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História Tainted Love - Reylo AU - Prólogo


Escrita por: jessylou e MilaBanks

Notas do Autor


Hello amores. Sejam bem-vindos (as) a minha segunda fanfic Reylo. Sim! Me empolguei. Essa fanfic foi desenvolvida com a minha amiga e co-autora, Mila Banks.

Vim deixar alguns avisos a vocês. Essa fanfic entra na categoria dark por abordar um tema polêmico. Então fiquem ligadas(os) nas tags e não leia se não for sua praia.

Não iremos abordar qualquer tipo de abuso ou sexo não consensual.

Esperamos que curtam!

Capítulo 1 - Prólogo


Fanfic / Fanfiction Tainted Love - Reylo AU - Prólogo

Ben Solo desperta cedo em um lugar familiar para ele, mas nem tanto assim. Para o próprio desgosto seu relógio biológico funciona perfeitamente bem. Isso sempre o deixa atrelado as necessidades de forma constante.

Ele quase não sente mais os sintomas de uma noite mal dormida. Exceto por aquela manhã. E pelo fato de ter companhia em sua cama, ainda que essa não seja bem sua verdadeira cama.

Ao lado dele está sua conquista da noite passada. Ele extrapolou dessa vez. Perdeu a conta de quantos drinques pagou a bela loira de pernas longas e corpo definido, até que chegassem onde estavam. Não que tenha sido difícil, ela estava afim. Mas resolveu fazer jogo duro e Ben adora desafios. Ele é um homem empenhado em tudo o que faz. Um completo babaca quando se trata de mulheres? Talvez, mas extremamente funcional.

Ele não pode negar, ela valeu o esforço. Embora, ele não consiga se lembrar do nome dela. Ben esfrega os olhos de maneira brusca, boceja e se levanta para ir ao banheiro. A loira pegajosa e carente se estica na cama antes de vê-lo sumir na porta.

Ben lava as mãos, escova os dentes e joga uma água no rosto antes de retornar para quarto. A loira está desperta, estica os braços o convidando a voltar para a cama. Ele observa com um sorriso sincero. Ela era atraente, mas o fato de não lembrar seu nome, o faz se dar conta de que não chamou tanto assim sua atenção.

Isso é uma regra. Nada de envolvimentos amorosos. Uma noite basta, ele sempre deixa isso claro para todas. E elas não se importam já que pensam da mesma forma. Ben recolhe a cueca que está jogada pelo quarto junto ao resto das roupas.

Ele veste e se senta na beira da cama se esticando para pegar o celular.

Sete e meia da manhã. Certo. Ele não está atrasado, isso é bom. Poderia ter dormido um pouco mais, mas se fizesse, não seria ele.

A loira o alcança depositando beijos molhados em suas costas. Ela sobe até estar de joelhos atrás dele. As mãos macias e delicadas deslizam por seus ombros largos e ela alcança sua orelha com a voz mais manhosa que ele já ouviu na vida. Ela ronrona feito um gato. É irritante. Ele não ouviu isso na noite passada.

— Você já vai? Pensei que fossemos repetir... —

Ben força um sorriso. Como diabos ela se chama? Ele não consegue lembrar, não trocaram números ou nada do tipo. Ele não fazia isso.

— Eu adoraria, mas infelizmente não vai dar. Você vai ter que ir... eu estou atrasado — Ele mente. Mas será pior se ela se der conta de que nem o nome dela ele lembra. Ela suspira dando outro beijo em seu ombro quando se levanta.

— Posso usar o seu banheiro? — Ele assenti rapidamente

— Claro, fique à vontade — Ela deixa o lençol de seda deslizar pelo corpo e faz o resto do caminho nua.

Ele sorri antes de olhar o celular, sabe que é uma provocação e por mais que esteja tentado a ir até lá, ele escolhe evitar. Nada de repetições, isso quebra suas regras e o leva a caminhos dos quais ele não pretende ir. E Ben Solo é um homem metódico.

Ele vai até a cozinha e vê o que pode encontrar para um café. Ele não mora ali, embora o lugar seja dele. Ben o usa para os seus encontros, nada de levar mulheres para casa, e quando ele diz casa, se refere a sua cobertura, que nem de longe é igual ao loft em que está.

