sobre aliens e vida em outros planetas, quando na verdade, melhor do que ninguém, eu sabia que essas teorias eram verdadeiras.

A Academia Guarnição da Galáxia é uma organização militar com o objetivo de treinar jovens promissores para se tornarem a próxima geração de astroexploradores. Embora existam várias bases, o foco principal do programa é aquele localizado em um clima desértico. E o tal "sargento" que tanto reclamo é o comandante Iverson, ele é o diretor aqui. Mas digamos que dada sua postura rigorosa e pouco amigável, lhe dei o apelido de sargento.

Estou aqui, nesse lugar e nesse planeta, cerca de nove meses. Quando cheguei aqui fazia apenas três meses que a equipe e o meu pai desapareceram na missão Cérbero. E agora faz um ano completo que meu pai, também o irmão e o pai de Pidge desapareceram. Realmente não é algo que esteja sendo fácil para nenhuma de nós duas. Novamente, volto meu pensamento para Pidge. Ela deve estar bem chateada com a menção de Iverson sobre a missão Cérbero. Talvez fosse melhor ir encontra-la e ver como ela está, mesmo que isso signifique desrespeitar o toque de recolher.

Levanto-me da minha cama rapidamente e começo vestir minhas roupas. Minha movimentação repentina é o que faz Rocket acordar, se sentando no chão, enquanto me encara e acompanha cada movimento meu com um olhar curioso. Após vestir meu jeans preto rasgado nas coxas e nos joelhos, começo enfiar meus pés no meu tênis preto e branco, antes de vestir minha blusa preta com mangas até os meus antebraços. Estou quase pronta, mas o clima desértico durante a noite é bem frio fora dos dormitórios, por isso não penso antes de colocar minha jaqueta de couro vermelha e, como sempre, sem pedir, Rocket pula para dentro da minha jaqueta antes que eu possa fechar o zíper. Ela é tão pequenina que cabe perfeitamente ali.

Apenas reviro os olhos contra gosto e evito discutir com a minha mascote sobre a importância dela ficar no meu dormitório para não ser descoberta. Digamos que a academia tem regras bem rigorosas sobre animais de estimação dentro da base e dos dormitórios.

— Mas se fizer xixi ou cocô alienígena em mim, será a primeira e última vez que saíra desse quarto, entendeu? — Aviso Rocket a olhando nos olhos e em resposta ela abaixa suas orelhas grandes, fazendo uma carinha falsamente inocente, o que me faz revirar os olhos.

Antes de sair do meu dormitório trato de pegar meu Dracoboard, que nesse instante é só parece um cartão metálico sem graça, colocando-o no meu bolso de trás. Aproveito também para dar uma olhada no pequeno espelho que tem ali, analisando mais uma vez minha aparência humana estranha. Diferente da minha mãe que precisou de um soro para se passar por humana, eu não preciso, pois faço o processo de transformação naturalmente. Uma das vantagens de ser uma híbrida.

Meu cabelo é longo o suficiente para bater na minha cintura e ter pequenas ondas nas pontas dos fios de coloração preto escuro, já os meus olhos são castanhos comuns e meus lábios são levemente rosados e finos, minha pele é clara o suficiente para exibir as diversas manchinhas vermelhas que tenho no rosto abaixo dos olhos. "Sardas" é como eles chamam. E acredito que devo ter cerca de um metro e setenta e sete de altura, o que para os Terráqueos machos, minha altura chega ser intimidante.

Quando termino de me olhar, ainda estou com os fones nos meus ouvidos e no momento em que abro a porta do meu dormitório. Os corredores estão totalmente escuros e é quase impossível de se ter visão, isso claro, se você não pertencer uma espécie alienígena com uma visão totalmente adaptada a enxergar no escuro, ou em lugares com pouca luz. O que é uma grande vantagem para mim.

Se conheço bem a Pidge, ela deve estar no telhado ouvindo música. Ela sempre faz isso quando está chateada. Por isso, não meço esforços para chegar ao telhado tomando um certo de cuidado para que nenhum vigia me pegue em flagrante fora do meu dormitório. Pois, isso poderia me colocar em maus lençóis por aqui. Rocket ronrona dentro da minha jaqueta e não demora para que ela coloque sua cabeça para fora, curiosa para ver o que está acontecendo.

