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História Tainted Love - Reylo AU - Inesperado


Escrita por: jessylou e MilaBanks

Notas do Autor


Amores, voltamos! Por problemas de saúde o capítulo demorou um pouco a sair. Vocês que lutem com o tamanho desse, pois tá meio impossível de conseguir fazer algo com menos de 10mil palavras 😂😂

Fizemos uma lista com às músicas que tocam nesse capítulo.

Ela vai estar nas notas finais. Esperamos que apreciem. Boa leitura, bebês♡

Capítulo 15 - Inesperado


Fanfic / Fanfiction Tainted Love - Reylo AU - Inesperado

E mais um dia de aula acontece. Um dia comum como todos os outros. Pessoas andando apressadas pelos corredores. Professores e seus intermináveis deveres. Gritos na reunião de alunos no refeitório.

Algumas bolinhas de papel voando pelo ar. A típica junção de excessos. Hormônios, rebeldia e tédio, tudo isso brigando para saber quem impera mais sobre a cabeça dos futuros formandos do Coruscant Billiard School.

Pode até ter sido um dia normal para eles. Mas não para a garota sentada no canto das escadarias que espera seu motorista buscá-la. Rey foi para a escola cantarolando, com o melhor humor que já teve desde seus poucos dias felizes com a partida de seus pais.

Apesar de seus esforços, ela não quer esquecer ou apagar nenhum momento do que viveu com eles. Odeia a ideia de deixar tudo guardado, como uma caixa de mudança com coisas velhas.

Ela se esforça para estar feliz dia após dia. Pois sabe que é exatamente isso que Jyn e Cassian gostariam de ver. No entanto, seu estado de humor elevado (no bom sentido) tem um motivo especial. E esse motivo se chama: Ben Solo.

Com seu rosto perfeito, seu cabelo perfeito, sem contar o corpo que... Deus! Ela precisa se abanar só de pensar nele. Rey não sabe disso ainda, mas são seus hormônios falando, além de claro, o fato de que cada elogio faz jus à tudo que ela pensa sobre ele.

Ben foi um excelente professor na noite passada. O que ele fez por ela, anulou tudo. A conversa mal resolvida entre eles, o afastamento de semanas, a trapaça de Jessika.

Nada, absolutamente nada disso, tem importância para ela agora. Rey só consegue se concentrar no que aprendeu. No que Ben a ensinou, nos seus lábios beijando a pele dela. Os arrepios percorrendo todo o corpo que só de lembrar acabam voltando.

Enquanto se ocupa em enrolar uma mecha de cabelo no dedo. Rey, mergulha na lembrança viva e recente. Ela balança os joelhos de um lado para o outro até que escuta uma buzina. Isso a faz despertar apenas para ver que ao invés do Bentley de Antilles, o que está a sua frente é o esportivo preto de Ben.

Rey se levanta apressada para correr até a janela do carro se inclinando para olhar e ter certeza de que não é só uma miragem. Ela estava pensando nele, não é? Talvez seja um sonho. Ela pisca boquiaberta e incrédula quando o vê. Ele não deveria estar no trabalho? Isso é...

— Ei! Eu vim te buscar. Não vai entrar? —

Rey tem vontade de gritar, saltitar, dar cambalhotas. Porque, sim. Depois de tudo o que houve, Ben não está afastado. Ele está ali parado, porque veio buscá-la. Ele quer ficar com ela e isso parece um sonho.

A pele dela começa a formigar de excitação. Se lembra das mordidas que recebeu daqueles lábios cheios, que estão na mira de seus olhos agora. Ela sopra o ar quando seu rosto esquenta, ainda distraída demais para notar que ele está chamando por ela.

— Rey? Rey! — Ela pisca para ele dando um sobressalto antes de abrir a porta com um sorriso radiante que vai de orelha a orelha.

Ao entrar no carro, as coisas ficam um pouco menos simples do que eram a segundos atrás. Não que tenha deixado de ser bom vê-lo ali. É só o pequeno espaço compartilhado que se torna sufocante. Seu pulso acelera, seus olhos desviam dos dele, indicando que o excesso de confiança saiu de cena para dar espaço a timidez.

Ela se lembra muito bem do que houve, por isso não consegue ignorar o impacto que a aproximação de Ben causa nela. Se pergunta se bastava esse passo para que as coisas mudassem. Ben está com ela e por Deus, ela nunca notou seu carro tão apertado.

Mesmo sem jeito ela se inclina para beijá-lo como sempre faz com todos a quem cumprimenta ou se despede. O que ela não espera é que Ben vá fazer o mesmo. Os dois se aproximam ao mesmo tempo e, por esse motivo suas cabeças quase colidem uma com a outra.

Ambos estão a milímetros com seus lábios entreabertos e, um olhar desconcertado. Ben tenta mover seu rosto mas Rey o acompanha. Se alguém pudesse vê-los agora, diria que é como ver uma dança de coreografia ruim. Com bailarinos dando passos individuais e desencontrados.

Ben de repente desiste de tentar beijá-la. Ele para e permite que ela o faça. Rey entende o recado, já que rapidamente deixa os lábios pousar contra a bochecha lisa de pelos perfeitamente aparados. O cheiro da loção pós barba é delicioso e se mistura com o perfume de sândalo que ele usa.

Ele por sua vez se afasta assim que ambos escutam o som estalido do beijo. O rosto de Rey está queimando. Por pouco seus lábios não se encontraram, o que só serviu para aumentar a tensão. Ben se agarra ao volante. Fazendo-a se dar conta de que não é a única desconfortável.

Ele olha para o para-brisa antes de virar pra ela novamente. Seus olhos castanhos dourados, escurecem para um marrom ocre, escuro e sombrio. Ben se inclina na direção dela e nesse momento. É exatamente nesse momento, que o resto do mundo parece entrar em câmera lenta. 

Ele está perto, tão perto que ela tem medo de que ele vá ouvir seus pensamentos. Com todo seu tamanho, Ben praticamente invade o espaço dela. É agora, ela pensa. Ele irá beijá-la. Ela não está preparada pra isso. Existe preparação para isso?

Sua mente borbulha com perguntas, quando tudo o que ela quer são respostas. O que deve fazer? Ela não sabe, por isso, escolhe o mais prudente, ficar parada.

Rey só consegue engolir o nó que enrola na garganta, quando muda sua postura. Ela está de frente para o porta luvas endurecida no assento. É de dar inveja a qualquer estátua. Ela fecha os olhos esperando que lábios macios encontrem os seus mas... nada acontece.

— Rey? — Ben a chama e por isso, abre os olhos. Ele quer que ela o veja? Deus, a ansiedade sufoca tudo dentro dela.

— Sim? — Ela pisca lentamente com os cílios grandes. Quando vê que Ben está apontando para um lugar específico.

— O cinto... posso? — O processo de compreensão é lento, mas não demora muito a chegar. Ela olha em direção ao cinto de segurança e se dá conta de que não o colocou. É só isso o que ele quer?

— Oh! O cinto, claro. Eu me esqueci — Ela responde depressa demais, nervosa demais, até mesmo desapontada. É uma quebra de expectativa e tanto. Ainda que, ela a tenha criado sozinha.

Alimentada por uma falsa impressão que se dissipa no momento em que Ben a faz lembrar de que, eles continuam exatamente como antes.

Ben se move, diminuindo ainda mais o espaço entre eles e se inclina sobre ela. Até que seu braço esquerdo puxa o cinto que está na lateral do banco para passá-lo pela cintura dela. Ele o trava sem qualquer esforço.

Rey solta o ar que está segurando a segundos. Porque, agora, é a vez de ajustar a faixa que fica sobre o peito e ele, claramente não cede espaço algum a ela.

Seu pescoço está a poucos centímetros. Ben parece estar lutando com o cinto que travou, enquanto Rey luta com ela mesma. Não sabe o que a atinge mais, o estado de nervos ou a sensação inebriante do perfume gostoso dele invadindo cada sentido dela.

A ponta do nariz quase encosta no pescoço dele. E, é possível ver seus traços agora que está tão perto. Os pelos da nuca estão eriçados. Rey fecha os olhos e inspira o cheiro com sutileza.

Ela é atraída por ele como em um feitiço. Ben se afasta e ela o segue sem se dar conta, até que o cinto que está preso a faz acordar.

Ela olha para a faixa e morde os lábios um pouco sem jeito, na esperança de que ele não tenha notado o que por pouco não aconteceu.

— Está tudo bem com você? Parece distraída hoje. —

A pergunta dele deixa claro de que, sim, sua postura estranha e distraída não passou despercebida por ele.

Na verdade, ela está nervosa. E não é para menos. Rey se pergunta se Ben esqueceu o que houve. Porque pelo o que parece, sim.

— Sim. Eu estou bem. E você? Dormiu bem? —

Ben está olhando para frente, mas sua atenção é dela. Principalmente porque ela nota quando ele a observa com o canto dos olhos.

— Não tanto quanto eu gostaria — Seu tom de voz é tão baixo que mais parece um murmúrio. Exceto que, ela consegue ouvi-lo.

— Então, não foi bom? — Se antes ele evitou olhar, agora, ela o tem por completo.

Ben a observa em silêncio.

