História Surrogate Pregnancy - Bruno Mars - Capítulo Um

 A luz fraca do sol emanava pelas frestas das cortinas de tecido pesado que cobriam toda a extensão da enorme porta de vidro do meu quarto, dando passagem para as sombras fraquinhas dos raios solares pelo chão enquanto eu estava apenas ali deitada de bruços com um travesseiro no meio das pernas e refletindo sobre coisas sem muita importância. Hoje o dia previa muita chuva e frio, portanto decidi que não era aquela a hora certa para levantar da cama e ir trabalhar. O aconchego das cobertas grandes de algodão me faziam afundar em pensamentos e julgamentos sobre a minha própria vida. 

Hoje é o dia em que me inscreveria para ser gestante substituta em algumas clínicas necessárias, porque essa foi a maneira como nasci, foi assim que o sonho da minha mãe da maternidade se tornou tangível e eu via em seus olhos, mais especificamente o brilho que havia neles, toda vez que ela olhava para mim, por saber que todo o esforço e dedicação dela para ter um filho ou no caso dela, uma filha, não foram em vão e tendo isso como norte, gostaria muito que outra mulher, homem, quem quer que fosse, tivessem a mesma realização que minha mãe um dia teve. 

A história da minha mãe é complicada e emocionante. Ela desenvolveu câncer de útero aos dezenove anos, então se dependesse dos óvulos dela eu não pensaria em existir. Foi graças a uma outra mulher, doadora do útero e dos óvulos que a inseminação artificial ocorreu, minha mãe teve que me adotar no final das contas, mas isso é tão insignificante que nem parece que essa coisa toda aconteceu. Nossa conexão é inexplicável..

 Foi devido a tudo isso que decidi ser uma gestante substituta, como foram pra ela. Eu queria ver a mesma emoção e alegria que minha mãe teve quando soube que o sonho da maternidade poderia se concretizar graças à generosidade e altruísmo de outra mulher. E eu seria essa mulher, eu gostaria que a maternidade chegasse a mim em certo momento, mas não agora. 

Após um filme passar pela minha cabeça, decido que é hora de continuar. Minha empresa poderia ficar sem CEO por um dia. Agarro meu notebook na mesinha ao lado da cama e começo as incansáveis pesquisas sobre todas as clínicas do país. Eu não saberia quanto tempo demoraria até que meus quesitos fossem escolhidos. Mas esperaria o tempo que fosse necessário.

Preenchi o formulário de quatro clínicas de Los Angeles e esse agora seria o último. 

— Hum. — Murmurei. — Altura, idade, cor dos olhos, cor do cabelo… Escolaridade? Essa é nova. Profissão… — Eu resmungava enquanto ia preenchendo cada espaço daquele formulário digital. 

— Desculpa interromper senhorita Clarke… — Aly entra após bater na porta. — Mas, tem telefonema para a senhora. 

 Aly era minha assistente pessoal e praticamente vivia em minha casa. Eu adorava sua companhia. 

— Aly, por favor né, quantas vezes te disse para me chamar apenas de Gale? Eu odeio quando você me trata formalmente. — Peço novamente já me levantando da cama e caminhando em direção a ela para pegar o celular. — Alô? 

 Era Romeu, secretário da Clark. 

— Bom dia, chefe. Estou ligando para avisar que você tinha uma reunião agora às nove da manhã, porém a senhorita não compareceu. — Ele me diz e eu levo a mão na testa. 

 Eu havia esquecido completamente dessa reunião. Droga. 

— Merda. Bom, remarque-a. Remarque todas, eu não pretendo ir trabalhar hoje. 

 Eu era fundadora de uma empresa de compra e vendas de imóveis luxuosos. Não era a mais famosa de Los Angeles, mas me proporcionava uma vida de muito conforto. 

— Ok, farei isso. — Ele diz e sei que solta um sorriso do outro lado da chamada. 

— Obrigada, Romeu. — Agradeço e desligo o telefone. — Eu esqueci outra reunião. — Digo e Aly ri. 

— O que você quer para o café Gale? 

 Penso um pouco, aquela mulher não descansava nunca? Ela estava ali todos os dias, quase vinte e quatro horas por dia, e nem sequer reclamava. Minha vida era corrida demais para pensar nisso.  

— Aly, eu vou ficar em casa o dia inteiro hoje, tira o dia de folga pode ser? Eu me viro, prometo. — Sorrio e Aly retribui. 

— Muito obrigada.  

  Eu já havia terminado todas as inscrições e então decidi partir para fazer minhas higienes matinais e só daí preparar o café. Após o ritual, preparo alguma coisa muito gordurosa e vou até o sofá comer. Passei o dia inteiro assim, comendo, assistindo e pesquisando sobre a gestante substituta, os contras e os prós do processo da gestação. Os contras eram aquelas mesmas coisas de sempre, mudanças no corpo, alterações de humor, mas eu simplesmente não ligava. Eu queria fazer o sonho de uma mulher realidade. Queria fazer ela passar por uma experiência diferente sobre a gestação. Eu queria fazer aquilo e estava decidida.  

   Já a noite, eu me preparava para dormir, estava com o creme de frutas vermelhas em mãos pronta para espalhá-lo por toda minha pele, quando sinto meu celular vibrando na mesinha de centro do quarto. 

— Alô? 

— Boa noite, me chamo Junior, sou da Surrogate Pregnancy clínica especializada em gestação interina e gostaria de conversar com Gale Clark. 

— Sou eu mesma. — Eu estava com o coração pulando no peito, sabia que havia sido escolhida. 

— Senhorita Clarke, suas caraterísticas foram requisitadas e gostaríamos de dizer que a senhora precisa comparecer aqui na clínica, quarta-feira para conversar e conhecer os futuros pais. Posso contar com a senhorita? 

 Meu Deus. 

— C-claro que sim. — Digo sem acreditar. 

— Ótimo, esperamos você às dez horas da manhã.

 Eu não podia estar mais feliz do que estava agora. Em menos de um dia minhas características haviam sido selecionadas. Eu finalmente realizaria o sonho de alguém.