História Sure Thing - Aquele capítulo onde: Muito refrigerante, perigo constante

Lisa

Minutos se passavam e eu ainda estava no vestiário, escorada no meu armário e com a mão no peito — meu coração havia descido para a bunda — na tentativa falha de recuperar minha sanidade, que no momento estava perdida. Me auto-questionava sobre o porquê de Chaeyoung ter feito aquilo e se havia motivos coerentes para tal ato tão de repente.

Tudo bem, minha gravata estava torta de acordo com ela, mas, ela agiu tão sedutoramente que pensei por um momento que iria até mesmo me beijar! Talvez eu tenha ficado um pouco doida, ou talvez muito.

Minhas pernas ainda se encontravam levemente bambas — os famosos efeitos que Park Chaeyoung causa em mim. Havia passado tanto tempo refletindo que meus cabelos secaram naturalmente, parecidos com a juba de um leão de tão arrepiados, mas isso não é algo com que eu vá me preocupar agora. Preciso encontrar Kim Jisoo para poder finalmente ir para casa e me jogar na cama, dança é tão cansativo quanto dar voltas completas em um campo várias vezes.

Terminei de dar o laço no cadarço do meu tênis e caminhei para a fora. Ao chegar perto do campo de beisebol, vejo uma Irene parada do lado de fora, na entrada, aparentemente preocupada.

— Ei Irene-unnie. — A mesma olha pra mim imediatamente enquanto eu me aproximo. — Está tudo bem? Eu vim pegar a Jisoo, ela disse que estaria aqui.

— Bem, ela estava… — Coçou a cabeça, me fazendo cerrar os olhos com sua resposta.

— Como assim? Aconteceu algo com a Jisoo?! — Perguntei rapidamente.

Jisoo desde que nos tornamos amigas sempre fora muito desastrada, desatenta ao mundo real. Sua atenção poderia ser roubada até por uma mosca, o que a complicava bastante na hora de estudar e também causava grandes estragos em seu corpo, como hematomas por seus descuidos. Uma vez a Kim quebrou o braço ao tropeçar na escada, ela me disse que estava cantarolando e quando menos percebeu estava no chão e com uma dor insuportável.

— A Jisoo se distraiu e… a Seulgi acabou acertando uma bola na cara dela. — Abri a boca em um perfeito ‘O’, essa deve ter doído. — Ela desmaiou com a força mas não entre em pânico, a levaram para a enfermaria faz uns minutos. Ela já deve estar bem.

— Eu deveria estar surpresa mas eu não estou, isso é a cara da Jisoo. — Dei uma risada de leve, mesmo assim estava preocupada com minha melhor amiga. — Eu vou passar na enfermaria agora mesmo, obrigado pela informação Unnie.

Falei correndo, dando uma breve acenada.

(...)

— Onde eu estou? — Ouvi um murmúrio vindo da cama, era Jisoo. Eu estava esperando a mesma acordar à pelo menos 7 minutos. — Por que diabos tem uma compressa de gelo na minha cabeça?!

Ao se levantar rapidamente o seu gemido de dor ecoou pelo quarto.

— Seja menos esbaforida Kim Jisoo! — A alertei, as vezes eu parecia sua irmã mais velha. — A Seulgi acertou uma bola na sua cara e você veio parar aqui. Inclusive ‘tá desenhadinha. — Passei meus dedos pelas linhas da bola no seu rosto e a mesma não tardou a reclamar:

— Yah Nallalisa! Isso está dolorido! — Deu uma tapa em minha mão.

— Yah Kim Chichyu! Deveria ter tomado mais cuidado! — Acariciei o local que a mesma tapeou, o assoprando. — Se tivesse prestando atenção no jogo não estaria com esse galo na cabeça!

— Eu sei disso. — Resmungou com um bico nos lábios. — Não tenho culpa se Jennie Kim é irresistível. — Sussurrou, mas mesmo assim eu consegui ouvir.

— Wahh, você viu ela? — Me entusiasmei.