No momento em que chego ao telhado encontrando Pidge sentada com as pernas cruzadas e mexendo naqueles computadores que ela mesma criou, mas logo jogo meu corpo totalmente contra a parede escura e prendo minha respiração, ao perceber que minha amiga não está sozinha. Seus companheiros de equipe Lance e Hunk estão com ela. E então um grande dilema começa a crescer dentro de mim, entre voltar ao meu dormitório, porque Pidge já estava bem acompanhada e entre me aproximar do trio, iniciando uma conversa qualquer, mesmo que nunca houvesse falado um "oi" com Hunk e Lance.

Enquanto ainda permanecia na dúvida, rapidamente meus questionamentos internos são interrompidos por uma sirene alta e por um curto momento, sinto meu coração parar de bater com a ideia de ter sido pega em flagrante por algum vigia, mas quando ouço a voz nos altos falantes, percebo que o motivo é outro.

— Atenção alunos! Isso não é um teste! — A voz do comandante Iverson ressoou alta. — Estamos confinados. Situação de segurança Zulu-Nove. Repito: todos os alunos devem ficar nos dormitórios até segunda ordem.

Uno minhas sobrancelhas confusa. Situação de segurança Zulu-Nove, nem sempre é boa. É quando a base pode estar em possível ataque. O que realmente não é o que vejo, daqui do lado de fora.

— O que aconteceu?! — Hunk pergunta assustado, olhando rapidamente. — Um meteoro?!

E nesse instante olhei para o céu noturno que rapidamente foi iluminado e cortado por uma luz alaranjada. Aquilo não era um meteoro, se fosse eu teria pressentindo como minha espécie sempre presente. Por um rápido momento, dilatei a pupila dos meus olhos completamente, até usar minha habilidade de visão de longo alcance, ao olhar bem para o epicentro da luz alaranjada vi que realmente não se tratava de uma pedra espacial, mas sim...

— Um meteoro muito, muito grande? — Hunk questionou novamente.

— Uma nave... — Resmunguei baixo juntamente com Pidge, que após usar seu binóculos digital para poder ver o que era.

Lance rapidamente pega o binóculos da mão de Pidge com certa rapidez e ao ver através dele diz:

— Ih, caramba! Não acredito nisso! Aquela nave não é nossa!

— Não! É uma nave deles! — Pidge diz assustado.

— Espere. Existem alienígenas mesmo? — Hunk se intromete ainda surpreso e perplexo.

Quando vejo a nave cair, é o momento que tenho para ir até ela. Talvez poderia ser alguém que a mando da minha avó veio me buscar aqui. E se nós quatro, ali no terraço, vimos isso, certamente o comandante Iverson e outros soldados também viram. No momento em que inclino para o lado vejo o portão da base ser aberto e diversos carros cheios de soldados vão em direção à queda.

Preciso chegar antes deles!

Sem pensar duas vezes, decido tirar meu Dracoboard do meu bolso. Como havia dito anteriormente, ele parecia ser só um cartão de aço negro e alguns desenhos listrados vermelhos brilhantes sem graça, mas sei muito bem que não é assim. Quando jogo o cartão contra o chão e o ativo por comando de voz, logo o cartão começa a se transformar na minha frente, em uma grande prancha flutuante de energia iônica, preta com detalhes vermelhos e também com pequenos mais fortes propulsores de velocidade que irradiam uma luz vermelha fluorescente.

Sem pensar duas vezes subo na prancha apoiando firmemente meus pés ali. Quando sinto que estou conectada ao meu Dracoboard, só imagino o lugar pelo qual quero que ele me leve e automaticamente os propulsores se ativam fortemente e tão rápido quanto um foguete e com um piscar de olhos, já estou a caminho da queda da nave. Flexiono meus joelhos um pouco para continuar mantendo o equilíbrio, sentindo meu cabelo ser jogado e puxado bruscamente para trás, graças ao vento forte.

Rocket grita satisfeita, enquanto sua cabeça está para fora da minha jaqueta, podendo assim colocar sua longa língua roxa para fora da boca, enquanto sente o forte vento em seu rosto. Uma grande nuvem de poeira e areia desértica é levantada no momento em que passo as sobrevoando. Sei que estou em uma velocidade acima da média humana e desafiando completamente a gravidade. Mas não me importo. Apenas preciso chegar até o local da queda.

Quando estou me aproximando dos carros da academia, apenas digo:

— Ativar camuflagem. — Digo usando meu comando de voz e logo Dracoboard obedece o meu comando, ativando a camuflagem, me deixando totalmente invisível por um certo tempo limitado, o suficiente para que eu pudesse sobrevoar os carros sem ser notada.