Seus lábios se apertam e ele trabalha o maxilar. Ela franze o rosto esperando por sua resposta, mas ele evita a pergunta com outra.

— Esqueça. Você dormiu bem? — Ela assenti. Não quer mostrar empolgação demais, já que ele foi tão reservado com relação a resposta dele.

— O remédio que você deixou na cabeceira foi muito bom. Tirou as minhas dores e, eu dormi muito bem. Obrigada Ben —

Essa é a última interação deles até o silêncio sepulcral se instalar.

Ben se concentra na direção e ela em nada ou lugar algum. O que lhe resta é olhar o que o carro deixa para trás através da janela, enquanto estão em movimento.

Eles passam um tempo assim. Metade de um caminho que ela por costume já decorou. No entanto, Ben não parece estar dirigindo até a cobertura.

— Então... como foram as coisas no colégio? — Ben inicia uma conversa e isso a surpreende.

— Boas, quer dizer. Normais. Jessika me pediu desculpas pelo o que houve ontem —

— Ela pediu desculpas? — Ben arqueia as sobrancelhas enquanto mantém os olhos no trânsito.

— Sim. Paige veio me contar que eu havia passado no teste, mas eu recusei o convite. E logo depois Jessika me procurou, ela parecia realmente arrependida. Tornou a me convidar para o aniversário dela. Disse que se assustou quando me viu cair. E então eu aceitei. —

Rey respira fundo depois de tudo o que fala. Deus! Ela falou tanto e sem parar. Quando olha para ele vê que Ben está reprimindo um riso.

— Isso foi um resumo e tanto. Então você vai para o aniversário dela? Por que negou o convite para o time, depois do trabalho que teve para entrar na equipe? — Ela pensa um pouco.

— Sim, eu aceitei. Ela propôs nos acertarmos, negar o convite seria falta de educação. Sobre o time, não era o que eu queria, Ben. —

Ele acena positivamente quando para o carro em uma vaga na esquina de uma avenida movimentada.

— Isso é bom. Não o fato de ir ao aniversário da mimada, mas, quanto a não entrar para o time —

— Perdão? — Rey fica chocada pela declaração de Ben, pensou que ele torcesse por ela. E não que fosse ficar feliz por vê-la desistir.

— Não me leve a mal, Rey. Só acho que o que você realmente quer, é outra coisa —

Ele aponta para um lugar que está do lado de fora, bem ao lado dela. Rey olha na direção que o dedo dele aponta quando vê um prédio de portas altas.

Se assemelha e muito a entrada do colégio, exceto por algumas janelas e vitrines ao lado. A fachada é de tijolos expostos, com um enorme letreiro preto de letras cursivas na cor dourada.

Nele está escrito "American Ballet Theatre".

Tem crianças das mais diversas idades saindo e entrando do prédio. Todas com collant e casacos. É o que ela está pensando? Rey olha para ele confusa e espantada. Até que Ben começa a se explicar.

— Tá vendo aquele edifício ali? — Ben aponta para um enorme edifício pouco a frente no próximo cruzamento. Ele é todo de vidro azulado, misturado a concreto e aço.

— É ali que fica o meu escritório. Aliás, a Skywalker Organa-Solo. Eu passo em frente a esse estúdio todos os dias. E, há uma semana eu decidi entrar. Acontece que, bom, perguntei se ainda estavam aceitando matrículas. E eles estão. —

Rey não sabe o que dizer. Ela olha para o prédio novamente, assim que ele termina de falar. É tão grande, pelo menos por fora.

Diferente do modesto estúdio onde fez suas aulas quando criança. Seus olhos se enchem de lágrimas com as lembranças.

— Você ama balé, Rey. Acho que é o lugar certo pra você. O que me diz? —

Ela sorri e soluça ao mesmo tempo. Sem pensar por mais um só segundo, Rey solta a trava do cinto de segurança e se atira nos braços dele como sempre faz em busca de conforto.

Ben se tornou seu porto seguro desde que seus pais se foram. Mas não é só por isso que ela o abraça agora. Não é só pela necessidade, mas pela gratidão.

Ele pensou nela, além de escutá-la. Se importou com as vontades dela. Rey esconde seu rosto no pescoço dele e se aperta um pouco mais em seu corpo.

— Eu vou interpretar isso como um sim —

Ele sussurra para ela enquanto os seus braços a seguram firme contra ele. Ela mal se dá conta de quando começa a beijá-lo, inúmeras vezes por todo o rosto.

— Obrigada, Ben. Obrigada — Ele nega lentamente segurando o rosto dela, para que possa se conter enquanto ri.

— Não precisa me agradecer, Rey. Vem. Vamos entrar. Você não quer conhecer? —

Ela assenti para ele, animada e com um sorriso escancarado. Seu dia não pode estar sendo mais perfeito.

 

****

 

Rey entra primeiro. Ben está logo atrás dela com a ponta dos dedos encostados na base de sua coluna. Ele a guia gentilmente enquanto ela observa o lugar.

Pelo corredor tem uma fileira com cadeiras e bancos, com algumas mulheres sentadas que ela identifica como sendo as mães de algumas das alunas.

Todas as salas têm espelhos que vão de uma extremidade da parede a outra. As outras assim como do lado de fora são de alvenaria rústica, com tijolos expostos e tetos inclinados de madeira maciça.

O piso laminado brilha na claridade das janelas que ficam um pouco acima das barras de apoio. O estúdio é incrível. São pelo menos três salas idênticas, pelo o que pode contar.

Ela para diante de uma das salas apenas para ver uma das professoras iniciar sua aula com a turma de pequenas bailarinas. Elas não devem ter mais do que cinco anos. Vestidas em collants e saias rosa, com sapatilhas no mesmo tom. Deve ser o código de vestimenta, pois é o mesmo que a professora veste.

Elas estão treinando os primeiros passos. A posição dos pés, o direito à frente do esquerdo, direções opostas, postura alinhada e então o plié. Ela reconhece os movimentos. Passou dessa fase, mas sente saudades da disciplina.

— Você deve ser Rey — Uma voz gentil a chama de fundo, fazendo com que ela se vire.

Rey observa e vê uma mulher não muito mais alta do que ela. Seus cabelos são castanhos, e estão amarrados em um coque preso no alto da cabeça. Ela tem olhos claros que Rey quase poderia dizer que são verdes, se não fosse por algumas sombras de um castanho dourado nas íris. Seus olhos são semelhantes aos de Ben.

Ela está com a mesma roupa da outra professora e, quando se aproxima o suficiente estende sua mão para que Rey possa segurá-la.

— Muito prazer. Eu me chamo Bazine Netal —

Ela abre um sorriso ainda mais gentil do que seu tom de voz. Bazine é muito bonita. Seu corpo é esguio, mas as pernas são grossas e, se acentuam abaixo da meia-calça.

Rey se enganou a princípio, ela é alta também. Quando para ao lado de Ben isso se torna visível.

Se não estivesse vestida como uma professora, Bazine tranquilamente passaria por uma das modelos de capa de revista que sua mãe lia.

Rey segura a mão dela rapidamente, se dando conta de que a deixou esperando.

— Sim, sou eu. Muito prazer. —

Ambas apertam as mãos enquanto Rey sorri para ela. Bazine lhe dedica bons minutos de atenção antes de se virar para cumprimentar Ben.

— Prazer em revê-lo, senhor Solo. Tem uma irmã muito bonita. —

O grau de parentesco faz o estômago de Rey revirar. Faz com que ela se sinta suja por gostar dele como homem.

Bazine não tem culpa por acreditar que são irmãos, já que Ben não se preocupa em desmentir. Rey observa a interação deles. Mas ela não dura muito.

— Soube por Ben que você frequentou as aulas de balé quando era mais nova. Gostaria de me mostrar o que sabe fazer? —

— Eu adoraria. Mas, não sei se consigo. Minhas pernas ainda estão doendo e... — Rey começa a explicar, quando Ben conclui.

— Ela sofreu um pequeno incidente ontem no colégio, ainda está se recuperando —

— Poxa. Eu sinto muito Rey. Espero que melhore rápido. Se não se importar posso te mostrar nossos estúdios. Quer conhecer? —

Rey concorda e Bazine a guia pelos corredores mostrando os diferentes estilos de dança que são ensinados para cada turma. Ela descobre que há um segundo andar.

A sala não é diferente das demais, exceto que, seu espaço parece ainda maior. As duas conversam sobre as disciplinas que Rey já havia aprendido ao longo dos anos no balé.

Rey explica os motivos para ter abandonado as aulas. Enquanto Bazine lhe conta o que passou antes de ganhar uma bolsa.

Sua infância não foi fácil e isso de certa forma deixa Rey inspirada. Bazine fala sobre o incentivo necessário para o balé. Além da importância de não abandoná-lo.

As duas ainda estão em uma conversa animada, enquanto Ben fica para trás ocupado com alguém no celular.

Elas param para observar uma turma, que dessa vez são de bailarinos adultos.

Rey assiste os passos profissionais embasbacada, enquanto Bazine conta a ela que eles estão ensaiando para uma apresentação. Sua atenção com eles dura tanto tempo que ao olhar para trás ela percebe estar sozinha.

Ben está no canto do corredor acompanhado e, Bazine está com ele agora.