— Sim, ela estava tão linda com aquela saia, não me arrependo de ter a admirado, mesmo que o resultado seja esse. — Apontou para o local onde estava o galo. — Mas eu sou indestrutível, isso não foi nada! A Super-Jisoo logo logo estará pronta para mais uma batalha!

— Apenas ande logo e vamos embora, idiota.

Jisoo tirou a bolsa térmica de sua cabeça — alegando que não precisava mais daquilo — e andamos até o estacionamento, a Kim havia recentemente tirado sua carteira de motorista e ela não parava de se gabar por isso, agora poderia usar o antigo carro de seu pai, que por acaso está caindo os pedaços de tão velho.

— Tem certeza que isso ainda funciona? — Perguntei duvidosa olhando para o automóvel.

Uma Pick Up cor de terra antiguissima. Quando o Sr. Kim a comprou há anos atrás, a mesma já estava sendo utilizada. Sabe se lá quantos anos essa coisa tem, deve ter feito parte da pré-história. 

— Se eu vim até o colégio com ela é porque funciona. — Falou como se fosse óbvio. — O único problema é que está com quase nada de gasolina, só a usei hoje porque estava atrasada e você não me esperou. Mas é o suficiente.

— Para mim parece mais uma lata velha.

— Você é tão linda calada — cantarolou.

Olhei ao redor haviam algumas pessoas saindo com seus respectivos veículos, mas uma em especial me chamou atenção. Im Jaebum. O garoto era rico, rico e popular. Seu topete estava impecável como sempre, o mesmo se encontrava escorado na porta de seu carro vermelho importado, aparentemente esperando alguém. Quem seria? Jennie Kim, sua namorada. Alguns diziam que ele tinha a vida perfeita, é o capitão do time de futebol americano, tem em suas mãos a garota mais cobiçada e nasceu em berço de ouro. Resumidamente, o cara é um baita de um sortudo.

— Olha lá, o “Playboyzinho” — Jisoo bufou, apesar de não o conhecer, nunca gostou de Jaebum.

— Jennie está vindo. — Apontei para a patricinha, ela andava como se não quisesse tocar no chão. Me pergunto onde minha melhor amiga foi amarrar seu cavalo todos os dias.

Definitivamente eu não tinha nada contra a cheerleader, a achava linda — isso era inegável —, mas sua personalidade mimada não batia com a minha.

— Chaeyoung também.

Engoli em seco ao perceber a morena acompanhando Jennie, porém mais para trás, parecia entretida em seu celular. Automaticamente lembrei do que acontecera minutos atrás, sentia minhas bochechas ganharem vida de tão ardentes. As duas alcançaram o rapaz, que abriu um sorriso, depositando um breve selinho nos lábios da Kim. Logo lembrei da mais baixa ao meu lado.

— V-vamos logo unnie, não vai querer ver isso novamente. — Baguncei seus cabelos, tentando aliviar o clima.

— Tudo bem.

Suspirando, Jisoo pegou a chave do carro no bolso, entrando nele logo em seguida. A imitei e sentei no banco de passageiro ao seu lado, afinal era o único que restava. Continuei encarando a garota de bochechas cheinhas pela janela até sairmos do local.

(...)

Rosé

— Vocês vão ficar de melação na minha frente mesmo? — Perguntei ao casal, visivelmente irritada. Nunca vi tanta frescura só para se despedir.

— Quando você tiver um namorado tão gostoso como eu, você irá entender. — Jaebum piscou para mim, dando outro beijo em Jennie. Revirei os olhos imediatamente.

— Vocês me dão nojo. — Forcei um falso vômito.

Após esperar muito, o riquinho rico finalmente entrou dentro de seu carro e foi embora, me fazendo agradecer mentalmente. Jaebum era irritante quando queria. Quase sempre para ser sincera.

— Nunca vou deixar de me surpreender sobre como sua casa é grande. — Falei ao adentrar a residência dos Kim, retirando as minhas sapatilhas e as deixando no tapete de boas-vindas.