Logo estou ultrapassando os veículos, graças à velocidade superior do meu Dracoboard. E em menos de poucos minutos, chego rapidamente a grande fumaça e a cratera que o impacto da nave contra o solo causou. Rapidamente a minha camuflagem é desativada e salto da minha Dracoboard, aterrissando na areia do deserto ao ponto de erguer alguns grão de areia no ar. Automaticamente, vejo minha prancha tecnológica voltando a se transformar em um simples cartão e caindo na palma da minha mão, antes de enfiá-la no bolso da minha calça.

Me aproximo com passos cuidados da grande cratera, observando com atenção a grande e espessa fumaça negra que sai do local. Tenho poucos minutos. Lembro a mim mesma sobre os carros da Guarnição que se aproximavam, cada vez mais. Sem ao menos pensar duas vezes, logo estou deslizando cuidadosamente a pequena descida íngreme, sujando cada vez a parte branca dos meus tênis de areia. Mas isso não era relevante agora.

Quando chego ao epicentro do impacto, meu coração para de bater e paro de respirar por um instante, no momento em que vejo a fumaça se dissipar um pouco revelando não uma típica nave do meu planeta, mas sim, uma nave com tecnologia Galra. Já havia visto a tecnologia desse povo conquistador alienígena muitas vezes no meu planeta, quando essas naves sobrevoavam próximos da nossa atmosfera.

Rocket começa a rosnar ameaçadoramente, tanto ela quanto eu não gostamos nenhum pouco da suposta presença Galra, e imediatamente começo pensar se não seria melhor dar o fora dali, antes que algum Galra surge de dentro da nave. Ou fico e espero para ver com os meus próprios olhos, algum deles antes de enfrentá-los. Galras são uma espécie alienígena imperadora, que usa o medo e a força bruta para conquistar outros planetas no intuito de expandir o Império deles. E sinceramente? Eles seriam burros demais se fossem encarar alguém da minha espécie, com a minha radiação estrelar no ápice total.

Enquanto, ainda estou na dúvida sobre voltar para a guarnição ou ficar. A porta da nave de metal roxo escuro e com alguns detalhes em lilás fluorescente, se abre, deixando o destino escolher por mim. Automaticamente fico na defensiva, já me preparando para o pior. Porém, quando a porta é totalmente aberta, me vejo surpresa ao ver que não é um Galra que sai dela, mas sim...

— Shiro?! — Grito automaticamente com meus olhos arregalados. Mas ele não parecia estar bem, pois assim que inclinou seu corpo para fora da nave, ele desmaiou e perdeu a consciência, caindo desacordado sob o chão.

Tanto meu corpo quanto minha mente, haviam entrado em estado de choque. Minha respiração e minha pulsação dispararam. Aquele realmente era o meu pai? O pai humano que havia desaparecido na missão Cérbero? De repente se torna uma missão difícil para eu manter o equilíbrio do meu corpo e por isso, fui sujeitada a me apoiar nos meus joelhos flexionados, ao mesmo tempo em que encarava fixamente o homem desacordado à minha frente.

Shiro estava diferente. Não estava igual nas fotos. Uma parte do seu cabelo estava branca, agora tinha uma cicatriz em linha reta partindo seu nariz na horizontal e seu braço direito, era robótico tipo uma prótese para suprir o membro obviamente perdido. Sei que deveria ir até ele. Claro que deveria. O pai que estava procurando demasiadamente estava bem à minha frente. Correr para ajudá-lo, mas meus pés e tampouco meu corpo não obedecem aos comandos do meu cérebro. Deve ser apenas meu choque e perplexidade me impedindo de fazer isso.

Mas antes que possa fazer qualquer movimento, uma coisa acontece. Com minha audição sensível, já consigo ouvir os motores dos veículos da Guarnição chegarem. Por puro impulso e medo, apenas ativo meu Dracoboard e jogo um pequeno, tão minúsculo quanto um grão de areia, localizador que se fixa sob o braço robótico de Shiro, antes de subir na prancha de íons e sair o mais rápido possível dali. Deixando o pai que sempre estive a procura para trás sem ao menos tentar levá-lo comigo.




 

***




 

— Não me olha com esse olhar, Rocket. — Aviso a minha mascote, enquanto balanço minhas pernas em pleno ar, do alto do desfiladeiro de pedra desértica que estou sentada, observando os primeiros raios de sol nascerem em plena madrugada.

