História Survivor: Quando dois corações batem juntos. - Capítulo 28

Não pensou que poderia ser tão longe. Podia vê-lo de onde estava, mas a cada passo que dava, a impressão que tinha era de quê o castelo ficava cada vez mais longe.

Ajustou a máscara em seu rosto. O frio cortante pelo menos não ressecava seus lábios e a pele de seu rosto.

Caminhou com um pouco de dificuldade depois que a nevasca começou. Usou um pedaço de pau como bengala, auxiliando na locomoção até a ponte de madeira que balançava bastante por causa do vento forte.

Aproximou-se e observou a situação da ponte. Presa por firmes cordas sustentava tábuas grossas de madeira pressas por grossos pregos. Entretanto, por causa da umidade, Kakashi podia ver que o ferro dos pregos estava quase esfarelando em algumas tábuas, as quais também algumas delas em certas partes estavam podres.

- Ufff- Suspirou em onomatopeia, extravasando o estresse de ainda estar tão longe do caminho.

Achegou-se ao começo da ponte onde deu seus primeiros passos em direção ao outro lado. Abaixo desse um rio congelado há pelo menos dez metros de altura acenava como se dissesse “Venha me visitar!”.

Velho demais para aventuras poupou seu cansado corpo da adrenalina, visou pisar em tábuas viçosas que não apresentassem riscos. Passo por passo, Kakashi se aproximou do centro. A ponte balançou e ele segurou firme nas cortas, fechou os olhos e esperou que se amenizasse. Abri-os quando ouviu tábuas se soltando mais a frente e se espatifando no grosso gelo metros á baixo. Lutando contra o vento forte e cortante, caminhou precavidamente sobre as peças de madeira. Uma delas se soltou sob seus pés, e Kakashi ficou pendurado por uma perna e braços, enquanto a outra perna balançava no ar onde outrora a tábua estava.

Voltou ao seu lugar, caminhou até o mais próximo que pode e saltou para a terra do outro lado, onde o chão era seguro.

- Vejamos...

Olhou ao redor. Uma imensidão branca se estendia até o horizonte. O castelo parecia mais perto antes... Voltou à caminhada, usando o galho como bengala, firmemente atravessou a nevasca. Seguindo o conselho dos residentes, não se afastou da trilha, que agora Kakashi reconhecia somente por que beirava as arvores cobertas de neve.

Sentindo saudades da ensolarada Konohagakure, caminhou apreciando o que se era possível ver através da neve. Pouco a frente, pressionando os olhos em fendas, pode ver o que parecia ser um amontoado de pano andando de forma estranha, vindo em sua direção.

Continuou, curioso e ainda observando quem vinha até ele, não soube distinguir se tratava-se de uma mulher ou homem, mas ao se aproximar viu os cabelos negros e compridos saindo da vestimenta pesada de muito tecido colorido e o enorme chapéu, muito parecido com o seu.

Ao se aproximar da mulher, viu que a mesma estava com as mãos na barriga e caminhava com dificuldade. Seus olhares se encontraram e viu que seu supercílio estava aberto e sangrava muito, manchando a neve por onde passava. A gola de sua blusa de lã estava manchada de vermelho vivo, e o cheiro de ferro empesteou as narinas de Kakashi.

Ao passar por ela a mulher desmaiou, caindo sobre ele. Kakashi a segurou pela cintura e seu corpo caiu para trás, pendendo em seus braços. O chapéu da moça caiu, revelando ser de um belíssimo rosto simétrico e anguloso, seus lábios usavam batom de cor tão viva que se sobressaia sobre a pele pálida e o cabelo incrivelmente brilhante.

Ele a observou por uma fração de segundos, até que a mulher retomou a compostura, erguendo o tronco até o seu nível e o agarrando pelo rosto, beijando-o vorazmente.

Sem saber o que fazer, Kakashi retribuiu o beijo. Como a muito tempo não tinha contato com mulher, rapidamente seu sangue ferveu, ficando tão quente que seria possível derreter as geleiras do País da Neve em segundos.