Os dois conversam distraidamente, até que ela o toca no braço. Ele não se incomoda com isso, pelo o contrário, sorri para ela. E Rey sente seu rosto esquentar. Eles parecem tão... íntimos.

Bazine cruza os braços e concorda com algo que ele fala. Parecem tão bonitos juntos, que Rey não consegue evitar o ciúmes. Ela repara neles por tanto tempo, até que os dois se viram para olhá-la.

Ela hesita um pouco antes de caminhar até eles, mas Bazine se adianta, gentil como foi desde o início.

— Vi que você estava fascinada olhando para o ensaio dos bailarinos. Por isso, decidi que irei marcar um teste para você na semana que vem. Se estiver tudo bem? —

Rey olha para Ben e depois para a professora mordendo os lábios. O lugar parece um sonho, mas um sonho caro e, isso a incomoda um pouco.

Seus pais jamais poderiam pagar por algo assim. Ela sente que não tem o direito de fazer com que Ben gaste com ela, por mais que ame frequentar aulas de balé.

Ela concorda um pouco hesitante fazendo com que Ben franza as sobrancelhas. Não é apenas ele que percebe seu desconforto, mas também a professora.

— Eu sinto que você tem vocação e gostaria muito de poder trabalhá-la com você. Disse isso a seu irmão e agora digo a você. Não desperdice uma oportunidade como essa Rey. —

Bazine reforça sua intenção para tentar convencê-la.

Ela morde o interior das bochechas enquanto olha para Ben. Eles precisam conversar sobre isso antes. Mas um teste não será problema e ela pode muito bem fazê-lo.

— Sim. Eu gostaria de marcar o meu teste, professora —

 

****


 

Apesar de reconhecer e ser grata pela iniciativa de Ben em correr atrás das aulas de balé. Rey sente dificuldade em aceitar seu 'presente'. Ela não sabe como ele pretende conduzir as coisas, ainda que para ela o mais justo seja levar como um favor.

Um favor que pode e deverá ser pago. Ben não apenas está pensando nela, mas também investindo. Isso a faz se perguntar sobre vocação.

Desde pequena ao ouvir os comentários de Cassian ela se convenceu de que queria seguir a carreira do direito. Parte dessa inspiração veio de Ben. Ela tinha como certa a idéia.

Mesmo nunca tendo estudado o assunto com devida atenção. Anos afastada de um estúdio de balé a fizeram esquecer do quanto amava a dança e a arte.

Ela sempre foi apaixonada por música e cinema, todos correlacionados com o balé clássico. Rever as crianças e a equipe ensaiando, ascende dentro dela uma paixão até então adormecida.

Ela está pensando no assunto até Ben alcançá-la do lado de fora.

— O que foi aquilo? — Ben pergunta, enquanto caminha ao lado dela segurando em seu antebraço para fazer com que pare de caminhar.

— Aquilo? — Ela o questiona genuinamente confusa.

— Você hesitou, Rey. Pensei que quisesse praticar balé. Que fosse o que queria... —

— E é, Ben... — Ela morde os lábios olhando os pedestres ao redor antes de olhar para ele novamente. Ben franze as sobrancelhas descrente da resposta pouco esclarecedora que ela dá.

— Vai ter que fazer melhor se quiser me convencer, com essa resposta vaga. Tem um mas, não têm? — Ela assenti depois de ouvir a pergunta.

— Isso parece ser muito caro. Eu não quero que você tenha gastos além dos que já tem comigo. Eu sei o quanto meus pais deram duro para manter esse sonho vivo. Não quero que você faça isso —

Os ombros de Ben caem. Ele nega apressadamente e não é difícil prever que tendo tomado uma atitude como essa ele irá discordar do ponto de vista dela.

— Você sabe que essa questão não é problema, nunca foi. Não para mim. É algo do qual você ama. Eu faço com prazer. Você não tem que se preocupar com gastos, tem que se preocupar em fazer o que gosta. —

—Eu sei, mas... — Ela tem uma ligeira ideia do quão difícil é contra argumentar com um advogado.

Leia a ensinou na prática. Ben é tão semelhante a sua mãe que isso a faz se dar conta de que está travando uma batalha perdida.

Ela tenta falar mas ele a interrompe olhando a multidão que passa de um lado para o outro entre eles.

— É melhor conversarmos em outro lugar. Vamos? —

Rey não tem outra opção se não concordar, mas acaba parando no caminho quando se lembra de algo.

— Espere. Eu preciso comprar o presente de Jessika. —

— Sério? Você ainda pretende presentear aquela enjoada? —

— Sim, Ben. Eu não pude dar a ela o presente que ela queria. Além do mais, ninguém chega em um aniversário sem presente —

Ele cerra os olhos para a resposta dela. Seus lábios se apertam depois do que ela acredita ser uma tentativa de não ceder à curiosidade.

— E o que ela pediu a você? Um carro? —

— Não Ben. Ela quer o seu número —

Sua resposta o faz recuar quase uns cinco passos com o olhar mais desaprovador que ela já viu. Rey não consegue reprimir o riso ao vê-lo com tanta repulsa.

— Está bem, está bem. Você me convenceu. Vamos comprar alguma coisa pra ela —

Rey não sabe ao certo o que escolher para Jessika. A julgar pelas poucas vezes em que a viu sem o uniforme, ficou mais do que evidente que ela é do tipo que curte grifes caras.

Enquanto anda pelos cabides, ela nota Ben bufar umas três vezes, sem nem mesmo disfarçar a impaciência.

Apesar da desaprovação dele quanto a vê-la presentear alguém como Jessika. Rey até que consegue se sair bem. Ele pergunta se ela não vai escolher nada para ela. Mas Rey já está satisfeita com tudo que ganhou de Leia. O que não foi pouca coisa.

Ela escolhe um par de tênis de corrida consideravelmente caro. Eles irão servir para os treinos dela, talvez.

Depois das compras eles vão para uma sorveteria. Rey nem consegue esconder de como a ideia dele a agrada. Ben está fazendo do seu dia uma sequência de surpresas agradáveis.

Os dois se sentam no canto do pequeno e aconchegante espaço retrô. Algumas pessoas estão sentadas de frente para mesas de canto com bancos de encosto alto, que formam cabines quase individuais.

Eles estão sentados ao lado da janela com vista para as ruas e pedestres de Manhattan.

O lugar, que é todo em tons de verde e branco, parece ter saído direto de um cenário dos anos oitenta. Uma garçonete com uniforme típico dos que se vê em filmes como Grease se aproxima para fazer o pedido.

Ben pede um Latte Macchiato e ela um Sundae de morango.

— Então. Não vai me dar uma resposta sobre a escola de balé? —

Ela ainda tem a mesma opinião, mas não sabe o que parece mais rude. Deixar que ele pague por aulas tão caras ou negar um presente.

— Ben, eu não sei. — Ela murmura e ele se inclina para frente ficando mais próximo.

— Rey. Quando eu tive a ideia, nós não estávamos nos falando. Além de ser algo que você gosta, é uma forma de me desculpar pelas coisas que eu disse. Vou entender se você não quiser, eu só pensei que... isso fosse deixá-la feliz. —

As palavras dele derretem seu coração. Talvez seja o modo como ele fala, a intenção por trás das palavras ou seus olhos lindos e castanhos olhando para ela com cuidado. Ben consegue desarmá-la tão facilmente. Seu coração se enche e ela sorri.

— Tudo bem, eu aceito o presente —

— Ótimo. Estou contente em ouvir isso, Rey. —

Ela sorri e ele também. Os olhos de Ben, descem em direção aos lábios dela, e isso não lhe passa despercebido.

Ela entreabre os seus para respirar. Ben está encarando demais, começando a deixá-la nervosa.

— Você está com uma coisinha aqui... — Ele fala e esfrega o indicador no próprio lábio para mostrar a ela onde está sujo.

Rey franze o rosto e então passa o guardanapo para tirar o que fica de excesso do sorvete.

É tão desastrada, que isso nem a surpreende. Para completar, além de suja está pensando besteira como se ele fosse realmente beijá-la.

— Saiu? — Ela pergunta vendo ele sorrir e se inclinar um pouco mais.

— Não, Rey. Espere. Não se mexa! —

Ben ergue sua mão encostando o polegar contra os lábios dela. Seus olhos acompanham o movimento do polegar que vai de um canto para o outro. Ele limpa o que está ali enquanto ela o observa boquiaberta.

Como se já não fosse o suficiente, Ben leva o indicador até a própria boca para chupá-lo. Ele faz um som apreciativo que se assemelha com um gemido, arrepiando-a por inteiro.

Deus isso foi... tão quente.

— Pronto, agora sim. — Ben se afasta despreocupadamente, deixando uma Rey hiperventilando a sua frente.

Ela ergue os cabelos com a mão esquerda, enquanto se abana com a direta.

— Não tinha me dado conta de como o dia está quente —

Ela ofega com o próprio comentário vendo que os olhos dele agora disparam para o seu pescoço.

Ben não parece apreciativo como quando olhou para os lábios sujos. Sua postura se torna rígida e seus olhos se arregalam.