A loira sai arrumada do quarto e olha intrigada quando recolhe a bolsa do sofá.

— Pensei que estivesse atrasado? — Ele não olha para ela enquanto procura o que beber

— E estou. Só vou beber uma água e... você sabe — Ela cruza os braços sobre o peito e suspira, concordando com ele. A loira morde os lábios e então se aproxima parecendo estar sem jeito.

— Nós não vamos repetir, não é? — Ben dá um longo gole na água que despeja do jarro ao copo e então olha para ela.

— Eu acho que não — Ele é sincero. Ela já sabia que o final era esse.

Ainda assim a loira lamenta tomando o caminho para a porta.

— É uma pena. Gostei de você. Foi um prazer te conhecer Ben —

Ele sorri enquanto avalia a postura dela.

— O prazer foi todo meu... — Ela para e olha para ele de novo, esperando que ele continue. Porra! O nome. É claro que ela quer o nome dela. Todas as mulheres por mais que preguem o desapego ainda se importam que um cara lembre o nome delas. Para que isso, afinal? É a regra do sexo casual, não é? Nada de informações, só sexo.

Ele estala a língua pensando em chutar um nome, mas toma outro gole de água antes. O celular vibra na bancada. Ele nem se lembrava de tê-lo deixado ali, mas agradece mentalmente. Ele aponta para o celular com o copo na boca e ela revira os olhos. A loira se vai com uma pancada brusca ao fechar a porta. Mas Ben não tem tempo para lidar com isso.

Ele olha para o display e mesmo sem reconhecer o número, atende.

''Benjamin Solo?''

''Sim, é ele ...''

''Olá, eu me chamo Nancy Wells. Falo do hospital Spaulding aqui em Cambridge''

Cambridge? Só havia uma pessoa que ele conhecia em Cambridge.

''Bom, eu estou ligando, pois seu nome consta aqui na lista de contatos do senhor, Cassian Andor Erso''.

Isso, não é bom. Ben confirma e de repente ele sabe, na verdade ele sente. Tem algo de errado.

''Está tudo bem com ele?'' A mulher do outro lado da linha parece demorar uma eternidade para responder.

''Senhor, eu infelizmente não tenho boas notícias''. 


 

****


 

Ben não consegue se vestir direito, ele coloca a mesma roupa que usou na noite passada de qualquer forma e sai para se enfiar no trânsito caótico da cidade de Nova York. Ele aperta os dedos no volante do seu esportivo e pisca de forma frenética para espantar as lágrimas que se acumulam nos olhos. Ele morde os lábios com nervosismo. Amaldiçoando a fila enorme de carros que se estende a sua frente.

Seus dedos tremem no volante. Ele está uma pilha. Uma ligação, bastou uma ligação para ele largar tudo que iria fazer e correr para a cidade do seu melhor amigo. Ben conheceu Cassian quando cursou a faculdade de Harvard. Ele teria preferido Columbia, já que era mais perto de onde morava, se não fosse por uma questão de legado.

Ser advogado era a profissão que ele escolheu. Por mais que os pais passassem esse tipo de peso aos filhos, Ben nunca se viu pressionado pelos dele. Sua mãe Leia Organa, era uma excelente advogada, então não demorou para que montasse seu próprio escritório e expandisse os negócios. Logo ela era responsável por um dos melhores escritórios de associados em Nova York.

Skywalker-Organa-Solo. Sim, Ben havia se tornado um dos sócios do escritório. E se orgulhava em mostrar o quanto deu duro para chegar a isso. Para alguns Ben apenas tinha herdado o talento para exercer direito como sua mãe. Mas para ele ia além disso, dentre as poucas coisas em que julgava ser realmente bom. Fechar acordos milionários era uma delas.

Devido ao fato de ser filho de Leia Organa, Ben inicialmente teve um pouco de dificuldade em se provar. Muitas vezes tendo que ouvir que tudo o que ganhou havia sido de mão beijada. Muito fácil para o filhinho da mamãe assumir os negócios dela. Esse foi um dos motivos por ele preferir manter seu tio como acionista majoritário.

O metódico e competitivo Benjamin Solo, começou sua carreira pelo pró bono, e foi em um desses casos que conheceu quem viria a se tornar um de seus melhores amigos, Cassian Andor.

