Eu já estava cansadinho de tentar ser um irmão mais velho legal para o KyungSoo. Ele nunca falava comigo quando eu falava com ele, e eu sei que ele fala, porque eu já ouvi ele falando com a mamãe e com o papai. Ele nunca quer brincar, e qual a graça de ter um irmão e dormir no mesmo quarto que ele se ele nunca quer brincar comigo?! Ele vive grudado na mamãe ou sozinho. E é assim faz tempo, viu?! Desde que ele chegou ele fica assim comigo. Aish...
Esse não é o irmão que eu queria!
—O que foi filho? ‘Ta quietinho ai no piano por que? —Mamãe passou a mão nos meus cabelos. Eu gosto. Mas eu estava muito chateado ‘pra sorrir por isso.
—Nada, eu só não quero brincar... —Tudo bem. Eu estava com um biquinho, mas e daí? Mamãe acha fofo. E aquela tecla que eu ‘tava apertando estava muito mais legal.
—Ah, que isso?! Brinca um pouco com o Soo. —Ela sorriu. Ela não sabe de nada. —Ele ‘ta brincando sozinho lá no quarto. —Agora ela ‘ta acariciando minha costas. Você não me compra, mulher.
—Não quero. —Eu estava muito chateado, ‘ta?! Não é fácil assim.
—Por favor. Cuida dele para a Omma. —Ela me abraçou de lado. —A Omma precisa saber que os dois meninos dela estão felizes e brincando para ela terminar de fazer pudim para a sobremesa do jantar. —Essa mamãe... Ai, ai, viu?! Sabe mesmo me convencer. Tudo bem. Você venceu dessa vez Omma, mas nos encontraremos em outra batalha.
—Tudo bem. —Sorri fraquinho, me preparando ‘pra mais uma tarde triste ao lado do meu irmãozinho.
—Obrigada, bebê.
—Não sou bebê, Omma. —Fiquei mais emburradinho depois de ser chamado de bebê e ainda receber um tapa no meu bumbum enquanto subia a escada. Não acredito nisso...
Eu entrei no quarto e estava meio escuro. As cortinas estavam fechadas. Eu podia jurar de mindinho que quando a mamãe foi me acordar hoje ela tinha deixado as cortinas abertas, mas talvez ela tenha fechado de novo, não sei... Resolvi abrir, porque mamãe sempre fala que o quarto precisa de luz do Sol. E agora ‘ta de dia, e tem Sol, e Sol tem a luz que o quarto precisa, ne?!
Eu juro pra vocês que sou um menino forte e como toda a minha comida, mas eu não estava conseguindo abrir as cortinas. E olha que eu puxei, ein?! Estava muito difícil, então resolvi que ia acender só a luz mesmo, mas no meio do caminho de volta ‘pra porta vi o KyungSoo no tapete brincando de Lego, o que me assustou um pouco, porque eu não vi ele ali quando entrei no quarto ‘pra abrir as cortinas. Mas ele parecia tão fofo ali, tentando encaixar as pecinhas. Ele esta sendo um chato, mas ainda é fofo. Fui até o negocinho que acende e apaga a luz, sabe?! O interrompe-alguma-coisa. Mas a luz não queria ligar. Que estranho... Hoje a luz estava funcionando bem.
—OMMA, A LUZ DO QUARTO NÃO QUER ACENDER. —Gritei da porta.
—DEPOIS EU TROCO.
—‘TA.
—E PARA DE GRITAR, CHANYEOL. EU NÃO SOU SURDA. —Mas ela também ‘tava gritando...
Deixei assim mesmo. Tinha luz vindo do corredor e o quarto nem ‘tava escurão, sabe?! Então sentei no tapete perto do KyungSoo e fiquei brincando com uma pecinha que tinha ali. Não queria brincar com ele agora, eu sabia que ele não ia falar comigo, ou ia virar as costas e continuar brincando sozinho. Ai, ai... Mas já que ele não iria brincar comigo, comecei a montar meu castelo sozinho mesmo. Era chato aquele silêncio e eu já estava ficando tristinho. Quis olha ‘pra ver o que KyungSoo estava montando, mas ele não estava brincando com os Legos e sim com os blocos de letras que papai tinha dado de presente. Claro que ele não ia formar palavrinhas, porque ele não sabe ler ainda. É muito novinho. Eu cheguei mais pertinho dele e fiquei olhando ele juntar os blocos. E sem querer ele conseguiu montar uma palavrinha. Waah! KyungSoo mesmo com dois anos é inteligente.