— Engraçado, você vem aqui quase todo dia, Chaeyoung. — Jennie jogou sua mochila no sofá.

— Desculpa, o meu espírito de pobre fala mais alto. — Dei uma risadinha, subindo as escadas até o quarto da menor. — E eu já disse que não gosto de ser chamada assim, Nini.

— Nini? Sério? Esse apelido é tão antigo Rosie.

— É, eu sei. Inclusive onde está o urso Nini? Ele costumava ficar no centro de sua cama. — Perguntei, estranhando o sumiço do ursinho preferido da acastanhada.

— Ele está sujo, Kuma mijou em cima.

Kuma é seu Spitz Alemão amarronzado, ele é um tanto estranho e alegre demais, porém parece uma bolinha de pelos gostosa de acariciar, e muitas das vezes consegue ser bem lerdinho.

— E então? Ouviu o anúncio da festa de Halloween da Yerim? ‘Tá todo mundo comentando sobre isso. — Falou animada, Jennie é o tipo de pessoa que podemos chamar de social, sempre indo nas festas ou organizando elas.

— Confesso que não estou nada entusiasmada. — Desabafei, recebendo seu olhar surpreso.

— Vai mesmo perder de ver Hansol Vernon vestido de vampiro sexy? — Bateu no meu ombro.

— Eu não gosto do Vernon, já te disse isso. — Deitei de barriga para cima em sua cama, ela era gigante e confortável.

— Roseanne você não gosta de ninguém!

— De ninguém que você me empurra pra cima! — Corrigi sua frase.

— Eu só estou tentando te fazer desencalhar. Você não chegou nem a dar uma chance ao Hansol, ele gosta de você e é legal! Qual o problema?

— Não tem nenhum problema, eu apenas não sinto interesse nele, só isso. — Cobri meu rosto com um de seus travesseiros fofinhos e caros, Jennie me tirava do sério.

— É exatamente esse o problema, você nunca se interessa por ninguém. ‘Tô começando a desconfiar que você ainda gosta do Hanbin.

— Jennie! — Joguei o travesseiro na mesma — Nem pensar! Eu nunca nem gostei do Hanbin de verdade.

Kim Hanbin era um dos famosos ‘Descolados’. Mais precisamente quase meu ex-namorado, que por acaso quero esquecer até de que já tive contato com esse cara. Nos conhecemos em uma festa, que eu acabei ficando um pouco alterada após umas doses de álcool, aquela era a primeira vez que estava bebendo. Ambos bêbados, depois de uns amassos, transamos e ele pegou meu número. Ficamos de caso quando precisávamos um do outro, mas ele começou a ficar extremamente possessivo comigo e eu cortei os laços, odeio ser controlada, ainda mais por alguém que nem tem esse direito.

— Então por que não aceita minhas recomendações? Vamos combinar, qualquer garoto é melhor que Kim Hanbin.

— Porque eu não estou a fim de ninguém.

Jennie apenas aceitou o que eu disse, indo até seu closet e separando algumas roupas, iriamos sair mais tarde. Estava no tédio. Peguei meu celular, olhando minhas redes sociais, havia um pedido de amizade. Abri a aba e deixei um sorriso de canto escapar ao me dar conta de quem era. Lalisa Manoban pediu para ser minha amiga. Sem hesitar, o aceitei. Em sua foto de perfil, ela estava sorrindo enquanto fazia um V com seus dedos longos.

— A preta ou a outra preta? — A mais velha chamou minha atenção.

— Você só tem roupa preta não é? As duas são quase iguais, Jen.

— Apenas escolha.

— Eu prefiro a preta.

(...)

Jennie

— Unnie, já está pronta? — Se eu estivesse contando, acredito que essa seria pelo menos a décima terceira vez que Roseanne me perguntava a mesma coisa.

— Rosé eu já disse que estou terminando, tenha pelo menos um pouco de paciência.

— Mas eu já estou tendo paciência por mais de 40 minutos, madame Jennie.