A medida que o beijo ia ficando mais quente e a mente de Kakashi mais maliciosa, o peso sob suas mãos era mais leve, como se a moça fosse perdendo peso a medida que os segundos se passavam. Fora assim, num beijo faminto que aos poucos a mulher fora desaparecendo, até que Kakashi abriu os olhos, e nem mesmo as roupas da mulher estavam ali. Olhou ao redor a procura da mulher de lábios vermelhos e cheia de feridas, mas nada dela, nem sinal até mesmo do rastro de sangue que havia deixado.

- Devo estar ficando maluco...- Pensou em voz alta.

Confuso, continuou andando, tentando entender o que havia acontecido.

Poderia estar ainda sob o efeito do chá de Xemerite, ou poderia estar realmente alucinando por causa do frio intenso sobre sua cabeça. Preferia a primeira opção, uma vez que era impossível se livrar do frio de fazer trincar os ossos.

Ignorando o episódio mas mordendo os lábios, Kakashi continuou seu trajeto até o castelo. Cerca de dez minutos se passaram, e a mulher voltou a aparecer. Vestindo as mesmas roupas mas sem o chapéu, lá estava ela, metros a frente, caminhando sem rumo com seus longos e belos cabelos ao vento. Virou lentamente o rosto e acenou, virando-se para as arvores e adentrando a floresta de pinheiros.

Indeciso, poderia continuar seu caminho até o castelo do Conde Drácula ou poderia seguir a moça e tentar entender o que estava acontecendo. Queria entender o porquê de uma mulher tão bonita estar tão machucada e andando desacompanhada por ai. Queria entender também o beijo e por que- E como- sumira tão de repente, sem nem mesmo se apresentar.

Seguindo seus instintos Shinobi, Kakashi preferiu ignora-la.Estava numa missão nível A super secreta e não poderia ser deixado levar por beijos ardentes de uma mulher qualquer.

Entretanto, mesmo ignorando seus acenos, não tirou seus olhos negros da bela figura de batom vermelho. De dentro da mata, assim que Kakashi a alcançou, viu uma figura loira mais a frente. Poderia muito bem ser Naruto, mas havia algo errado. Seu olhar estava diferente, nenhum pouco leve e brincalhão como do Nanadaime da folha. Mesmo assim as semelhanças eram gritantes. A mulher caminhou até Naruto, que lhe estendeu a mão e começaram a se distanciar.

- Naruto??- Indagou Kakashi, começando a correr até eles.

Jogou sua bengala improvisada para o lado, seus pés tentavam se manter firmes na neve fofa. Sua respiração passou de ofegante para desesperadamente pesada. Com dificuldade de se movimentar, agradeceu a Deus quando alcançou a floresta, pouco menos nevada do que o campo aberto onde antes estava seguindo a trilha. A mulher e Naruto caminharam sem preocupação alguma para mais longe de Kakashi.

- Naruto!!!- Gritou Kakashi.

- Uzumaki Naruto!!!- Gritou novamente, sendo repetido pelo eco da floresta.

Sem perceber quando as arvores ficaram escassas, atingiu parte da floresta onde um grande declínio formava um buraco enorme, dividindo a floresta em dois. Lá em baixo do precipício passava o rio congelado de antes. A mulher de cabelos negros e Naruto se aproximaram da borda. Kakashi chegara a tempo somente de ver a capa de Naruto esvoaçando precipício a baixo, enquanto a mulher vestida de lã manchada assistia. Não sabia se fora empurrado ou pulou, mas algo estava errado. A mulher se virou para ele, a mulher mais linda que vira em toda a sua vida. A mancha de sangue estava secando e agora que estava de pé em sua frente podia ver que usava um sobretudo de lã esverdeada. A mulher se aproximou de Kakashi, lentamente vinha em sua direção passando os dedos de forma brincalhona nos botões, e um por um foi os soltando, até que os abrissem por completo, deixando o sobretudo de lã cair aos seus pés, ficando completamente nua.

Mais uma vez sem reação, Kakashi não sabia mais como mover os pés.

