Camila POV
Soltei um forte suspiro.
— Então quer dizer que somos só você e eu nessa casa? — sugeri arqueando as sobrancelhas.
— Exatamente Camila, só você e eu. E respondendo a sua pergunta, eu vim resolver umas coisinhas com você.
— Você perdeu o juízo, eu não sou obrigada a escutar o que você tem para dizer. — falei tentando desviar dela.
— Acho que devia, para o seu bem. — Alexa falava como se não sentisse medo, como se fosse fazer algo ruim, comecei a soar frio e tudo o que eu queria era sair daquele cômodo.
Ela se distanciou da porta, mas se manteve perto. Não desviava o olhar, parecia um cão de guarda.
— Diga Logo! — falei perdendo a paciência.
— Sua vida perfeita… está gostando dela? Com Lauren cega por você… aquela idiota, me desprezou e você me humilhou em frente a escola toda… se lembra… essa marca — apontou para seu queixo onde tinha a cicatriz que ela me mostrou mais cedo. — Sabe, doeu sua vadia. Fiquei com um curativo no rosto por semanas.
— Eu não tenho culpa se foi você que perdeu a noção do perigo ao se aproximar da Lauren. Quando você vai entender que perdeu? — falei juntando coragem.
— Eu perdi? — disse e então riu, uma risada maléfica. — Já pensou que Lauren pode e vai se cansar de você? Por acaso você anda surtando demais com ciúmes… ela não gosta disso.
— Eu sei!
— Calada! — meu rosto ardeu com seu tapa. — Quando você menos esperar, Lauren vai conhecer alguém bem melhor que você… E sabe o que mais? Ela vai se cansar do seu jeitinho sem sal. Aposto que seu sexo é ruim… — meu sangue ferveu
— Não é isso que ela acha quando goza na minha boca. — falei convencida.
— Sabe, eu não me preocupo com isso, pode ficar com ela. Aproveite bastante… Porque, pelo que eu soube ela vai assumir a empresa do pai, estou correta? Ela vai ficar importante, e vai brotar, literalmente, mulheres para ela. Não dou muito tempo para essa coisa que vocês tem acabar.
Fechei meus olhos com força, sentindo as lágrimas arderem em meus olhos. Eu era confiante sobre o que sentia por Lauren e ela por mim. Mas Alexa jogava na minha cara o que poderia acontecer no futuro, e querendo ou não isso não poderia ser descartado. Somos jovens e… coisas acontecem… separações… Droga! Camila! Ela está tentando te atingir da maneira que lhe doí mais. Ela sabe que só em cogitar não estar com Lauren me mataria.
Voltei a respirar fundo, não deixando nenhuma lágrima cair. Pensei em Lauren, no sorriso bobo que ela me dava quando eu a pegava me olhando. No cuidado que ela tinha comigo, ela nunca ia se deitar sem que eu fosse junto. Lembrei das pequenas coisas, das palavras surradas ao pé do ouvido, e da certeza do “eu te amo” junto do seu olhar que me passava segurança.
Se o que Alexa diz vai acontecer ou não, eu não devo me preocupar. E sim viver o agora, e o agora diz que Lauren e eu ainda estaremos muito tempo juntas.
— Já acabou Alexa? — falei ao abrir os olhos, que agora tinha audácia e superioridade.
— Você não escutou o que eu disse? — Falou perplexa.
— Ouvi, e não passa de inveja pelo que temos. Por que você não esquece a Lauren e nos deixa em paz?
— Eu até poderia… mas não teria graça. — falou indo até a escrivaninha de Lauren.
— Louca. — falei baixo, abrindo a porta e saindo do quarto.
— O que você disse? — Alexa vociferou em um tom mais alto, opa! Acho que tirei alguém do sério.