Ele era casado com Jyn, uma mulher doce e amorosa. Ambos se conheceram e cresceram em um orfanato. Era justamente contra o lugar que Ben moveu um de seus primeiros processos. Depois de viverem anos de abusos e exploração o casal resolveu procurar ajuda. Cassian e Jyn já eram casados quando Ben os conheceu, eles tinham uma filha, Rey de apenas seis anos. Eles acompanharam de perto o desenvolvimento das demais crianças e percebendo que tudo que sofreram, estava tornando a acontecer, buscaram por justiça.

Ambos vivenciaram experiências horríveis no orfanato de Hoth Hall. Segundo uma investigação oficial, várias crianças foram abusadas sexualmente, espancadas e drogadas. Algumas das vítimas se tornaram dependentes químicos, tiveram casamentos arruinados e enfrentaram dificuldades para se fixar em empregos. Isso em fase adulta quando o trauma vivido no lugar os acompanhou por anos.

Os detalhes, sobre o que acontecia no orfanato, logo chegou às manchetes da imprensa e mídia local. O processo que a princípio foi movido pelo casal, tomou proporções enormes. Era óbvio que seria uma causa ganha. Para a satisfação de Ben, grande parte das crianças que estiveram no orfanato durante a infância de Cassian e Jyn, foram indenizadas já em fase adulta.

Ele conseguiu provocar o fechamento do orfanato. Embora, as crianças tivessem sido separadas. O caso chamou tanto a atenção que não demorou para surgir candidatos a adoção daqueles que estavam de alguma forma presos ao horror vivido naquele lugar.

Foi um feito impressionante, que de maneira importante impulsionou a carreira de Ben. Digamos que ele e Cassian contribuíram demais um para o outro. Ambos se tornaram grandes amigos desde então. Ben visitava a família sempre que surgia um espaço, ou aos feriados. Claro que em seu tempo de faculdade sua presença na casa do casal era muito mais constante.

Com o passar dos anos, Ben não deixou que a amizade com Cassian esfriasse. Tão pouco o amigo permitia que eles se afastassem. O homem era como um irmão para Ben. Ainda que seu contato maior fosse com Cassian, ele gostava muito de Jyn também. Sempre os viu como um casal saudável apesar de tudo. Embora um tanto conservadores quanto a criação da filha. Parte disso dado ao fato do trauma deles vivido na infância. Não queriam que de nenhuma forma a filha passasse pelo o mesmo que eles. Ben a viu poucas vezes durante sua fase de crescimento. Rey era uma garota tímida e silenciosa, retraída por assim dizer. Não participava das reuniões ou confraternizações do trio sempre que se encontravam.

Ben não se importava que os pais mantivessem a garota sob uma proteção exagerada. Na verdade era até compreensível, tendo em vista tudo o que passaram de que eles agissem de tal forma.

Uma família muito unida e uma amizade incrível que ele levaria pelo resto da vida. Por isso para Ben, foi tão difícil receber aquela ligação. Por isso ele pegou seu carro e foi às pressas para o hospital de Cambridge.

A longa viagem de três horas e meia chega ao fim quando Ben estaciona em frente ao hospital do condado. Não foi um caminho fácil. Ele teve de lidar com seus nervos que estavam em frangalhos, a perda de seu amigo e agora o resto de sua família.

Ele caminha apressado, esbarrando nas pessoas ao redor enquanto passa pela porta automática rumo a recepção. Chegando lá ele dá seu nome e vê uma moça baixa de pele negra se aproximar.

— Benjamin Solo? — Ele se vira para ela afirmando sua identidade e ela pede que ele a acompanhe.

Ben entra em uma espécie de sala administrativa, provavelmente pertencente a direção do hospital. A mulher gentil pede que ele se sente na cadeira diante de sua mesa enquanto ela toma o assento do outro lado.

— Primeiramente, eu gostaria de dizer que lamento por sua perda. Sou a Nancy Wells que conversou com você por telefone... — Ele assenti pegando na mão que ela oferece para cumprimenta-lo.

— Faço parte da assistência social. Creio que você deva imaginar do que se trata — Ben assenti outra vez. Embora, ele não tivesse certeza do que ela queria dizer. Estava tão atordoado com a notícia da morte do amigo que não conseguia se concentrar em nada.