— Puta merda, Rey. Alguém viu isso? —

Os olhos dele ainda estão no pescoço dela e Rey se pergunta sobre o que ele está falando.

— O que? Viu o que Ben? — Ele torna a se inclinar na direção dela, mas agora é para afastar a gola de sua camisa.

Ben segura seu celular e com o visor apagado ele o reflete em direção a garganta. Rey percebe que há algumas manchas roxas na região bem abaixo de onde os seus cabelos estavam.

Os olhos dele se endurecem. Quando ela abre a boca com um sinal claro de surpresa. O que? São marcas de onde os lábios dele estiveram.

— Você... você as fez Ben — Ela comenta apenas para vê-lo afirmar.

— E alguém notou? — Ele pergunta vendo-a negar. Nem mesmo ela notou ao pentear os cabelos antes da aula.

— Eu sinto muito, eu não queria que... É melhor você passar uma maquiagem por cima, tudo bem? Até que desapareça. —

Rey não entende muito bem o porquê dele estar tão preocupado. Por ela assumiria que são marcas de carinho. Carinhos que ele fez nela na noite passada. Marcas que a fazem se lembrar do que ele fez.

— Certo, Ben. Posso pedir uma coisa? —

— É claro. O que quiser. —

— Será que eu posso repetir o sorvete? — Ele ri desmanchando a tensão que havia se instalado.

— Sim, Rey. Você pode repetir —

 

****

 

Aquele foi um dia divertido, agradável e inesquecível. Sem sombra de dúvidas entraria para o topo da lista de melhores momentos da vida dela.

Mas é como sua mãe sempre dizia: Assim como uma tempestade precede dias de sol radiante. Um dia de sol também pode preceder uma tempestade.

Por sorte, essa não envolvia Ben. Depois de terem feito as pazes o clima entre eles melhorou bastante. Estiveram afastados novamente, sim, mas por questões que não cabia a eles evitar.

Ele não quis entrar em detalhes com ela sobre a pressão que estava rolando no escritório a respeito de um cliente que eles vinham tentando conseguir a meses.

Ela também não o pressionou para saber além do que poderia entender. Seu tormento era outro e tinha data marcada para acontecer. Uma prova de física que a estava deixando de cabelo em pé. Rey não fez outra coisa se não passar quase uma semana estudando para ela.

Suas notas na matéria não estavam das melhores, então era crucial que fosse bem no teste. Até mesmo recusou-se a passar o fim de semana com seus tutores. Ben tão pouco foi para lá. Aproveitou que ela estaria em casa para trabalhar.

Enquanto ela se trancava na biblioteca, ele se trancou no escritório. Se reuniam para o café, almoço e jantar. O clima bom entre eles foi a melhor coisa que aconteceu a ela nos últimos tempos. Desde que passaram a morar juntos, desde a morte de seus pais.

O resultado dos estudos lhe rendeu um 'A' que ela exibiu com orgulho para as três pessoas mais presentes em sua vida agora. Ben até sugeriu que a nota fosse comemorada quando se reunissem com seus pais em um próximo fim de semana.

Seus deveres na escola fez com que o tempo passasse mais rápido do que o habitual.

Isso a leva para o presente momento. Onde está sentada no banco de trás do Bentley de Antilles, a caminho de uma festa que ela não tem tanta certeza se deve ir.

Fato é que sua convivência com Jessika no colégio também melhorou. Sim, ela ainda mantinha a mesma postura pouco gentil com todos.

Mas deixou de pegar no seu pé. As pessoas são o que são e ela entende que mudanças são difíceis. Por isso não esperou muito de Jessika.

Rey é grata por saber que pelo menos Rose e Paige estarão lá. Ela também sabe que grande parte do pedido de desculpas de Jessika partiu por incentivo de Paige. Embora, nem Rose e nem ela tenham admitido ter um dedo sequer nisso.

Ben está no escritório, mas desde cedo mandou mensagem ressaltando que iria buscá-la. Que ela deveria avisá-lo quando a festa acabasse. Antilles pára o carro em frente a residência de Jessika. Ela desce apressada para não deixá-lo ali. Pela quantidade de carros parados seria impossível estacionar.

O bairro de Chelsea é muito luxuoso. Todas as casas são geminadas, com escadas que levam até as portas. A de Jessika, no entanto, é exceção. A porta fica de frente para um canteiro de árvores em um estreito corredor com grades. Ela encontra algumas pessoas paradas conversando em frente a porta.

É possível escutar o som da música vindo do interior. Ela entra sem muita cerimônia já que todos fazem isso dando livre acesso a porta. A casa tem no mínimo uns três andares. Há pessoas nas escadas, pelos corredores que levam a cozinha e, em uma sala ampla.

Na sala, é onde a maioria parece se concentrar. Algumas pessoas estão dançando, outras sentadas no sofá, conversando ou beijando. Enquanto um dj trabalha em seu aparelho de mixagem ao fundo, do lado de uma lareira desligada.

Se Rey não tivesse visto tantos filmes com cenas como essa, até poderia se impressionar. Ela nunca foi para uma festa antes, nunca teve amigos ou saiu para comemorar a data de algum. É sua primeira vez e, ela pode dizer que está achando o máximo.

Sente um frio na barriga quando atrai alguns olhares. Está de vestido como a grande maioria das meninas. Teve a ajuda de Rose nesse ponto. A amiga contou como as meninas costumam se vestir para uma festa, e apesar do pouco costume, até que ela caminha bem com suas sandálias de salto alto.

Rey se vira a tempo de ver Jessika descer as escadas para recebê-la. Medindo seu visual com os olhos sem nem mesmo se preocupar em ser notada.

— Rey! Você veio... — Jessika a abraça com uma afinidade não muito corriqueira.

E embora ela estranhe um pouco pelos recentes acontecimentos, não consegue deixar de retribuir. Ela entrega o presente com um encolher de ombros já se desculpando caso não tenha acertado no gosto.

— Muito obrigada. Eu sei que vou gostar. Fique a vontade. Paige e Rose estão na cozinha... —

Rey sorri agradecida por ela estar sendo tão amável. É bom ver as coisas finalmente dando certo para ela. Com Ben e, agora com Jessika. Ela caminha entre os convidados e encontra Rose perto do ponche. Ela está enchendo o copo quando a vê.

— Finalmente, Rey. Já estava cogitando em ir te buscar. Uau, você está linda! —

Rey olha para si mesma, ajeitando a saia de seu vestido rodado e preto. Ela sorri com orgulho por ter conseguido se arrumar sozinha sem muita noção do que vestir. O elogio de Rose a deixa um pouco sem graça por isso ela encolhe os ombros mais uma vez.

— Imagina Rose. Você é que está. E a Paige? —

Rose está realmente bonita. Seus cabelos estão muito maiores do que estavam no início das aulas. Ela já não usa mais a franja engraçada e, seu vestido é vermelho. Tem um decote que acentua seus seios.

Eles são grandes, maiores que os de Rey. Isso a faz se perguntar se os dela irão ficar assim quando alcançar seus dezoito anos também.

— Paige me abandonou para enfiar a língua na garganta do Peter. O atleta do time de basquete... deixa ela pra lá. Você quer um ponche? —

— Tem álcool nele? — Rey pergunta e vê Rose negar rapidamente.

— Não esse aqui. Fiquei por perto tempo suficiente para não deixar ninguém batizá-lo. Eu vou dirigir, não posso beber —

— Então eu quero sim —

As duas bebem, até avistarem três garotos se aproximando delas. Um é excessivamente alto. Tem os ombros largos, parece forte. Os cabelos são escuros em um corte militar espetado.

Os outros menores e mais franzinos. Eles vestem a jaqueta do time de basquete. E Rey estranha o fato de todos estarem assim. É como se eles não existissem sem suas jaquetas descoladas do time.

— Ei Rose. Não vai nos apresentar sua amiga? — O mais alto se aproxima de Rey que se encolhe entre ele e Rose.

Ela por sua vez é cercada pelo outro que rouba o copo de ponche que ela estava bebendo.

— Ei! Eu não tinha terminado. Essa é a Rey, minha amiga caloura. Rey, esse é o Josh. Capitão do time de basquete e, maior galinha da escola —

Rose o encara com um sorriso atrevido quando ele revira os olhos.

— Não liga pra ela, essa última parte não é verdade. —

Rey sorri um pouco sem jeito com a interação. E fica ainda mais quando ele se aproxima dela.

— Sim, é verdade Rey. Aliás, não era pra você estar atrás da Jessika? — Josh ignora as palavras diretas de Rose.

— Você é caloura? Como é que eu não vi você por aí? — Rey pisca algumas vezes antes de respondê-lo.

Bom, ela não é o que se pode chamar de destaque por onde vai, não é? Pelo menos não é sua intenção chamar a atenção de ninguém.

— Eu não gosto de chamar atenção. Costumo passar despercebida, mesmo —

— Você passar despercebida? Impossível. Não quer ir lá fora comigo? Podemos conversar mais à vontade. Muito barulho aqui —

Ele se aproxima um pouco mais e ela leva o copo de ponche na boca para disfarçar o nervosismo.

— Talvez mais tarde, Josh — Rey sorri para ele enquanto se afasta um pouco

— Eu vou cobrar, gata. — Ele pisca tomando o caminho para o corredor com seus amigos.