Fingi não ter ouvido e comecei a descer as escadas. E realmente eu estava sozinha com aquela garota. Eu precisava de ar, fui para a área dos fundos que agora tinha uma piscina bem cuidada, vasos de flores espalhados pelos cantos. A enorme árvore perto da cerca tinha um pneu servindo de balanço, sorri imaginando Lauren quando criança brincando pelo jardim.
Mas fui tirada do meu pensamento feliz brutalmente quando Alexa praticamente voou em cima de mim, puxando meu braço para olhá-la nos olhos.
— Você me chamou de louca?
— Além de falsa é surda? Eu não vou repetir. E solta meu braço. — ela parecia transtornada, muito diferente da Alexa que me fez fraquejar minutos atrás.
— Todos falam isso… todos me tratam como se eu fosse louca… mas eu só quero acabar com sua vida, se eu não pude ter a Lauren para mim… ninguém vai ter. — falou passando as mãos pelos cabelos, seus olhos estavam dilatados.
E antes que eu pudesse me afastar dela, senti suas mãos ao redor do meu pescoço e logo após eu estava no chão. Tentei empurrá-la, mas meu braço ardia pela queda. Eu comecei a ficar sem ar, e sentir uma forte pressão na cabeça, ela latejava. Com o pé, consegui desequilibrá-la; afrouxando seu aperto. Me arrastei para longe dela, ainda na grama. Eu tossia em busca de ar, e não vi quando ela chutou a lateral do meu corpo, Alexa prepara mais um chute que pelo movimento de sua perna seria mais forte. Consegui desviar a tempo e agarrei seu tornozelo a fazendo cair. Lembrei-me de quando Lauren me ensinou a usar a força do oponente contra ele mesmo. Mas ela estava de novo sobre mim, sentada em minhas pernas, as imobilizando-as. Não deixei de me debater e seu rosto estava muito próximo ao meu, voltou a me sufocar com as duas mãos e dessa vez sua força era maior, em um momento de desespero eu forcei minha cabeça para frente, bati contra a testa de Alexa que urrou de dor. Me vi livre e cambaleei para o outro lado da piscina.
— Sua vagabunda! Eu estou sangrando. — gritou tirando a mão da testa, seu supercílio estava coberto de sangue.
Ela veio como um furação para cima de mim, havia fúria em sua face. E não só isso, seus olhos ainda dilatados pela adrenalina estavam me perfurando, quase vendo minha alma. Tentei correr e contornar a piscina para sair dali. Mas ela foi mais rápida e senti o chão mais perto. E foi aí que bati o queixo no assoalho revestido de pequenas pedrinhas, estava frio por estar a centímetros da água. Senti uma dor enorme e uma pontada na cabeça, depois o gosto forte de ferro. Cortei o lábio e jorrava sangue da minha boca.
— Viu como é bom o gosto de sangue? — falou completamente alterada. E pela primeira vez naquela noite, senti medo.
Ela me arrastou pelos cabelos, eu sentia todo meu corpo doer. Segundos depois meu olhos foram embaçados por água. Água, agora eu estava sendo afogada. Eu não tinha mais forças, meus braços aos poucos soltaram seus braços ao redor do meu pescoço.
— Mas que porra está acontecendo aqui. — uma voz furiosa soou
Senti o peso de Alexa sair de cima de mim, alguém me pegando nos braços.
— Tay, liga para a polícia! — alguém falou e eu não identifiquei a voz.
— Nós precisamos de uma ambulância Dinah! — Dinah?!
Alvoroço, senti-me sendo carregada, mesmo com os olhos quase fechando vi Vero puxando Alexa pelos cabelos, foi legal. E se eu estivesse consciente, eu estaria sorrindo.
~||*||~
Lauren POV
Eu tive que sair para comprar mais chá, eu jurava que tinha um pronto na geladeira. Além disso, Chris me importunou dizendo que queria ceviche, e só íamos achar aquilo em um restaurante. Não avisei Camila, pois pensei que não ia demorar muito, engano meu. Depois de comprar meu sagrado chá gelado e mais algumas guloseimas. Chris demorou séculos para pedir um ceviche para a viagem. E para completar, o trânsito a noite estava um caos. Era meio de semana e na hora do rush, onde as pessoas voltavam de seus trabalhos, encontravam os filhos e a esposa, todo mundo jantando feliz em volta de uma mesa farta.