Parte dele queria sair correndo e procurar por Naruto, a outra parte desejava tocar na mulher, que agora sorria enquanto via os olhos de Kakashi percorrem todas as suas curvas.

- Gosta?- Perguntou ela numa voz melodiosa.

Queria responder que sim, mas nem mesmo sua voz saía da boca.

Aproximou-se de Kakashi até que seus narizes se encostassem. Levou suas mãos frias até seu corpo quente e deixou que ele a tocasse. Aos poucos a compostura de Shinobi se perdia ao contato com a pele lisa e quente da mulher, que o beijou com a mesma fome de antes.

Sem se importar com os acontecimentos estranhos, Kakashi correspondeu a todos os estímulos da mulher, que ousadamente também o acariciava, colocando uma das mãos por dentro de sua calça, e com a outra segurava sua nuca, sustentando o beijo.

Aos poucos os joelhos de Kakashi iam perdendo as forças, sua cabeça tombou para trás, onde a mulher beijava seu pescoço e a mão dentro de sua calça faziam movimentos ousados e firmes, mesmo dentro do pequeno espaço da sua calça de cotton grosso.

Sua boca abriu-se levemente, a mulher mordiscava a pele fina do pescoço do Sexto Hohake da Folha, que continha as expressões faciais e a voz falha que ameaçava sair por sua garganta.

Sua mente viajou, tentando encontrar algum lugar mais adequado para terminarem o que haviam começado. Já não importava mais quem era aquela mulher e de onde vinha, tudo o que queria era retribuir da mesma forma com que ela estava fazendo.

Vorazmente lançou-se novamente para os lábios vermelhos da moça, beijou-a com vontade enquanto acariciava os músculos adutores de dentro de suas pernas. As mãos da moça ainda o tocavam daquela maneira, de forma que há anos Kakashi não sabia como era. Até que a mesma sensação de leveza voltou a aparecer. Abriu os olhos rapidamente e viu, a mulher que estava beijando desfazia-se em corvos negros que voavam para todos os lados, até que nem mesmo a roupa ficasse no lugar.

- Genjutsu- Praguejou ele- Kai!- tentou quebrar o jutsu, mas nada acontecera.

Envergonhado, ajustou a calça e limpou os lábios no dorso da manga. Recolocou seu chapéu e se aproximou da beira do precipício onde vira Naruto cair. Não havia nada lá embaixo, nenhum sinal de que alguém tenha caído sobre o gelo.

Algo muito estranho estava acontecendo naquele lugar.

Retornou a floresta, pensativo sobre tudo o que acontecera. Tivera alguém que praticamente fizera sexo com ele, mas na verdade essa mulher era inexistente. Vira Naruto se jogar- ou ser jogado- de um precipício, mas na realidade não havia Naruto algum. Também não se tratava de genjutsu, pois teria percebido de imediato, e quando tentara quebrar, teria sido desfeito. Porém, mesmo que ainda estivesse sob os efeitos da droga alucinógena, as sensações não seriam tão reais. Até onde vira, o Xemerite de faz alucinar em proporções realísticas mas não tão verídicas, como vivenciar momentos do passado, como estar na década de setenta, ver seus bisavós sem nunca ter os conhecido. Sabia que podia ser real, mas não era a realidade. Ao contrário do que vivera aqui, ao sentir a mulher, sabia que se ratava de um verdadeiro corpo humano, o que o fez pensar que não estava louco, mas que havia encontrado uma Shinobi muito linda e com muito chakra por ai.

- Onde quer que você esteja, apareça!- Gritou ele par ao nada.

Tentou mais uma vez, mas nada da mulher aparecer. Olhou para os lados, mas a mulher desaparecera por completo.

Andara silenciosamente e sem interrupções por muito tempo. Já podia ver o castelo muito próximo. Agora só precisava pegar a estrada íngreme até o vale entre as montanhas em sua frente e logo estaria lá. Olhou para o céu, não podia ver o sol mas sabia que estava começando a escurecer. Caminhara mais alguns metros a frente, até que gritos chegaram aos seus ouvidos. Os gritos eram de voz masculina, vindos de algum lugar a sua direita.