— Você disse ao telefone que ele sofreu um acidente? Como foi isso? — Ele pergunta. Ainda atordoado, se mexendo de forma agitada em seu lugar.

— A família estava voltando de uma viagem pela estrada de Northern Expy, quando o carro do seu amigo colidiu com uma van. A violência da batida empurrou o carro da pista. A filha deles acabou rolando para fora, antes que o veículo capotasse. Infelizmente, Cassian Andor e Jyn Erso morreram no local —

Ben apoia os dois braços na mesa e coloca a mão sobre a testa esfregando a região até cobrir seus olhos.

— Escute, senhor Solo. Imagino que essa notícia não seja fácil de digerir, mas precisamos falar sobre a jovem, ela está viva. O pai dela o nomeou como tutor, no caso de sua morte e... —

Ao ouvir as palavras da mulher ele tira a mão do rosto e se inclina com um olhar surpreso.

— Perdão. Eu não entendi direito... O que você quis dizer com tutor? —

A mulher se ajeita em seu lugar também, ela parece tão nervosa quanto ele. Para ela a atitude do homem depois de um choque como o que teve é completamente compreensível.

— Acredito que o senhor Andor o informou a respeito disso? Bom, ele o nomeou como tutor legal de sua filha. No caso de sua morte e da esposa, o senhor ficaria como responsável pela menor, Rey Andor Erso. Claro que a tutela é provisória. Precisamos avaliar algumas questões para entrar com o processo definitivo de adoção —

Ele se apoia no encosto da cadeira em completo estado de choque. Era muito com o que lidar, ele mal soube como encarar a notícia da morte do melhor amigo e agora estava sendo nomeado como responsável por sua única filha. Ben olha para a assistente social e fica mudo. Ele está atônito e não consegue compreender os motivos que levaram Cassian a fazer algo assim. Exceto por uma lembrança, uma única maldita lembrança de uma conversa que tiveram há anos atrás. 
 

''Um brinde ao cara que salvou vidas.'' Ben ri para Cassian e nega veementemente. Algumas doses e ambos já estavam rindo à toa.

''Foi você quem salvou vidas, meu amigo. Eu só fiz o meu trabalho...'' Cassian faz uma careta e abana com as mãos.

''Nada disso... você é um cara de ouro'' Ele eleva a voz para que todos no bar possam ouvir. As palavras saem enroladas, mas nenhum dos dois parece se importar muito com isso.

''Esse aqui é um cara de ouro, Benjamin Solo. É um homem de ouro.'' Ben ri outra vez e fica sem jeito quando todos olham para brindar com eles. Cassian se estica e segura seu rosto o fazendo olhar para ele. Ambos estão bêbados, embora Ben, nem tanto.

''Você é meu irmão Ben.''

Ben bate algumas vezes no ombro do amigo e concorda. Ele também o considerava assim. Não era só gratidão, os dois se tornaram grandes amigos, irmãos.

''Você se tornou a minha família. A família que eu e Jyn nunca pudemos ter. Você sabe disso, não sabe?'' Ben concorda sabendo que possivelmente o amigo não se lembraria daquelas palavras na manhã seguinte, mas estava feliz por ele o enxergar daquela forma, ainda mais sendo tão recíproco.

''Eu confio minha vida a você...'' Ben revira os olhos e nega tentando fazer Cassian parar.

''Certo, você já bebeu demais. Nós dois bebemos demais e agora isso tá saindo melancólico e chato pra caralho... '' Cassian gargalha com as palavras dele e então o segura outra vez tentando falar.

''Não, escute... me escute. Eu falo sério.'' Ben concorda ainda rindo. Ele arqueia as sobrancelhas.

"Se alguma coisa acontecer comigo, eu quero que você... você cuide da minha família por mim.'' Ao ouvir as palavras de Cassian, Ben faz uma careta e toma o copo da mão dele. Aquela conversa estava se tornando um dueto triste.

''Que papo mais fúnebre é esse?'' Cassian segura o rosto de Ben novamente e o faz olhá-lo.