O trajeto de volta para casa durou cerca de 45 minutos, e torcia para Camila ter ficado no quarto para não dar de cara com Alexa. Acelerei o carro já chegando perto da nossa rua, uma viatura de polícia sinalizou e eu dei passagem. Duas viaturas e uma ambulância cortaram o vento e entraram em uma rua. Não, não, não. Nessa rua não. Virei logo atrás dos carros pois era o mesmo caminho para minha casa. E travei ao ver os carros de polícia e a ambulância estacionadas de qualquer jeito em frente ao gramado.
— Camila. — foi tudo que sussurrei.
Sai do carro sem me importar que o deixei ligado. Chris gritava meu nome, mas não dei importância. Um policial tentou impedir a minha passagem, mas afastei suas mãos de mim brutalmente. E entrei em casa.
A cena que vi foi desesperadora. Dinah e Taylor estavam em volta do sofá, bastante nervosas.
— O que está acontecendo aqui? — minha voz cortou o burburinho de alguns paramédicos. Dinah me olhou assustada.
— Lauren, fica calma. — Tay soluçou as palavras. Ordenei a meu cérebro a mover minhas pernas.
Ao chegar no meio da sala, vi ela. Camila estava deitada no sofá, com os cabelos molhados, os lábios roxos e cortados; havia uma marca roxa tão escura em seu pescoço que me assustou. Ela parecia serena, como se estivesse dormindo. Se não fosse seu estado debilitado eu estaria calma. Mas não estava.
— A-alguém pode me explicar o que aconteceu? — silêncio. — Camila. Camz… — falei indo para mais perto dela, toquei sua mão e estava fria.
— Se afaste. — Um homem alto com roupa branca me puxou e tive que ser contida por ele com a ajuda de um policial.
Eu não sabia o que fazer, o que falar. Só ficava observando Camila sendo atendida pelos paramédicos. Dinah e Tay me pediam calma e diziam que tudo ia ficar bem. Nem conseguia chorar com o choque daquela cena. Eu estava nervosa, e a cada segundo que se estendia sentia meus olhos marejarem.
— Nós chegamos, e estranhamos que não havia ninguém. Então ouvimos barulhos na área da piscina. E quando chegamos lá, Alexa estava tentando afogar Camila. — fui puxada de minha bolha com essa declaração, olhei para o lado e Dinah estava falando com um policial.
Alexa.
Era o único nome que se repetia na minha cabeça.
— Onde ela está? — perguntei bufando em raiva, meu autocontrole estava por um fio.
— Lauren, por favor… — Tay pedia com receio.
Percebi uma movimentação maior no jardim, e pela janela focalizei meus olhos em Verônica, em segundos eu estava correndo em direção a ela, e a quem ela segurava firmemente pelo braço. Não precisei de muito para encaixar os fatos quando avistei Alexa com a sobrancelha cortada, as feições de uma psicopata. Foi ela, ela causou aquilo em Camila. E ela iria pagar.
Nem deu tempo dela perceber meu punho indo em direção do seu maxilar. Vero se assustou e tentou me segurar, apenas tentou.
— O que você fez? — ela riu sarcástica e foi ai que perdi o resto do controle que eu tinha.
Não me importei dela ser mulher, eu apenas desferi socos em sua face com toda a raiva que eu sentia. Era insano, mas ela tinha um sorriso a cada soco que recebia.
— Meu Deus Lauren! Para! — Vero gritou e com isso, veio dois homens altos para cima de mim. Eles me levantaram a força, e outros dois levantaram Alexa.
— Por que eu fui pensar em te dar outra chance? Você é uma completa psicopata! — gritei tentando me soltar.