Kakashi procurou pelo dono da voz, até que o encontrou. O homem vestia-se de modo engraçado, seu cabelo negro escapava sob a peruca branca como a dos ricos e nobres de séculos atrás, vestia um terno azul escuro de veludo com abotoaduras de ouro refinado com pedras grandes e gordas.

- Yoosh, ajude-me! Eis que me perco, retrocedi-me ao caminho em devaneio!- Berrou o homem.

Kakashi se aproximou do homem, que apontou para o castelo- A casa de meu pai fora atacada, ajude-me!

- A casa de seu pai?- indagou Kakashi- Kyuudame tem filhos homens?

- Ajude-me a encontrar minha irmã caçula! Está desaparecida!

- Como é sua irmã caçula? – Quis saber Kakashi, para que pudesse ajudar.

- A última vez que meus olhos puseram-se em sua pessoa, estivera vestindo-se de formosas roupas esverdeadas e da mais pura lã. Seus belos olhos negros são da mesma cor que as madeixas de sua cabeça, e sua pele é branca como a mais límpida neve. Esta é minha irmã Izumi!- Choramingou o homem- Ajude-me! Eis que me ei de recompensá-lo!

Os olhos de kakashi se arregalaram conforme as peças iam se encaixando. Seus olhos foram do homem em sua frente que parecia muito inadequado para o momento e lugar, e novamente para o castelo.

- Quantos anos tem sua irmã?- Preocupado, quis saber.

- Dezenove primaveras- Respondeu o homem.

Com as pernas bambas, kakashi teve medo de ter se relacionado com uma das filhas de Kyuudame sem perceber. Até onde sabia as filhas do líder da Neve eram loiras e mais velhas, nunca teve o conhecimento de um homem e outra garota, além das famosas Mamy e Saya.

- Você disse invasão, por acaso o castelo fora...- Interrompeu sua pergunta ao trazer sua atenção novamente ao homem que estava em sua frente segundos atrás. Olhou novamente e ninguém estava ali. Olhou para o castelo, curioso e começando a ficar assustado.

Aproximou-se do começo da estrada e seguiu, por minutos em silencio tentou não pensar muito no que acontecera. Fez um jutsu para entrar, passando pelos guardas e chegando na parte de trás do castelo, onde teria que passar por um jardim florido cheio de arvores.

Adentrou o agradável lugar, observou as flores resistentes ao gelo e admirou as torres do castelo, que agora de perto era adoravelmente medonho.

Costurou por entre as arvores até que começaram a ser raras. Kakashi logo percebeu que estava num cemitério, e que não deveria ter passado por ali.

Seguindo a trilha por meio as túmulos dos quais evitava olhar, metros a sua frente encontrara novamente a mulher de antes. As mesmas vestes esverdeadas e o cabelo negro, na altura de seus glúteos. Kakashi sabia que era ela, uma das filhas de Kyuudame, irmã do homem esquisito e que o palácio estava a procurando.

- Oi- Disse sem graça- Desculpe por antes- Disse, desejando ser um avestruz.

A moça não se virou, estava de frente para um túmulo de pedra igual aos outros. Kakashi tentou tocar seu ombro, mas antes que ele o fizesse, ela apontou para a esquerda, para além dos túmulos dos antepassados reais do País da Neve. Ele seguiu a direção apontada e viu, balançando em uma das torres, uma mulher de cabelos negros e compridos, vestida com um sobretudo verde e manchado com muito sangue. Pendurada pelo pescoço, Izumi fora enforcada pelos invasores em sua própria casa.

Sem reação Kakashi vacilou para trás. A mulher estava a segundos em sua frente, agora balançava com o vento, morta na torre mais alta do castelo.