Por alguns momentos, me sinto culpada por deixar o pai que tanto estava a procura para trás, penso que talvez devesse voltar e buscá-lo. Mas outra parte de mim começa entrar em pânico só com essa ideia. O que me leva a refletir sobre uma coisa. Quando a coisa que você mais almejou ou desejou, mas sempre acreditou veemente que era impossível de acontecer, aparece diante dos seus olhos, você realmente não sabe o que fazer. E foi isso que está acontecendo comigo. Não sei como resolver esse dilema.

O que eu deveria fazer naquela situação? Levá-lo comigo, para quando ele acordasse dissesse: "Oi, tudo bem? Eu sou a filha que você nunca conheceu, muito prazer". E se talvez ele soubesse da minha existência e nunca se importou? E eu só sou uma iludida ingênua estúpida que acredita que o pai nunca soube de sua existência. E se ele não me quisesse? E se ele não fosse a pessoa que passei a vida inteira imaginando que era? E se ele não for um herói, mas sim, um vilão? Afinal ele voltou para cá em uma nave Galra e sei muito bem que Galras não são confiáveis ou tampouco os mocinhos da galáxia.

Dou um grito frustrado, que começa ecoar sem parar no lugar onde estou. Puxo meu cabelo com força, tentando me livrar dos vários "e se..." que surgem em minha cabeça sem parar. Isso além de me deixar frustrada, me deixa muito irritada.

Rocket está sentada ao meu lado e me julga com um olhar severo. E eu odeio isso. Porque eu sei que fiz uma grande besteira imprudente, mais uma vez. É o que sempre faço. Sou imprudente. Impaciente. Ansiosa. Temperamental. E tenho certas dúvidas e teorias que posso ser bipolar. Realmente não sou uma pessoa fácil de lidar ou conviver.

Tiro meu Dracoboard do meu bolso e tem um ponto de luz azul fluorescente, piscando sem parar no metal negro. Sei muito bem que esse ponto azul é Shiro, graças ao localizador que coloquei no braço robótico dele, antes de fugir como uma covarde. Às vezes ser covarde é a coisa mais corajosa que alguém pode fazer. Tento pensar dessa forma para ver se isso alivia a confusão complicada crescente dentro de mim. Mas não alivia.

Olho de canto para Rocket, que como se pudesse ler meus pensamentos, pula sobre meu Dracoboard, o derrubando sobre o ar da beirada do penhasco rochoso em que estou sentada, mas meu equipamento não cai ou sofre algum tipo de pressão da gravidade Terrestre, muito pelo contrário, ele foi criado por mim para desafiar as leis da gravidade e da velocidade de qualquer planeta.

Suspiro cansada.

— Sei o que você quer dizer... — Falo para Rocket, me levantando sacudindo a poeira desértica das minhas roupas. — Vamos atrás do meu pai.




 

***




 

Segui o sinal do localizador até uma caverna, que parecia ter algumas simbologias antigas alienígenas e lá, encontrei meu pai, acompanhado por rostos conhecidos de Hunk, Lance, Pidge e... Até mesmo Keith Kogane. Antes que pudesse pensar em algo ou avisar sobre minha presença, vi um gigantesco leão robótico azul que não pensou duas vezes, antes de engolir os cinco e sair voando, destruindo o teto da caverna, até desaparecer fora da atmosfera.

E percebi que, mais uma vez, perdi a chance de falar com Shiro.




 

***




 

Voltei a Guarnição que estava um caos total. Várias pessoas conspiravam ao dizer que uma nave alienígena apareceu ontem e por isso o código de segurança Zulu-Nove foi acionado, alguns riam incrédulos dessa teoria, mas eles mal sabiam o quanto estavam certos. No meu quarto, tratei de juntar e arrumar todas minhas coisas, jogando-as na mala. Arranquei bruscamente todos os papei colados na parede, assim como as fotos e as linhas de lã vermelha, as colocando também na mala.

Durante o resto do dia, o sargento não parava de perguntar aos outros cadetes novatos, onde estava Lance, Pidge e Hunk que não apareceram para a simulação, mas ninguém sabia dizer onde eles estavam. Sequer eu sabia, mesmo colocando um localizador em Shiro, desconhecia o lugar para onde o leão azul levaram os cinco.

Quando escureceu, estava decidida a encontrar eles e encontrar meu pai novamente. Por isso, fugi da guarnição, durante a troca de turnos dos vigias, para ir pegar minha nave que havia escondido em uma caverna subterrânea desde que cheguei a Terra. E assim Rocket e eu deixamos a Terra para começar nossa busca.

