História Sweet Shades - Were Not Done

Eu estava chorando pelo disparate que Niall me disse. Nada daquilo encaixava no meu quebra cabeça. Niall não se encaixava no meu quebra cabeça perfeito e isso era o seu diferencial. Ele era aquele que destruiria meu mundo perfeito, que faria o meu mundo girar conforme a realidade.

Mas Niall nunca faria meu mundo girar, porque eu não gosto dele.

Eu não gosto dele.

Eu não gosto.

Eu não...

- Aaah! – Uivei de raiva e bati meus pés e punhos mais fortes no chão.

Eu não! Não é possível que eu...

- Gosto do Niall Horan... – Pensei alto e ouvi o pigarreio de cima de mim.

Liam tinha os lábios franzidos e os olhos vermelhos. Estava calmo, mas parecia que um piano havia caído em cima dele, pois estava angustiado e melancólico. Ele me entregou o prato que tinha em sua mão e virou as costas para sair. Engatinhei rápido e peguei sua mão antes que ele chegasse à escada. Quando sentiu meu toque ele me encarou e tive um arrepio. Ele estava transmitindo todo tipo de depressão e ódio. Puxou sua mão e me empurrou.

- Qual é a sua Payne? – Gritei e ele parou no meio da escada. – Você é bipolar?

- Como? – Se fez de surdo e voltou a me encarar, mas dessa vez seus olhos tinham um brilho nos seus castanhos perfeitos. Eles se acendiam e me acendiam a alma.

- Uma hora você é o Liam que me ajudou naquele beco, o Liam que me salvou de arder em febre, que me ajudou a entender quem era Niall Horan... Mas quem é esse Liam que esta na minha frente? Ou melhor, quem é Liam Payne? – Indaguei e ele riu histérico como se eu o houvesse perguntado uma piada.

- Você nunca conhecerá o verdadeiro Liam, Violet. Você não merece... – Ele falou entredentes e começou a virar para se afastar, mas eu segurei seu ombro.

- Por que?

Ele se calou e se postou em frente a mim com os olhos presos nos meus. Eu conseguia ouvir seu batimento e tentava controlar os meus que estavam acelerados. Liam e Niall me deixavam assim. Batimento acelerado, desejo de estar junto e suavidade. Era tudo muito estranho e esses seriam sintomas de paixão, mas como eu não acredito nessas asneiras, eu ignorava e apenas me lembrava que eles tinham efeito sobre mim.

- O que estava falando antes que eu chegasse? – Liam mudou de assunto rápido e eu quis retomar, mas fui pega pela vermelhidão que minhas bochechas aderiram ao lembrar que eu havia confessado para mim mesma que gostava do Niall.

- Nada. – Menti e ele levantou uma das sobrancelhas.

- Nada? “Gosto do Niall Horan!” – Falou imitando uma voz ridícula de menina, que era para ser a minha voz. Segurei o riso e o corar.

- Se você ouviu isso, não tenho nada a declarar. Você que esta ficando louco, não...

- Cala boca. Eu sei o que eu ouvi. E sinto pena de você. – Ele falou ríspido e com uma expressão de nojo. Seus olhos não sentiam pena, era como me dissessem “bem feito”.

- Pelo que?

- Por você estar amando a pessoa errada. – Liam fez um coração com as mãos e fez de conta que ele se partia.

- E quem seria a certa, Payne? – Ergui uma das sobrancelhas e ele deu de ombros.

- Não é o Niall, Grey.  Sinto pelo que você irá sentir. – Assentiu e depois balançou a cabeça. – Na verdade, não sinto. Você vai sofrer, e era tudo que o Niall queria.

- Mas não era o que você queria. Isso que eu estou dizendo! Você é outro. – Acusei ele e apontei tocando seu ombro e empurrando.

- E se eu for outro? O que afeta na sua vida? – Gritou comigo e eu recuei um passo. Liam havia começado a ficar agressivo.

- Afeta que eu quero o outro Liam. – Sussurrei.

- E o que isso importa? Eu não ligo para o que você quer! Grey, ainda não caiu a ficha de que ninguém nessa casa liga para você? Comece a processar os fatos, o Louis saiu e só havia ele. – Liam aproximou seu rosto do meu e murmurou para mim como se eu fosse uma criança incompreendida.