Caiu sentado, ainda observando o vai e vem do corpo juvenil da mulher. Ao olhar para a lápide, uma garota aventureira e sorridente para a foto: Olhos e cabelos negros, lisos e compridos, como quando Kakashi a vira pela primeira vez. Sem cortes ou sangue em seu rosto, somente um lindo sorriso desfeito por uma morte cruel e precoce. A lápide dizia: “Izumi, forte e valente. Doce e gentil. Jamais esqueceremos de sua contribuição para a construção de tudo o que somos hoje, e a marca eterna que deixou em nossos corações. Seu espírito vive entre nós.

- E-espirito?- Tenso, pensou com seu botões. Coisas estranhas estavam acontecendo, mas não seria o caso de Kakashi ter conhecido o espírito desta mulher do tumulo e seu irmão. Procurou pelas lapides ao redor, vira muitos nomes bonitos e outros engraçados, mas nenhum rosto conhecido nas fotos, até que então encontrara, o homem que outrora pedira sua ajuda para encontrar a irmã. Ali estava ele. Atsushi, filho do Terceiro Rei na Monarquia, como dizia sua lápide “Príncipe herdeiro do reino, cruelmente assassinado em frente a sua irmã Azumi, cujo espírito mesmo depois de morto ainda protege sua nação”.

Kakashi engoliu em seco- Bobagem- Tentou se convencer.

Ajustou suas vestes no corpo e caminhou em direção ao portão do cemitério. Dali podia ver uma das princesas em sua janela, esta observava Kakashi em expressão, então deixou seu lugar na janela e desapareceu. Por um momento se esquecera de que estava disfarçado e por baixo de um genjutsu poderoso. Talvez, com muita sorte a princesa não tinha o visto, mas como fosse, já estava dentro do covil dos lobos.

Esgueirou-se ligeiramente para as costas da primeira árvore que vira no jardim, caminhou entre arbustos e saltou sobre um banco de cimento antes de chegar até a porta de vitrais coloridos. Olhou para dentro do ambiente, estava de frente para um dos níveis da escada principal. Via subindo pelas escadas um homem ruivo de barba e uma garotinha de Maria chiquinhas ruivas, muito parecia com o homem, ambos guiados por uma mulher uniformizada.

Esperou que passassem para abrir a porta, mas quando o fez, percebeu que a porta estava fechada. Levantou os olhos para a parte de trás do castelo, acima de sua cabeça, e a única janela que vira aberta era onde a princesa estivera.

Kakashi queria evitar conflito direto ou qualquer problema desnecessário. Estava se sentindo mal pelo envolvimento com a mulher na floresta, mesmo que fosse um fantasma, sentiu-se o mais idiota dos Shinobis, como se não levasse seu trabalho á sério. Haviam pessoas que diziam que desde que perdera o sharingan, Kakashi havia perdido sua glória, e queria provar que estavam equivocados. Não permitiria mais atrasos do que necessário e coisas que tirassem sua atenção para o que realmente deveria ser feito. Com chakra nos pés, escalou a parede de pedra até o aposento mais próximo, observou o lugar antes de entrar, certificando-se que o mesmo estava vazio.

Entrou. O quarto era amplo e luxuoso, da forma que Kakashi jamais vira. Havia um grande espelho no canto esquerdo do quarto que ocupava a parede quase que inteira. Ao lado do grande espelho, uma ampla passagem para um closet repleto de roupas e na parede de frente uma penteadeira com mais um espelho maior do que o normal, muitos perfumes e cremes, maquiagens e todos os acessórios que as mulheres usavam e Kakashi não fazia ideia de que existiam.

Tropeçou em um sapato ao caminhar em direção a cama King Size com uma bela cabeceira clássica com desenhos de anjos esculpidos na madeira clara,o dossel possuía cortinas com um tecido fino e transparente, muito convidativa. Olhar tempo demais para ela deixava-o com sono. A roupa de cama era de um azul Royal vivo, com desenhos dourados em fios mais dourados do que o próprio ouro.