Ele é um garoto bonito, claramente está dando em cima dela, a ponto de fazer com que outras garotas a olhem torto. Mas porque ela não está confortável com isso?

O que ela deveria sentir é satisfação por um cara tão aparentemente cobiçado estar dando atenção só para ela. Talvez seja a falta de costume.

Josh é bonito, mas ela não sabe dizer o que está faltando. Talvez se seu cabelo fosse mais longo, seus olhos mais dourados, seus braços mais fortes e seu corpo mais largo a ponto de ocupar um espaço com presença e magnetismo, exalando masculinidade.

Espera aí? Do que ela está falando? Esse é o Ben. Só ele consegue ser assim.

Ben. Ela pensa nele nesse momento. Foi ele quem disse que ela deveria se meter com garotos da idade dela afinal. Ben e seus conselhos idiotas, com sua maturidade idiota.

O que ele sabe sobre isso? Sobre o que é melhor para ela? Só ela pode saber o que é melhor para ela. E acontece que, Josh não parece ser a melhor opção.

É como se ela estivesse vendo a Jessika de calças. Mesma arrogância no modo de falar, um sorriso presunçoso, atitudes nada atrativas. Por sorte ele se vai.

Ela e Rose se sentam para conversar com alguns colegas de classe do terceiro ano. A cena se repete. Pelo menos uns três garotos a cantam descaradamente.

Um deles é até mais contido, mais gentil. Rey gosta dele. Não o suficiente para querer beijá-lo. Ela olha para as pessoas que observam a interação ao passar.

O fato de estarem cochichando a incomoda. Ainda mais por não saber o que é que estão comentando. Rose parece alheia aos demais.

Ela ri e se solta com uma facilidade invejável. Os garotos a adoram. É como se ela conseguisse falar a língua deles.

Alguns até mesmo tentam beijá-la, mas ela se livra deles com educação sem que as coisas fiquem desconfortáveis. Rey assiste sua desenvoltura fascinada.

Enquanto as horas passam e ela acaba se soltando um pouco mais. Nunca recebeu tanta atenção na vida. Não de um grupo grande de pessoas.

Quando se dá conta, a roda aumentou.

Todos tirando fotos e rindo de alguma piada que nem ela mesmo entendeu. Ela se sente leve e com isso percebe que, estar com pessoas ainda que um pouco mais velhas do que ela a agrada.

Eles são tão mais interessantes. Tão cheios de assunto sobre tudo. É como conversar com Ben no dia a dia. Claro que, com menos seriedade.

Jessika surge entre a turma. Batendo palmas para chamar atenção.

— Certo, certo. Que tal agora se todos nós jogarmos verdade ou consequência? —

A galera grita em resposta e, Rey percebe que eles estão mais agitados do que o normal. Ela não é boba. Sabe que tem bebida alcoólica rolando por ali. Rose já a tinha alertado sobre isso.

Por falar em Rose. Ela se inclina para Rey enquanto todos se reúnem na sala.

— Rey. Eu preciso ir. Amanhã ainda temos aula e meus pais vão me matar se eu passar do horário. Vou procurar a Paige. Não quer uma carona? —

— Mas já? Poxa Rose. Eu não posso ir. Ben pediu para que eu o avisasse. É melhor que ele venha me buscar, depois do que houve no colégio não quero ter mais problemas com ele. —

— Bom, então eu to indo. Nos vemos amanhã? — Rey afirma enquanto ela a abraça.

Rey tem vontade de ir com ela. Mas precisa esperar por Ben. Além do mais, ainda é cedo e a festa está tão boa.

— Se cuide Rey. Não faça nada que eu não faria —

Rey observa da porta enquanto Rose e Paige entram no carro. Ela suspira e volta para dentro, lamentando por estar sozinha. Por mais que tenha se enturmado, ela sabe que não é o mesmo sem Rose ali.

Quando chega na sala o jogo já começou e ela se encolhe no canto para assistir. Jessika, como aniversariante, pode escolher alguém para um verdade ou consequência.

Ela escolhe duas pessoas. Essas escolhem consequência e acabam por ter que beber cerveja direto do barril e de ponta cabeça. O jogo segue com todos ficando cada vez mais bêbados.

A rodada retorna para Jessika, mas agora Rey está ocupada demais com os amigos de Rose para prestar atenção.

Acontece que a desafiada da vez é ela.

— Onde está a Rey? — Jessika a procura quando todos abrem espaço para revelar seu esconderijo.

Olhos demais, atenção demais. De repente tá todo mundo olhando e ela sente seu rosto corar.

— Verdade ou consequência, Rey Solo? — Jessika grita fazendo com que todos em definitivo olhem para ela.

Rey engole o nó que se forma na garganta, cruza os braços e se encolhe. Pode jurar que até mesmo a música parou.

— Eu não estou no jogo — Ela tenta se esquivar, mas Jessika obviamente não deixa.

— Não seja ridícula, Rey. Todo mundo está jogando. Responda! Verdade ou consequência? —

Rey olha ao redor, enquanto balança o pé com impaciência

— Verdade — É a melhor escolha. Pois nem por um decreto ela irá virar um barril de cerveja.

— Interessante — Jessika anuncia sobre uma chuva de assobios e risos.

— Um passarinho me contou que você está querendo ir lá pra cima usar um dos quartos com o Josh. É verdade? —

Todos suspiram surpresos. Alguns gritam que sim no canto, enquanto outros assobiam um pouco mais.

Um deles até grita de fundo que também quer participar. Rey sente seu estômago afundar, aquilo é ridículo, além de mentiroso.

— É claro que não. Isso é mentira! —

Outra chuva de assobios. Alguns zombam e outros a chamam de mentirosa.

— Eu acho que alguém está mentindo, galera. Vai ter que pagar prenda! —

Eles repetem a palavra "prenda" com Jessika repetidas vezes. Feito animais adestrados.

Rey quer sumir. Ela não tem quem a defenda, quem desminta o boato.

— Eu não vou pagar prenda. Eu não menti! — Jessika se vira para olhá-la, com os braços erguidos.

— Com você é sempre assim, não é? Você é sempre melhor do que todo mundo. Todos aqui responderam ou pagaram a prenda, menos a santinha mentirosa —

— Eu não sou mentirosa, Jessika —

— Você é sim. Todo mundo viu você dando em cima do Josh. Acorda, garota. Para de se fazer de santa! —

Jessika a acusa e de repente todos estão zombando junto com ela. Rey engole cada um dos gritinhos histéricos. Das risadinhas e cochichos. Ela está sendo difamada e a sensação é horrível. 

Por isso dá a volta para se afastar de todos. Ela tenta sair da casa mas a porta está bloqueada, o caminho para lá fica cercado por adolescentes bebendo e fumando.

A música alta recomeça e ela só tem o caminho das escadas para ir. Rey sobe e passa por um corredor. Ela quer ir pra casa. Quer sumir daquele lugar com aquelas pessoas horríveis.

Enquanto caminha, sente uma mão grande segurar seu braço. Ela se vira surpresa ao perceber que é Josh vindo para cima dela.

— Rey... eu sinto muito pelo o que houve lá embaixo. Eu não tive nada a ver com isso. Eu juro... —

Ela respira fundo sentindo uma necessidade enorme de chorar.

— Está tudo bem... eu só... — Rey para de falar quando sente a mão dele em sua bochecha. Ele está... está se aproximando muito. Rey encolhe o corpo contra a parede no corredor.

— O que você tá fazendo? — Ela soluça enquanto ele tenta beijá-la no canto da boca.

— Relaxa, é só um beijo. Você é muito linda. Não liga para essas invejosas... —

— Não. O que? Eu não quero. Sai daqui. Me solta! — Ela o empurra e corre para uma das portas. Rey entra e se tranca quando descobre que é um banheiro.

Ela senta no vaso e tudo que consegue fazer é chorar, já que do lado de fora, consegue escutar Josh chamá-la de maluca.

Foi uma tola por pensar que poderia se misturar com essas pessoas. Eles pareciam tão legais. Onde foi que tudo mudou?

Jessika.

Por que ela a odeia tanto? Rey não entende seus motivos e isso a faz chorar ainda mais. Ela precisa ligar para Ben. Ela precisa dele, do colo dele, da casa deles.

Ela procura pelo celular no bolso escondido de seu vestido, disca o número dele com os dedos trêmulos. Mas, pára antes de completar a chamada.

Não. Ela não pode ligar, não assim. Ela pensa em como ele irá reagir se a vir nervosa. Ele pode querer discutir com todo mundo, com Jessika. Isso irá piorar as coisas. Todos iriam odiá-la. Não. Ela precisa se acalmar.

Rey respira fundo. Leva alguns minutos ali depois de jogar uma água no rosto. Ela tenta se acalmar enquanto coloca o ouvido na porta para ter certeza de que Josh não está ali esperando por ela, ou que ninguém mais poderá incomodá-la.

Tudo o que ela consegue escutar são as risadas de pessoas passando por ali. Tudo parece se tranquilizar, e só então ela decide que já estar na hora de chamar por Ben.

Rey disca o número novamente. Espera que comece a tocar, enquanto se olha no espelho para ver o estado em que está. Não demora mais do que três toques para ele atendê-la.