— Tudo bem, tudo bem. Já estou pronta, apressadinha. É cedo ainda, a próxima sessão é somente às sete. — Esguichei o perfume sobre meu corpo algumas vezes.

— Só faltam 20 minutos para às sete. O que significa “cedo” para você?

— Significa que nós vamos de carro, com o motorista.

Peguei meu celular, o desbloqueando e discando o número do meu namorado, mas não cheguei a ligar pois Rosé me impediu:

— Você não vai chamar o Jaebum, vai? Pensei que seria só nós duas. — Parecia um pouco desapontada pelo tom de sua voz.

— Prefere que seja assim? — Perguntei, recebendo um sim feito com a cabeça. — Tudo bem então Rosie, vamos só nós duas.

— Não é que eu não goste do Jaebum, é que… bem de fato eu não gosto muito dele, mas eu sinto saudades de sair contigo sabe? Como uma dupla.

— Eu sei, eu também. — Sorri gentilmente e acariciei seu braço. — Vamos?

— Sim, sim, finalmente!

Depois de alguns minutos desde a partida, Sam Dong estacionou, avisando que já haviamos chegado ao Shopping. Me olhei na câmera frontal do celular, conferindo se meu batom não estava borrado até Roseanne se estressar e me puxar para fora.

— Vou gastar todo o meu dinheiro com pipoca e snacks. — Bateu as mãos algumas vezes, demonstrando animação.

— Às vezes você parece uma criança.

— Paga para mim então já que eu sou uma criança. — Respondeu aproveitadora.

— Eu não sou sua mãe.

— Depois a grossa sou eu.

— Afinal, que filme nós vamos assistir? — Questionei olhando as pessoas ao redor, apesar de não ser fim de semana estava movimentado o que dificultava bastante nossa passagem.

— Eu não sei, alguma animação?

— Isso não seria para crianças?

— E daí? É bom.

— Ok, você que escolhe hoje Park.

Depois de muitas dúvidas e discussões, Rosé finalmente decidiu o que iriamos assistir, um filme de um super-herói qualquer que eu nem mesmo sabia o nome e nem faço questão de saber, mas aparentemente a morena gosta, então me resta fazer um esforço.

Roseanne havia ido comprar as comidas — a parte pela qual ela mais ansiava, para Rosé um filme não é um filme se não tiver lanche — e eu fiquei minutos numa fila gigantesca para comprar os ingressos. Como era possível tanta gente assim gostar de filmes desse tipo? Me parece tão chato e maçante, são sempre as mesmas estórias!

Faltava pouco para a minha vez, mas o mundo estava contra mim. Em questão de segundos uma garota, uma certa garota, não conseguiu segurar tudo que havia comprado, e acabou derrubando refrigerante por toda a minha camiseta preferida. Eu refleti. Eu fechei meus olhos por alguns segundos, tentando mentalizar que aquilo não tinha acontecido, que era só a minha imaginação me pregando uma peça.

“Jennie-ah, está tudo bem, você não está suja de refrigerante e não tem uma garota na sua frente pedindo desculpas exageradamente.”

Mas o pior, estava realmente acontecendo.

— M-meu D-deus eu juro que eu n-não queria fazer isso, f-foi sem querer. — Tentava limpar o sujo com suas próprias mãos. — M-me desculpe mesmo eu-

— Tire suas mãos de mim. — Falei devagar e pausadamente, tudo que eu mais queria era que essa garota sumisse da minha frente agora mesmo!

— E-eu… e-eu não queria…

— Não me interessa! Nada do que você falar vai fazer minha camiseta de marca ficar limpa!

— J-Jennie eu p-posso tentar limpar-

— Não me toque novamente! Está avisada!

— M-mas-

— Lalisa, consegui comprar os ingressos! — Outra garota, dessa vez, de cabelos roxos e chamativos, que por acaso eu já conhecia, se aproximou.

— Vamos logo para a sal- Meu Deus, Lalisa Manoban o que você fez?!