Desvencilhando-se do pequeno sapato feminino, ligeiramente esgueirou-se até a porta, onde pela fechadura espiou o corredor de madeira escura e as paredes de pedra, como todo o resto do castelo. De frente para a porta do quarto, a pintura de um homem familiar observava Kakashi: O mesmo homem esquisito de antes, vestido como se no século dezessete, uma peruca branca de rolinhos e cachos, uma roupa de veludo azul e ombreiras bufantes e douradas.

- Atsushi...- Sussurrou  Kakashi para o além.

Abriu a porta delicadamente sem emitir som algum. Rolou para o corredor e rapidamente escondeu-se atrás das cortinas das grandes janelas de vitrais, iguais aos da porta. Mais uma vez certificou-se de que estava sozinho, então, usando seu genjutsu saiu, pronto para mais uma desculpa esfarrapada.

Caminhou em silencio por entre os quadros, passou pelo retrato estranhamente mais bonito do que a realidade do atual rei do País da Neve. Suas filhas foram pintadas uma de cada lado, cada qual em seu próprio retrado,estando o pai entre elas na parede. Uma delas vestia um vestido vermelho e seus cabelos quase brancos faziam contraste com as roupas elegantes. A outra vestia azul Royal, como o da cama, seus cabelos também caiam sobre o colo e abaixo do peito, chamando a atenção para o contraste das cores vivas que foram pintadas.

Seus leves sorrisos não falavam muito sobre quem eram. Especialmente por que todas as pinturas foram feitas da mesma forma. Kakashi se lembrara de quando seu rosto fora esculpido no monte Hokage ou quando sua face estampou um quadro pintado à mão no corredor do escritório do Hokake, que Naruto acabou trazendo todas as pinturas para seu gabinete. 

Os olhos das mulheres de pelo menos vinte e cinco anos eram leves, mas não felizes. Parecia que o brilho havia sido roubado em algum momento de suas breves vidas. Ao olhar a pintura do homem vestido como rei, Kakashi indagou a hipótese deste ser o culpado pela infelicidade das filhas.

- Hmmm – sibilou num burbúrio ziziado, numa inteligível onomatopeia.

Por cima do ombro, checou se continuava eremítico.

Retirou-se da devaneia contemplação das pituras, não tinha tempo a perder para retratos de pessoas vivas. EM seu silencioso estudo sobre o ambiente, escutou conversas vindas de um cômodo próximo. Eram vozes de mulheres e pareciam animadas. Não conseguiu distinguir ao certo o assunto sobre o que falavam, mas estava curioso. Precisava encontrar Naruto.

Aproximou-se. Sorrateiro, rapidamente escorregou para o vão da porta e olhou entre os vão das dobradiças. Viu dois vestidos esvoaçantes, um verde esmeralda, vivo e brilhante, e outro tom mostarda, fechado mas luxuoso. Cabelos loiros como palha caiam em camadas pelas costas, as mulheres idênticas andavam de um lado para o outro, uma delas sentou-se e observou a outra continuar sua caminhada pelo cômodo. Não pareciam nervosas, e conversavam sobre assuntos sem importância.

- Acredito que ele ainda goste de mim. Por quê não gostaria?- Perguntou uma delas.

- Por quê você tem bafo,é arrogante e mimada- Respondeu a outra, de forma que kakashi não sabia se estava brincando ou falando sério.

- Não sou arrogante- Respondeu- Talvez as vezes eu me ache um pouco, mas fala sério, por quê não me acharia?

- Não vamos entrar em detalhes, o que importa é que eu realmente acredito que o príncipe herdeiro da província de Shinimon continue interessado em você.

- Você acha mesmo?- perguntou a de vestido azul, radiante.

Kakashi revirou os olhos. Papo de mulheres jovens.

Como não havia encontrado Naruto e percebera que as princesas não estavam falando nada de interessante,achou que já era hora de investigar em outro lugar. Mas antes que se levantasse escutou algo que lhe era relevante.

- Acha que o Nanadaime está melhor, Mamy-chan?- Perguntou a outra, provavelmente Saya. A que vestia o vestido azul.

- Espero que sim, desde que teve intoxicação alimentar precisou ficar conosco. Nem para comunicar Konoha teve forças... Espero que esteja melhor. Se quiser, podemos vê-lo.