"Ben... você pode vir me buscar?"


 

****

 

É quase um milagre digno de um coro celestial tocando com sinos de fundo que o humor miserável adotado por Ben Solo nas últimas seis semanas tenha melhorado.

Desde sua última façanha como tutor legal e responsável, às coisas vinham andando por fora dos trilhos.

Dessa vez ele foi digno o suficiente para manter sobre ele mesmo os efeitos colaterais da sua desastrosa tentativa de impor limites com Rey.

Por esse motivo, poucos conseguiram notar seu semblante nada amigável, acompanhado de uma postura ranzinza que o envelheceu por uns dez anos.

Era como olhar em um espelho e ver Han Solo refletido, só que com menos humor e sem as piadas fora de hora.

Se Rey teve a intenção de testar seus limites. Ben não pode dizer. O fato é que ela fez, e com êxito.

Porque nem mesmo no pior de seus dias ele se deixou ser controlado ou manipulado por uma greve de silêncio. Aliás, ele nunca teve que passar por isso.

Depois de muito se perguntar o que era bom ou não em uma situação como essa, ele chegou a conclusão de que estava lidando com atitudes acima da sua compreensão.

Para entender o que estava se passando com Rey, seria necessário que no mínimo ela dissesse alguma coisa. E era exatamente isso que ela não estava fazendo.

Certo. Ele tinha que admitir, era péssimo em lidar com falta de atenção quando seus objetivos não eram esses.

O que Ben queria acabou não sendo o que Rey queria, e lidar com isso foi um inferno. Quatro semanas de um silêncio súbito, foram o suficiente para esgotar com sua paciência.

Ben fez uma última tentativa de aproximação. Um convite que resultou em atraso, preocupação e raiva. Um pouco mais, um pouco menos, não faria diferença afinal.

Para quem aguentou dias, buscando uma forma de melhorar as coisas. Rey fez com que ele se sentisse um completo idiota.

Ben reflete sobre isso.

Mesmo em sua atual situação. Sentado em frente a um balcão de um bar, girando um copo de suco de frutas, quando se tem prateleiras e mais prateleiras de bebidas a sua disposição.

Ele não pode ingerir uma gota sequer de álcool. Por isso ocupa seu tempo fazendo um balanço mensal, sobre as decisões que tomou durante as semanas.

A noite em que Rey apareceu na sua frente, tão quebrada e bagunçada que o deixou entre o conflito de puni-la por algo que ele não tinha certeza de que tinha feito. Ou protegê-la pelo o que de fato haviam feito com ela.

Depois de tanto tempo afastado, sua cabeça já não estava raciocinando tão bem.

O fato é que o afastamento dela o aborreceu muito mais do que deveria. Na realidade, o chateou. E nem mesmo assim ele foi capaz de se policiar.

Não seriam dias, semanas ou meses capazes de fazê-lo ser minimamente racional com ela.

Já estava na hora de admitir que ele era humanamente incapaz de conter o que vinha fervilhando dentro dele por meses.

Já não se tratava mais de negar ou reprimir, mas de conciliar, e foi isso o que o levou a fazer o que fez com ela no banheiro.

Jesus, aquilo foi insano. Minimamente insano. Não só pelo instinto primitivo e masculino.

Ele a beijou, não nos lábios, o que por si, seria catastrófico. Não. Ele a beijou no pescoço. Com direito a dentes, lábios e língua.

Ele a atacou, feito uma fera faminta. O cheiro da pele dela, os gemidos, o toque.

O toque que ele instruiu. A primeira vez dela. Seu primeiro orgasmo e, foi todo para ele. Para os olhos dele, para os ouvidos dele.

Seu pau se contrai nas calças só com a mera lembrança daquela noite.

Ele se masturbou depois. Ele fez isso mais vezes do que conseguia admitir.

Não tinha porque negar uma verdade que o pertencia. Ainda mais quando as coisas acabaram dando certo.

Era o que eles queriam não era? Entre ele e seus pensamentos. Desde que mantivesse as coisas assim, tudo iria funcionar.

Ben pensa sobre isso. Enquanto toma um gole do seu suco.

Soa um pouco estranho e até patético para ele estar em um dos seus bares favoritos fazendo nada além de refletir sobre o que deve ou não fazer da sua vida, com um copo de suco na mão.

Mas é exatamente isso que ele será essa noite. O cara sóbrio á espera de uma garota de dezesseis anos, que está se divertindo em uma festa cheia de garotos na puberdade, muito provavelmente tentando beijá-la, entre outras coisas.

Ele afunda o rosto nas mãos, com os cotovelos apoiados no balcão.

Pensa nas possibilidades. Depois de desenvolver uma certa obsessão sobre tudo que tem a ver com as primeiras experiências de Rey.

Ben acredita estar ficando um pouco, talvez muito, lunático com a ideia de alguém enfiando a língua na boca dela.

Porra! Isso é um desastre daqueles colossais.

Ele não quer surtar, mas o pensamento o faz surtar. Não há o que se esperar além disso. Foi o que ele a instruiu a fazer. Se envolver com os garotos da idade dela. É a coisa mais lógica para alguém que está nessa idade.

Deus, ele sente nojo de si mesmo.

Foi o pior conselho que ele poderia dar. Não é o que um guardião responsável deve dizer. Seu conselho para ela deveria ser o de focar em coisas que viriam a fazer parte de sua vida a longo prazo. Construir uma carreira, focar nos estudos.

Ainda que ele tenha dito no calor da discussão como uma forma de afastá-la. Foi tão imbecil que ele nem mesmo consegue acreditar na sua própria estupidez.

A garota é inteligente. Ela não seguiria esse conselho estúpido, nem mesmo para afrontá-lo. E Rey, tem feito isso há meses. Exceto que agora, não há motivos.

Imprudências, afastamento, greves de silêncio. Tudo isso ficou para trás. Pelo menos é o que ele espera.

Seu humor fica um completo lixo, sua concentração é quase nula e sua paciência se torna um vulcão prestes a erodir.

Não. Esse ponto com Rey nunca mais.

 

****

 

Ele recebe a ligação de Rey e, por sorte a casa de Jessika não é tão longe assim dos locais que ele frequenta. Enquanto estão na Upper West Side, ela fica em Midtown.

Ben chega a rua e percebe que a há uma fileira de carros ocupando as vagas. É praticamente impossível que ele estacione na porta.

Porra! Parece que todas as pessoas do planeta estão nessa festa. Todas as que tem um veículo pelo menos.

Ele acaba tendo que ficar a uma boa distância. Por isso envia uma mensagem na esperança de que Rey a veja. Ainda está considerando ligar, quando percebe que ela está online.

Rey responde que está saindo e ele espera depois de indicar onde está estacionado. Não demora muito para vê-la chegando.

Ben percebe seu vestido preto e curto, os saltos que a deixam maior mesmo que andando devagar pela calçada de concreto.

Deus, ela é linda. Mas neste momento, ultrapassou os limites.

E ele tenta, porra! Ele tenta ao máximo se convencer de que isso não é algo ruim. Do tipo que vai lhe causar uma dor de cabeça por pensar a noite toda.

Perguntas agora, nem pensar. Não é o momento. Em casa, talvez?

Ele também percebe que ela está estranhamente calada para alguém que acabou de ter sua primeira festa e por costume, de uns tempos para cá, sempre tem algo a contar.

— Jesus! Quantas pessoas tem nessa festa? —

Ben murmura para si mesmo, já que termina a pergunta sem uma resposta.

Rey está quieta demais e, a menor lembrança de sua greve de silêncio, é o suficiente para apavorá-lo. Ele precisa dela falando, como sempre, quanto mais melhor.

Por isso ele a olha de imediato. É então que uma sensação surge no seu âmago. Aquela que indica a ele de que alguma merda aconteceu.

— Rey? Está tudo bem? — Ele pergunta, achando estranha a insistência dela em estar no celular, já que nunca faz isso, quando estão juntos.

— Sim... Ben. Eu só estou um pouco cansada e com sono —

Se tem uma coisa que ele aprendeu com os anos é a identificar uma mentira. E Rey... está lhe contando uma, bem mal contada, mas está.

Ele já a conhece o suficiente para saber que seus olhos não o enganam ainda que ela tente com as palavras. Por isso estica o braço para alcançar seu rosto.

Ela fica surpresa quando nota ele agarrando seu queixo para virar na direção dele. É um movimento rápido e brusco demais para que ela o impeça.

É só então que suas suspeitas se tornam constatações. A maquiagem dos olhos está borrada. O que indica que ela chorou. Os lábios de Rey tremem e ele se dá conta do quanto ela tenta segurar as lágrimas que ameaçam cair.

Isso é o suficiente para fazer seu sangue ferver. E nem por um inferno ele vai deixar passar dessa vez.

— Quem foi? — Ele exige saber enquanto a vê exasperada tentando acalmá-lo. Ela realmente acredita que vai conseguir?

— Ben... por favor. Não foi nada. Eu quero ir para casa —

Uma porra que não!

— Não vai me contar? Então eu vou descobrir sozinho — Ele ameaça sair do carro mas ela o segura por um dos braços.