Por algumas semanas, continuei seguindo o sinal do localizador, mas ele sempre mudava de local e de local muito subitamente, o que dificultava a localização. Em cada planeta que parava ouvia histórias sobre a volta de Voltron, o grande guerreiro espacial lendário, com outros cinco novos paladinos e cinco leões de cores distintas, não me surpreendi nenhum pouco quando falaram de um leão azul. Então não foi muito difícil encontrar uma ligação entre os fatos. Hunk, Lance, Pidge, Keith e Shiro, viraram paladinos e agora comandam a "poderosa arma" do universo lutando constantemente contra Galras e a tirania de Zarkon.

Minha nave deu problema mecânico nos propulsores, o que me levou a escondê-la em uma lua de um planeta próximo, deixando Rocket nela juntamente com todas minhas coisas, enquanto ia para o planeta mais próximo procurar recursos para solucionarem meu problema mecânico. No entanto, tive o azar de encontrar com algumas das tropas Galras que ao detectarem minha espécie alienígena me capturam, tornando-me prisioneira valiosa para eles. Eles me deixaram fraca propositalmente. Sabia da conexão do meu povo com as estrelas e extraíram toda minha radiação estrelar, para que assim me tornasse fraca e incapaz de lutar contra eles.

E a única coisa que lembro é estar totalmente desacordada sem consciência.




 

***




 

— Amira? — Uma voz me chamando ecoa na minha cabeça, o que me faz despertar e gemer, ao sentir minha cabeça doer. Ergo minha mão para apoiar minha testa, enquanto trinco meus dentes do maxilar ferozmente.

Minhas pálpebras estão pesadas e parecem que estão coladas, mas logo quando as forço a se abrirem, a claridade do local me cega um pouco, o que me faz fazer uma careta desgostosa. Pisco meus olhos diversas vezes, até me acostumar com a claridade do local, me vendo surpresa ao ver o rosto familiar de Pidge, que estava exageradamente próxima ao meu rosto com um sorriso exagerado.

— O quê... — Começo confusa, arregalando um pouco os olhos.

— Você acordou! Isso é ótimo! — Pidge começa a falar alegremente. — Não que esperávamos você não acordar, mas você ficou apagada por três dias dentro da câmera de cura, que talvez possa ter pensado que você não fosse acordar o que de fato seria uma pena, porque estava com saudades da minha amiga... — E novamente Pidge começou a tagarelar sem parar, o que só fazia minha dor de cabeça aumentar.

— Pidge você está tagarelando de novo. — A aviso massageando minha têmpora, ainda me sentindo exausta.

— Ops! Desculpa! Você sabe como falo sem parar quando estou animada. — Desculpou sorrindo sem graça. — Vou avisar os outros que você acordou.

Por um momento penso que estou bem para andar, mas não estou. E por isso, acabo perdendo o meu equilíbrio, quase caindo contra o chão, mas Pidge é rápida e me segura, me apoiando como uma boa amiga que era.

— Cuidado. — Pidge me alerta, segurando meu braço esquerdo com força. — Você ainda está fraca.

Respiro pesadamente, sentindo cada célula do meu corpo implorar por radiação estrelar. E o fato de que Pidge me reconhece e está tão próxima a mim, mostra que não estou na minha forma alienígena, mas sim, na minha forma humana. Pois caso contrário, tinhas minhas dúvidas se Pidge iria se aproximar de mim no instante em que visse minha pele azul e meus caninos afiados.

— Onde eu estou? — Pergunto olhando ao meu redor e não reconhecendo nada familiar, enquanto as minhas diversas e últimas lembranças me venham à minha cabeça. O episódio na Terra. Minha busca. Minha captura. Se estou com Pidge, isso quer dizer...

— Está em segurança. — Meu coração para de bater por um instante ao ouvir essa voz e quando viro minha cabeça na origem de quem falou, arregalo meus olhos surpresa e ao mesmo tempo espantada, não por rever os rostos familiares de Hunk, Lance e Keith, mas sim, por rever a silhueta de Shiro, me encarando fixamente, enquanto eu fazia o mesmo com ele.

Parece que em meio a tantos desencontros e acasos do destino, eu finalmente o encontrei. Ele estava mesmo ali na minha frente. E para minha decepção, ele sequer parecia me conhecer... Mas o que eu queria afinal?! É claro que ele não me conheceria e quem sabe talvez fosse melhor continuar assim.

 



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