- Seria bom, prestar nossa solidariedade.

“Intoxicação alimentar” pensou Kakashi.

Mesmo que realmente houvesse acontecido, por que Naruto não comunicou os agentes de Konoha, e por que os homens que lhe acompanharam não fizeram nada? Tendo agora algumas informações, esperou que elas terminassem de falar tudo o que era devido, e antes que a porta se abrisse por completo, pendurou-se no espaço entre a porta e o teto usando chrakra, torcendo para que elas não o vissem.

As princesas passaram, poderosas e graciosas, conversavam entre elas com risadas e brincadeiras, subiram mais um lance de escadas, as quais Kakashi observara e as seguira sem ser notado, com uma grande distância de segurança. O seguinte andar do castelo era idêntico ao outro. A mesma decoração antiga, mesmos lustres e vidrais, pinturas de pessoas já mortas, esculturas, cortinas pesadas, elmos, cabeças de animais empalhados como alces, cervos e castores, também haviam armaduras completas e elmos em praticamente todos os corredores.

As princesas andavam e conversavam e não pareciam ter notado que estavam sendo seguidas.

Uma ideia de desconfiança de repente surgiu na mente de Kakashi. Estava tudo fácil demais. Entrara facilmente e não fora notado, as princesas estavam o levando exatamente para onde estava procurando e até agora nenhum real desafio surgira. Seus anos de prática ensinaram Kakashi a desconfiar de tudo o que fosse fácil demais.

Enquanto matutava a ideia em sua mente, as princesas pararam de repente de frente para uma das grandes portas duplas padrões de todos os quartos. Bateram antes de entrar, primeiro Mamy seguida de Saya, onde cumprimentaram Naruto que não podia ser visto de onde o sexto hokage estava, mas ouvira as princesas o saudando.

Elas fecharam a porta assim que entraram, sem olhar para trás. Kakashi estava sozinho no corredor silencioso, e o buraco da fechadura estava de frente para a enorme cama rodeada de travesseiros e almofadas. O grande dossel estava aberto, mas não podia ver Naruto por completo, apenas parte de suas pernas.

- Como está se sentindo, Nanadaime?- Perguntou uma delas.

- Sua cabeça ainda dói?- Perguntou a outra- E seu estômago?

- Me sinto melhor, porém bastante preocupado. Não avisei meu assessor nem minha família sobre meu sumiço, devem estar preocupados.

- Infelizmente com a nevasca não é possível enviar cartas, e como sabe, não temos aquelas coisas modernas que vocês tem para se comunicar, Nanadaime-sama.

- Está tudo bem- Respondeu Naruto- O importante é que me sinto melhor. Talvez eu possa voltar para casa hoje mesmo.

- Tem certeza?

- Absoluta.

A conversa continuou, mas Kakashi ouvira passos vindos do outro lado do corredor, aproximando-se dele. Preferiu perder o restante da conversa, uma vez que Naruto parecia bem, do que ser descoberto. Mesmo disfarçado, seria indagado por todos os lados e até mesmo expulso do castelo.

Entrou no quarto a frente, silencioso e aparentemente desocupado, observou pelo buraco da fechadura a mulher uniformizada de antes e o homem ruivo e a criança. Pararam de frente para a porta onde Naruto se encontravam, a mulher bateu e falou algumas coisas antes de abrir, provavelmente as vozes de dentro estavam a respondendo. Abriu-se uma pequena brecha, por onde uma das mulheres loiras colocou a cabeça para lhe falar. Kakashi viu que o homem ruivo fez selos nas costas, e instantaneamente a feição desconfiada e confusa da princesa mudou, agora concordava com a mulher, e deixou que entrassem.

- Ninjas- Sussurrou Kakashi.

- Tive a mesma impressão que o senhor- Respondeu uma voz atrás dele.

Kakashi s virou e contemplou a pintura em suas costas. Olhos gentis e inteligentes, vestes vermelhas como fogo e longos cabelos negros que caiam por seu decote.