Não é preciso dar nomes, ele sabe muito bem quem foi.

— Eu vou me resolver com ela, amanhã. Mas por favor me leve pra casa —

— O que foi que ela fez com você? —

— Ben... — Rey insiste em chamá-lo, para acalmar as coisas, mas é em vão. Uma vez irritado, ele não volta atrás. Não ele.

— Fique no carro e não saia daí até eu voltar —

Ben aponta para ela dando uma ordem explícita. Ele nunca falou tão sério com ela como agora. Rey tenta convencê-lo a voltar.

Ele reconhece a teimosia, ainda que não dure muito, pois ele a deixa para trás, depois de bater a porta do carro, para caminhar a passos largos na direção da festa.

No momento em que Ben entra. Ele se lembra do porque odiava isso quando era adolescente. Eles entopem o lugar com copos de bebida, risos e uma gritaria irritante e frenética.

Ele passa pelo aglomerado na porta sem dificuldade. Eles ficam tão surpresos por ver a pessoa mais velha que tem ali passar, que automaticamente abrem caminho como se Ben estivesse atravessando o mar vermelho.

A sala está logo no início da entrada, os babuínos se concentram em bando por ali e ele revira os olhos quando nota as meninas se cutucando. Embora, elas não sejam muitas, ele encontra dificuldade para achar a tal Jessika.

Ben decide que deve agilizar as coisas para encontrá-la. Se quer acabar com o formigueiro da puberdade, o mais lógico é começar...

Claro. Pela música.

Ele para ao lado do DJ e quando encontra a tomada que sustenta a energia dos aparelhos, ele a puxa com as duas mãos. A música para e com ela todo o resto da festa. Que se vira para olhá-lo.

— Eu vou dar um minuto para vocês saírem daqui e essa festa acabar —

Todos se entreolham sem se mexer e ele bufa sabendo que isso vai demorar mais do que deve. Sua ideia não é tão inútil no entanto. Entre os cochichos de "Quem é esse cara?" e "O que deu nesse maluco?". A dona da festa surge.

Jessika sai do meio dos convidados e seus olhos crescem tanto, que isso quase o faz rir.

— Ben Solo? — A garota sorri para ele, que retribui sem esforço. Ben observa o resto das pessoas e começa a falar em voz alta.

— Eu sou amigo dos pais da Jessika. Tô aqui a pedido deles para dar os remédios dela e colocá-la na cama. Ela já passou da hora de dormir —

Suas palavras são o suficiente para fazer o queixo dela cair. O encanto se quebra e Jessika olha para ele tão incrédula, quanto os outros.

— Remédios? — Alguém grita de fundo enquanto os outros repetem.

— Sim, remédios! Caso vocês não saibam, Jessika tem problemas. Ela é uma mentirosa compulsiva — Ben a fuzila com o olhar antes de continuar.

— Além do mais, tem costume de distorcer a realidade —

Demora, mas, Jessika se manifesta.

— O que? Isso não é verdade! Eu nem conheço ele direito —

— Viram só? Já começou a mentir que não me conhece. Isso é o que acontece quando passa da hora dela tomar os remédios. Se eu demorar mais um pouco, ela vai começar a babar. É uma cena horrível de se ver —

Jessika avança sobre ele com os braços cruzados como se fosse o suficiente para intimidá-lo. Deve funcionar nos outros alunos, por isso ela se enche de confiança.

— O que você pensa que está fazendo? —

Ben conhece bem a atitude insegura da valentona popular. É quase tão entediante quanto lidar com todo o resto. Ele ignora o piti enquanto saca o celular no bolso para discar um número qualquer com desdém.

— No momento, eu to ligando pra polícia, gracinha. Vou contar que você e os seus amiguinhos estão bebendo e fumando como se tivessem idade pra isso —

— Você não pode fazer isso. Não tem direito algum — Ben dá dois passos em sua direção com o celular já no ouvido.

— É claro que eu tenho. Eu sou o maior de idade responsável aqui. Mas relaxa, eles são seus amigos, vão segurar a bronca com você quando a polícia chegar. Não vão? —

A simples menção da polícia é o suficiente para fazer com que todo mundo comece a sair. Jessika até tenta impedi-los, sem muito sucesso.

É então que ela se vira para ele com toda sua fúria adolescente.

— Quem você pensa que é pra fazer isso? —

Ben avança mais dois passos e Jessika por muito pouco não recua. Ele se inclina para segurar a mão dela, erguendo-a até o seu peito.

— Eu sou o cara que você pediu o número. Se lembra? — Ela assenti mesmo parecendo estar nervosa.

— É claro que me lembro. Por que fez isso? —

— Eu pensei que você quisesse ficar sozinha comigo? — Ben diminui o tom de voz quando novamente avança na direção dela. Jessika recua, estremecendo com o toque de mãos.

— Eu não... Eu... — Jessika não vai muito longe. Ben sabe disso.

— Você o que Jessika? Está nervosa? —

Enquanto ele fala, vai puxando do bolso de seu paletó uma caneta. Ele estica a palma da mão dela e então começa a rabiscar a pele.

— Você queria um número, então eu vou te dar. Claro que, esse não é o meu. Mas o de um bom advogado. É o que você vai precisar na próxima vez que se meter com a Rey —

Suas palavras são suficientes para fazê-la retirar a mão bruscamente.

— Eu sabia! A princesinha foi correndo chorar. Eu não fiz nada demais com ela —

— Você realmente é uma mentirosa compulsiva, não é? Isso que aconteceu aqui hoje, foi bobagem, perto do inferno que eu vou fazer na sua vida se não deixar ela em paz —

— Isso é uma ameaça? Eu não tenho que fazer nada. Isso não é sobre ela! O mundo não gira ao redor da sua irmãzinha —

— Pare de fingir. Isso é sobre ela, sim. É sobre ela ser mais bonita do que você, mais inteligente do que você. E, mais interessante também —

Ben cruza o caminho, indo em direção a porta, mas não antes de se virar para ela com um dedo apontado e um olhar acusatório.

— Eu vou te avisar pela última vez. Fique longe da Rey. Ou quem vai precisar de um advogado, sou eu. —

Ele a deixa com o que mastigar em sua festa vazia. Ben não sabe se ela vai cumprir, por isso se lembra de algo antes de sair.

— Só mais uma coisa. Vê se para com o apelo sexual. Não é divertido e nem atrativo. —

 

****


 

Se antes Rey estava chateada. Agora, ela está uma pilha. Não deveria ter deixado Ben ir até lá. Não dá forma em que está. Ela se debate impacientemente, enquanto pensa no que fará amanhã.

Sim, porque todos do colégio irão rir de sua cara. Sem a menor dúvida. Ela até consegue ouvir a zombaria: "Olhem lá a chorona que precisa de um responsável para defendê-la". Ela bufa e solta um grito abafado contra as mãos que cobrem seu rosto.

Ben está demorando. Ela se estica sobre o porta luvas e então se choca ao perceber que uma multidão está saindo da festa. Seu coração dispara e sua cabeça gira. Oh não! Isso é um mal sinal, não é? Ben arruinou a festa e agora ela está literalmente frita!

Depois de mais alguns minutos Ben retorna, ele o faz quando todos já foram e ela está sozinha remoendo a vida miserável que terá de agora em diante.

Ben se aproxima do carro com um olhar indecifrável, mas um sorriso divertido. Por que isso faz seus pelos do corpo se arrepiarem? Ele entra e ela o ataca com perguntas.

— O que você fez, Ben? Por que todos saíram da festa? —

Ele não olha para ela ao responder. Sua atenção está na chave do carro.

— Jessika decidiu acabar com a festa dela mais cedo —

Rey sabe que quando ele diz Jessika, quer dizer ele.

— Oh não, Ben. Eles vão me odiar —

— Relaxa! Ninguém vai te odiar. Desconfio que a palavra da sua amiga não vai valer muita coisa de hoje em diante —

Rey esfrega novamente as mãos no rosto, com nervosismo. Ben olha pra ela e começa a rir.

Deixando-a sem entender o motivo para que isso seja engraçado. É tão irritante que ela sente vontade de bater nele.

— Ben! Isso não é engraçado. Eles... são cruéis. Você não entende? —

— Rey... são só adolescentes. Você precisa aprender a lidar com eles... —

O fato dele não entender seu ponto de vista a deixa estressada. Ela cruza os braços sobre o peito depois de rolar os olhos.

— Você fala como se fosse simples —

— Bom, você teve que lidar com coisas realmente difíceis nos últimos meses. Eles não têm ideia da sua força. Então, sim. Tem que ser simples pra você —

As palavras dele a deixam boquiaberta. O fato é que ouvir seus incentivos, a faz se sentir mais corajosa. Rey respira fundo e se deixa sorrir pelas impressões de Ben.

— Você tem razão... Obrigada Ben —

— Você disse que eles são cruéis. Mais alguém mexeu com você, além da Jessika? —

A pergunta dele faz com que ela pense um pouco para responder. Já houveram confusões demais para um dia. Por isso é melhor não dizer nada sobre Josh.

— Não, Ben. É que todos riram enquanto ela zombava de mim —

— E porque ela zombou de você? —

— Acho que ficou com ciúmes porque um dos garotos queria me beijar. Aliás, alguns deles — Dessa vez ela conta propositalmente.