—Waah! Você conseguiu montar a palavra ‘Dia'. Como fez isso?—Me ajoelhei e coloquei minhas mãos nas minhas coxas. Eu sabia que ele não ia me responder, mas quando eu vi já tinha falado. —Waah! Acho que é outra palavra aqui. Você que montou? Esta escrito, S... A... Sá. Sac... O que? —Era uma palavra difícil. Mas quando tem um só ‘R' no meio, como é que falava mesmo? Hum... AH, É! —Sácri. Sacrifi... Sacrifíci... O. —Finalmente. Viu?! Eu disse que sabia ler. —Sacrifício... Será que é uma palavra? —Olhei para o KyungSoo, que nem olhar na minha cara ele olhava. Isso me irritou um pouquinho. —YAH! FALA COMIGO! EU TO FALANDO COM VOCÊ.
Eu fiquei muito bravo. Eu ‘tava falando sozinho de novo. Eu estava com muita raiva do KyungSoo. Eu levantei e bati meu pé no chão, eu acabei assustando ele um pouco, só que ao invés de chorar, ele olhou ‘pra mim por uns segundos, mas voltou a brincar sozinho com aqueles blocos idiotas. Aish! Eu não queria chorar. Era só minha garganta que ‘tava doendo e meus olhos que tem muita água, porque são grandes, ta?! Eu não ‘tava chorando. Não tava...
—VOCÊ É O PIOR IRMÃO MAIS NOVO DO MUNDO. NÃO QUERO MAIS VOCÊ AQUI. EU VOU TE DEVOLVER, SEU CHATO! —Meu nariz ‘tava escorrendo. Ta! Eu ‘tava chorando, sim. Mas era só porque fiquei muito tristinho com o KyungSoo.
KyungSoo parou de brincar e ficou me olhando limpar meu rosto com a gola da blusa. Mamãe não gostava que eu fizesse isso, mas era a única coisa que tinha pra limpar meu rosto, ué. E KyungSoo não parava de me olhar, e do nada a porta do quarto fechou, deixando ele um pouco mais escuro. Eu não gostei disso. Não gostei nem um pouco. Fui até a porta pra abrir, MAS ELA NÃO TAVA ABRINDO. Eu tentei puxar, empurrar, fazer tudo, mas ela não abria de jeito nenhum.
—Abre isso, agora! —Eu não sei quem fechou, mas eu falei mesmo assim. —OMMA! OMMA! —Eu bati na porta com toda minha força. Eu não queria ficar ali. Eu ‘tava ficando assustado, já. Mas eu não tenho medo, ta?! Foi só um sustinho.
Quando eu virei de novo, KyungSoo ‘tava de pé, ainda me olhando. Parecia ainda mais escuro ao redor dele e eu não quis olhar por muito tempo. Eu estava encostado na porta quando ela abriu de repente, me empurrando um pouco. Era mamãe que tinha aberto.
—ChanYeol, que gritaria é essa? —Ela parecia brava, mas eu estava mais bravo ainda. —Por que esse quarto todo fechado?
—EU NÃO QUERO MAIS O KYUNGSOO COMO IRMÃO. NÃO QUERO. —Aish! Eu não parava de chorar.
—ChanYeol!
—ELE NUNCA BRINCA COMIGO, NUNCA FALAVA COMIGO. SÓ ME IGNORA E FICA ME OLHANDO ESTRANHO. —Eu apontei ‘pra ele que continuava em pé só que agora ele olhava curioso só. —BAEK TINHA RAZÃO. É HORRÍVEL TER UM IRMÃO. ME DÁ UM COELHO, QUE É BEM MELHOR.
—ChanYeol, para de gritar, agora! —Ela pôs a mão na cintura, mas parecia surpresa.
—NÃO. OS PAIS DELES NÃO QUIS ELE PORQUE ELE É UM CHATO. —Eu virei e olhei pra ele com raiva. —VOCÊ NÃO É MEU IRMÃO. EU NÃO QUERO MAIS VOCÊ AQUI.
—PARK CHANYEOL!
Eu ‘tava muito bravo e triste, mas eu me arrependi do que eu falei rapidinho. Eu juro. Eu fiz KyungSoo chorar. Ele ‘tava chorando. Mamãe correu pra pegar ele no colo e tentar fazer ele parar de chorar, mas ele não parava. Ele parecia triste e eu me senti muito culpado. Eu não queria falar aquilo, eu só tava com raiva. Eu... Agora eu não sabia o que fazer. Mamãe olhou brava pra mim e KyungSoo chorava muito com o rostinho vermelho e molhado escondido no pescoço da mamãe. O que piorou tudo foi a chuva horrível cheia de raios e trovões que começou do nada. A tia do tempo, nem avisou que ia chover e estava um Solzão...
—O-Omma...
—Não quero ouvir. Quando seu pai chegar, vamos conversar. —Ela foi abrir as cortinas e conseguiu, depois passou direto e foi para o quarto dela e do papai, com uma cara muito brava.
Eu não queria dizer aquilo. Quer dizer... Não sei. Mas agora eu só queria chorar na minha cama, debaixo da minha coberta do homem de ferro.