''Não, Ben, não. Eu falo sério. Eu quero que me prometa que irá cuidar da Jyn e da minha menina. Me prometa, eu só posso confiar em você...''

Ben tenta ao máximo não levar aquilo de forma tão séria, afinal, os dois estão bêbados. E merda! Como foi que eles chegaram naquilo? Ele concorda de forma despreocupada.

''Prometa!'' Cassian insiste.

''Tá bom, eu prometo. Eu prometo que irei cuidar da sua esposa e da sua filha.'' Cassian bate no ombro dele e os dois riem. '

"Você é a porra de um cara chato quando bebe, sabia disso?''. 


 

Ben se sente doente com a recordação. Ele se perde nas lembranças. Aquilo jamais iria acontecer. Ele jamais imaginou que muitos anos depois ele perderia o melhor amigo. Ou que Cassian iria se lembrar daquela promessa. Ben cobre seu rosto e deixa a mulher a sua frente na expectativa. Então ele se dá conta do quanto aquilo era fodidamente real. Ele agora era responsável por outra pessoa e não tinha noção alguma de como lidar com isso.

Ele não poderia adotá-la. Aquilo não foi uma promessa de verdade, certo? Só um papo descontraído de dois caras bêbados em uma noite de bar como outra qualquer. Não. Não havia a menor possibilidade dele se responsabilizar pela garota. Isso seria uma merda. Ele mal podia cuidar de si mesmo. A mulher o chama algumas vezes até ele notar.

— O senhor deseja vê-la? — Ben ergue o rosto e olha para ela aturdido.

— Perdão? —

A mulher suspira entregando um olhar de compreensão. Ela é extremamente gentil com ele. Tendo em vista a forma como ele estava.

— Rey. Perguntei se você deseja vê-la. —

Ele nega por um momento e então considera.

— Como ela está? Se machucou muito? — A mulher coloca os dedos cruzados sobre a mesa antes de respondê-lo .

— Ela sofreu um traumatismo craniano e algumas escoriações. Mas não é grave. Ela foi mantida sedada por conta do choque, mas logo irá acordar. Por sorte a pancada ao rolar do carro não afetou nenhum nervo importante. Acreditamos que ela não terá nenhuma sequela por conta do trauma na cabeça — Ben assenti com a vista cansada.

— Ela não sabe então? — A mulher nega com pesar.

— Você quer contar? Ou prefere que eu o faça? —

Ben se recusa rapidamente. Ele não saberia como contar a uma pessoa que agora ela estava sozinha e que seus pais estavam mortos. Ele não conseguia pensar em nada pior do que dar uma notícia daquela.

A mulher assenti novamente. Compreendendo o receio dele.

— Eu o farei então. —


 

****


 

Ben entra com a assistente no quarto. Rey está obviamente desacordada, e ao vê-la ele não pode deixar de ficar impressionado. Fazia tempo que não à via. Sendo retraída como era, ambos tiveram pouco contato ao longo dos anos. Ela mal trocou algumas palavras com ele. Ela estava grande.

Poucos detalhes dos quais ele se lembrava haviam mudado. Ela tinha arranhões pelo corpo, marcas vermelhas por decorrência do acidente. Uma faixa na cabeça e um tubo fino preso nas narinas. Ele fez um cálculo breve dos anos de amizade com Cassian e da idade que a garota tinha quando os conheceu. Ela deve ter por volta dos dezesseis anos agora. Ele se aproxima para vê-la melhor. Rey definitivamente se parece mais com a mãe. São poucos os traços do pai, mas ainda assim evidentes, quando ele olha para ela. Um turbilhão de emoções passa por ele. Não consegue pensar no que ela irá sentir ao saber da morte dos pais. A ideia dói nele. Dói porque ele perdeu um irmão também.

Rey parece estar despertando e então um desespero toma conta dele. Ben se recusa a ver a conversa da assistente com a garota. É pesado demais. Ela parece tão serena desacordada. Tão indefesa. E agora seu mundo iria desmoronar. Ele se vira bruscamente e sai do quarto, deixando a assistente para trás.