Ele precisa saber que seus conselhos estão sendo seguidos, afinal. De que existem outros garotos interessados nela, já que ele não olha para ela como ela quer.

Ben repete as palavras dela com uma das mãos apertadas no volante. Ela olha para ele e estranha sua postura. Ele está virado em sua direção inclinado como se estivesse com dor.

— E você beijou algum? — A pergunta dele a pega de surpresa.

— Não, Ben. Eu não quis. Foi por isso que ela zombou. —

— Tem certeza? — Rey o olha com descrença abrindo seus lábios duas vezes antes de responder. 

— É claro que sim, Ben. Você duvida de mim? —

Ele nega enquanto se agarra ao volante com as duas mãos agora. Rey o observa sentindo um instinto estranho de autodefesa e uma necessidade de se explicar, mesmo sem saber o porque.

— Eu só acho que esse vestidinho diz muito sobre a vontade deles —

Ela olha para o vestido e depois para ele.

— O que tem de errado com o meu vestido? —

Os olhos de Ben voam para o corpo dela, ele desce até suas pernas e depois sobe para os ombros e braços expostos.

— Nada. Se a intenção for enlouquecer os garotos —

— Você.. O que? Eu não quero enlouquecer os garotos. —

— Mas você conseguiu fazer isso, Rey. Você chegou na festa, provocou a inveja da Jessika. Mexeu com a cabeça dos babaquinhas do colégio nesse vestido que... — Ela o vê apertar o volante mais uma vez, antes de continuar.

— Quer saber? Eu acho que você queria muito ser beijada hoje —

Ele sorri provocativo e isso a irrita. Rey cruza os braços novamente e se vira para ele com o rosto franzido de raiva.

— Eu não queria nada! Um beijo é algo muito importante para se dar em qualquer um —

— Nisso, concordamos. Tem que ser com a pessoa certa... —

Sim. Tem que ser. Ben ainda está sorrindo e ela tem a impressão de que ele está zombando dela como os outros.

Para ela isso não se trata de brincadeira. Ela vai provar, ela precisa provar. Porque, a única pessoa que ela deseja beijar, é ele.

Rey dá o primeiro passo. Segurando seu rosto com as duas mãos, ela o vira antes que ele possa reagir e então com um impulso seus lábios estão no dele.

Ben parece amolecer com o beijo nos primeiros segundos, mas só de início, pois nos segundos seguintes seu rosto está afastado do dela com alarde.

Ele a segura pelos ombros e a afasta um pouco com a respiração pesada que sopra seu rosto e seus cabelos.

— Por que você fez isso? — Ben sussurra assustado e de repente uma culpa começa a corroê-la.

— Porque eu quero você — Ela responde tão baixinho que não tem certeza se ele pode ouvir. Ben fecha os olhos e respira fundo. Ele sequer consegue olhar pra ela.

— Nós já conversamos sobre isso, Rey —

— Mas Ben, eu pensei que... —

— Por favor, não faça mais isso... nunca mais — Ben a adverte e ela se cala.

Rey nunca se sentiu tão fisicamente e emocionalmente frustrada como agora.

Depois de reunir toda a coragem que havia dentro dela para dar um passo como o que deu. Ouvir uma represália não era o que esperava.

Ben a rejeitou e como se não bastasse isso, o fez no seu primeiro beijo. Em pensar que ela o havia guardado para ele. Como pode se enganar tanto, a ponto de acreditar inocentemente que ele fosse gostar?

Rey sente tanta vergonha que a primeira coisa que faz é abrir a porta do carro para correr em uma direção qualquer. Ela só quer ficar o mais longe possível dele.

— Para onde você vai? Rey... Volte aqui! —

Ben sai do carro e a persegue. Seus passos são mais concisos, mais largos e por esse motivo ele a alcança sem esforço.

— Fique longe de mim, eu vou para casa andando! — Ela grita a poucos centímetros de distância com ele ao seu encalço.

— Pare com isso, não seja criança —

Ouvir ele a chamando de criança é a gota d'água. Rey não consegue conter as lágrimas de raiva e se vira para acertá-lo no peito com socos e murros. Enquanto esbraveja, como nunca fez antes. 

— Não me chame de criança! Você estragou tudo! Foi meu primeiro beijo... Como pode fazer isso comigo? —

Seus golpes e ataque de fúria são suficientes para fazê-lo recuar com um olhar surpreso. Ele conseguiu, Ben conseguiu fazê-la perder todo o controle.

Suas lágrimas escorrem misturadas aos soluços pelo choro. Ben permite que ela o bata. Por que ele permite? Ela se pergunta. Ainda que não se importe ou tenha mais forças para continuar. Está chateada, magoada e ferida.

Ela abaixa a cabeça consumida pela vergonha. Primeiro por ter beijado ele, segundo por ter batido nele daquela forma. Sem esperar por isso, ela sente os braços dele, contornando seu corpo. Ben a abraça tão forte, que chega a deixá-la sem ar.

— Rey, olhe pra mim... — Ben suplica e ela se encolhe na tentativa de se manter afastada. Sua rejeição só faz com que ele aperte ainda mais seus braços em torno dela.

— Por favor, olhe pra mim... — O jeito terno dele ao pedir é o que alimenta a ilusão que ela não quer ter.

Rey reluta antes de erguer seu rosto para alcançar os olhos dele. Ela funga sentindo as lágrimas quentes escorrendo pelas bochechas. Ben às cessa com seu polegar.

Ele não para de tocá-la, até que seus soluços diminuam. Seus olhos estão conectados um ao outro. E os dedos grossos contornam a bochecha em uma carícia cadenciada.

— Desculpe pelo seu primeiro beijo ter sido um desastre... eu tenho certeza de que, o segundo será melhor... —

Ela não quer um segundo beijo. Ela não quer que ninguém mais a beije. Tudo que ela queria era os lábios dele e se recusa a aceitar que ele mais uma vez a empurre para outra pessoa da qual ela não quer.

— Eu não quero beijar outra pessoa... —

Ela tenta gritar para que ele entenda de uma vez por todas, mas, suas palavras se interrompem. Não porque lhe falta coragem para dizer. E sim porque, Ben a impede.

Com seus lábios...

Sem outra palavra, ele a puxa para seus braços, segurando sua nuca enquanto a pressiona. Rey não sabe se vai explodir como fogos de artifício ou derreter feito neve no verão.

Mas ele a ajuda na escolha. Ben se impulsiona sobre ela, o corpo dela se inclina para trás, e seu peito se eleva para estar pressionado contra o dele. A altura dele não é o suficiente para fazer com que eles separem suas bocas.

Não quando para o seu deleite é ele quem assume o total controle. Separando-se dos lábios dela para mordê-los ligeiramente.

Rey sente seu sangue correr por todo o corpo. Seu coração bombeia agressivamente contra o peito, ensurdecendo seus ouvidos.

Os lábios de Ben são suaves e gentis. Conduzindo o beijo com lentidão entre suas respirações que se misturam. Ele cava os dedos em seu quadril e ela geme em seus lábios. Abrindo um espaço desejável entre suas bocas. Eles ofegam juntos até que...

Ela sente. O toque de sua língua macia e quente abrindo caminho para dentro dos lábios dela. Por Deus, é a sensação mais gostosa que já sentiu na vida. Traz uma fome que ela não imaginou que tinha.

O beijo está acontecendo e Rey ergue os braços para segurar o corpo de Ben contra o dela. Tem medo que a magia quebre, ou que seu sonho acabe.

Porque em definitivo, isso só pode ser um sonho.

Ben avança alguns passos e ela obedece seu curso. Mesmo sem saber para onde isso a leva, mesmo estando às cegas, concentrada no sabor da boca dele.

E ela pode dizer com toda a certeza: É um sabor incrível.

Ben tem um gosto doce e mentolado. Suas línguas estão dançando juntas e ritmadas, fazendo com que tenha vontade de desmaiar de tão bom.

Não são só suas bocas, mas seus corpos que estão colados um ao outro, se aquecendo juntos, causando uma vibração intensa dentro dela.

Rey está excitada e se espanta em saber que o beijo de Ben é tão poderoso que consegue deixá-la molhada.

Ben interrompe o beijo mas não o contato. Ele alcança seu rosto para segurá-lo entre as duas mãos. Sua testa está ali apertada contra a dela enquanto ambos respiram em busca de fôlego.

— Me diz que esse segundo foi melhor, Rey? — Ela sorri emocionada enquanto recebe o sussurro dele contra os seus lábios.

— Para mim, esse foi o primeiro Ben... —

Isso é tudo que ela consegue dizer antes que os lábios dele estejam novamente, esmagando os dela.


Notas Finais


Segue abaixo a lista de músicas desse capítulo. Todas elas estão na nossa playlist no Spotify.

Midnight City - M83
Love Me Again - John Newman
R U Mine - Arctic Monkeys
American Money - Borns

Cena especial no final da fanfic:
No Rest For The Wicked - Likke Li

Link para a nossa playlist no Spotify
https://open.spotify.com/playlist/3GGqR2GoISJyxJwc6dxktb?si=0Gxon8PHQpCUbIhYXjBVpg


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