[★]
—Eu não entendo, ChanYeol. Você queria tanto um irmão... Por que falou tudo aquilo? —Papai estava muito sério, eu não tinha coragem de levantar minha cabeça.
—Me desculpa. Eu não quis dizer aquilo. —Minha voz saiu baixinha. Será que papai conseguiu ouvir?
Ele suspirou muito alto e sentou ao meu lado na cama. Já a mamãe estava dando banho no KyungSoo, antes de por ele para dormir.
—Filho, eu sei que você esta chateado, porque KyungSoo não brinca muito com você, mas é tudo muito novo ‘pra ele. —Papai me trouxe pra pertinho dele e me abraçou.
—Eu sei...
—Ele precisa se acostumar conosco. Tenha paciência, sim?!
—Tudo bem, Appa. Me desculpa.—Eu estava com vergonha do que eu fiz. Eu não conseguia olhar o papai.
—KyungSoo é um menino doce, e agora ele é nossa família e nós somos a família dele... —Eu sabia o que papai iria falar. Eu ouvi ele falando com o titio quando eles estavam meio tristes.
—Porque família é ‘pra sempre... —Olhei para o papai sorrindo.
—E pra sempre iremos cuidar um do outro. —Papai sorriu e deu um beijo na minha testa. —Boa noite, filhão.
—Boa noite, Appa.
Me deitei e papai me cobriu, bagunçando um pouco meus cabelos. Papai era o melhor pai do mundo. Ele era forte e gentil como um super herói e um dia serei igual ele. E assim que ele saiu do quarto mamãe entrou com KyungSoo, que estava só enrolado em uma toalha de girafa, no colo dela. Papai brincou um pouquinho com ele. Deu um beijo na testa dele também e saiu.
Mamãe colocou KyungSoo sentado na caminha dele e começou a secar primeiro os cabelos dele, depois o corpo. Eu só conseguia assisti sem falar nada, eu ainda estava com vergonha do que eu falei, e não sabia se mamãe ainda estava brava comigo. Eu não parava de mexer minha perna e de brincar com o cobertor. Ela colocou o pijama de pinguim nele. Eu achava aquilo muito fofo. Secou mais um pouco os cabelinhos dele, que já estava quase secos e começou a pentear aqueles cabelos pretos. Ele estava caindo de sono, estava quase dormindo sentado. Eu dei uma risadinha quando a cabeça dele caiu pra frente, mas a mamãe segurou. Ela terminou e o deitou na cama, cobrindo ele todo e dando um beijinho nele. Ela virou pra mim e sorriu.
—Quer que eu leia alguma historinha hoje? —Ela falou baixinho, chegando perto da minha cama. Eu disse não com a cabeça.
—Vai acordar ele. Não precisa. —Também falei baixinho.
Mamãe sorriu, se abaixou e me deu um beijo de boa noite, e uma cheiradinha na bochecha que me fez dar uma risadinha, ligou o abajur e apagou a luz do quarto fechando a porta. Eu olhei para a cama do KyungSoo e vi ele dormindo todo bonitinho debaixo das cobertas. Eu sai devagarinho da minha cama e fui até a dele, chegando bem pertinho do rosto dele. Ele ‘tava com um cheirinho bom. Eu voltei pra minha cama e peguei meu Doraemon de pelúcia que estava jogado ali no pé da cama. Dei um beijinho nele e voltei para perto do KyungSoo, mas eu me assustei quando eu vi que ele ‘tava sentado e bem acordado. Será que ele vai chorar? Fui chegando perto, só que bem devagar. Ele me olhava muito sério...
—Olha... Eu não quis dizer aquilo. Me desculpa, ta?! —Eu falei baixinho, olhando para o chão e mexendo os dedinhos do meu pé que estavam protegidos do frio pelas meias do Pororo. —Você não é chato. E seu pais...—Eu não consegui terminar. Minha garganta começou a doer. —Me desculpa. —Eu funguei. Mas eu não estava chorando, ta?! Era o frio. —‘Tó. Se você se sentir triste, pode abraçar ele. —Estendi o Doraemon pra ele, que aceitou e abraçou minha pelúcia. ELE ACEITOU, E AINDA ABRAÇOU MEU DORAEMON. Eu estava muito felizinho de novo.
Assim que ele abraçou o Doraemon, ele deitou de novo e voltou a dormir. Waah... Como ele era fofo e bonitinho. Eu tinha o melhor irmão do mundo. Eu dei uma risadinha e cobri ele bem direitinho, pra ele não passar frio, nem ele, nem o Doraemon. E dei um beijinho de boa noite na bochecha gordinha do KyungSoo. Eu corri pra minha cama e me cobri sorrindo. Eu estava muito feliz, mas com muito sono agora.
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