- Você se importava...

- Pelo menos você sabe conjugar o verbo correto. Importava é passado. – Cuspiu as palavras em minha cabeça e se afastou. – Cuidado, Grey. Niall parece ser muito fofo, mas você é só mais uma peça no jogo dele, e a qualquer momento ele pode te derrubar, como ele pode fazer com todos nós. Ele é versátil e habilidoso, um predador no meio de humanos. Apenas tenha cautela com os sentimentos que você nutre por ele. O melhor seria não nutrir.

- Você não sabe nada sobre isso! – Clamei irritada. Ele que se calasse. Eu não ficaria ali ouvindo ele falar.

- Fale baixo comigo, menina Grey! – Disse entredentes segurando meu braço forte.

- Me deixe em paz, menino Liam! – Respondi no mesmo tom.

Liam grunhiu e sua mão voou em meu pescoço. Soltei um arquejo sonoro quando sua mão pegou abrupta minha nuca, então Liam me empurrou ate a parede mais próxima e me prensou na parede, apertando minhas vias aéreas e dificultando minha respiração que soltava arquejos e quase pedidos de socorro.  

- Eu já cansei de você. Que tal acabarmos logo com isso? – Liam sussurrou e apertou com a outra mão minha boca. Ele cingiu nossos corpos num rápido aperto e pude sentir seu toque hostil. Ele apertava minha boca ate formar um bico e quando não pude mais respirar ele soltava ate que eu recuperasse alguns por centos de ar nos pulmões.

– Por que você? – Rumorejou para si, apertando-me mais entre a parede e o seu corpo.

Os olhos transtornados de Liam colaram nos meus e seu rosto se aproximou até que eu pudesse sentir seu hálito batendo contra minhas narinas, sentir o calor de seus lábios próximos aos meus, tocando o canto de minha boca. Pude contar seu batimento acelerado contra meu peito. Um, dois, três...

Sua mão continuava presa em meu pescoço, mas ele não apertava. Era como se estivéssemos em um transe. Meu corpo estava congelado e minha respiração escassa. Me sentia como naqueles filmes clichês em que tínhamos que “aprender a respirar”, e era exatamente isso que eu precisava.

- Por que tinha que ser você? – Ele me perguntou fechando os olhos atormentados e colando seus lábios em minhas bochechas. Senti um cálido liquido deslizar pela bochecha cuja Liam recostou os lábios. Ele soltava raras lágrimas que caiam de seu rosto para o meu.

- Liam...? – Tentei falar, mas eu não tinha frases formuladas. Apenas dois nomes apareciam em minha cabeça, mas nada a ser falado.

Joguei minhas mãos em volta de sua cintura e esperei a rejeição do abraço, mas senti suas pálpebras se abrirem e seu toque se intensificar. Não havia um milésimo centímetro entre nós, apenas um corpo, éramos um só. Liam voltou seu rosto para me olhar: parecia ter sido torturado e eu o encarava, atônita. Eu não conseguia pensar em nada naquele momento e seus olhos de repente se enfureceram e mão em meu pescoço voltou a premer os dedos contra minha pele.

- Droga! – Praguejou Liam e eu soltei um arquejo quando a prisão de meu pescoço cessou.

Liam me soltou e eu cai no chão puxando o ar que entrava ansioso em meus pulmões. Ele saiu do porão me deixando sozinha.

Arfei quando consegui me levantar. O que tinha sido isso? Apertei meu pescoço e massageei a pele dolorida pelo aperto de Liam.

- Volta aqui Payne! Não terminamos, vagabundo! – Berrei andando em direção a porta trancada, enfiei o punho no metal e esperei o estrondo ecoar.

- Não temos nada para tratar, Violet. – Ouvi sua voz soar do outro lado da porta num murmúrio e seus passos se afastaram.

Pensei em recomeçar uma discussão com ele, mas o que havia sido dito era tudo e o que seria falado não teria coesão. Talvez nada fosse falado, apenas interpretado e não seria um jeito que eu gostaria que fosse expresso.