— Pensou que ia ficar foragida muito tempo Lex? — Um dos médicos se aproximou olhando o estado deplorável em que a deixei. — Belo gancho de direita. — ele virou para mim, piscando.
Fiquei confusa e parei de tentar me soltar, em segundos haviam mais policiais e paramédicos no meu jardim.
— Foragida? — questionei agora mais calma. O sangue ainda corria frenético em minhas veias.
— Oh, sim. Lex fugiu novamente da clínica faz uns dois meses… ela estava em reabilitação. Sua obsessão com alguma coisa a deixou com um parafuso a menos.
Aquilo foi um choque, e por um momento esqueci toda a raiva de Alexa. Não imaginava que ela estava sofrendo algum transtorno. Observei ela sem reação alguma ser levada. E antes dela sair completamente da minha vista, nossos olhares se cruzaram, os seus estavam opacos; e um arrepio transpassou minha coluna ao ver novamente aquele sorriso macabro em seus lábios.
— Você é retardada? — levei um tapa de Vero, voltando a realidade. — Queria ser presa também?
Nada falei e voltamos para dentro de casa. As expressões de Dinah e Tay eram melhores então voltei meu olhar para o sofá. Minha Camila estava com os olhos abertos.
— Camz! — assim que ouviu minha voz tentou se mexer. — Não se mexa, eu vou cuidar de você. — tentei passar tranquilidade. E me pus ao seu lado, e ninguém ousou me tirar dali.
Aparentemente, Camila só havia cortado o lábio inferior, tinha pequenos arranhões nos braços e joelho, o mais preocupante era as marcas visíveis dos dedos de Alexa. Mas nada sério segundo um paramédico, ela só precisaria de repouso e tomar alguns analgésicos. Suspirei aliviada com a notícia de que tudo não passou de um susto.
— Não me assuste assim de novo. — falei deixando algumas lágrimas escorrerem pelos meus olhos.
Ela sorriu, mesmo com o rosto um pouco machucado ela ainda conseguia ser linda.
— Você viu a sobrancelha dela? — acenei que sim. — fui eu que fiz. — Camila disse com um sorriso vitorioso. Sua voz estava rouca e falava devagar.
— Boa menina, tem ensinei direitinho. — Sorri de volta beijando sua testa.
— Evite com que ela fale muito, vai ficar com um incomodo na região do pescoço e garganta. Dê algo quente para ela comer antes que pegue um resfriado. — Uma mulher ruiva, prescrevia algo. E depois entregou a Taylor.
Camila não precisou ir ao hospital, devido aos níveis baixos da lesão. Poderia ser cuidada em casa. Depois de quase uma hora, meus pais chegaram e a ambulância e policias já haviam ido embora. E para o alívio de todos, não veríamos Alexa nem tão cedo.
Eu ajudei Camila no banho, afinal ela estava tremendo de frio. Dei um banho quente, a vesti com meu moletom favorito. E a deitei na cama, achei melhor não avisar sobre isso para seus pais agora, já era tarde e Sinu iria surtar. Depois de tomar uma sopa — mesmo a contragosto — ela se ajeitou nas cobertas e me puxou para ficar junto.
— Desculpa Camz… eu não devia ter te deixado sozinha, eu já devia imaginar. — falei deixando beijos nos seus machucados.
— Hey, eu estou bem; fiz um belo estrago nela. — pausou e tossiu
— Shiu… não fale muito.
Então ela deitou com a cabeça sobre meu peito, podia ver seus traços esculpidos pelos deuses. Fiz um cafuné que lhe arrancou um suspiro e com a outra mão eu contornava seu rosto; tão serena. Em alguns minutos ela pegou no sono, e sorri com a cena. Ela estava sorrindo. Ah, o sorriso dela? O sorriso dela é perfeito. O sorriso dela me acalma, me prende. O sorriso dela… Eu não sei explicar. Eu só sei que no sorriso dela eu encontro a minha paz.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.