Ben se joga em uma das cadeiras que fica ao lado da porta do quarto, no corredor. Ele deita a cabeça para trás, apoiando na parede e dá um longo suspiro. Ele precisa de ajuda, não pode lidar com isso sozinho. Os dedos trêmulos tateiam o bolso dianteiro até encontrar o celular. Ele busca pelo número de sua mãe de forma nervosa e percebe que há várias ligações perdidas de seu tio e dela. Ele aperta o botão de retorno da ligação e segura o aparelho no ouvido. Não demora para que Leia o atenda.

''Ben, onde você está? Seu tio ligou aqui como um louco. Disse que não apareceu no escritório. Está tudo bem?''

Ele reúne o que pode dentro dele para conseguir falar.

''Estou em Cambridge'' Leia fica em silêncio por um momento e então reage.

''Cambridge? O que faz por aí?'' Ben aperta os lábios antes de responder. Leia conhecia Cassian e assim como o filho, ela nutria um carinho especial pelo o homem. Sendo o melhor amigo de Ben, era natural que também criasse o vínculo.

''O Cassian, ele sofreu um acidente...'' Leia o interrompe do outro lado da linha.

''Oh meu Deus, Ben. Como ele está?''

Ben fecha seus olhos, eles ardem muito. Sua garganta queima e seu corpo fica tenso. É difícil falar sem que a emoção o atinja. Ele fica em silêncio. Sopra o ar engolindo o que pode. A demora faz Leia chamá-lo. Perguntando se ele ainda está ali.

''Cassian morreu, mãe. Jyn estava com ele, eles... eles não sobreviveram. '' Leia geme do outro lado da linha. Demora um pouco para confortar o filho.

''Santo Deus. Eu sinto muito, Ben.''

Ele respira fundo novamente. Soprando o ar por entre os lábios inúmeras vezes.

''Você quer que eu vá até aí? Posso dar um jeito. Han não está aqui, mas logo... '' Ele a interrompe depois de engolir o choro, enfim conseguindo falar.

''Na verdade, eu preciso de ajuda com as coisas do funeral. A filha deles estava no acidente, ela sobreviveu, eu... eu estou no hospital nesse momento. Preciso ficar aqui, não posso cuidar de tudo agora.'' Ele pode ouvir sua mãe suspirar e gemer novamente.

''Pobre menina, deve estar devastada. Ela está bem? Se machucou muito?''

Ele faz outra pausa.

''Ela não se machucou muito. A assistente está falando com ela agora. Eles... eles deixaram a guarda provisória dela comigo. E eu não sei o que fazer.'' Leia busca tranquilizá-lo como pode.

''Filho, uma coisa de cada vez. A garota irá precisar de alguém para ampará-la. Ela é nova, não é?'' Ben confirma e ela prossegue. ''Você precisa estar ao lado dela. Eu irei cuidar de tudo, não se preocupe. Eu sinto muito, querido. Vou entrar em contato com o hospital e providenciar as coisas para você, e Ben... seja forte meu filho.''

Ele desliga a ligação e logo o som audível de choro sai do interior do quarto. Ben não consegue mais segurar as lágrimas. Ele cobre seu rosto com os braços e se curva sobre as pernas. A dor o encolhe e o consome. 


 

****


 

Demora um pouco para que a assistente saia do quarto onde está a garota. Ben está encostado na parede, as mãos nos bolsos e o olhar perdido. Ele deixou a tristeza o acertar com força, ao ouvir o choro dela. Os olhos estavam pesados, o corpo cansado, mas nada disso se comparava ao que a garota estava passando. Olhar para ele era ver um homem acabado, como se tivesse passado uma noite mal dormida. A camisa com os primeiros três botões de cima abertos, mal colocada dentro da calça e do cinto, os cabelos bagunçados de forma selvagem por consequência das inúmeras vezes em que Ben os escovou nervosamente com seus dedos. E os olhos vermelhos de tanto chorar.

A mulher o alcança com um olhar triste e complacente.

— Você já pode entrar para vê-la, se quiser... — Ben a olha se perguntando se quer. Ele sabe que deve entrar, ainda assim, pergunta a si mesmo se há coragem suficiente nele para isso. Como explicar a ela que não poderia adotá-la, cuidar dela, ser seu tutor. Ele tenta não pensar a respeito, escolhe não falar sobre isso, até que o funeral aconteça. É melhor assim, seria extremamente estúpido de sua parte dizer algo tão rude a quem acabou de perder os pais.

Vacilando nos passos ele caminha até a porta e alcança a maçaneta. Ben demora alguns segundo antes de finalmente entrar no quarto. Ele está de costas para ela, respira fundo e então se vira. O que ele encontra, é um rosto banhado por lágrimas, olhos tristes e inseguros. Ela parece tão inocente e frágil que aquilo o atinge ainda mais.

Ben dá alguns passos na direção dela. Ambos parecem ter receio um do outro. Ele mantém as duas mãos nos bolsos, e quando chega perto da cama ele percebe que aquele olhar perdido, triste e vulnerável o prendeu. Surpreendentemente os braços frágeis contornam sua cintura e um abraço necessitado acontece. A garota chora copiosamente com o rosto em seu peito. Se não fosse pela cama elevada, ela dificilmente o alcançaria ali, não na posição em que estava. Sentada e presa ao soro ao seu lado.

Ele não reage a princípio. Fecha os olhos e busca forças para ampará-la. Ela soluça contra o seu peito e ele ergue devagar uma das mãos para lhe afagar os cabelos. Ben percebe que as lágrimas já estão escorrendo de seus olhos. A garota se apega nele como se tivesse medo de soltar e cair em um abismo. Mas é por aí. Ela está à beira de um abismo. Aquela dor que queima lá dentro da alma. E então ele se dá conta de que uma dor compartilhada é apenas metade dela. Por isso ele deixa. Ele a recebe nos braços. Aperta as mãos em torno dela e divide o choro, divide sua perda. Uma perda que é dele também.

Os dois ficam assim por um tempo. Rey não quer largá-lo. Ela tem medo de tudo a sua volta. O único rosto familiar que vê depois de saber que está completamente sozinha é o dele. E Ben, sabe. No meio do gesto íntimo e triste que trocam a garota tenta falar. Ben a impede. Eles não precisam dizer nada, ela não precisa dizer nada. Embora eles não tenham criado um vínculo ao longo dos anos, embora mal se conheçam. Dentro deles há algo em comum. O amor que sentem pelas duas pessoas que se foram e tudo o que podem fazer nesse momento é consolar um ao outro. Da melhor forma que podem.

Ben fica ao lado de Rey até que ela pegue no sono. Ele não tem ideia de quantas horas passou abraçado com ela, sua camisa está molhada pelas lágrimas da garota, mas ele não se importa com isso. Seus olhos estão pesados e ardem  bastante. Ele está exausto, mas ainda assim se mantém ali. Ele fez menção em sair algumas vezes quando a assistente social entrou no quarto acompanhada da enfermeira que trocou o soro dela, para que pudesse conversar, mas nota o aperto em torno de seu corpo o impedindo de fazer.

Ela estava traumatizada e assustada, então ele escolheu ficar. Quando ela dorme ele se levanta e sai do quarto, apertando os olhos com os dedos para evitar que eles fechassem. A assistente o encontra notando o aparente cansaço. Ben nota quando duas figuras familiares chegam ao fundo.

Han e Leia estavam ali. A mãe apressa os passos e o encontra dando um abraço apertado. Ben retribui olhando seu pai com o rosto duro de sempre. Han dá um meio sorriso e esfrega seus ombros, mas Ben não consegue mais soltar nenhuma lágrima. Tudo o que ele tinha para derramar, fez com a garota.

— Trouxe roupas para você. Precisa comer alguma coisa, Ben. Fiz um check in para você em um hotel aqui do lado do hospital. Sei que não é uma boa hora para ficar na casa de seu amigo. Coma e descanse. Estaremos aqui com ela, caso precise — A assistente concorda com Leia e olha para Ben o incentivando a ir. Então ele o faz.

Ben chega ao quarto do hotel e não consegue sequer tomar um banho. Ele deita na cama com os olhos pesados e acaba dormindo. Ele sonha com Cassian e Jyn naquela noite. Sonha com uma das inúmeras vezes em que se encontravam para um almoço. Das risadas e brincadeiras de seu irmão, tudo tão distante feito um borrão que se forma em um quadro molhado.

Quando acorda já é por volta do meio-dia. Ele nunca dormiu tanto na vida. Se levanta com dificuldade e checa o celular antes de ir para o banho. Leia deixou algumas mensagens. O funeral estava marcado para as 14pm. Rey receberia alta para acompanhar o enterro dos pais acompanhada pela assistente. Ele se apressa em tomar um banho, iria voltar para o hospital assim que tentasse comer alguma coisa.

Ben chega por lá e encontra Han e Leia a sua espera. Ele não sabia dizer se os dois haviam descansado, a assistente sai do quarto com Rey. A garota caminha devagar, cabisbaixa e silenciosa. Quando seu rosto se ergue, ela o vê e sua expressão muda. Saindo das mãos da mulher ao seu lado ela vai diretamente para ele. O abraçando como fez pela primeira vez.

Ben ergue os braços e olha para os demais que assistem a cena tocados. Ele retribui o abraço e sussurra para que fossem. Os dois caminham assim até o carro dele. Rey vai acompanhada da assistente com Ben, enquanto Han e Leia vão no deles. Rey reluta um pouco em entrar no veículo, suas pernas tremem e ela se desespera agarrando a mão dele.

Ben para e olha para ela, se sentindo um imbecil por não ter se dado conta antes de que ela provavelmente teria reflexos do que houve. Ele se aproxima um pouco mais buscando confortá-la.

— Ei, está tudo bem. Não vai acontecer nada. Estamos perto do cemitério. Eu não vou deixar que nada aconteça, confie em mim. — Ela olha para ele profundamente, sendo amparada pela assistente, as palavras dele bastam para convencê-la a entrar. 


 

****


 

O caminho do hospital para o cemitério Forest Hills não é longo. Rey não diz uma palavra durante a cerimônia. Foi algo intimista. Apenas o padre, a assistente e os pais de Ben, além dos dois. A garota se mantem ao lado dele durante todo o tempo. Chora com o discurso fúnebre do padre. Ben não consegue fazer isso. Assim como Rey ele mal pode falar.

Depois do enterro a assistente concorda que Ben leve a garota com ele para Manhattan onde ele mora. Eles ainda precisariam conversar sobre o processo de adoção da menor, por isso é dado um prazo de cinco dias para que eles comparecessem a vara, tendo em vista a delicadeza da situação e o estado de Rey.

A mulher retorna ao hospital. Ben menciona aos pais que irá até a casa de Cassian e Jyn com Rey buscar algumas coisas dela, para que pudessem levar. Isso faz com que Rey reaja. Depois de tanto tempo sem dizer uma palavra ela se manifesta para a surpresa dos três mais velhos.

— Eu não quero voltar lá, Ben. Por favor? — Ela começa a chorar e isso os deixa preocupados. Ben concorda às pressas.

— Tudo bem, tudo bem. Nós não iremos. —

Ele a abraça novamente antes de colocá-la com ele no banco da frente, ela ainda tem medo de entrar no carro, só parece se convencer depois de lembrar do que Ben disse. Os dois ficam sozinhos novamente. Ben se mantem concentrado no trânsito e ela se encolhe no banco encostando a testa contra o vidro. Durante a viagem Ben nota que Rey olha para ele com o canto dos olhos algumas vezes.

Ele aperta os lábios e se pergunta o que está se passando pela cabeça dela. Então decide falar.

— Você está bem? — Ele olha para ela rapidamente antes de tornar a se concentrar nos carros a sua frente. Rey pisca algumas vezes. Ela é extremamente tímida, seu rosto está vermelho e o dentes mordem os lábios repetidas vezes. Ben não deixa de notar isso.

— Sim — Ela responde com o tom de voz baixo. E ele ergue as sobrancelhas. É raro ouvi-la falar. Se ele ouviu mais que dez frases em todas as vezes que esteve com ela, foi muito. Ela continua e o pega de surpresa.

— Eu... eu só queria agradecer por você ter aceitado ser meu tutor... —

Porra! A adoção. Com tudo que aconteceu, ele só pensou em deixar as coisas como estavam, mas isso ainda teria que ser algo a se conversar. Ben não tinha a menor condição de ter a guarda dela. Ele fica mudo e não responde. Não iria falar sobre isso com ela. Não agora. Eles seguem para a cidade e Ben decide que até lá, esse assunto deve ser evitado.

 



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